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Uchinaguchi e Mirandês, em "O Argumento dos Números"

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No passado dia 30 de Junho, em Londres, foi celebrado o Dia de Okinawa. É verdade, a terra ancestral do Mr Miyagi, personagem de uma série de filmes muito determinante na minha infância e formação enquanto pessoa. Para o Mr Miyagi, a guerra é uma estupidez pura e simplesmente, o Karate serve apenas para defesa, mas, se nos forçam a lutar, que seja para ganhar. Estas noções acompanharam-me muito antes de começar a praticar o Karate a sério. Pequeno desvio pela Avenida da Memória abaixo… Voltando ao tópico, saindo da ficção e reentrando na realidade, eu soube desta celebração via Facebook:



Soube também através do The Japan Times online, doutro facto interessante que me levou a escrever esta entrada. Esta entrada em grande parte é a tradução, com alguma liberdade poética, de um artigo do jornal supracitado. Como tal, toda essa tradução liberal será deixada a itálico. O restante é meu.

O artigo, escrito por Ayako Mie, fala-nos sobre o professor Byron Fija, de 42 anos. Ele é parte caucasiano norte-americano por parte do pai e japonês por parte da mãe. Esta última informação é pertinente pois é uma das razões pelas quais os japoneses muitas vezes pensam que ele é um estrangeiro. A outra razão pela qual isso acontece é o facto de ele falar o Okinawa hogen (o dialecto de Okinawa), chamado Uchinaguchi.
Os japoneses estranham que ele fale este dialecto, mesmo os seus conterrâneos de Okinawa, que deveriam entender o que ele está a dizer quando fala Uchinaguchi. Recentemente, num programa de televisão que festejava o aniversário dos 40 anos do retorno do governo de Okinawa ao Império do Japão, ele foi precisamente questionado sobre o porquê de ele falar um dialecto. A sua resposta foi assertiva: “Eu não falo num dialecto japonês, eu falo Uchinaguchi que é uma língua independente.”
Fija de facto ensina o Uchinaguchi, a língua falada na região meridional da ilha principal de Okinawa. Esta língua é, em geral, imperceptível à maioria dos japoneses. Mas apesar dessa fácil distinção, até os habitantes de Okinawa vêem o Uchinaguchi como um mero dialecto, subordinado ao Japonês. De facto, 11 dos 46 convidados do tal programa de televisão disseram esperar que esta língua ficasse extinta nas próximas décadas. Fija afirmou não compreender como os próprios japoneses de Okinawa negam a legitimidade do Uchinaguchi. Por outro lado, o professor admitiu que a sua campanha para promover esta língua é um tanto ou quanto pessoal, pois a descriminação desta língua faz parte da crise de identidade com que ele teve de lidar quando era criança, uma criança nascida fora de um casamento. Numa outra época, o professor seria sem dúvida desprezado como um dos Burakumin. Parece que a civilização japonesa já fez alguns progressos face à descriminação social.
Mas o anúncio de estes serem os últimos dias desta língua impulsionaram alguns japoneses de Okinawa, incluindo o sr Fija, a desenvolverem esforços no sentido de promoverem e protegerem o Uchinaguchi, que eles acham estar não só no coração da cultura única de Okinawa mas também da sua própria identidade.
Culturalmente, desde 1972, Okinawa tem-se forçado a si mesma a absorver a cultura dominante japonesa e nesses esforços desprezaram mesmo a sua própria língua, vista por muitos como inferior. O resultado deste traço cultural é que apenas um número reduzido de pessoas falam fluentemente esta língua, sobretudo os velhos de Okinawa.
Dando uma indicação clara de que o Uchinaguchi é uma língua e não um mero dialecto, a UNESCO indicou-a em 2009 como uma das 6 línguas em vias de extinção faladas em Okinawa e nas ilhas vizinhas de Amami. Contudo, o governo central japonês e a prefeitura de Okinawa ainda não tomaram medidas nenhumas para proteger esta língua ou sequer admitiram oficialmente que o Uchinaguchi é uma língua de pleno direito.
A concentração de instalações militares norte-americanas na prefeitura de Okinawa, quando comparada com outras regiões do Japão, é percebida pelas pessoas de Okinawa como uma descriminação, uma na qual o resto do Japão tem quase nenhum interesse. Contudo, a eliminação do Uchinaguchi deveria ser considera parte importante dessa descriminação, mas a verdade é que, por razões históricas, as pessoas de Okinawa não a entendem como tal. Outrora, Okinawa era o reino independente de Ryukyu, que governou as ilhas do sudeste, entre Kyushu e o Taiwan, entre os séculos XV e XIX, enriquecendo através do comércio com a China e o Sudeste Asiático. Mas em 1879, o Japão anexou essa nação e impôs políticas de assimilação cultural às populações locais, obrigando por exemplo a que apenas fosse permitido falar Japonês em público. Durante décadas, as pessoas de Okinawa foram descriminadas e ridicularizadas pelo resto do Japão por falarem uma língua considerada bárbara. De facto, nas escolas, os estudantes que falassem Uchinaguchi eram forçados a usar cartazes, que lhes pendiam do pescoço, que assinalassem a língua que falavam, sofrendo então todas as formas de humilhação social. Em 1945, morreu 30% da população local na Batalha de Okinawa, muitos dos quais falavam Uchinaguchi e foram mortos pelas tropas imperiais japonesas que os via como espiões do inimigo. Durante o tempo em que Okinawa esteve sob jugo Americano, após a Segunda Grande Guerra, e mesmo depois quando reverteu ao controlo do Japão, os habitantes de Okinawa que viviam fora da Prefeitura e que foram educados nas escolas da sua região mantiveram o Uchinaguchi vivo. Mas quando essas pessoas saíam da sua terra e iam para as metrópoles, como Osaka e Tokyo, em busca duma vida melhor, eram ridicularizados pelas suas raízes e pela língua que falavam, o que levou a que eles abandonassem a sua própria língua e a desprezassem a cultura de Okinawa, tratando-a como se fosse algo de segunda categoria.
Mas essa visão negativa não é vista nos habitantes de Okinawa nascidos após 1972.
Nos anos mais recentes, graças à projecção mediática de estrelas nascidas em Okinawa, a cultura de Okinawa começa a ser tida em consideração. Entre as estrelas que para tal contribuíram, encontram-se Namie Amuro (um cantor pop que se evidenciou nos anos noventa) e a popular jogadora de golf Ai Miyazato (que atingiu o topo do ranking mundial do golf feminino em 2010).
Ao mesmo tempo, a definição de Uchinaguchi entre as camadas jovens de Okinawa mudou significativamente. Muitos deles falam Uchina-Yamatoguchi, uma nova forma de expressão que mistura termos em Uchinaguchi com contextos japoneses. Uma sondagem de 2011, levada a cabo pelo jornal Ryukyu Shimpo (sedeado em Naha), concluiu que cerca de 90% da população de Okinawa entre os 20 e os 30 não conseguia falar ou perceber o Uchinaguchi tradicional.
Esta realidade lança sombras ameaçadoras sobre o futuro da dança e do teatro tradicionais de Okinawa, para os quais o Uchinaguchi é fundamental. De acordo com uma sondagem também de 2011, efectuada pelo professor Masahide Ishihara da Universidade de Ryukyu,  apenas 5% das 605 pessoas ligadas à cultura de Okinawa sondadas, com idades abaixo dos 30 anos, falavam fluentemente Uchinaguchi. Para Susumu Taira, um actor, produtor e guionista de Okinawa, com 78 anos, este declínio significa que a cultura de Okinawa está lentamente a tornar-se indistinguível da cultura de outras zonas do Japão. Segundo Taira, a vertente de teatro tradicional de Okinawa chamado Kumiodori, não tem um guião. São dadas deixas verbais aos actores, que depois têm a liberdade total para improvisar desde que consigam manter fluida a acção e a história. A não ser que os actores sejam fluentes em Uchinaguchi, não conseguem comunicar bem o sentimento desejado e toda a peça parecerá algo que pretensiosa. “Eu digo aos meus actores, que se as falas são ditas em Uchinaguchi sem haver uma entrega e abertura à língua, o seu desempenho vai ter o mesmo tipo de sensação e qualidade que teria se fosse desempenhado por actores naturais de Tóquio.”, disse Taira, nomeado em 1999 pela Prefeitura de Okinawa como Protector de Propriedades Culturais Intangíveis, o teatro e música de Ryukyu.
Contudo, tamanha singularidade não é bem recebida quando a audiência não entende a língua que está a ser falada em palco. De facto, para as peças de Kumiodori serem apreciadas pelas audiências, são acompanhadas de legendagem. O Kumiodori foi designado, em 2011, como Herança Cultural Intangível da Humanidade pela organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.
Taira confessou ter ficado chateado quando oficiais da Prefeitura lhe pediram que traduzisse algumas frases de Uchinaguchi para Japonês, com o objectivo de aumentar a popularidade da peça. “As artes performativas devem ser inteligíveis para todos sem mudar a tradição”, afirmou Taira. Sentindo-se ameaçado pela situação, Taira começou a ensinar Uchinaguchi na faculdade comunitária de Okinawa. O curso atraiu tanto habitantes locais como pessoas que vieram de fora da Prefeitura, nutrindo interesse pela cultura de Okinawa.
“Há certas palavras que são únicas em Uchinaguchi. Apercebi-me disso quando frequentei o curso.”, disse Keiko Shimoji, de 35 anos e residente em Okinawa.
Contudo, os esforços tanto dos locais que falam a língua e doutros que foram aprendê-la podem não ser suficientes para assegurar a sobrevivência da língua, pois é facto que os que a falam e ensinam estão a envelhecer. Para preservar a língua e elevar o seu status entre a população local, há aqueles que defendem de que esta deveria ter ensino obrigatório nas escolas. Dão como exemplo o caso bem sucedido do Havai, onde a língua nativa foi introduzida no ensino numa tentativa de a salvar, ao mesmo tempo que o estado declarou como língua oficial o Havaiano. Como um primeiro passo no intuito de adicionar ao currículo escolar o Uchinaguchi, a Prefeitura de Okinawa criou uma comissão em 2007 para gerar uma publicação que ajudasse ao ensino da língua nas escolas públicas. Mas nos últimos 5 anos, a complexidade e natureza diversa do Uchinaguchi têm impedido os estudiosos de decidir exactamente como codificar a língua e compilar o manual em questão. É que mesmo dentro da própria língua, existem vários dialectos falados na região sul de Okinawa. Tais diferenças existem para todas as 6 línguas diferentes – incluindo as formas faladas Amami-Oshima, Yaeyama, Miyako e outras ilhas do sudeste – declaradas com em perigo pela UNESCO. É por isto que peritos afirmam que mesmo linguistas e oficiais do governo não podem determinar qual dos dialectos codificar e tornar o standard.

À parte: para mim é simples a resolução deste problema. Codificam-se as 6 formas da língua, ensinando-se cada uma na região onde são ainda faladas. Trabalhoso, mas decerto fazível.

“Quando decidirmos que Uchinaguchi codificar, tornar-se-á mais fácil compilar um manual de ensino.”, disse Shinsho Miyara, professor jubilado da Universidade de Ryukyu, que faz parte do painel da Prefeitura designado para criar o manual.
Alguns peritos também realçam que as políticas de assimilação também dificultaram a estandardização da língua. “Como a intenção sob a administração colonial japonesa foi de que toda a gente assimilasse e aprendesse o Japonês, não houve qualquer iniciativa governamental para a estandardização do Uchinaguchi numa língua de pleno direito”, disse Ryan Yokota, doutorando de História na Universidade de Chicago e especialista em matérias pós-guerra em Okinawa.
Apesar dos seus esforços, os oficiais da Prefeitura de Okinawa dizem que o ensino obrigatório do Uchinaguchi nas escolas locais provavelmente não vai acontecer, uma vez que o governo central japonês nem a reconhece como uma língua separada.
Já o professor Fija, diz que é tempo das pessoas de Okinawa abraçarem a mais fundamental fonte da sua identidade. “Enquanto continuarmos a rotular o Uchinaguchi como um dialecto ou uma língua de segunda classe, vamos estar a tratar-nos a nós mesmos como cidadãos de segunda.”, afirmou Fija.

Ora, nós em Portugal temos um caso semelhante, felizmente menos complicado. Falo é claro da segunda língua oficial de Portugal, o Mirandês. “Em 2008 foi estabelecida uma convenção ortográfica, patrocinada pela Câmara Municipal de Miranda do Douro e levada a cabo por um grupo de entendidos linguistas, com vista estabelecer regras claras para escrever, ler e ensinar o mirandês bem como estabelecer uma escrita o mais unitária possível e consagrar o mirandês como língua minoritária de Portugal.”, in Wikipédia (http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_mirandesa). Provavelmente menos pessoas falam o mirandês que o Uchinaguchi, mas como faz parte da nossa herança cultural decidimos, para meu gáudio e orgulho, salvaguardá-lo. Eis algumas das medidas de defesa e perpetuação da língua mirandesa:
“O mirandês é ameaçado actualmente pelo desenvolvimento, a vida moderna, a televisão, e as pressões do português e do castelhano. Em sua defesa, foram tomadas as medidas:
  • ensino em mirandês, como opção, nas escolas do ensino básico do concelho de Miranda do Douro, desde 1986/1987, por autorização ministerial de 9 de Setembro de 1985.
  • publicação de livros sobre e em mirandês, pela Câmara Municipal de Miranda do Douro.
  • realização anual de um festival da canção e de um concurso literário, pela Câmara Municipal.
  • uso do mirandês em festas e celebrações da cidade e, ocasionalmente, nos meios de comunicação social.
  • publicação de dois volumes da série de banda desenhada Asterix.
  • tradução de todas as placas toponímicas da cidade de Miranda do Douro, efectuada em 2006 pela Câmara Municipal
  • estudo por centros de investigação portugueses como o centro de linguística da Universidade de Lisboa com o projecto "Atlas Linguístico de Portugal", e a Universidade de Coimbra, com o "Inquérito Linguístico Bolêo".
  • criação de uma Wikipédia em Mirandês, a Biquipédia.
  • disponibilização de sítios em Mirandês, entre eles hi5, Photoblog e WordPress em Mirandês.”




Portanto o que aqui interessa não é a quantidade de pessoas que fala uma língua, ou que a escreve, mas sim a sua riqueza cultural, a salvaguarda do pluralismo cultural, tão importante para a evolução de um povo como o pluralismo genético é para a evolução de uma espécie. Nunca me esqueço de uma frase dita por Lawrence das Arábias a Indiana Jones, no primeiro episódio da série televisiva desta última personagem que relatava as suas aventuras em criança e em adolescente. “Henry, onde quer que vás, sejam quais forem os países que visites, aprende a língua. É a chave que abre tudo.” Foi esta frase que me levou a querer aprender inglês, sendo que quando cheguei ao ciclo, embora não o lesse nem o escrevesse, já tinha considerável fluência oral no inglês americano. Nós temos um espírito, uma alma, quanto mais não seja até morrermos (para lá desse momento, não se sabe o que acontece). Essa alma é a composição de todas as sensações que vivemos, memórias que retemos e saberes que aprendemos. Sendo assim, a alma de um povo será a composição das suas tradições e História, das quais a Língua é, ou para povos sortudos as Línguas são, fulcral(ais).

Já agora, impõe-se uma questão. Se nós procuramos por todos os meios salvar línguas que poucos falam, que peso tem o argumento dos números para justificar o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 (AO’90)?
A resposta tem de ser rápida e decisiva. É um argumento inválido. O facto é que o Português Europeu nunca esteve ameaçado ou em vias de extinção como os alarmistas defensores do AO’90 quiseram que acreditássemos. Desde a fundação deste país até aos dias de hoje, fomos sempre poucos em números, sendo que provavelmente nunca houve tantos portugueses como há hoje em dia. Como é sequer concebível levar o argumento dos números a sério? A verdade é que o injustificável não pode ser justificado por argumentos válidos, então há que inventar argumentos por mais absurdos que sejam. Já falei a grande extensão dos erros técnicos e incongruências do (des)Acordo Ortográfico no post Desacordo Ortográfico e Democracia:
Neste falei também de que é um acordo anti-democrático pois foi feito contra a vontade dos povos (até o Miguel Sousa Tavares dá testemunho disso melhor que o meu pois ele foi ao Brasil, falou com brasileiros e diz que ainda não encontrou um que quisesse o AO) que afecta, ou no mínimo se lhes consultar a opinião. Por outro lado, numa democracia, escutam-se as minorias e desde que estas não coloquem em risco o bem da maioria, procura-se salvaguardar os seus direitos. O problema é que o AO’90 é uma imposição de uma minoria restrita sob mais de 4 povos diferentes, com o pretexto de salvar uma língua que nunca esteve em risco, através duma evolução forçada e contra-natura que ameaça ela sim o pluralismo e riqueza do Português nas suas variadas formas.
E os nossos políticos defendem esse acordo sem sequer o entenderem:

É que nem os defensores do AO’90 o entendem ou conhecem:
Fazem lembrar aqueles zelotas cristãos que defendem de forma acérrima a sua religião mas nunca leram a Bíblia que é só o pilar central de toda a crença deles. Mas pronto, quem acredita não requer provas ou argumentos lógicos. ["The US Religious Knowledge Survey, released Tuesday from the Pew Forum on Religion & Public Life, found atheists and agnostics know more basic facts about the Bible than either Protestants or Catholics.", fonte: http://www.csmonitor.com/USA/Society/2010/0928/In-US-atheists-know-religion-better-than-believers.-Is-that-bad Só para dar peso ao argumento.] Será então o acordês uma neo-crença dogmática? God, let us hope not!

Mas ainda vamos muito bem a tempo de desfazer esta insanidade cultural pretensiosa, hipócrita e disfarçada de sabedoria, através da Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico de 1990 (ILCcontraAO’90).
Para lerem a ILCcontraAO’90, vão a: http://ilcao.cedilha.net/
Podem encontrar o formulário para a assinarem em:
Para preencherem necessitarão do vosso número de eleitor que, estando em posse do vosso BI ou Cartão do Cidadão, podem saber através de:
ou através de uma SMS para o 3838 com o texto:

REespaçoN.ºId.CivilespaçoDatadeNascimento(AAAAMMDD)

Exemplo: RE 1234567 19751014

Eu já reuni 4 assinaturas (só comecei a semana passada eheh), incluindo a minha, e espero reunir mais umas quantas para depois enviar por correio para a morada:

Apartado 53
2776-901 Carcavelos

Há ainda uma série de sítios espalhados pelo país onde poderão preencher o formulário, assiná-lo e entregar sem mais gastos. Podem saber onde o poderão fazer através do seguinte link:

Cidadãos, as vossas canetas são precisas para salvaguardar a alma do nosso povo. Evolução sim, mas uma evolução natural quando muito auxiliada com rigor técnico, nunca aos caprichos de uns quantos que se têm em demasiada alta conta e que têm o desplante de dar o único parecer técnico positivo ao documento que eles próprios compuseram.

Alex, signing off 4 the momment!

P.P.S.: Só para completar... mesmo que o argumento dos números relativamente ao AO'90 tivesse qualquer mérito, o Destino (esse que domina até os Deuses, segundo os poetas neoclássicos) entregou-nos a forma perfeita de espalhar o Português Europeu pelo Mundo. Ora atentem às seguintes notícias de há uns meses:


Não há povo mais numeroso que o Chinês, é só metê-los a falar/escrever Português Europeu e 'tá feito, meus amigos! :D Isso sim, seria uma jogada à Dom Afonso Henriques, o cavaleiro-rei que entendeu em pleno século XII que a religião era apenas a política da época! ;)
Contudo, eu fico satisfeito se os 10,5 milhões deste pedacinho de terra, esta aldeia de irredutíveis lusitanos, não fiquem privados da sua herança cultural. Nem mesmo de 4% desta.

Roku Juu... Otousan... Ni-jū Rasen!

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Este é o post 60 do N.I.N.J.A. Samurai. É uma entrada que desejo dedicar a alguém muito importante na minha vida, o meu pai. É que foi neste terrível ano de 2012, temido pelos supersticiosos como o ano do fim do mundo, que tanto este blog viu o seu sexagésimo post surgir como o meu pai viu o seu sexagésimo aniversário.
Antes de mais, eis as variadas maneiras de dizer “pai” em Japonês:
Meu pai - Chichi ( pronúncia - Titi )
Pai (dos outros) - Otousan ( Pronúncia - Otôssan, e menos formal, se pronuncia sem o "o", ficando Tôssan -Tousan ) お父さん ( Na escrita, o menos formal é só tirar o "" )
O meu Pai, entre outras coisas, foi das pessoas que mais estimulou o meu gosto pela escrita, sem nunca me obrigar a nada. Quando eu era pequeno e antes de saber ler, o meu pai lia-me bandas desenhadas da Disney, do Lucky Luke, do Astérix, do Michel Vailant, etc… Quando aprendi a ler, passámos para as BD de sci fi, Marvel e DC, essencialmente. Sim, mesmo depois de eu saber ler, eu forçava o meu pai a ler-me as BD’s, porque a verdade é que ele acrescentava um ponto seu ao conto e tornava tudo mais interessante e divertido. Além disso, era tempo que passava com ele. Entre a Primária e o 10º ano, fora das obrigatoriedades estudantis, só lia BD's. Os meus pais lá me sugeriam outros livros, que eu na altura tinha como mais massudos, mas nunca me obrigaram a pegar neles. A certa altura, contudo, quando andávamos em arrumações lá por casa, descobri um livro que li numa tarde. Um livro de bolso do meu pai, de ficção científica, chamado Deuses Siderais. Ele cruzava a Atlântida, com deuses que eram de facto apenas humanóides vindos doutros planetas e cuja tecnologia perante os homens da Idade da Pedra parecia magia. It blew my mind! Anos mais tarde, andava eu no 11º, quando já tinha começado a atacar a colecção de Sci Fi (sem imagens ahahah) do meu pai. As colecções Argonauta e as publicações Europa-América, com autores como Isaac Asimov, Ray Bradbury, Robert Block, A. E. Van Vogt, entre outros, fizeram-me as delícias e abriram-me os horizontes como só a ficção científica pode fazer. Depois, via Tolkien, migrei para a Alta Fantasia, depois para os policiais e também para os romances históricos (como os de Humberto Eco). Hoje ando a ler Eça de Queirós e José Saramago, sendo que vou lendo também as aventuras de Tomás Noronha, por José Rodrigues dos Santos. Sou também grande fã de George R.R. Martin e da sua Canção de Fogo e Gelo, mas também das Crónicas de Alarya de Filipe Faria. E sim, ainda leio BD’s, quando tenho dinheiro para as comprar, pois hoje em dia já não se encontram em quiosques como no “tempo das vacas gordas” em que eu cresci, em absoluta felicidade.
Por todos os passeios à beira mar a filosofar interminavelmente, por todas as histórias lidas, por seres o meu primeiro mestre de artes marciais, por todas as aulas de astronomia em noites lusitanas, fico eternamente em tua dívida, meu pai. Que juntos festejemos saudáveis e felizes, pelo menos, mais 60 aniversários teus!
O meu pai gostava de ter sido arquitecto, mas foi sonho que ainda está por realizar. Pode ser que um dia eu lho possa proporcionar, como ele me proporciona a mim (juntamente com a minha mãe e o meu avô, claro) a minha contínua educação. Até lá, deixo estas imagens a acompanhar as minhas palavras nostálgicas e profundamente sentidas.




Legenda das Fotos: Esta é a Casa de Dupla Hélice, em Tóquio. Criada pelos estúdios de arquitectos Maki Onishi e Yuki Hyakuda . É uma casa citadina de multi-níveis, situada na zona residencial de Tóquio. Como a área onde foi erguida é cercada por outras habitações, o projecto foi limitado pelo espaço disponível, consideração que levou a construir-se em altura. Com escadas em redor do exterior e do interior, a casa torna-se numa hélice dupla, ascendendo em torno do perímetro. O núcleo é composto por um cubo branco abstracto que hospeda os espaços privados, enquanto divisões em torno do exterior suportam as áreas comuns.
Para evidenciar o traço do edifício, um painel de madeira escuro envolve a fachada. As formas simples e contrastes entre os materiais continuam no interior, onde a construção em betão é deixada exposta.
Fonte: http://www.designboom.com/weblog/cat/9/view/19372/onishimaki-hyakudayuki-architects-double-helix-house-tokyo.html










NOTA: As fotos são de Kai Nakamura.


Não sei se repararam, mas esta casa singular não foi escolhida ao acaso para este post. Afinal, que vos lembra uma Hélice Dupla (em Japonês, segundo o tradutor do google, Ni Jū Rasen == 二重らせん)?? Uma cadeia de ADN, talvez? E de onde vêm o ADN dos animais? Dos seus pais. Agora isto sim, é Desenho Inteligente! Ahaha Não resisti! ;P
Já agora, o título é apenas uma amálgama de palavras em Japonês que não fazem necessariamente sentido literário. Traduzindo à letra e por ordem (da esquerda para a direita): 60 Pai Dupla Hélice! Digam lá que não é um título pomposo quando dito em Japonês!? :D
Quanto à escultura, encontrei a imagem no google e não sei quem a fez ou fotografou, mas infelizmente não fui eu! 

Alex, signing off… again!

Novidades

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Ah pois é, as aulas já recomeçaram e este N.I.N.J.A. conseguiu arranjar emprego finalmente. O que provavelmente me impede de continuar a usar para mim mesmo o título mencionado na frase anterior. Menos mal. Portanto estou a trabalhar e a estudar, o que me deixa muito menos tempo aqui para o blog. Não me faltam tópicos e espero ainda este mês, que rapidamente se aproxima do seu fim, fazer uma outra entrada dedicada a energia e o futuro do Japão. Se não conseguir escrevê-la até ao fim deste mês, surgirá no próximo.
Por agora, vou apenas deixar-vos com as novidades da Embaixada do Japão:

Realização do ‘Japanese Language Proficiency Test’
O ‘Japanese Language Proficiency Test’, promovido pela “Japan Foundation” e “Japan Educational Exchanges and Services”, será realizado no dia 2 de Dezembro, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. O prazo de inscrição para o exame é de 17 de Setembro até 9 de Outubro. Para qualquer esclarecimento adicional, contactar:
< Comité do ‘Japanese Language Proficiency Test’ - jlpt.portugal@gmail.com
< Sector Cultural da Embaixada do Japão – Tel: 21 3110560 / cultural@embjapao.pt

“Um espaço Japonesqe”
Na Biblioteca Municipal Almeida Garrett no Porto (Rua de D. Manuel Ⅱ, Porto), organizar-se-á de 4 a 29 de Setembro, a exposição “Um Espaço Japonesqe”, organizada por Yuko Sodebayashi, residente japonesa no Porto. O evento compreende a exposição de vários objectos relacionados com o Japão, com o tema de “gravar”, “pintar”, “cozer” e “tecer”.
Mais informação : 229 721 408, 938 376 024


"Haiku – 35 poemas a Lisboa"
A Câmara Municipal de Lisboa, através do Departamento de Acção Cultural com a colaboração da Embaixada do Japão em Lisboa, convidam à participação numa iniciativa literária intitulada "Haiku – 35 poemas a Lisboa".
Das obras, com o tema da Cidade de Lisboa, serão posteriormente seleccionados 35 poemas. O convite é extensivo aos portugueses que têm interesse na cultura japonesa e à comunidade japonesa para participar no concurso podendo os participantes elaborar, neste caso, o haiku em japonês e ou português. No caso de ser escrito numa das línguas será feita a tradução na outra língua. Será feita uma sessão de poesia com todos os Haikus participantes (em data e local a determinar, em Novembro) e a elaboração de um pequeno livro com os 35 poemas seleccionados.
Os poemas poderão ser enviados para ernesto.matos@cm-lisboa.pt ou para a Embaixada do Japão
bunka2@net.novis.pt até 30 de Setembro.
Mais informação : ernesto.matos@cm-lisboa.pt , bunka3@net.novis.pt


Recepção de obras para o “17th Kanagawa Biennial World Children’s Art Exhibition”
Estarão abertas as inscrições, nos prazos em baixo indicados, para a recepção de obras para o “17th Kanagawa Biennial World Children’s Art Exhibition”, organizado pela Prefeitura de Kanagawa, Japan Overseas Cooperative Asssociation e Kinko-Biso Co., Ltd. A exposição está agendada para os meses de Julho a Agosto de 2013. Outras informações:
< Qualificações para participação : Crianças entre 4 a 15 anos de idade
< Prazo da apresentação de obras : 1 de Setembro ~ 30 de Novembro de 2012
< Envio de trabalhos para: Secretariat, The 17th Kanagawa Biennial World Children’s Art Exhibition,
Japan Overseas Cooperative Association c/o Kanagawa Plaza for Global Citizenship 1-2-1 Kosugaya,
sakae-ku Yokohama 247-0007 JAPAN < Mais informação: Email: k-biennial@earthplaza.jp

IBERANIME no Porto
Realizar-se-á de 13 a 14 de Outubro no Multiusos de Gondomar (Av. Multiusos, 4420-015 Gondomar, Porto) no Porto, o IBERANIME, evento direccionado a fãs e curiosos da Cultura Pop Japonesa. Nesta edição do IBERANIME, várias actividades estão programadas desde Workshops, videojogos, demonstrações, concertos e concursos de anime e manga.
Mais informação : info@iberanime.com, Telf.21 426 97 10 // URL: http://www.iberanime.com/pt/

Para terminar, e como já é aviso habitual, tudo o que está a Itálico foi copiado directamente do mais recente boletim informativo da Embaixada do Japão, sendo que me dei à liberdade de corrigir as palavras em Acordo Ortográfico de 1990, uma vez que discordo categoricamente da sua utilização, sendo que não acredito na sua validade e/ou valor. Aliás, lendo com atenção os textos no boletim da Embaixada que me foi enviado este mês, vê-se por exemplo que umas vezes os meses aparecem com inicial maiúscula e outras vezes com inicial minúscula. Além de que continuam a ter um Sector Cultural e não um "Setor" (deve ter a ver com setas) Cultural! Nem sabem a quantas andam, sintoma habitual de quem padece desse mal do Acordês. O site da Embaixada aparenta continuar sem o AO:
E vós, já fostes assinar a ILC contra o AO90?? Não deixeis para amanhã o que podeis fazer hoje:
http://ilcao.cedilha.net/

Numa última nota, a todos os que puderem e se interessam pelo destino do Estado Social de Portugal, vão à manifestação marcada para este sábado. Esqueçam divisões partidárias e sociais, lutem pelos vossos/nossos direitos.


Sayonara!

Samurai Hannya

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Saudações, cibernautas, hackers, crackers, anonymous et all!
The Governator is, but so am I… back!

Um muito feliz ano de 2013… apesar das terríveis previsões que se faz para o que se avizinha para Portugal. Mas previsões valem o que valem. Alguém acusou os Maias de preverem o fim do mundo para 2012. Falharam. Depois já tinha de ser no dia 21 de Dezembro de 2012… por questões óbvias (que me escapam) de numerologia. Alguns ainda esperaram até ao Fim de Ano pelo Fim. Como é dito no “Gladiador”: «… not yet.» Por sua vez o Governo, também prevê coisas maravilhosas e estonteantes a cada vez que lança novo pacote de medidas (contra) económicas para o país e o resultado é sempre o mesmo desastre. Por isso, as previsões valem o que valem. Corações ao alto, diz a minha mãe. Enfrentemos a tempestade quando ela chegar.
Falando de coisas aterradores, e dando uma primeira explicação para a imagem de abertura desta entrada, Mark Kermode, o meu crítico de cinema favorito e tido como o crítico de cinema mais influente do Reino Unido, enquanto apresentando no seu vídeo blog o livro sobre Monstros Cinematográficos de John Landis, reflecte sobre qual o monstro do cinema que mais arrepios lhe causou. Eu creio que respondi a esse post na altura, dizendo que para mim foi o monstro do filme “A Mosca” com Jeff Goldblum. Contudo, para Kermode, o monstro que mais impressão lhe fez foi o de um filme japonês (que eu nunca vi) chamado "Onibaba". É simplesmente um tipo com uma máscara Hannya, mas por alguma razão que ele não entende bem, dá-lhe arrepios pela espinha acima.
A máscara Hannya (般 若), que é usada primariamente no teatro Noh, mas também no teatro Kyogen e nas danças Kagura dos rituais Shinto, representa a alma de mulheres que se tornaram demónios através do ciúme ou da inveja. Possui dois cornos tipo touro, olhos metalizados e um sorriso doentio de orelha a orelha. Hannya é uma tradução para japonês da palavra Prajna, palavra que vem do sânscrito e que quer dizer Sabedoria.
A máscara oferece a possibilidade do actor a usar para exprimir emoções humanas. Vista de frente tem um aspecto demoníaco e furioso, mas se o actor que a usa olhar para baixo, encostando o queixo mais ao peito, a máscara assume um ar que inspira pena e dó, exemplificando assim a complexidade das emoções humanas.
Estas máscaras aparecem em várias tonalidades:
- branca: representa uma mulher de estatuto aristocrático;
- vermelha: uma mulher de classe baixa;
- vermelho escuro: demónios verdadeiros.
Falando em cinema e superstições, ouvi uma vez dizer, também num filme, salvo erro no “Amo-te Teresa”, que devemos entrar no ano novo a fazer o que mais gostamos, para o fazermos durante todo o ano. Embora a superstição seja cada vez menos algo que me preocupe, “quando em Roma…” Como tal, vou iniciar este ano de blogger com um post que entre outras coisas contém uma crítica de cinema. No ano passado, estreou o filme live action do Samurai X.
Eu sempre adorei essa série. Achei que embora tivesse os exageros típicos da maioria das séries e filmes anime no que diz respeito às técnicas e lutas, não tinha na sua maior parte técnicas assentes em poderes sobrenaturais. Muitas das lutas de facto assentavam em pormenores técnicos como o rodar de um corpo sobre um joelho até este último por fadiga ficar lesado; ou o avançar de um pé específico para que o desembainhar da espada não cortasse a perna de quem a empunhava; ou uma técnica que assentava em dar um duplo golpe de mão com poder destrutivo e que a única forma de o parar era um contra golpe em sentido contrário com a mesma intensidade… a Força é MÁ, já dizia o meu professor de físico-química do secundário; por exemplo, um guerreiro cego que todos pensavam ter poderes sobrenaturais detinha apenas uma audição excepcional; um ninja que luta com os punhos vazios dizia-se capaz de lançar um feitiço que impedia o adversário de medir o comprimento dos seus braços, fazia-o de facto com mangas listradas que causavam um ilusão de óptica e foi derrotado quando o adversário usa a espada com régua para lhe medir o comprimento dos braços. Enfim, podia continuar. Gosto deste tipo de pormenores porque também eu há muito que pratico artes marciais e sei o quão grande é, ou tem de ser, a ênfase dos aspectos técnicos pequenos que compõem cada golpe afim de o trazer ao seu máximo potencial. É claro que na série isto é levado ao extremo, mas a ideia está lá. Por outro lado, as personagens eram únicas e era fácil gostar delas, até dos vilões. Toda a série se passa num ambiente de um mundo a acabar e outro a começar. Os acontecimentos passam-se de facto numa altura de transição de um regime para outro, com mudanças drásticas na cultura nipónica, que dificultou muito a adaptação de um vasto e outrora poderoso sector da população japonesa, os samurais. Isso também me agradou. As revoluções tendem a ser sangrentas e horríveis, mas aquele período ainda de perigo e instabilidade logo a seguir a uma revolução tem o seu je ne sais quoi de romântico. Como que um romance de espionagem. Antes de começar com a crítica em si, devo dizer que nunca li a manga, só vi o anime.
Gostei. Em comparação com o Dragon Ball, o filme, este é uma obra-prima de adaptação cinematográfica (mas também não era preciso muito).
Em termos de caracterização, as personagens estão muito próximas dos originais, até nos penteados. Contudo, tenho a dizer que em termos das personagens femininas não houve o mesmo cuidado. A Megumi e a Kaoru estão demasiado parecidas no filme uma com a outra, diferindo apenas na personalidade. Ora na série, a Kaoru era meio Maria Rapaz sempre com o cabelo atado num rabo de cavalo, magrita e baixa, enquanto  que a Megumi era alta, mais alta que o Kenshin e com um longo e vasto cabelo. Mais mulher e mais feminina. Na verdade, espero que não considerem isto um comentário racista, pois não o é, mas achei difícil diferenciá-las, uma vez que na série eram tão díspares.
A história é fácil de seguir sendo parecida com um dos arcos da série, aquele em que um cartel de droga, protegido pelo grupo de ninjas comandados por Aoshi Shinomori, rapta a Megumi para ela lhes fazer ópio. Basicamente é isso que acontece no filme, mas em vez do dito cartel ser defendido pelo Oniwabanshū, é defendido por outras personagens que eu desconhecia por completo, de um outro bando que se chama (segundo a wikipedia) os Seis Camaradas. Por exemplo, Hanya é substituído por um desses Seis Camaradas que também usa máscara, chamado Gein (imagem acima), e Shikijo (um guerreiro que só usa os punhos) é substituído por outro dos Seis Camaradas que também só usa punhos, chamado Inui (imagem abaixo). Já, Aoshi, um dos melhores adversários do Kenshin na série e que depois se torna seu aliado, é substituído por um dos mais pérfidos adversários de Kenshin, chamado Jinei. Se a ideia era não utilizar já Oniwabanshū, para depois fazerem um filme dedicado a eles, até entendo, se bem que preferia ter visto o Hanya e o Aoshi, às personagens que apareceram. Ou se calhar foram fiéis à manga original, não o sei. Mas fiquei um pouco triste. Em particular pelo Hanya, que é das personagens que mais curti na saga.
A outra parte da história, é a explicação da cicatriz de Kenshin, o porquê da espada de gume invertido, e algumas tentativas de trazer o Battōsai de volta ao espírito de Kenshin. Essas tentativas, tal como na série, são levadas a cabo, por diferentes razões, por Jinei e Hajime Saito, ambos também veteranos da guerra civil, ambos experientes assassinos, como Kenshin Himura fora. Saito tornou-se polícia especial, Jinei mercenário fora-da-lei. Na série, Saito quer reavivar o esquartejador em Himura para ele estar a altura de defrontar Shishio. Aqui, parece que o quer fazer reviver porque acha que ele não pode escapar a essa natureza, já que ele (Saito) próprio não consegue. Já Jinei procura a morte que não obteve na guerra, ou assim parece. Há ainda uma terceira parte da história, mas antes de lá chegarmos, falemos de lutas.
Ora bem, por todo o filme, os movimentos do actor que faz de Kenshin Himura são espectaculares, parecendo conjugar perfeitamente golpes e movimentos próprios do Hiten Mitsurugi com o Kempo real, fazendo uma perfeita mas realística importação da personagem do anime para o live action. A luta entre ele e o Sanozuki, tal como acontece num episódio da série, é retratada no filme. Não está má. A luta entre Kenshin e Jinei está porreira. As cenas intermédias contra os dois membros dos Seis Camaradas são escapatórias, embora tenha achado que não era preciso serem tão animalescos e quasi-ridículos na luta que envolve o Sano. Fizeram-no parecer apenas um bruto, quando ele na série era bem mais fixe que isso. Agora o que me desiludiu foi a luta entre o Kenshin e o Saito, para mim a melhor cena de pancada de toda a série do Samurai X, que vos deixo aqui.
Esta cena no filme é desprovida das emoções ou intenções viscerais que a sua homóloga em anime demonstra. Além disso, a ferocidade e engenho demonstrados na cena em anime e que eram demonstrativos de como lutavam os melhores dos melhores durante a carnificina da guerra civil, onde tudo valia e apenas a vitória importava, também se perderam na tradução. A intensidade dramática e o sentido de perigo são retirados desta cena no filme, o que a faz tornar banal e patética quando deveria ser central, a fim de dar alguma utilidade, senão profundidade à personagem de Saito na acção. É que tal como foi feita esta cena, a personagem do Saito era totalmente dispensável deste filme, porque Jinei já faz o trabalho de tentar trazer o esquartejador ao de cima. O que para mim é outra oportunidade perdida, uma vez que o Saito é uma personagem muito porreira na saga do Shishio, que não só estimula o Kenshin a tornar-se mais forte se quer mesmo esperar vencer o Shishio, como também estimula o Sano a tornar-se mais forte se quer realmente participar do combate contra Shishio. Sem Saito, o Shishio teria ganho. Ele não só é forte e fixe, como é essencial na série. Aqui parece que foi metido só para agradar os fãs.
Já agora Jinei é o único que tem uma técnica mais esquisita que os outros, mas a personagem logo na sua primeira utilização dessa técnica, apressa-se a dizer que não é magia, apenas uma aplicação do Ki para criar uma aura negativa que utiliza ou se alimenta do medo da pessoa para a imobilizar. Até o podíamos explicar como uma forma de hipnotismo ou sugestão, mas isso seria demasiado ocidental. Os olhos dele estão espectaculares.
A terceira parte da história, é a criação do grupo central da história, Kenshin, Kaoru, Sano, Megumi e Yahiko, como não podia deixar de ser.
Em vez de lhes chamar partes, deveria talvez ter-lhe chamado lados, quiçá fios, porque na verdade, os três fios estão bem entrelaçados numa única e, na sua maior parte, coesa sucessão de eventos, que acontecem a um bom e rápido ritmo. Pena o desperdício do Saito.
Antes de terminar, quero ainda abordar a cinematografia e a banda sonora.
A cinematografia é boa e profissional, mas banal. Falta-lhe um pouco de magia do Oriente. Havia muitas alturas na série em que víamos ruas a serem flageladas por chuva torrencial, ou jardins com aquelas fontes em que uma fonte enche continuamente uma cana, até o peso da água a desequilibrar e fazer despejar a água, apenas para retornar à mesmo posição e recomeçar o movimento. Faltou esse tipo de coisa, feito com estilo e em cenários reais. Ora gaita, o "Kill Bill" faz isso no último duelo do Volume I. E não me venham dizer que este filme se esforça por não imitar ninguém, porque um dos finais (e sim, como o LOTR – O Regresso do Rei, este filme tem muitos finais antes do fim) é tão “O Último Samurai”. Embora, creio não estar em erro ao dizer que a série de anime do Samurai X é anterior a qualquer um destes filmes, por isso foram eles que imitaram a série e não vice-versa.
Quanto à banda sonora, sinceramente nem reparei nela, o que é triste porque a banda sonora da série para mim é muito fixe. Espectacularmente dramática, conseguia elevar o contexto emocional das cenas de batalha ou de desenvolvimento da história ou das personagens, levando-nos a descrer que os bons iam vencer, como não podia deixar de ser. E até eu, que não tenho nada ouvido musical, poderia sugerir um main theme para o filme. A certa altura, decidi juntar as duas músicas dessa banda sonora que mais curti, sobrepondo-as. Para verem as vezes que já ouvi esta banda sonora, enquanto treino, estudo ou escrevo, proponho-vos esta experiência:
- Acima e abaixo encontram dois vídeos. O primeiro (acima) tem a música Hiten Mitsurugi Ryuu. Devem metê-la a tocar e deixá-la ir até aos 1minutos e 9 segundos, nessa altura devem carregar no play do segundo (abaixo) vídeo que tem a música Isshin Tenpuku Keekaku. Eu curto bué as duas músicas e um dia corri esta experiência, acho que as duas sobrepostas dão uma música soberba. Ah!, quase me esquecia, coloquem o volume da Hiten a um pouco mais de meio da barra do som, e a Isshin a meio da barra. ;) Try it e digam-me o que acham. Isto, não é só o Meo que tem canal interactivo, sabem? Eheheh
Em suma, gostei muito do filme, embora pudesse ter sido ainda melhor, e espero que façam outro, desta volta com a história do Shishio, se possível metam o Oniwabanshū lá p’lo meio. Talvez dois filmes, um em que o Shishio contrata secretamente o Oniwabanshū para matar o Kenshin. O Kenshin causa de alguma forma, ou aos olhos do Aoshi, a morte dos seus homens, e o Aoshi acaba por se unir ao Juppongatana de Shishio. E o segundo filme, seria a conclusão.

Antes de me despedir quero só deixar-vos as últimas novidades que a Embaixada do Japão me enviou, para o caso de vocês estarem interessados e ainda não ocorrentes. Este é o email na integra, corrigido as anomalias criadas por um vírus infeccioso conhecido por Acordo Ortográfico de 1990 (façam o gentil favor de assinar a ILC contra o AO90, mais informações em http://ilcao.cedilha.net/), à excepção das imagens que estavam infectadas dessa mesma virose. Como não são palavras minhas, o texto está todo em itálico:

«A Embaixada do Japão tem o prazer de divulgar os eventos em baixo indicados, agradecendo, desde já, toda a divulgação que possa fazer sobre os mesmos.

Informamos ainda que em 2013 celebra-se os 470 Anos de Amizade entre o Japão e Portugal, convidando-o(a) a visitar a página institucional desta efeméride, através do link http://www.pt.emb-japan.go.jp/470Anos/index.html .

Muito obrigada pela sua prestimosa colaboração e esperamos vê-lo(a) nos nossos próximos eventos!

Workshop de Origami - dobragens de papel
Data:
30 Jan.2013 - das 15h00 às 17h00
31 Jan. 2013 - das 10h00 às 12h00
1 Fev. 2013 - das 10h00 às 12h00
1 Fev. 2013 - das 15h00 às 17h00
Local: Embaixada do Japão, Av. da Liberdade, nº 245 - 6º | 1269-033 LISBOA | Tel.: 21 311 05 60 | Email: cultural@embjapao.pt
INSCRIÇÃO (gratuita):
  • OBRIGATÓRIA, ATRAVÉS DE FICHA DE INSCRIÇÃO PRÓPRIA PARA O EFEITO(disponível em http://www.pt.emb-japan.go.jp/470Anos/docs/origami2013_ficha_inscricao_EMBJAPAO.pdf)
  • Todos os interessados só podem inscrever-se num dos 3 dias da formação;
  • Inscrição aceite só via fax ou Email - não são aceites inscrições pelo telefone (a Embaixada do Japão só aceita inscrições a partir do dia 7 de Janeiro de 2013);
  • A inscrição só é aceite após confirmação do Sector Cultural, por telefone ou Email;
  • Inscrições limitadas a 22 participantes - após este número, não aceitaremos mais inscrições.

Furoshikié um pano tradicional japonês que é utilizado para embrulhar e/ou transportar roupas, presentes, ou outros artigos. Pode ser liso ou pintado, pequeno ou maior, adaptando-se às necessidades de quem utiliza esta técnica. Quem sabe se não está aqui uma solução óptima para a próxima ida às compras ou para surpreender um amigo?
Data:
30 Jan.2013 - das 10h30 às 12h30
31 Jan. 2013 - das 15h00 às 17h00
Local: Embaixada do Japão, Av. da Liberdade, nº 245 - 6º | 1269-033 LISBOA | Tel.: 21 311 05 60 | Email: bunka2@net.novis.pt
Notas importantes:
  • O workshop é gratuito;
  • Todos os interessados só podem inscrever-se num dos 2 dias da formação;
  • Inscrição aceite só via fax ou Email, através da ficha de inscrição obrigatória (disponível em http://www.pt.emb-japan.go.jp/470Anos/docs/furoshiki2013_ficha_inscricao_EMBJAPAO.pdf) – não são aceites inscrições pelo telefone;
  • A inscrição só é aceite após confirmação do Sector Cultural, por telefone ou e-mail;
  • Inscrições limitadas a 20 participantes por sessão – após este número, não aceitaremos mais inscrições;
  • Solicita-se aos participantes confirmados que tragam um quadrado de tecido em algodão (45x45cm) ou outra medida aproximada.», por:
Maria José Martins
Sector Cultural // Embaixada do Japão
Av. da Liberdade, nº 245-6º
1269-033 Lisboa
Tel.: 213110560 // Fax: 213543975


Em jeito de despedida, é engraçado notar que enquanto já utiliza nos seus emails oficiais o AO90 (cuja constitucionalidade da sua implementação em Portugal está ainda por decidir em tribunal, o desejo da sua implementação pelos povos que afectará não é o desejo da maioria democrática dessas mesmas populações, e a falta de rigor técnico que lhe é adjacente já é facto conhecido e anunciado por especialistas de um lado e doutro do Oceano Atlântico e no continente Africano), a Embaixada do Japão em Portugal ainda retém o C no seu Sector Cultural… se calhar, porque tem verdadeira cultura, embora politiquices nela queiram interferir.
Um grande bem-haja, irmãos e irmãs, amigo(a)s, camaradas, e um excelente 2013 vos deseja este meu, vosso, nosso, N.I.N.J.A. Samurai!
P.P.S.: Peço desculpa por não ter legendado o vídeo do Dr K (Mark Kermode), mas mesmo sendo só 2 minutos e pouco de vídeo, o meu tempo é escasso. Até porque isso é a coisa boa de um blog, pode sempre ser editado mais tarde! Assim que acabar os exames corrijo isso. Não vos pedi desculpas pelos meses de ausência aqui do blog, porque me tem sido de todo impossível estar mais presente. São muitas coisas a conjugar e quando escrevo aqui, gosto de levar o meu tempo afim da coisa ficar minimamente bem feita. Se ainda aqui estão, é porque me compreendem e perdoam à partida. E como diria o Conan, se não estão:“… to Hell with you!” ;)
Sayonara… 4 now!

1 Versículo Satânico 4 St Valentine

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Quão próximas estão agora culturas que eram tão distantes, neste nosso berlinde azul, supra globalizado e “ubermercantilizado”. Louvado seja o todo poderoso Cifrão (não, não me refiro aos D’zrt!!) por nos dar o Dia de S. Valentim.
Qual o Natal, este dia pouco ou nada tem a ver com o que diz ser a sua premissa ou razão de ser, nos nossos tempos. Não, não é o amor ou o romance que interessam neste (porque não?) amaldiçoado dia, mas sim o quanto se gasta para agradar o/a respectivo(a) “mais-que-tudo”.
Mas enquanto deste lado do mundo o ónus da responsabilidade historicamente [até porque hoje em dia com a igualdade de direitos, espero eu exista também a igualdade de deveres] reside nos ombros do cavalheiro que deve de presentear a sua donzela com algo magnificamente caro, do outro lado do mundo, mais precisamente no Japão, são as mulheres que neste malfadado dia 14 de Fevereiro afluem às lojas de chocolates nipónicas impulsionadas por um dever semelhante. E neste último caso, não têm só de comprar a pensar no namorado ou no marido, oh não! O dever manda comprar igualmente para os colegas de trabalho e para os chefes.
Long live the almighty dollar! In God we trust!(e aqui uso dólar porque até há bem pouco tempo era a moeda internacional por excelência e porque me permitiu usar aquele mote tão delicioso que vem nas notas americanas e assim evocar o Senhor em vão. Não o fazer num versículo satânico é sacrilégio!)
O Chocolate está disponível no Japão desde pelo menos 1797, quando era oferendado às prostitutas por mercadores holandeses (que eram na altura os únicos europeus aos quais era permitida uma presença contínua num país que estava de qualquer outra forma isolado do mundo e onde a viagem para o estrangeiro pelos seus cidadãos era crime punível com pena capital). De certa forma, é engraçado que agora sejam as mulheres a ter que dar aos homens.
Hoje em dia, contudo, o Japão tem uma indústria chocolateira de 11 biliões de dólares que é impulsionada por dias especiais, como o de São Valentim. Estes dias são por sua vez gerados e/ou mantidos pela acção de uma vasta maquinaria publicitária (a.k.a. propaganda). Crê-se que metade do total supra mencionado seja obtido em Fevereiro.
E mais uma vez, a economia serve de régua de medir os homens, que são todos iguais, embora uns sejam mais iguais que outros… atrevo-me eu a roubar aqui a Orwell. Para os mais-que-tudo compra-se dos chocolates mais caros, o chocolate honmei (verdadeiro amor), para os colegas de trabalho e para os chefes compra-se do chocolate mais barato, a que se chama chocolate giri (dever). O pessoal do marketing já anda a congeminar um terceiro tipo de chocolate, feito para as mulheres oferecerem às colegas, que se chamará chocolate tomo. Tomo é um diminutivo de tomodachi que quer dizer “amigo(a)” em japonês.
No Japão, uma mulher chega a gastar algo que ronda os 10mil yen, cerca de 100 dólares, ou uns 75 euros, de chocolates neste dia. E as marcas de chocolate estrangeiras (id est, não japonesas) investem cada vez mais neste mercado. Este país é o maior mercado de chocolate na Ásia e comporta uma enorme fatia do mercado mundial do chocolate. O dia de São Valentim surgiu no Japão no final dos anos 1950, quando a economia do país voltava a erguer-se após os magros anos que se seguiram à II Grande Guerra. Os produtos estrangeiros trouxeram ares de luxo e riqueza a uma nação que já há muito sofria de uma impiedosa austeridade. Foi então que uma firma chamada Mary Chocolate (será prima da Bolacha Maria?! oO) começou a publicitar o dia de São Valentim como “the only day of the year a woman professes her love through presenting chocolate”. A norma foi assim criada e os outros produtos oferecidos neste dia noutras partes do mundo, como jóias, flores e roupa, foram banidos do 14 de Fevereiro Japonês, em favor do chocolate. E sejamos sinceros, faz sentido, afinal a reacção química gerada pela ingestão de chocolate no cérebro humano é (embora em menor escala) idêntica à dum orgasmo. E todos nós sabemos que para o técnico de marketing sexo vende, por isso sexo é amor!
Corta para duas décadas mais tarde, diz o realizador deste filme a que chamamos História (será que no IMDb os créditos nomeiam Deus ou os historiadores?), e os génios do Marketing surgiram com a ideia do 14 de Março, dia no qual os homens japoneses têm o dever de presentear as mulheres com uma prenda branca, tendo este dia sido apelidado de White Day. É o dia simétrico do 14 de Fevereiro na economia nipónica. No início, a praxe era oferecer marshmallows (tão pouco japonês e tão americano, já repararam? To the victor goes the spoils indeed!), mas hoje em dia qualquer coisa branca é permitida e ao que parece os artigos mais vendidos são as lingeries brancas… the boys got smart! :D
Por terras lusas, a Maxim Portugal, a revista que continua a dar, andou a distribuir gratuitamente chocolates na Baixa Lisboeta, numa acção de marketing desenhada em especial para este dia e que é fruto duma acção conjunta da Regina e da Maxim. Como gosto muito do chocolate da Regina e até curto a Maxim (quanto mais não seja por não ter aderido ao (des)acordo ortográfico e por dar prendinhas todos os meses! Hey, vivo num mundo capitalista, é claro que sou interesseiro ;), espero que a campanha seja um sucesso.
Resumindo:
A nossa aldeia economicamente global
Está cada vez mais culturalmente igual,
Graças à força surpreendente do vil metal.

Este dia de São Valentim devia deixar de se fazer passar pelo dia do Amor e assumir-se como o dia mundial da Economia, mas sem a hipocrisia lá morria o feitiço. Faz-me lembrar o Ministério do Amor de Orwell, com os seus horários do Ódio. Cá em Portugal onde o Governo parece feliz por forçar mais e mais pessoas à fome, surgiu agora a Secretaria de Estado da Alimentação. Oh sweet hypocrasy feel me with joy!
Espero que tenha sido um feliz 14 de Fevereiro para todos.



This is Alex, signing off 4 now!


Fontes:

Desacordos e Cultura

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Boas!
Esta é apenas uma daquelas entradas que faço ocasionalmente para veicular informação sobre eventos e cultura, essencialmente promovida pela Embaixada do Japão, mas não só. Exemplo de algo que nada tem a ver com o Japão mas antes com a cultura Portuguesa, é esta peça sobre a qual vos aviso no banner abaixo. Para quem viver em Lisboa, é de aproveitar. Produto nacional. É preciso apoiar e estimular a cultura, já que o governo só a desgoverna como tudo o resto.
De seguida, abordemos então o último boletim informativo da Embaixada do Japão. Ao invés de me mandarem um email com as informações, mandaram-me apenas o link para o pdf informativo do site oficial da Embaixada. Normalmente, o que eu faço em qualquer dos casos é copiar as novidades, corrigir o Português Acordo Ortográfico de 1990 (AO90) para o Português Europeu e deixar-vos a informação aqui na página. Desta volta contudo, vou deixar-vos uma imagem e o link em questão. Porquê? Bem, precisamente por causa duma das batalhas culturais nas quais estou inserido, a guerra contra o AO90.
Na imagem acima, vêem um print screen da minha caixa de correio. Se olharem com olhos de ver, percebem, como eu percebi, que não vem escrito segundo o AO90, que a Embaixada Japonesa tem já vindo a usar. Isso percebe-se pelo simples facto de Fevereiro não começar com “f”, mas sim com “F”. O “Sector” em “Sector Cultural” nunca perder o “c”, embora os anúncios de eventos e actividades já viessem segundo o AO90 e as datas também. Pelo menos, nos últimos emails:
Mas não neste. Agradado mas desconfiado, cliquei no link e avancei para o pdf. Peço-vos que façam o mesmo, vai abrir numa outra janela:


Ora, vendo o primeiro anúncio do pdf, nota-se distintamente uma “expectativa” com “c”, mas também um “refletido” sem “c”. Tal poderia dever-se ao autor do texto ter aprendido português brasileiro, mas ainda assim a construção frásica é mais próxima do português europeu. Isto leva-me a crer que o problema aqui é que as pessoas já não sabem a quantas andam a nível ortográfico. Este Desacordo Ortográfico não unificou a ortografia portuguesa, tornou-a sem regra e caótica. Quando um jornal se dá ao luxo de criar a sua própria versão do Acordo Ortográfico (acordado por mais ninguém que pelo jornal, e ainda assim tão válido quanto o AO90) como fez o Correio da Manhã, vale tudo.
Voltando ao pdf, no segundo anúncio, temos novamente os meses com iniciais maiúsculas, que é contrário ao AO90, mas no terceiro parágrafo já temos Janeiro com inicial minúscula. No quarto parágrafo, temos Fevereiro com maiúsculas. Avançando para o anúncio “Estás a Mangar comigo?”, temos uma “actividade” com “c” e os meses com maiúsculas. Depois no anúncio da Conferência sobre o desenvolvimento do Brasil, já aparece Fevereiro com inicial minúscula e “Diretor”. Nos dois anúncios seguintes, temos os meses com iniciais maiúsculas e no anúncio que se segue a esses dois voltamos às iniciais minúsculas nos meses. Que canseira, que (des)regra!!
O que eu espero, desejo, é que a Embaixada do Japão tenha visto a luz, com a recente recusa do Brasil quanto ao AO90, e pare de tentar implementá-lo. Esta hesitação agrada-me. É um recuo por parte duma entidade política, ao mesmo tempo que cada vez mais vozes se erguem contra o AO90 nos três continentes intervenientes deste acordo. No mínimo dos mínimos, essa mesmo entidade dá a entender que é sabido que embora o governo português pareça resoluto na imposição do dito (des)acordo, que ainda há em Portugal (já nem falo no resto da Lusofonia) pelo menos duas ortografias correntes.
Ainda recentemente numa audição parlamentar sobre o AO90 (vidé vídeo acima, onde são apresentados também argumentos mais que suficientes dos pontos de vista formal, técnico e prático contra este AO90), ouve-se uma deputada dizer que já lhe foi dada a indicação de que cerca de 63% dos portugueses não querem o AO90. Como é isto compatível com o Ministro dos Negócios Estrangeiros de um governo de maioria absoluta, que como tal pretende-se ser o reflexo da maioria dos portugueses, venha depois dizer que não há divergências quanto ao Acordo Ortográfico e que ele entrará em vigor em 2015??? Estão a Mangar Comigo???? (private joke para quem leu o boletim da Embaixada do Japão lá em cima)



Isto é patético, mesquinho e abertamente anti-democrático! Uma piada de mau gosto e sem graça, é o que é o AO90!

Eu por mim contentava-me com um referendo nacional e caso o meu lado perca, eu aceito a voz da maioria. Venha ele! Buga lá! Também já ouvi o argumento de que nenhum Acordo Ortográfico alguma vez foi discutido com o povo. E isso é lá razão para que este não o seja? Dantes também havia escravos. Dantes as mulheres não votavam. A ideia é aprimorar e aumentar a democracia e não asfixiá-la.
Há ainda um outro argumento, fraco na melhor das hipóteses, em defesa do acordo ortográfico, que eu li esta semana. Disse(não cito, parafraseio) então um apologista do AO90 cujo nome agora me falha: “O acordo ortográfico tem incongruências? E depois? A ortografia anterior também as tem. Há sempre hipótese de melhoria.” Até é verdade, o problema é que para melhorarmos, para evoluirmos, nada melhor que o método científico, o rigor lógico, e acima de tudo só mudarmos se for para melhor. O problema é que o AO90 apenas torna a ortografia portuguesa mais ambígua, as novas regras não têm base científica mas antes noções ultrapassadas como a “pronúncia culta” (isto sim, do tempo do senhor do Encarnado que tinha medo dos Vermelhos) e são feitas por capricho, como vos pode confirmar o testemunho do vídeo acima, etc… Não admira que Portugal esteja com uma perspectiva de futuro tão negra, quando se predispõe a aceitar que a sua cultura, ciência, educação e governo sejam ditadas por homens (e mulheres), e aqui parafraseio Tolkien (e/ou José Hermano Saraiva), "menores"!
Mais uma vez apelo junto de vós, senhores e senhoras, amigos e amigas, irmãos e irmãs, camaradas, conterrâneos e pessoal D’além Mar, ergam as vossas vozes e as vossas canetas e/ou teclados contra esta farsa, que ameaça a verdadeira riqueza, encontrada na sua diversidade, da língua Portuguesa. Há 18 ortografias da língua inglesa na Internet. Podia, devia, haver 8 da língua Portuguesa, mas só havia 2 e agora querem que só haja 1 e que tenha esta forma anedótica? Isto é progresso ou suicídio cultural?
Assinem a Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico de 1990 (links abaixo)










E se quiserem também subscrever à carta enviada ao ministro da Educação, link abaixo, onde podem ler e subscrever a dita carta:
https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?formkey=dG13TnlWRk10UXd0cDJvZTViS0picWc6MQ&fb_source=message#gid=0 


Obrigado por me lerem e voltamos a encontrar-nos em breve!
Sayonara, people! ;)

P.S.: Ah e mais uma vez… bão ao Teatro, carago! É a ciiiinnnccco (5) aéreos! Olh’ó Teatro fresquinho!



Genpatsu, Kissinger, Portugal

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Não é fácil definir o conceito de Energia, mesmo em termos formais da ciência. Podemos dizer que é uma das componentes existentes quando há interacção entre dois entes ou sistemas físicos. Podemos ainda dizer que é uma componente essencial à realização de trabalho. Em termos metafísicos, esotéricos ou sobrenaturais ainda mais nos perdemos num labirinto de retórica que, desastradamente, procura parecer sábia mas é vã. Concentremo-nos na ordem natural das coisas, que é mais que suficiente para este nosso Verso. Queria um kanji para título deste post, mas a verdade é que, pelo que eu encontrei, o termo japonês para energia (homólogo deste nosso) é um japonesismo da palavra Enerugï, que se escreve em kanji:エネルギー. Existem outras duas palavras japonesas que descobri para energia, mas ambas são específicas: o Ki = 気 (energia espiritual) e o Denki = 電気 (energia eléctrica). Mas até compreendo os japoneses. Reflectindo sobre o assunto, é um pouco estranho termos uma palavra que sozinha não tem definição directa. Se falarmos energia mecânica, eléctrica ou cinética (por exemplo), sabemos instintivamente o que são. Mas se dizemos apenas energia é um tudo que é nada. E contudo, sabemos que é algo. Como a própria energia, o conceito em si é algo não palpável. Muitas vezes me sento em frente à minha lareira a olhar as chamas bruxuleantes no seu interior, como se nelas pudesse estar a resposta à minha pergunta, o que é o fogo? É sem dúvida um dos resultados duma combustão. É energia. É luz. É calor. É tudo isso. Mas o que é? Fogo.
Num filme, que eu não desgostei, chamado “The Celestine Prophecy”, que eu vi originalmente porque nele entra o ilustre Joaquim de Almeida, é dito a certa altura que todas as interacções humanas são resultado de interacções de campos energéticos gerados pelos seres vivos, os quais nós nem nos apercebemos que existem. Na mitologia do filme, a tomada de consciência desses campos e a realização de que não nos devemos procurar dominar uns aos outros (ou, neste contexto, sugar energia ao próximo), leva a um mais elevado plano espiritual. Mas isto tudo para chegar ao ponto de que nesse filme é dito que todas as guerras ou disputas humanas são essencialmente por energia. De facto, acaba sempre por ser, em última análise. Se na Pré-História guerreávamos por territórios de caça, era porque necessitávamos dessa caça para fornecer energia aos nossos corpos. Hoje lutamos por petróleo, por gás natural, por metais radioactivos, etc… mas essencialmente, lutamos por energia em qualquer que seja a sua forma. De facto, nós somos energia. Como diria o Yoda: “Seres luminosos somos nós, não esta rude matéria.” E como adorava Christopher Hitchens relembrar, parafraseando outro autor: “Esqueçam lá a morte de Cristo, estrelas tiveram de morrer para nós estarmos aqui hoje. Não é isso mais glorioso que o Arbusto Flamejante?”




Por falar em Mitologias… Na minha infância, antes de ler romances, policiais e ficção científica, lia Banda Desenhada. Entre as muitas que lia, como não podia deixar de ser para alguém da minha geração, estava a das Tartarugas Ninja. Estranhamente, a saga que eu mais gostei dessa BD, foi uma na qual não entravam os intervenientes do costumo. O Destruidor (The Shredder), o Krang, o Beebop e o Rocksteady, e o seu exército de Ninjas Foot, foram trocados por um clã de ninjas tradicional e místico, um samurai feiticeiro que odeia a Humanidade e uma ninja raposa, lacaia deste último. Em vez de Casey Jones como aliados, temos um rapaz que se consegue transformar num dragão gigante. Nova Iorque aparece substituída por Hiroshima. Mas o que me apaixonou nessas edições que nem vinham seguidas mas de forma intercalada, eram as introduções. Um mito de criação do Japão (acima), uma cena contextualizada no dia fatídico da queda das bombas nucleares (abaixo), dando-nos um vislumbre sobre a vida anterior do Mestre Lascas (Sensei Splinter).
Depois a história essencialmente, era que o Samurai Feiticeiro queria usar o Dragão Guerreiro, para destruir uma uzina nuclear, cuja energia iria soltar um Demónio para destruir a Humanidade. Com uma ajudinha dos Deuses do Yin Yang, os Tartas conseguem furtar tais planos, que são afinal uma ameaça terrorista hoje em dia tão passível de ser tornada realidade, mesmo sem a existência de dragões e demónios ou deuses.

 
Queria apenas partilhar esta parte da minha infância convosco, pois foi um pouco dela e da actualidade, que me surgiu a inspiração para este post e para a imagem a que chamei Mushroom Yin Yang. Mas digresso…


O Japão está, muito como Portugal, ou mesmo como toda esta nossa Aldeia Global, num momento de mudanças impostas pela inevitabilidade das consequências das decisões do passado. Fantasmas de outrora influenciam o momento presente. A Crise, que no grego antigo quer dizer Momento de Mudança, é diferente para Japão e Portugal, mas inevitável para ambos. A crise em Portugal foi criada pela ganância desmesurada dos homens, aliada a uma grande dose de credulidade e ignorância. A crise japonesa foi criada pelos esbirros de Gaia, se quisermos empregar uma linguagem mais poética, mas também pelo uso descuidado duma tecnologia que é na melhor das hipóteses um pau de dois bicos.
O Super Terramoto de 2011 que atacou o Japão fez com que o Estado Japonês tivesse de confrontar o verdadeiro perigo de ter Centrais Nucleares numa zona geográfica de alto risco do ponto de vista da sismologia, como é aquela em que se encontra o seu país. O já existente movimento verde anti-nuclear ganhou momento com este terrível acontecimento e o desastre proveniente da destruição da Central Nuclear de Fukushima.
Onde antes me centrei nas lições aprendidas (vide os dois links abaixo) em termos de prevenção e preparação para este tipo de situações (sismos e tsunamis), venho agora nesta nova entrada abordar em profundidade o controverso tópico do nuclear e a questão energética que cada vez mais vai apoquentar as sociedades modernas, servindo-lhes também de travão evolutivo a nível tecnológico. É certo que cada vez nos tornamos mais dependentes de energia, pois tornámo-nos uma civilização altamente tecnológica. Contudo, o próximo nível de avanços científicos, hologramas, sabres de luz, motores iónicos, teletransporte, motores anti-gravidade, tudo depende essencialmente de quanta energia conseguimos gerar, logo essa quantidade de energia acaba por ser o nosso limite tecnológico!
Novas, Actualidades e Trabalho de Campo

Mega Sismo: Quanto o Infinito Encontra o Zero

Ora, dos meus outros posts, nota-se o meu óbvio interesse nestas áreas. A sismologia porque foi o sismo de Março de 2011 que comprovou os dados recolhidos pelo astúcia e visão governativa do Marquês de Pombal em 1755 e que até 2011 se julgavam exageros de uma sociedade retrógrada. Portanto, no que diz respeito à sismologia, vivemos uma altura interessante em Portugal, embora acho que no meio de tanta coisa em que pensar com a Crise e a Austeridade, isto passou completamente ao lado do povo. Supostamente, no último trimestre de 2013, vai entrar em funcionamento um sistema de alerta de Tsunami em Portugal. Se forem ao post que escrevia (acima “linkado”) intitulado “Mega Sismo: Quando o Infinito Encontra o Zero”, poderão perceber que muitas vidas podem ser salvas pela implementação de um tal sistema.
Vejamos se o sistema é implementado e se fica a funcionar em pleno, incluindo apps de telemóvel para que os cidadãos possam ser avisados no momento, tal como existe no Japão, hoje em dia.
Outra coisa que mais cedo ou mais tarde terá de nos preocupar é a preparação de edifícios antigos para um terramoto.
http://www.publico.pt/mundo/noticia/intervencao-antisismo-em-edificios-antigos-nao-e-tao-comum-como-isso-1493840

Com o estado actual da construção pública em Portugal e a falta de emprego, seria uma lufada de ar fresco para muitos, se o Governo cagar para os bancos, if you pardon my French, fechando-lhes as torneiras e antes investir nessas obras de interesse público, particularmente em zonas de muito risco, como o Algarve e a Baixa Lisboeta. Erguer muralhas defensivas também não fazia mal nenhum. Mas eu sei… eu sei… não há dinheiro (no futuro post na rubrica “Os Meus Versículos Satânicos”, para o qual ainda me digladio com um subtítulo, hei-de oferecer ideias e alternativas para superarmos a nossa Crise). Mas imaginem no que esse investimento poupará quando vier o tsunami e o sismo. Eles hão-de vir, descansem. Mas são como a Morte, inesperada e impiedosa! Mas não se iludam, pois é certo que a Construção (movida a capitais estatais), embora faça surgir emprego momentaneamente podendo aliviar o sofrimento e a fome (não poupemos palavras) de alguns, em termos de resolver crises económicas não é solução, uma vez que é um investimento que não é exportável, logo não aumenta a nossa produtividade, mas sim a despesa de estado e a dívida. Quero com isto dizer que só espero que as probabilidades estejam connosco e que o Tsunami só retorno a terras lusas muito após termos superado os nossos problemas socio-económicos.
Voltando à questão energética, Portugal nunca aderiu à tecnologia nuclear e com efeito um dos vários problemas que contribuem para a nossa falta de auto-suficiência nacional e, consequentemente, para a nossa actual crise económica, é a incapacidade de gerar internamente energia suficiente para as necessidades de todo o país, sendo portanto forçados a importá-la. Duma forma ou de outra, uma vez que importamos energia da Espanha e da França, também nós dependemos do nuclear. Por outro lado, somos um dos países da União Europeia que mais energia verde produz, através de barragens, painéis solares, geradores eólicos e de energia de ondas marítimas. Hey, não podíamos fechar a tabela em tudo. Contudo, essa energia representa cerca de 30% da energia total que precisamos actualmente no país. E é preciso reparar que actualmente Portugal tem muito pouca indústria, logo no futuro, se conseguirmos escapar à mediocridade da nossa classe política governante e realmente semearmos as bases para uma retoma económica em larga escala no país, emergiremos a necessitar de ainda mais energia. Just some food for thought…
Já o Japão tem uma longa e estranha, para não dizer infeliz, história com a tecnologia nuclear. Já antes abordei o tópico do único ataque nuclear alguma vez levado a cabo na História escrita da Humanidade, com as bombas de Nagasaki e Hiroshima, e todo o horror que daí surgiu, bem como certos traços subculturais, nos posts abaixo “linkados”:

Mas e o que aconteceu ao Japão depois desse trágico final da Segunda Guerra Mundial?
Bem, menos de uma década após o final dessa Guerra, em Agosto de 1945, o Japão já estava a executar planos para poder gerar energia eléctrica através de uma central nuclear, para satisfazer as suas crescentes necessidades eléctricas. Uma campanha de propaganda muito inteligente, que usou a combinação do desejo dos japoneses por uma vida melhor e o medo de perder esse futuro brilhante devido a falta de electricidade, fez com que a opinião pública esquecesse ou pusesse de parte o terror das bombas nucleares. O Japão, localizado numa das zonas mais instáveis a nível sísmico do planeta, tornou-se na plenitude dos tempos numa país com 50 centrais nucleares e o terceiro maior produtor eléctrico a nível mundial.Ora, se eu fosse Jung falaria do Sincronismo necessário para que tal se tenha passado.
A estrada para o Japão nuclear que conhecemos é uma de esforços secretos durante a guerra por parte de cientistas nucleares japoneses, de um nacionalista de direita que dominou a política japonesa durante quase 50 anos, de um magnata dos media que trabalhava com a CIA, de um espalhafatoso piloto com jeito para a auto-promoção, do mais popular e corrupto primeiro-ministro japonês pós-guerra, e dum colectivo de orgulho desmesurado que ficaria conhecido como a aldeia de energia eléctrica.
Em 1945, a bordo do USS Missouri na Baía de Tóquio, foi assinado o acordo que deu por terminada a guerra, passando o controlo do Japão para a Ocupação Norte-Americana, que procurou refazer o Japão à imagem dos E.U.A., ou o mais próximo disso possível, no intuito de impedir uma nova guerra catastrófica. Os gestores americanos que foram para o Japão administrar a Ocupação, da escola do New Deal de Franklin Roosevelt, vinham cheios de optimismo e de uma ingenuidade popularizada anos mais tarde por Graham Greene, no romance “The Quiet American” (que hoje em dia já conta com pelo menos uma adaptação cinematográfica). Ainda assim, de boas intenções está o inferno cheio, e foram essas alegadas boas intenções que chegaram aos jornais e revistas norte-americanos, enquanto que a verdadeira história da Ocupação é uma bem mais sórdida e que permaneceu durante muitos anos secreta. Esta, trazida à luz do dia, destrói a cuidadosamente guionizada versão oficial da transição pacífica do Japão para uma nação democrática.
Nenhum segredo terá dado mais causa de reflexão à América que o facto do programa atómico japonês durante a guerra estar bem mais avançado que alguém pudesse conceber em Whashington D.C. Apenas semanas após a rendição é que foi descoberto que cientistas japoneses em Tóquio, Quioto, e na Coreia ocupada pelo Japão, tinham estado a trabalhar para chegar à Bomba. À medida que os anos ‘40 deram lugar aos anos ‘50, e a Guerra Fria começou, muitos dos japoneses presos como criminosos de guerra, deram por si a serem libertados, para se tornarem em aliados de Whashington contra o Comunismo. A necessidade de os EUA de terem um aliado no Oriente contra a então já nuclear União Soviética e uma China Comunista, intersectou o antigo sonho do Japão para ter uma fonte de energia segura, limpa e estável. O momento da energia nuclear no Japão havia chegado.
Em 1953, com a guerra da Coreia a terminar numas tréguas instáveis, Yasuhiro Nakasone, um nacionalista japonês em ascensão, foi convidado a estudar na universidade de Harvard. Ao frequentar essa universidade, conheceu um ambicioso académico de Harvard: Henry Kissinger.

Quero só acrescentar antes de prosseguir que Kissinger nunca se atreveu a processar Hitchens pelo livro que o acusa de ser um mentiroso, um criminoso de guerra, presumidamente porque para isso teria de o enfrentar em tribunal. Aliás, o Hitchens ainda o processou ou tal ameaçou via advogados por todos os insultos que Kissinger lhe fez. Mas os advogados de Kissinger acabaram por emitir um comunicado em que pediam desculpa a Christopher Hitchens pelos insultos prestados. Kissinger é vil, mais que maquiavélico, um doido por poder em toda a acepção da expressão. Infelizmente este livro não se encontra traduzido para Português e eu também não disponho do tempo para traduzir os vídeos ou o resumo. Contudo, deixo-vos 6 pequenos vídeos, retirados de outros mais longos vídeos de palestras e entrevistas do Hitch sobre a sua batalha com Kissinger, só para terem uma breve noção do que esta foi. Estes foram traduzidos por mim. De seguida continuo a explanação histórica.


Kissinger contou ao jovem Nakasone, que viria a tornar-se primeiro-ministro três décadas mais tarde, um segredo. Muito em breve, os EUA iriam partilhar o seu conhecimento nuclear com países interessados não em fazer bombas, mas sim em criar centrais nucleares. Em Dezembro de 1953, o presidente Eisenhower anunciou a sua iniciativa “Átomos pela Paz”. Nakasone tinha já avisado os seus amigos no Japão, incluindo cientistas do antigo programa nuclear japonês, que muito em breve teriam acesso a tecnologia nuclear norte-americana para construir reactores nucleares. Mas havia um obstáculo. A população japonesa ainda não esquecera que “nuclear” queria dizer, antes de mais nada, a devastação de Hiroshima e Nagasaki. O que Nakasone e companhia precisavam então era de uma mente que pensasse como eles nos Media, que trabalhasse afincadamente para veicular a mensagem deles. Eis que surge Matsutaro Shoriki. Aprisionado como um criminoso de guerra classe A mas libertado antes de ser julgado, Shoriki era uma figura imponente que dirigia o jornal Yomiuri  Shimbun(que com a circulação reportada de 10 milhões de cópias por dia, afirma ser o maior jornal do mundo). Por 1954, as suas raivosas visões anti-comunistas eram projectadas não só no Yomiuri como na Nippon TV, uma das primeiras estações televisivas japonesas, que ele também dirigia. Como o jornalista freelancer Tetsuo Arima detalha no seu livro “Genpatsu, Shoriki, CIA” (Energia Nuclear, Shoriki, CIA), Shoriki era também um amigo da CIA e um ardente defensor do nuclear. Com a ajuda de Nakasone, Shoriki usou o seu jornal como um organismo virtual de relações públicas para a energia nuclear. A manchete do Yomiuri no dia de Ano Novo de 1954 era “Finalmente o Sol foi Capturado”. Era o primeiro de muitos artigos a argumentar o abraçar desta nova forma de energia e o começo de uma longa e entusiástica campanha daquele jornal que, de uma forma menos berrante, continua até aos dias de hoje.
Contudo, mesmo quando este pequeno mas influente lobby composto por Nakasone e Shoriki, com o seu altifalante Yomiuri, começava a ganhar momento, a tragédia atacou. A 1 de Março de 1954, 23 pescadores japoneses, a bordo do seu barco o Daigo Fukuryu Maru (tradução: Dragão Sortudo Cinco), foram expostos a precipitação ou poeiras radioactivas provenientes duma explosão nuclear levada a cabo pelos americanos no Atol Bikini. Ainda assim, dias depois e embrulhado em segredo, o parlamento do Japão (sob orientação de Nakasone) aprovou o primeiro orçamento destinado à pesquisa nuclear, um orçamento de 235 milhões de yen. O primeiro passo para as centrais nucleares fora tomado.
Sem se deixar demover pela preocupação do público sobre o caso do Daigo Fukuryu Maru, O jornal Yomiuri continuou a sua campanha de propaganda. Shoriki ajudou a patrocinar uma exibição em Tóquio no ano de 1955, que apresentava as maravilhas do poder nuclear, e, por esta altura, uma das personalidade mais mediáticas do Japão juntou-se ao lado Pró-Nuclear.
Zensaku Azuma era conhecido pelo público japonês como um espalhafatoso piloto que voo sozinho sobre a Europa, os Estados Unidos e a Ásia em 1930. Em meados dos anos ‘50, ele era uma bem conhecida celebridade que se sentia intrigada pela energia nuclear. Em 1955, ele encontrou depósitos de Urânio na fronteira entre as prefeituras de Okinawa e Tottori. Ele andou em digressão pelo Japão a comer comida carregada de Urânio antes de morrer de cancro 10 anos depois, aos 74. (provavelmente, se não fosse parvo teria chegado aos 100 :). Contudo, após a descoberta de que o Japão tinha depósitos nacionais de Urânio, o país ganhou uma febre por Urânio. As pessoas compravam contadores Geiger e escavavam os quintais em busca do minério. Quintas anunciavam que vegetais nascidos em campos que tivessem traços de urânio eram melhores para a saúde. Uma mulher da prefeitura de Gifu, vendia vinho de arroz japonês com traços de urânio. Mas como todas as modas, esta depressa acabou por esmorecer e desaparecer (para bem dos japoneses e da sua saúde diria eu).
Contudo, pela altura em que a maluqueira pelo urânio desapareceu, Shoriki já tinha sido nomeado, em 1956, para a primeira Comissão Japonesa de Energia Atómica, independentemente de ele não ter quaisquer conhecimentos de física nuclear (hein?, é igual em todo o mundo… a merda rola monte a cima na puta da política!). De qualquer forma, a aceitação pelo público japonês da energia atómica enquanto fonte energética pacífica estava a espalhar-se. Contudo, o governo tinha outros obstáculos à construção das centrais nucleares, um dos quais podia levar o país à bancarrota!
Em 1960, o Fórum Industrial Atómico Japonês, um lobby industrial, foi secretamente comissionado pela Agência da Ciência e Tecnologia para desenvolver uma estimativa do custo, baseada numa pergunta a qual não se queria dar a conhecer ao público: “Quanto teria a administração japonesa de pagar em compensações face a queixas derivadas a acidentes nucleares?” (eu não vos digo? Merda é merda em todo o lado, só eventualmente muda a cor. E antes que me chamem racista, refiro-me a cores político partidárias, ok? ) O Fórum apresentou uma série de cenários possíveis, mas no pior dos casos o governo teria de pagar 3.7 triliões de yen em compensações. Isto numa altura em que o orçamento nacional japonês era de 1.7 triliões de yen!
O governo escondeu o relatório durante 40 anos, até este vir à luz em 1999 (Estranhamente, este foi o ano em que estreou o The Matrix. Espero não precisar de explicar a gigantesca metáfora sócio-política que esse filme é). Mas o Fórum foi claramente a razão que levou o governo passar em 1960, o decreto-lei sobre Compensação para Danos Nucleares, que isentava os operadores de centrais nucleares do pagamento de compensações “no caso do dano ser causado por uma catástrofe natural de carácter excepcional”. Com isso, um dos últimos obstáculos à construção de centrais nucleares havia sido superado. Esta lei viria a permanecer mera teoria até o desastre de Fukushima em Março de 2011 forçar o governo e o público a tomar consciência das suas reais ramificações.
O primeiro reactor nuclear japonês foi construído perto de Tóquio em 1961 e entrou em operação apenas 5 anos mais tarde em 1966. Mas a verdadeira alvorada da era nuclear no Japão, surgiria a 14 de Março de 1970, na abertura da Expo de Osaka. Nesse dia, os visitantes eram recebidos com sinais que proclamavam orgulhosamente que a central Nª1 de Tsugura, na perfeitura de Fukui estava a auxiliar a fornecer energia para a Expo.
A Expo de Osaka tomou lugar mesmo quando as questões ambientais estavam a ganhar proeminência. Respondendo aos horrores de envenenamento por mercúrio em Minamata e a tenebrosa realidade da poluição do ar derivada do boom económico (como tem vindo recentemente a acontecer no Brasil, na China e na Índia) dos anos ‘60, combinado com a crescente tomada de consciência de que a energia nuclear nasceu das armas nucleares, nasceu um movimento político Anti-nuclear poderoso e vocalizado. Ao mesmo tempo, a política do Governo era construir centrais nucleares próximas de pequenas vilas, que tinham o direito democrático de as rejeitar se assim quisessem. Para o governo, tornou-se uma alta prioridade garantir que tal não acontecesse, especialmente depois de o processo legal movido em Ikata (prefeitura de Ehime) contra uma proposta central ter dado o tiro de aviso. Mas o que fazer? Felizmente para o lobby pró-nuclear o primeiro-ministro da altura tinha um plano.
Kahuei Tanaka elevou-se de origens humildes na longínqua prefeitura de Niigata, na zona costeira do Japão, para se tornar no mais popular e controverso primeiro-ministro Japonês. Nos anos 1970, ele governou o país como poucos fizeram desde essa altura, primariamente porque assegurou que as províncias japonesas, extremamente subdesenvolvidas, receberam pelo menos alguma parte da riqueza nacional.
Reconhecendo que o que muitas das vilas piscatórias da costa japonesa precisavam, e queriam, eram projectos de obras públicas, Tanaka fez aprovar 3 leis em 1974 garantindo fundos de Tóquio aos governos locais caso estes concordassem em hospedar uma centrar nuclear na sua zona. Durante as décadas que se seguiram, as prefeituras de Ishikawa, Fukui, Shimane, e, claro está, a própria terra de Tanaka, Niigata, entre outras, abriram as portas a centrais nucleares em troca de dinheiro para construir estradas, pontes, centros comunitários, estações de comboio, e sistemas de esgotos modernos. E assim que a central nuclear estava construída, havia mais dinheiro a ser ganho localmente, trabalhando partime na central nuclear durante os períodos de inspecção, ou a providenciar comida, abrigo e transporte às hordas visitantes de técnicos especializados e agentes governamentais.
Contudo, nem toda a gente estava convencida de que o nuclear era a solução. Em 1975, o Centro de Informação Nuclear dos Cidadãos foi fundado pelo professor de Química Jinzaburo Takagi, como uma forma para educar o povo sobe aquele tópico. Ambos o acidente de Three Mile Island(1979) e de Chernobyl (1986) fizeram com que subitamente um grande número de japoneses compreendesse que a energia nuclear não era assim tão segura como lhes havia sido publicitado.
Isto levou ao rebentar de um esforço por parte dos cidadãos para afastar o Japão do caminho do nuclear. Em 1988, reuniram 3.6 milhões de assinaturas que apoiava uma nova lei para fechar todas as centrais nucleares. Mas o governo Japonês, sobretudo Yasuhiro Nakasone, ignorou a campanha, tal como fez o partido do governo de então, o Partido Liberal Democrático(Lá liberal até pode ser, deu-se à liberdade de os ignorar, já democrático… eh! Afinal, não houve um único fascista que não se dissesse amante da liberdade. “Palavras são vento”, diz-nos George R R Martin). Entretanto, foi dito ao povo que havia poucas opções (a história é sempre a mesma). As energias renováveis diziam-se ser ainda demasiado dispendiosas e de pouca confiança (um argumento ainda usado nos dias de hoje pelo lobby pró nuclear), enquanto medos de outra crise de petróleo como a de 1973 permitiu que o lobby pró nuclear argumentasse contra uma mudança de energia nuclear para energia baseada no petróleo, dizendo ser uma má ideia (realmente, venha o diabo e escolha. Se bem que a do petróleo acaba por ser menos problemática em termos de segurança).
Outros esforços para libertar o Japão do Poder Nuclear, foram desenvolvidos ao longo dos anos ’90. Por essa altura, décadas de energia nuclear haviam criado um vício a essa forma de energia nas cidades que consumiam electricidade por ela providenciada (a custos baixos, era dito ao povo), e também nas vilas, onde as centrais nucleares se haviam tornado nas galinhas dos ovos de ouro locais e lhes providenciavam as mesmas, se não melhores, infra-estruturas e transportes que os dos primos das cidades.
Sinais de perigo, tais como uma fuga de sódio em 1995, um fogo no reactor de plutónio no monte Monju, foram ignorados, tal como o foi um acidente na central de Tokai-mura, perto de Tóquio, em 1999, que matou 2 trabalhadores e expôs medidas de segurança defeituosas. Seguiram-se outros incidentes: em Agosto de 2004, a tragédia surgiu quando uma tubagem de vapor corroída, que nunca fora inspeccionada em 28 anos de utilização, explodiu matando quatro trabalhadores; no início de 2007, foi revelado que a Companhia de Energia Eléctrica de Tóquio (TEPCO, sigla em inglês) falsificara dados de segurança nas suas centrais nucleares em cerca de 200 inconformidades. Nesse verão, a central Kashiwazaki-Kariwa, em Niigata, da TEPCO foi danificada após um terramoto de magnitude 6.6, com epicentro a 19 quilómetros de distância. Não houve fatalidades, mas a TEPCO admitiu que 3 dos 7 reactores abanaram a ritmos muito acima dos valores especificados em projecto.
Ainda assim, a TEPCO e a aldeia nuclear negaram a possibilidade de um incidente de grande porte. Ao invés, concluíram que o terramoto de 2007 provara que as centrais eléctricas japonesas eram de facto à prova de sismo e de que a tecnologia japonesa de energia nuclear e a sua gestão era a melhor do mundo.
A História, estavam eles confiantes, havia comprovado que a decisão tomado nos anos ’50, para abraçar a energia nuclear fora a correcta, para uma nação pobre em combustíveis fosseis como o Japão. A TEPCO afirmou, após o susto trémulo de 2007, que eventualmente as centrais de Kashiwazaki-Kariwa iriam ser tornadas ainda mais seguras face a tremores de terra. Assim como também aconteceria com 4 reactores que operavam numa prefeitura chamada Fukushima. Mas entretanto, a aldeia nuclear do Japão assegurava com confiança a nação e o Mundo de que nada havia com que se preocupar.
Coloquei esta perspectiva histórica em itálico pois foi praticamente toda traduzida de um documento, cujo pdf debate a questão do nuclear no Japão:
Fresh Currents
Quanto a Fukushima, quando vi o documentário Children of the Tsunami, que muito me impressionou, tanto pela positiva como pela negativa (e sobre o qual é provável que venha a fazer uma crítica alongada e análise aprofundada num futuro post), onde as crianças viviam em zonas radioactivas, em que os pais estão constantemente a medir os níveis de radiação para as deixar brincar na rua, fiquei de imediato com a impressão de que nada de bom ia sair daquilo. O próprio governo parece estar a usá-las como os proverbiais ou históricos “canários na mina de cobre”. Posso estar a ser injusto, mas foi a impressão com que fiquei e então permaneci atento às notícias. Eis as manchetes (links) que vieram a confirmar o meu medo:



Ora, a evolução genética da Borboleta há-de ser mais rápida que a do homem, são criaturas efémeras, vidas inteiras em apenas 24 horas nalgumas espécies, logo é normal que evoluam de acordo com o seu ambiente mais rapidamente, daí já estarem a mutar. Uma criança humana poderá demorar muito tempo até demonstrar problemas ou deformações geradas pela radioactividade a que é exposta. Pode até só saber de que há algum problema, quando o seu primeiro filho nascer com alguma deficiência genética ou quando descobrir que afinal é estéril pela radiação ter deformado o seu aparelho reprodutivo. Por isso, é de loucos deixar aquele pessoal continuar a viver naquela zona, pelo menos até a descontaminarem minimamente, o que pode levar muitos anos.
Agora, retornando à questão energética. A catástrofe social, não menor que a natural que a causou, que se abateu sobre Fukushima, empurrou uma bola de neve de médio tamanho pela montanha abaixo e criou uma avalanche de sentimento anti-nuclear.


Ora, que tenho eu a dizer sobre isto?
Bem, primeiro sejamos historicamente justos. Embora deteste como a energia nuclear foi “vendida” ao povo japonês, mediante propaganda e lobbies, não posso ter a certeza, mas duvido com grande convicção de que o Japão se tivesse tornado na quarta economia mundial hoje em dia sem ter tido a sua era atómica como teve. A independência energética é essencial para gerar um país tecnologicamente avançado e rico.
Dito isto, eu nunca fui defensor das centrais nucleares. Para além de criarem lixos radioactivos, dos quais muitos barris acabam no fundo dos nossos oceanos ou em aterros secretos e nada seguros, que podem ser geradores de toda uma quantidade de problemas no nosso futuro enquanto Humanidade, considero-as demasiado perigosas no presente. É claro que o risco pode ser diminuído consideravelmente através de correctas medidas de segurança, da contínua execução de vistorias e fiscalizações sérias e independentes, de uma contínua actualização da tecnologia de segurança utilizada, e particularmente dos locais onde são construídas. Ora, o caso geográfico do Japão é terrivelmente mau para albergar centrais nucleares, como de resto já se pôde ver, graças ao terramoto.
Tendo em conta o quanto o nuclear caiu em desfavor na opinião pública japonesa, ou o quanto parecem a sociedade e mesmo algum do tecido empresarial japonês estarem ansiosos por uma evolução para as energias renováveis e limpas, eu diria que a melhor opção para o Japão é começar uma substituição gradual das suas fontes energéticas. E óbvio que não pode ser drástico, pois há que garantir a economia japonesa, bem como as necessidades energéticas do povo japonês. Mas podem ir substituindo gradualmente as centrais mais antigas e/ou em zonas de maior risco sísmico.
Estranhamente, Portugal e Japão, mais uma vez poderiam ajudar-se mutuamente. Portugal precisa drasticamente de aumentar a sua produtividade. Nada tem a ver com trabalharmos mais, não somos mandriões como os idiotas dos nossos governantes (e não a Troika) parecem pelas suas atitudes achar, mas sim em conseguirmos produzir bem valiosos para os mercados externos que façam entrar investimento e lucros no país mediante exportações. Ora, nós somos o país europeu com mais produção energética via energias renováveis, temos projectos e/ou parcerias pioneiras de sistemas que aproveitam as ondas do mar (algo que o Japão também tem em abundância) e também em geradores eólicos.




Seria óptimo para os nossos estaleiros e mesmo para novas empresas que desse novo nicho de mercado surgissem, que conseguíssemos ajudar os nossos amigos de há muito no seu processo de adaptação energética, ao mesmo tempo que nos tornávamos mais produtivos. Este seria um excelente sentido a dar à nossa política externa e política de economia interna, sendo que talvez pudéssemos também servir de mediadores na rixa das ilhas Senkaku, dadas as nossas amizades tanto com o Japão como com a China. Uma guerra daí proveniente não favorece nada nem Portugal nem o Mundo. Ainda assim, creio estar a sonhar alto, considerando o actual Ministro de Negócios Estrangeiros português.
Mas disso (das ilhas Senkaku) falarei no próximo post, pois como sempre já me alonguei demasiado por hora...

Sayonara, tomodachi! ;)

Rápidögraphia: Christopher Hitchens

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“It was a cold bright day in April and all the clocks were striking thirteen.”

Esta entrada tem um duplo objectivo. Celebrar o aniversário de um recém-caído "guerreiro" das liberdades humanas, um verdadeiro amante da sabedoria, ao mesmo tempo que, dessa forma, inauguro uma nova rubrica aqui no N.I.N.J.A. Samurai. Esta última chama-se Rápidögraphia, e tem como propósito dar-vos um vislumbre de pessoas da esfera pública, nacional e internacional, que admiro.
Introduzamos a primeira dessas figuras, por meio duma entrevista levada a cabo no Brasil:


O seu nome era Christopher Hitchens.
Os seus inimigos, os teocratas e os totalitários de todas as espécies. A sua vida eram as palavras e a luta pelos direitos humanos e pela emancipação da Humanidade de todas as formas de totalitarismo, sendo a original a Religião.
A citação acima não é dele, mas sim de George Orwell. É a primeira frase do poderoso 1984. O Christopher achava-a particularmente importante e suspeitava que ela era uma espécie de homenagem velada à revolução norte-americana. Um dos pais dessa revolução, eu não me lembro qual, mas o Hitch saber-vos-ia de imediato indicá-lo, terá dito que para se conseguir levar a cabo a revolução era preciso fazer os relógios dos 13 estados baterem em uníssono! Para aqueles de vós que não o sabem, antes de serem 50 estados, eram 13. Mas por outro lado, 13 de Abril era a data de nascimento de Thomas Jefferson, outro grande presidente dos EUA, que ajudou a escrever as emendas à constituição, com particular preponderância naquela que separa o estado da Igreja. O próprio Christopher nasceu a 13 de Abril de 1949. Abril deve ser mesmo o mês dos revolucionários!
Na sua visão de mundo, não existia qualquer divindade. Apenas homens que se auto-nomeavam enviados ou agentes endossados de/por um imaginário poder celestial, obtendo dessa forma um terreno e muito real poder sobre os seus pares. Ele atacava a religião e não os fiéis, embora muitos fiéis por ele se sentissem insultados. Mas era também um amante das artes e da boémia. Johnny Walker Black, era o seu veneno de eleição, e dizia que uma refeição sem vinho, tinto de preferência, não tinha sabor. Ao morrer de Cancro do Esófago, não arranjou para si nenhuma desculpa, sabendo que tinha abusado bem durante toda a sua vida, com álcool e cigarros. Como ele próprio disse, e traduzo livremente, queimou a vela nas duas pontas e esta deu uma bela luz.
Era um cidadão do mundo, anglo-americano, que percorreu o planeta a testemunhar a opressão e libertação de vários povos, incluindo o nosso. Esteve cá em ’74, para cobrir a revolução dos Cravos, que o veio a roubar das últimas ilusões de um movimento socialista internacional, o qual deu então por morto. Emancipando-se de dogmas partidários, tornou-se num marxista independente, sem afiliações, completamente entregue à perseguição dos hipócritas, dos corruptos e das fraudes, enquanto lutava por justiça e pela liberdade, e buscava a verdade. Uma vez disse, parafraseio, mesmo que a verdade seja inalcançável, isso não é desculpa para não a buscarmos.
Era um homem de contradições, um aluno esforçado da dialéctica.
Tendo falado contra a primeira guerra do Iraque, foi a favor da segunda, sendo que as suas recém criadas amizades entre os resistentes seculares curdos o tenham convencido da prioridade que era varrer Saddam Husseim do mapa. Daí em diante, enquanto defendia a justeza da Guerra do Iraque dos seus ex-aliados da Esquerda britânica e americana, depressa tornados  opositores, Hitch usou a bandeira do Curdistão na lapela. E ao contrário dos outros defensores da Intervenção no Iraque, não escondia a importância do petróleo naquela guerra. Perguntava ele se achávamos mesmo que deveríamos ficar impávidos enquanto um tirano sádico e a sua família mafiosa continuava secretamente armar-se (e sim, foram encontradas não armas de destruição em massa, mas enterrados em lugares chave, os seus ingredientes, bem como planos de um vasto plano para esconder um arsenal inteiro dos inspectores da Nações Unidas); enquanto este último queimava, para que os outros não os pudessem usar, poços de petróleo, enchendo a atmosfera de carbono, subjugando o seu povo com punho de ferro (famílias eram obrigadas a assistir à morte de um familiar preso pelo regime e até tinham de aplaudir!!); enquanto conhecidos terroristas eram detidos na Europa, mas tinham de ser libertados por gozarem de imunidade diplomática concedida por um passaporte iraquiano? E embora admitisse que a Libertação do ou a Intervenção no Iraque, pelas forças da Coligação dos Voluntariosos, tivesse sido mal planeada e pessimamente executada, contava no seu balanço alguns sucessos:
- a entrega de Kadafi de todo o seu arsenal de destruição maciça aos EUA (arsenal esse que reside agora em Oak Ridge, Tennessee);
- a investigação feita à origem dessas armas, que se apurou terem vindo da Coreia do Norte e do Paquistão, levando a que se fechassem essas vias de proliferação;
- o estabelecimento de eleições democráticas no Iraque e de tribunais;
- o estabelecimento da região autónoma no norte do Iraque, onde os curdos fizeram um governo secular e democrático;
- o ter-se terminado com um país que dava protecção diplomática e abrigo a conhecidos terroristas;
- o afastamento da família Hussein do poder.
Afirmava sem hesitação que a cura para a pobreza era a emancipação da Mulher, mas acreditando ainda assim que a Mrs Hitchens não devia ter a obrigatoriedade, mas apenas o direito, de ter um emprego. "Se ela quiser, que trabalhe, mas não deve ser obrigada."
Acreditava na legalização das drogas para terminar a Guerra contra as Drogas, na solução dos dois estados para o conflito da Palestina, tinha reservas contra o aborto (embora reconhecesse casos em que este era imperativo e outros em que era permissível moralmente), era a favor do Euro e do federalismo europeu, e dizia que a homossexualidade não era apenas uma forma de sexo, mas também de amor. Nas suas Memórias, Hitch 22, escreveu sobre (para além dum tórrido encontro do seu rabo com um jornal enrolado e empunhado pela Dama de Ferro em pessoa, a Sra Tatcher) as suas experiências homossexuais durante a sua estadia num colégio interno britânico, estendendo dessa forma a sua solidariedade para com a comunidade gay. Falou também da morte bizarra da sua mãe e da personalidade estranha do seu pai. Teve 3 filhos de duas mulheres e dizia que quando se tem filhos com alguém nunca se fica realmente divorciado dessa pessoa.
Atacou as reputações de poderosos e de santos, como Kissinger, Clinton e Madre Teresa, revelando-lhes o lado negro e obscuro, que campanhas bem orquestradas de propaganda tão maravilhosamente ocultaram. Ao mesmo tempo, escreveu livros sobre o Parthenon, sobre Jefferson, Thomas Pane e Orwell, entre outros, e produziu milhares de artigos em várias publicações internacionais. Foi durante muito tempo, se é que não o é ainda, o único escritor a ter estado nos 3 países do Eixo do Mal de George W Bush, o Iraque, o Irão e a Coreia do Norte. De facto, Hitch (como era tratado pelos seus amigos) passou, depois de ter estado na Coreia do Norte, a retratar o Paraíso Celestial como uma Coreia do Norte Celestial. Experimentou depilação e tortura por waterboarding, apenas para sobre isso escrever em primeira-mão. Quase foi espancado por fascistas árabes em Beirute, por destruir um grafitti duma suástica, mas foi salvo por uma multidão de árabes não fascistas que o removeram da cena. Quando recebeu uma ameaça de morte, que o Departamento de Estado norte-americano achava credível, aconselhando-o a mudar de residência, Hitchens não o fez, nem pediu protecção. Dizia abertamente na televisão, que o nome e morada dele estavam na lista telefónica em Washington. Era um homem de grande integridade moral e coragem verdadeira (ou talvez fosse falta de medo?!), sem nunca ter receio de ofender quando falava o que pensava, sem medo de pedir desculpa quando se revelava que tinha errado. Ou de admitir em público quando não sabia o suficiente para se pronunciar num dado tópico. O sábio é aquele que sabe quando remeter-se ao silêncio.
Filósofo com aspirações a político, que acabou por encontrar-se como jornalista, comentador político, e profícuo autor. Declarado ateu e anti-teísta resoluto. O próprio Vaticano o convidou para assumir funções de Advogado do Diabo, falando contra a beatificação da Madre Teresa em Roma, levando Hitchens a dizer mais tarde que foi o único homem a defender o diabo pró bono! Quando lhe perguntaram se era possível acreditar em Deus e ainda assim ser um anti-teísta, Hitch disse que sim e foi mais longe dizendo que se deus existisse, ele (Christopher) seria “… of the Devil’s party”, como Milton, que escreveu: "Better to reign in Hell, than to serve in Heaven!"
Inventou o que eu chamo o Desafio do Hitch:
"Nomeia-me uma afirmação moral ou acção moral, executada por um crente que não possa ser executada por um descrente."
E o seu corolário, bem mais fácil:
"Nomeia uma acção terrível ou declaração imoral, feita por alguém por causa da sua religião."
E como ele costumava dizer: do corolário pensaram logo em várias com facilidade. Eheheh.
Criou também o que eu chamo o Hitchslogan:
"Mr Jefferson build up that wall!"
Este slogan, alude à Muralha de separação entre o estado e a igreja, consagrada na 1ª Emenda à Constituição dos EUA, enquanto goza com a célebre frase de Reagan: "Mr Gorbachev, tear down this wall!" pedindo a queda do Muro de Berlim
Grande defensor de Salman Rushdie aquando da fatuah que lhe foi lançada pelo Ayatolla Khomeini, começou aí a sua verdadeira guerra contra os partidos de Deus. Tendo esta sido intensificada após os ataques de 11 de Setembro, acontecimento que o levou finalmente a pedir nacionalidade americana, sentido-se moralmente obrigado a isso por solidariedade com os USA, nos quais já vivia há imensos anos com um visto perpétuo. Os seus filhos são americanos. No ano em que publicou o seu primeiro livro, teve o seu primogénito (a quem chamou Alexandre, by the by), e plantou uma árvore. Ainda não tinha 33.
Eu só o descobri em inícios de 2012, após ter lido o livro de José Rodrigues dos Santos, “O Último Segredo”, que desenha o Jesus Histórico em oposição ao Jesus Mitológico. Querendo saber mais, meti-me a pesquisar na net e deparei com os vídeos dos debates do Hitch, quando em tournée do seu livro “God is Not Great”. Identifiquei-me de imediato com ele, devido ao gosto pela escrita, ao cepticismos, ao ateísmo, ao gosto pelo debate e pela retórica.
Naveguei avidamente pelos seus debates e entrevistas no youtube, aprendendo imenso sobre História, literatura da língua inglesa, apanhando alguns títulos de cinema que doutra forma dificilmente descobriria, até que por fim descobrindo, com incrédulo pesar, que ele tinha morrido de cancro. Porque é que as pessoas que valem a pena morrem cedo? A resposta é simples. O Universo é caótico, impiedoso na sua inconsciência e não nos deve nada. Os genes e os abusos de Hitch deram aos seus inimigos o prazer de ver o seu corpo flutuar rio abaixo, parafraseando Sun Tsu. Mas enquanto estes últimos morrerão e serão esquecidos, a obra que Hitchens nos deixou dar-lhe-á, espero eu, a única medida de imortalidade aberta a seres mortais.
Mudou-me a opinião quanto à Guerra do Iraque; discordo com ele quanto ao Euro e ao Aborto; concordo sobre a homossexualidade, sobre a necessidade de nos emanciparmos da Religião e, embora seja mais igualitário que ele (sou a favor de direitos e deveres iguais entre géneros), ambos acreditamos na justeza e necessidade da emancipação da Mulher.
Amigo de Martin Amis, Salman Rushdie, (estes últimos, sempre discordaram publicamente com o Hitch sobre o Iraque e a sua amizade durou até ao fim) Stephen Fry, Ayaan Hirsi Ali, Lawrence Krause, entre muitos outros ilustres, nos últimos anos da sua vida tornou-se num dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse, a vanguarda e os porta-estandartes do crescente movimento ateu internacional (imagem acima).
Perdi, na ignorância, a minha hipótese de ouvir ao vivo este grande orador, quando nos visitou em 2004:

Mas deixo-vos ainda assim com as suas palavras (nada melhor para o definirem pois muito mais teria que escrever para lhe fazer justiça), por mim legendadas para terminar em beleza, demonstrando este post também que o N.I.N.J.A. Samurai honra tanto a ortografia brasileira como a portuguesa, sempre em aberto desafio ao Acordês do AO90.
Para terminar direi que o Hitch foi um homem que sim soube morrer, mas mais que isso, foi um homem que soube viver.
Esta minha pequena mas esforçada homenagem, é o mínimo que posso fazer por alguém que não só muito enriqueceu a minha cultura pessoal, como é a quem muitas vezes recorro na minha argumentação ou escrita aqui no blog, por meio de vídeos e citações. Por isso mesmo, mais das suas palavras traduzirei para de futuro as usar para dar às minhas alguma ênfase, como já o tenho feito no passado. O Hitch também constatou que plágio é inevitável, mas que não é negativo se nós nomearmos o autor original. Ele foi um daqueles intelectuais que, mesmo quando discordamos com ele, vale sempre a pena ouvir o que ele tem para dizer.
Hasta la vista, camarada!

NOTA: é possível que este post venha a ser editado, se entretanto eu tiver tempo de legendar mais uns quantos de vídeos. ;)




Os Meus Versículos Satânicos: mAO90ismo

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Em vésperas do Dia da Língua Portuguesa, que ao que parece será dia 5 de Maio, que este ano, também é dia da Mãe, venho falar-vos das semelhanças em pensamento entre o Acordo Ortográfico de 1990 (AO90) e uma qualquer Religião. Porquê religião? É simples. Depois de tanto argumento lógico e racional, ou mesmo técnico, contra o AO90, e mesmo perante a evidência de que entre 60% a 70% dos portugueses estão em desacordo com o alegado acordo, é preciso ter muita fé nos dogmas do AO90 para continuar a insistir na sua validade (seja de que perspectiva for) e persistir no erro da sua implementação! Apenas uma fé cega e dogmática pode levar a tamanha arrogância e inconsciência. Qual o seu deus? Dou-vos uma pista: “In God we trust”. Dou o nome de mAO90ismo (leia-se mau-noventa-ismo) a esta nova e interesseira crendice, que como sempre muitos, mesmo entre os cultos e inteligentes, ilude. Tal é também próprio das religiões.
Para os que não me lêem regularmente, uma pequena introdução aos prós e contras deste acordo é imperativa. Deixo aqui também, caso queiram ler ou reler, os meus posts prévios sobre o Acordês:





Todos os argumentos a favor são facilmente destruídos (como procurarei demonstrar de seguida e de forma resumida):

- há que uniformizar o Português para o podermos usar como língua de trabalho internacional e obter esse reconhecimento das Nações Unidas (NU). Falso, o inglês é efectivamente língua de trabalho internacional e nunca teve de se sujeitar a isso. Por outro lado, é facilmente provado que o AO90 não uniformiza a língua, apenas a torna mais pequena, mais restringida e mais ambígua. Reparem nestes dois exemplos que os brasileiros continuarão, segundo o AO90, a escrever como nós escrevíamos antes do AO90 mas nós temos que remover consoantes alegadamente mudas… isto é uniformizar?
Por outro lado, o inglês impõe-se como língua de trabalho internacional essencialmente por duas razões: é fácil de aprender e é a língua de algumas das maiores potências e economias do mundo industrializado;

- temos de tornar a língua mais ágil e fácil, aproximando a escrita da oralidade. Impossível em termos práticos, visto que só em Portugal há uma enorme disparidade de pronúncias e sotaques, quanto mais em todos os PALOPs. Por outro lado, o AO90 vem afastar-nos desse objectivo. Sendo que os brasileiros fecham vogais enquanto nós abrimos (exampli gratia: yóga em Portugal, yôga no Brasil), em geral, é impossível termos a mesma acentuação nas palavras que os nossos irmãos de Além Mar, se o objectivo for mesmo aproximar a oralidade da escrita. Quanto à questão de o AO90 aproximar a pronúncia da escrita, reparem neste excerto, proveniente desta fonte (http://networkedblogs.com/KhcrK):
«Assim, não é por má vontade ou deficiência que um português lerá “ef”tivo” quando lhe põem à frente a palavra “efetivo”, palavra que um brasileiro lerá como “êfétjivo”. Isto é simples, muito simples, e qualquer criança percebe. Já“efectivo” obriga um português, pela presença do C antes do T, a abrir o E mesmo que o C não se “ouça” na fala. Não é uma regra arbitrária: é, além do respeito pela etimologia, pela raiz da palavra (do latim ‘effectívu’, ou “activo que produz”), o respeito pelo sistema vocálico próprio do português europeu.»
Quanto a tornar a língua mais ágil e fácil de aprender, a língua inglesa deve ser a língua mais fácil de aprender como segunda língua e tem os “p” e “c” na sua ortografia. Quando nós também os tínhamos, eu ainda tenho, era mais fácil dominarmos a ortografia inglesa. Pelos vistos, a mania da modernice apressada e às cegas já começa a dar problemas, como constata aqui um professor que diz que os alunos já começam a escrever em inglês sem “c” e “p”, id est projet em vez de Project.
Não só não nos deu facilidade em aprender a nossa própria língua, pois fica ambígua e não há regras que não estejam cheias de excepções absurdas neste AO90, ou seja não há lógica para as crianças seguirem, como ainda conseguiu tirar-nos a nossa facilidade em migrar para a ortografia inglesa cuja raiz etimológica é muito próxima da nossa.

- precisamos que a língua evolua e tal evolução só se pode fazer via acordos ortográficos. Falso, até agora a língua estava a evoluir a 8 frentes, sendo que agora está em ampla repressão (ou quiçá mesmo regressão) evolutiva. A evolução, comprova-se pela mera observação da natureza, beneficia da diversidade e não da falta dela. O Acordo Ortográfico não é Selecção Natural (que seria a evolução ortográfica por força da oral) nem Artificial (a influência de outras línguas e termos novos no vocabulário da língua, como linkar ou googlelar), é uma adaptação para as Letras das absurdas leis da Eugenia. Se olharmos para os exemplos históricos, tipo o latim, percebemos que a evolução natural duma língua falada por povos diferentes é desaparecer, convertendo-se nos seus muitos descendentes. Exempli gratia, o Latim, que originou o inglês, o francês, o português, o castelhano, o italiano, o romeno, etc… e desapareceu enquanto língua viva;


- o argumento dos números: os brasileiros são às centenas de milhões pelo que temos de nos juntarmos a eles ou cair. Falso, por vários motivos: 1) o povo brasileiro também não quer este acordo para nada, nem o pediu ou foi chamado a debater sobre a sua implementação:
TAMBÉM HÁ REVOLTA PURA CONTRA O ACORDO ORTOGRÁFICO:

TAMBÉM SE DÚVIDA DAS MOTIVAÇÕES OCULTAS POR DETRÁS DESTE ACORDO:
E FINALMENTE TAMBÉM HÁ QUEM ACHE QUE NADA SE GANHA COM O AO90, QUE É UMA MÁ IDEIA, QUE SABE OS ARGUMENTOS CONTRA, MAS QUE POR ACHAR QUE NADA HÁ A FAZER BAIXA OS BRAÇOS E NÃO LHE RESISTE:
Só mais uma, desta volta só áudio (link abaixo):
E LÁ PELA ÁFRICA TAMBÉM NÃO ESTÃO MUITO PELOS AJUSTES COM O AO90, NÃO SENHOR:


Bem como cá, desd’as ruas até aos poleiros políticos se resiste, como ilustra a seguinte imagem:

E o debate, o confronto, é mantido vivo:
Cidadãos da Língua Portuguesa sentem-se assaltados pelo Acordo Ortográfico(link)
É preciso, portanto, diferenciar a vontade dos povos da vontade dos políticos que os representam e que, por vezes, quando têm essa possibilidade, procuram usar essa ilusão de números para fazer pender a balança da argumentação a seu favor. É como a Igreja Católica dizer que tem N milhões de fiéis, mas quantos desses foram baptizados à nascença sem terem voto na matéria, fazem parte das estatísticas da Igreja, e/ou nunca acreditaram ou abandonaram a igreja? Os meus pais contam-se entre eles e como eles outros tantos…

2) mesmo que fossemos só 10 milhões a escrever o Português Europeu, este manter-se-ia sempre válido, desde que os bananas que nos lideram assim o permitissem; 3) o AO90 não nos obriga à ortografia brasileira, tendo antes mutilado tanto a ortografia brasileira como a portuguesa; 4) ainda recentemente postei aqui um link em que o governo chinês pediu expressamente a Portugal, professores de Português. Se formos nós a ensiná-los, lá se vão os números dos brasileiros;
(também argumentado no post nº 3 linkado acima)



- o argumento de que se formos contra o AO90, somos retrógrados reaccionários da direita conservadora. Ideia sem dúvida popularizada por ter sido o Governo de José Sócrates (cujo o partido finge ser de esquerda e não de centro) a levar a resolução ao plenário nacional, e potenciada pela acérrima defesa do Bloco de Esquerda deste tão patético projecto… sim, o mesmo bando (este último) que quer desfazer as forças armadas nacionais… enfin! Estranho, contudo, que o único partido na Assembleia da República (AR) Portuguesa de teor ideológico revolucionário, o PCP, se tenha abstido na sua totalidade quando o AO90 foi aprovado na AR, por ter sérias dúvidas do que neste último era advogado (como demonstra a imagem acima), e que mantém a ortografia portuguesa europeia pré-AO90 no seu jornal, o Avante. Quanto a sermos retrógrados, nós que não nos abstemos nem somos neutros mas que atacamos o AO90 em consciência e com paixão, como disse Saramago (deste senhor mais será dito, já lá iremos), nem tudo o que é novidade é necessariamente bom e devemos suspeitar sempre das modernices, até que seja factualmente comprovado o seu maior valor face ao que já havia;


- os acordos ortográficos nunca foram discutidos com a população em geral, com já ouvi dizer em defesa do AO90 quando se diz que este é anti-democrático. Belo dogma, argumento da treta e, como diz um colega meu, “que desculpa de merda, pá”. Se formos a pensar assim, então também as mulheres nunca viriam a votar, ainda haveria escravatura legal e bem-vista pela sociedade, etc… Já para não falar que era normal antigamente não ser discutido um acordo ortográfico na praça pública, visto que uma vasta maioria de pessoas era analfabeta e nada teria a contribuir para o debate. O objectivo deve ser aprimorar a democracia. Para tal, aumenta-se a taxa de cidadãos letrados e dá-se ouvidos à sua opinião nos tópicos importantes. Especialmente quando se trata da sua própria cultura!



Os argumentos contra são simples:

- a língua pertence ao povo que a fala e escreve. A sua evolução deriva da cultura desse próprio povo. Se mais que um povo fala a dada altura uma mesma língua, é apenas natural que essa língua evolua por caminhos distintos mediante as culturas que reflecte. Eu pessoalmente não tenho nenhum problema com o Português deixar de ser a 5ª ou a 7ª língua mais falada, e que passe a haver um Brasileiro e/ou um Angolano, seus descendentes. Na plenitude dos tempos, se a espécie humana não se auto-destruir entretanto, será isso que acontecerá. A História assim nos ensina;

- devemos sempre construir a língua com lógica e racionalidade. Devemos dar ouvidos aos especialistas (terminante e comprovadamente ignorados neste assunto pelos poderes vigentes) e não pisar assuntos sérios como a etimologia, por exemplo. Devemos esforçar-nos para tornar a língua cada vez menos ambígua e não o contrário (para, para = pára, para??);

- a evolução, ensina-nos a Teoria da Evolução, carece de e/ou implica diversidade, logo haver 8 versões do português será sempre melhor para o engrandecimento e enriquecimento cultural da língua do que só haver 1 ortografia (o que desde logo não acontece com o AO90, que a tal se propôs, pois continua a haver diferenças ortográficas entre ortografia brasileira e portuguesa, por exemplo);

- mesmo que o AO90 uniformizasse a 100% as ortografias (coisa que está longe de fazer), ainda restam as palavras sinónimas mas que só são usadas correntemente num país (exemplo: talho (pt-pt) e açougue(pt-br)) e a construção frásica que é completamente diferente e que não podem ser uniformizadas pois decorre directamente da cultura diferente dos povos em questão, que vão continuar a manter as quaisquer dificuldades que possam existir na compreensão universal dum texto português entre os diferentes povos que usam a língua. Logo a uniformização não é conseguida. Um projecto que falha no seu principal objectivo não merece continuação e deve ser abortado;


 - o dito acordo é rejeitado pela maioria da população e dos pareceres técnicos. Em democracia, onde o valor da ciência é tido em conta e não ignorado, esta seria razão suficiente para que um governo de maioria absoluta, que deve representar a vontade da maioria portuguesa e não de lobbies que lhes engordam as carteiras, suprimir o dito acordo. O acordo e especialmente a sua aplicação são portanto anti-democráticos. Reparem nas alegadas ameaças feitas à Academia de Ciências de Lisboa, por ter ousado blasfemar contra o AO90, e mesmo o que os aplicam, como o editor-chefe da Porto Editora (a notícia no Público só está disponível para assinantes), fazem-no sob uma espécie de auto-infligida coacção governamental. É claro que as editoras poderiam ter sido mais corajosas, particularmente aquelas em que os seus editores discordam do AO90, e ter tido a atitude simétrica à que adoptaram: só aplicar AO90 quando expressamente exigido pelos autores ou clientes!!

No vídeo da audição na Comissão Parlamentar de Vasco Graça Moura et all, a própria representante do PSD, partido de maioria relativa que lidera o actual governo de coligação, admite que as informações que tem são que mais de 60% dos portugueses são contra. Algo que terá justificado a formação da comissão. Pergunta, se eles representam a maioria votante nacional, porque raio não botam fora o acordo de imediato e perante tal informação?? Isto é democracia?
A acrescentar a isto ainda vêm as editoras, embora ninguém nisto acredite, nem cá nem no Brasil, dizer que nada lucraram com o AO90, que só lhes trouxe custos acrescidos. Sendo assim, quem lucra com este desacordo que falha em todos os seus propósitos, tão seguramente como o Relvas não ter tirado o curso? Bem, sendo verdade o que as editoras clamam, ninguém ganhou com o AO90.
Contudo, o nosso governo, mesmo após o adiamento brasileiro, mesmo após a rejeição por parte da Angola, mesmo após ter em sua posse em variados blogues, escritos tanto por meros plebeus com aqui o vosso esforçado escriba ou pelas opiniões de doutos das ciências e ilustres dos media, insiste em implementar o AO90, doa a quem doer. Este dogmatismo, é próprio da religião, pois escolhe ignorar todas as provas e argumentos lógicos em prole da fé cega na sua doutrina.
Ainda há mais uma comparação a fazer entre a religião e o AO90. Christopher Hitchens disse que, parafraseio, “é fácil que uma pessoa má faça coisas maléficas, mas para levar uma pessoa boa a fazer coisas más é preciso a religião”. E quem diz “fazer”, também pode estender a “dizer”. Ora eu tenho José Saramago em boa conta, como uma pessoa racional e de uma mente analítica e sagaz, um defensor acérrimo dos direitos humanos e da liberdade. Porque raio então foi José Saramago apologista desta neo-religião? Especialmente sendo ele um confesso ateu, um céptico!!

Primeiro vejamos, pela voz do próprio, vinda não do além mas sim do youtube (onde já li a frase: “Youtube, where religion comes to die!” loool if only), como é que ele defendia o AO90:

Convenhamos que não o defendia, apenas não lhe resistia. Saramago já havia passado por outras reformas ortográficas e pouco lhe interessava como se escrevia, desde que se escrevesse com liberdade. Esqueçam lá o pensamento céptico que ele próprio advoga no primeiro minuto do vídeo seguinte, quando diz que é preciso termos presente que uma coisa não é boa só por ser nova. Será ele também um reaccionário? Um retrógrado? Atrever-se-ão a tanto?

Porque não pensou ele assim quanto ao AO90? Quem me dera ter tido tempo e oportunidade de debater com ele o assunto, pois a mim o que me faz lembrar esta resignação intelectual perante o AO90 é a cláusula de não resistência ao mal do Cristianismo, tipicamente chamada “dar a outra face”. Uma doutrina imoral mascarada de alta moralidade, que deixa uma pessoa boa à mercê duma pessoa maléfica, e que só aumenta a hipocrisia dessa religião, pois houveram ou não inquisições e cruzadas? Onde deram eles a outra face e se tivessem dado teriam sobrevivido ou seríamos todos muçulmanos forçados à submissão de Alá?? Esta abateu-se sobre Saramago da mesma forma que atacou aquele amigo brasileiro do vídeo acima que chega a acusar os defensores do AO90 de mentirem para argumentarem a favor, mas depois diz: “Bom, já que não podemos fazer nada o melhor é aprendermos já as regras novas…”
Pois eu, tal como Saramago, sou ateu, mas ao contrário de Saramago estudo ciência e como tal estou programado, se quiserem, para esperar lógica e rigor nos sistemas que criamos para comunicar e para melhorar a nossa vida. Não estou disposto a encarar a ortografia como uma pseudo-ciência ao serviço de lobbies económicos iludidos, políticos facilmente subornáveis (note-se como o Sócrates escolheu ignorar os pareceres da Academia de Ciências de Lisboa [imagem acima] e de qualquer outro parecer que não o prestado pelo próprio criador do Acordo, tal como nas primeiras semanas deste governo sucessor ao de Sócrates e que se auto-nomeia como uma alternativa a este último, primeiro era contra e uma semana depois já estava a favor) e pseudo-intelectuais, que querem umas viagens à borla ou mais umas 30 peças de prata para traírem a pátria que deviam servir, a seu belo interesse e com desprezível irresponsabilidade e despego.



A imagem acima está com péssima resolução e infelizmente o público só deixa ver este artigo online a quem subscrever a sua edição electrónica... Com muito custo, lê-se que além da desesperada tentativa de entrar para a História de alguns fracos (pseudo)intelectuais, estes também o fizeram a fim de ter umas viagens pelo globo pagas pelos nossos impostos, para bem supremo da Lusofonia, claro está... -_-

Como diria o Hitch, se falasse português, não lhes vou dar nem um centímetro. Vou combatê-los até à última. Não vou converter a minha espada num arado, mas antes fiz da minha caneta e/ou teclado, as minhas proverbiais espadas, nesta guerra.
Uma das formas como luta é precisamente os vídeos que vou traduzindo para usar aqui e colocando no youtube. Traduzo-os sem infecções "acordistas"!

Pois eu contraponho que o Acordo Ortográfico fez isso mesmo, transformou a Língua Portuguesa num monstro disforme, sobre o qual reina o caos por força da ambiguidade e pela falta de rigor lógico. Uma quimera literária foi o que criaram. Como já outro disse noutro blogue, um autêntico monstro de Frankenstein com partes deste e daquele e daqueloutro corpos. Mas por muito poderosa que possa ser esta criatura e os seus interesseiros seguidores zelotas, impõe-se que a destruamos.
Para tal, talvez seja necessário este espírito do "never say die" ou "no retreat, no surrender", a via dos Espartanos, a via dos Samurai:
E muita paciência para que depois possamos chegar aqui:
E finalmente à vitória final contra a Besta:

Juntem-se a mim…


... a nós, que resistimos.

As nossas armas?
Para resistir a uma religião, que pelo seu carácter dogmático nunca cede à argumentação lógica ou às provas analíticas ou factuais, só o podemos fazer pela sátira, pelo gozo, pelo ridículo, pela blasfémia:

E finalmente, para aqueles que como eu, apesar de tudo, talvez não sem uma pouco de fé também, acreditam na Democracia, assinem sem demora a ILC contra o AO90 se ainda não o fizeram. Para tal usem os links abaixo:

Não acreditas que podemos vencer? Bem, 70% dos leitores do DN não são da tua opinião:
Para terminar, vou deixar-vos com o copy paste do PDF informativo que a Embaixada do Japão me enviou este mês, perdoem-me por estar a postá-lo tão tarde mas a vida interveio. De realçar que, não sei se pelo meu contínuo criticar dessas ocorrências aqui no N.I.N.J.A. Samurai, se por auto recriação, este último PDF oficial da Embaixada já vem com os Meses todos com inicial Maiúscula, com vários “objeCtivos” e “aCtividades”, e apenas 2 ou 3 erros de acordês, que vou postar para vocês descobrirem tipo “Onde está o Wally?”. Não sei se tive peso nesta inversão, mas se tive, como disse o Sócrates, não o filósofo mas o pseudo-engenheiro cujo governo nos enrrabou com o AO90 [entre outras patranhas, que vos sugiro não se esquecerem delas quando este ilustre se candidatar à presidência da república], “Porreiro, pá!” ;)
Aproveito para me despedir desde já, senhoras e senhores, irmãos e irmãs, amigos, camaradas, de Aquém e Além-Mar, em particular aqueles que se unam a esta causa, esta guerra contra a teocracia ortográfica, um grande bem haja!

 
» Jardins de Pedra – exposição de escultura
De 30 de Março a 29 de Setembro, realiza-se uma exposição de esculturas de Mário Lopes (ex-bolseiro do Governo do Japão), de trabalhos realizados no Japão e inspirados pela sua cultura e arte. Realizar-se-á no Claustro Real do Mosteiro da Batalha, antigo lugar de contemplação e meditação, onde se pretende evidenciar aspectos espirituais e estéticos comuns à cultura japonesa e portuguesa.
Local: Mosteiro da Batalha, Lg. Infante D. Henrique, Batalha.
Organização: Direção-Geral do Património Cultural/Mosteiro da Batalha
+ info: Tel.: 244765497

» Exposição de fotografias e de azulejos
No próximo dia 10 de Abril terá lugar a inauguração da exposição de fotografias “paisagem da primavera e outono no Japão” e da exposição de azulejos, pela artista japonesa Shihoko Gouveia, no Espaço Cultural das Mercês. Exposição patente até ao dia 27 de Abril.
Horário: de quarta a sábado, das 16h00 às 20h00
Local: Rua Cecílio de Sousa, nº 94, Lisboa (junto ao Príncipe Real)
Mais informações: Sra. Yamasuga Gouveia – Telm.: 919650381

» Origami Tradicional - Workshop de Origami no Museu do Oriente
Nos próximos dias 11 ou 23 de Abril, o Museu do Oriente promove um workshop de Origami – dobragens de papel. Pensado para um público adulto, este workshop tem como objectivo contextualizar histórica e simbolicamente alguns dos origami tradicionais e dar espaço à sua realização prática.
Local: Museu do Oriente, Av. Brasília - Doca de Alcântara (Norte), Lisboa
Organização: Fundação Oriente/Museu
Para mais informações e inscrições: Museu do Oriente, tel.: 213 585 200


» Iberanime
O IberAnimeLx 2013, nos próximos dias 13 e 14 de Abril, será um fim-de-semana divertidíssimo para miúdos e graúdos fãs de Anime, Manga e Cultura Pop Japonesa. É também uma oportunidade fantástica para os pais passarem um fim-de-semana diferente com os seus filhos.
Este é o evento certo para os admiradores de séries como DragonBall, Naruto, One Piece, Sailor Moon, Cavaleiros do Zodíaco e muitas outras!
Shows de Cosplay com convidadas internacionais e concertos com os Gaijin Sentai, para além de atividades no espaço de feira, videojogos, demonstrações e concursos são alguns dos muitos momentos que ficarão na memória de todos os presentes neste mundo fantástico de anime, manga e videojogos.
Participação da Embaixada do Japão neste evento dedicado a todos os fãs e curiosos pela cultura pop japonesa.
Local: Pavilhão Atlântico – Sala Tejo, Rossio dos Olivais, Lt 2.13.01A, Lisboa
Organização: Manz Produções


» Mizuhiki - Nós Japoneses - Workshop

O Museu do Oriente promove, no próximo dia 2 de Maio, um workshop de ‘mizuhiki’, corda feita de papel de arroz que depois de levar uma cama de goma é passada a ferro e, por último, tingida. Este workshop pretende levá-lo a conhecer um pouco mais a história desta arte e a elaborar depois algumas formas com o ‘mizuhiki. Necessária marcação até 24 de Abril.

Local: Museu do Oriente, Av. Brasília - Doca de Alcântara (Norte), Lisboa

Organização: Fundação Oriente/Museu
Para mais informações e inscrições: Museu do Oriente, tel.: 213 585 200,

» Festival do Japão – Haruhi 2013
Este evento, a realizar no próximo dia 4 de Maio, tem por objectivo proporcionar ao público o contacto com a cultura japonesa, abordando temas diversos, sendo o culminar das actividades do clube Haruhi, da Escola Secundária Inês de Castro, em Vila Nova de Gaia.
Organizador: Haruhi – Clube de Japonês da Escola Secundária Inês de Castro
Local do evento: Escola Secundária Inês de Castro, Rua Quinta do Fojo, Vila Nova de Gaia
Mais informações: Tel.: 227727200, Email: info@esic.pt, http://www.esic.pt

» Caixas, Contentores e Sólidos – workshop de Origami
O Museu do Oriente desenvolve esta iniciativa, no dia 14 de Maio, num convite para fazer um percurso entre os primeiros contentores de papel e o início do origami modular no qual se realizam construções a partir de vários módulos de papel.
Pensado para um público adulto, este workshop tem como objectivo contextualizar histórica e simbolicamente alguns dos diagramas tradicionais e dar espaço à sua realização prática.
Museu do Oriente, Av. Brasília - Doca de Alcântara (Norte), Lisboa
Fundação Oriente/Museu
Para mais informações e inscrições
Museu do Oriente, tel.: 213 585 200,

» Festa do Japão em Lisboa 2013
A Embaixada do Japão tem o enorme prazer de informar que a 3ª edição da Festa do Japão em Lisboa irá decorrer no próximo dia 15 de Junho, inserida nas Festas de Lisboa, com a co-organização da Câmara Municipal de Lisboa, EGEAC e Associação de Amizade Portugal-Japão, entre outros.
Pretendemos mais uma vez retratar o ambiente de “Matsuri” (festival), no Japão através da apresentação da cultura japonesa, no Jardim do Japão, em Belém. Também este ano estão previstas demonstrações das várias áreas da cultura japonesa, tais como Ikebana, Origami,Caligrafia, Haiku, Cosplay, Artes Marciais, bem como música e ritmos do Japão (com o presença de um Grupo de Jovens Japoneses de Taiko e Dança Folclórica).
Mais informações: Sector Cultural da Embaixada do Japão
Email: cultural@lb.mofa.go.jp // Tel: 213110560


P.P.S.: Quero apenas agradecer a acção contínua das páginas do Facebook do Desacordo Técnico (Movimento anti-AO90 dos alunos do IST), dos Tradutores contra o Acordo Ortográfico e da página da própria Iniciativa Legislativa contra o Acordo Ortográfico de 1990. Sem vocês, e o material que me fazem chegar e que criam, este post teria sido quasi-impossível! Continuem a luta por todos nós e pelo bem da tão violada Lusofonia! E parabéns à Maxim por ter saído do armário, nesta guerra. Não imaginam o prazer que deu ler aquela simples frase que finalmente surgiu sobre o vosso belo nome na última edição:

ADENDA (06/05/2013 - 2H59 TMG): Cada vez o AO90 nos aproxima mais, já repararam??

Novidades Nipónicas e + Desacordo!

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Olá, "senhoras e senhores, irmãos e irmãs, amigos, camaradas"!
Esta entrada para variar vai ser curtinha mas ainda assim cheia de informação. Para não variar vou cascar mais um bocado no Acordo Ortográfico de 1990 (AO90), ao mesmo tempo que vos dou as últimas sobre Portugal e o Japão.
Começo por vos falar de oportunidades, lá fora e cá dentro:

O Japão estreita mais uma vez a distância que nos separa disponibilizando bolsas de estudo/investigação para portugueses que queiram para lá ir estudar. O processo de candidatura está todo explicado nesta notícia do público.
As oportunidades dentro do país vão aparecendo mensalmente, sendo focam a transmissão cultural, e poderão verificá-las no:

Dos eventos destaco a Festa Japonesa, em Belém, que se realizará a 15 de Junho, no Jardim do Japão. (para mais informações, verificar link acima).

E pronto, tendo terminada a parte agradável, vamos então agora abordar o (des)Acordo. Lembram-se de eu vos falar, e não sou o único, da ambiguidade inata deste AO90? Bem, eis mais um exemplo de como ele sabota qualquer tentativa de se ter um vocabulário científico universal e NÃO ambíguo.


Repare-se que o Expresso já adoptou um novo Acordo Ortográfico. Não o de 1990, que diz utilizar, mas o AOCM (Acordo Ortográfico do Correio da Manhã), que basicamente diz que se aplica o AO90 mas não completamente... Esta universalidade é suprema.
No boletim que postei acima da Embaixada do Japão só detectei um erro derivado à aplicação do AO90, mas ou foi lapso ou foi causado por copy paste uma vez que o evento em questão está relacionado com uma escola portuguesa.
Como gosto sempre de fazer, vou deixar-vos também com mais uns exemplos de desobediência activa ao Acordo Ortográfico de 1990:
O Jornal Sénior é uma nova publicação, com um público alvo mais velho o que é inteligente sendo que a realidade portuguesa é a de uma população envelhecida, tal como parece que acontece no Japão. Este jornal não aplica o AO90. Como costumam dizer os camaradas da página do Facebook Tradutores contra o Acordo Ortográfico: "Saúda-se!"
Escrevem-se livros não só a identificarem pormenorizadamente os erros do AO90, mas também a contar a sórdida Origin Story (expressão idiomática do mundo da banda desenhada norte-americana) deste documento pseudo-científico, pseudo-cultural, gerado por interesses político-económicos.
Por falar em Economia, note-se que parece que se venderam cerca de 1 milhão de livros a menos em Portugal no ano de 2012, face aos anos anteriores. A primeira reacção (e não pode deixar de ser um factor com enorme peso) será culpar a crise. Mas será só isso? O camarada JAA do blog que postarei a seguir não acha e eu partilho da sua opinião:
Só para enfatizar este argumento, vou partilhar com vocês algo que me aconteceu recentemente. Estava eu no Vasco da Gama, Centro Comercial em Lisboa, a fazer tempo à espera que me enchessem o tinteiro da impressora, quando resolvi ir à Bertrand ver as novidades e quiçá ler umas páginas de algum livro desconhecido. Tinha 1 hora para matar, segundo o funcionário da Worten. Depois de vaguear pelas estantes encontrei um livro de autor português cujo título me intrigou. Chama-se "O Leitor de Cadáveres". A história passa-se na China, no início do segundo milénio D.C., anno domini se preferirem, e conta a história de um rapaz muito inteligente que se tornará uma espécie de médico legista da época. A contra capa do livro informa que a história é baseada em dados históricos e como eu sou grande admirador da civilização milenar chinesa (quanto mais não seja pela sua esmagadora antiguidade), peguei no livro e comecei a devorá-lo. Perdi contudo o apetite e até a fome, quando já ponderava comprá-lo, quando detectei o AO90. Foi difícil, pois nas primeiras páginas não aparecem nenhumas palavras em que houvesse diferença. Assim que tal aconteceu, fui ver a editora... tem o nome Porto, mas não foi por ser Benfiquista que eu, após acabar o primeiro capítulo, arrumei o livro onde o encontrei e fui buscar o meu tinteiro, já sem interesse nenhum em gastar o pouco dinheiro que tenho num livro cuja história até me poderia ter interessado. É que como disse Saramago, ele a ironizar mas eu muito a sério parafraseio, tirarem-me os C's e os P's faz-me mal!
Felizmente ainda há editoras com inteligência e noção de cidadania, como a Guerra e Paz que acabou de se juntar às nossas fileiras, no mesmo mês que a Maxim saiu do armário: o mais recente inimigo do AO90.

O meu melhor amigo está-me sempre a dizer que não vale a pena, que não percebe porque me importo com isso, que já não há volta a dar, porque o AO90 já está implementado, que os putos já o estão a aprender na escola... mas estarão mesmo? Como os governos do centro adoram destruir a Educaçãoé algo que me espanta tanto que não me espanta nada, pois os governos do Statu Quo, dos interesses económicos, do PS(D), lucram da ignorância e apatia intelectual daqueles que governam. Neste tópico, aconselho a leitura também de outra notícia, desta volta sobre os custos que vão acarretar a súbita alteração no programa de Matemática, na qual um atento leitor do Público online comenta o facto de serem as editoras a lucrar com isto tudo e serem o lobby que domina o Ministério da tutela. Será sem dúvida nenhuma a isto que se refere o Cavaco (que teima em não arder de vez) quando fala no Potencial Económico da Língua Portuguesa, mais uma forma de infligir sacrifícios aos já martirizados portugueses. Sem dúvida o nosso iluminado PR é produto de divina inspiração (que afirmação mais deplorável do ponto de vista secular!!).

Para terminar, é importante perceber-se, e não me canso/nunca me cansarei de o realçar, que não é só em Portugal que se resiste ao AO90, mas sim em toda a Lusofonia. A Rádio Televisão de Cabo Verde e a Televisão de Moçambique não usam o (des)Acordo Ortográfico. Estes são os canais homólogos da nossa RTP nos seus países, canais públicos controlados pelo estado e ambos estes estados terão rectificado o AO90. Agora digam-me quem anda a propagandear desinformação, Ciberdúvidas? E o meu post anterior bem demonstra que muitos brasileiros estão contra o AO90.

Vá lá, portugueses, assinem sem demora a ILC contra o AO90 se ainda não o fizeram. Para tal usem os links abaixo:
Como obter o número de eleitor, via net ou telemóvel

Despeço-me com amizade, eternamente grato por me lerem, mais ainda se a mim se juntarem nesta luta as vossas vozes, pois se tens net e sabes ler, 'tá na altura de começares a escrever também! Convertam as vossas canetas em katanas! A Cristina Pinheiro Moita já o fez com o poema que abaixo vos deixo.
Abaixo o mAO90ismo!
Sayonara, tomodachi! ;)

«Este acordo ortográfico
Por vezes até nos faz rir
Não sei por onde parámos
Ó que caminho a seguir
Se é “pára” já não existe
Se para não sei se “pára”
Para / “Pára”
“Pára” / Para
Quem me sabe explicar?
Porque não “pára” a idiotice
As crianças gostam de brincar
Mas não querem tanta burrice
Faltasse a pala ao Camões
Quem sabe ele ainda visse?
Para trocar o “pára” por Stop
Antes que alguém caísse»

As Senkaku e a Política Externa

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Os direitos desta imagem pertencem à Agência Reuteurs. Obtive-a via site do Público.

Há pessoas que adoram dizer que são “cidadãos do mundo” do mundo como se hoje em dia não o fossemos todos. Com o advento da poluição global, do poder atómico e da globalização, hoje todos, quer o queiramos quer não, cidadãos do mundo.
Como tal, mesmo para a maioria de nós que em nada influência as decisões ou os acontecimentos no palco mundial, é imperativo mantermo-nos informados do que se passa lá por fora. Por exemplo, o Pacífico tem andado algo que belicoso ultimamente. E é interessante ver como uma crise acaba por interromper outra. Refiro claro à disputa das ilhas Senkaku, que aqueceu no final do ano passado e início deste ano, mas que entretanto foi esfriada pela arrogância lunática da Coreia do Norte.
Mas antes de mais, impõe-se um pouco de História e Geografia, ladies and gents!


As ilhas em questão ficam no mar da China, grosseiramente a leste da China Continental, a oeste de Okinawa e a norte da ponta sudoeste das ilhas Ryukyu. Em Japonês, as ilhas têm três variações do seu nome 尖閣列島Senkaku-rettō, 尖閣群島Senkaku-guntō,Senkaku-shotō.Senkaku quererá dizer Pináculos em Pavilhão ou Pavilhão de Pináculos, segundo a wikipédia inglesa (daí a minha dificuldade na tradução). As ilhas foram oficialmente anexadas pelo governo Japonês em 1895, sendo que só após os EUA descobrirem nas ilhas reservas de gás natural em 1968 e, acrescente-se, apenas depois do Tio Sam devolver a soberania ao Japão em 1972, é que a República Popular da China decidiu reclamar estas ilhas como sua propriedade. Num post anterior, escrevi uma pequena tirada sobre como todas as nossas disputas acabam por ser derivadas de necessidades energéticas. Esta não é excepção. Excepção seria uma guerra religiosa, que não tivesse nenhum interesse materialista no seu âmago. Portanto, algo que não existe, pois estas últimas parecem ser sempre pelo controlo de terras, quer neste Verso, quer no plano astral ahahha.
Mas disse eu também, e nessa mesma entrada, que a civilização humana vai necessitar de gerar muito mais energia no futuro próximo, o que possivelmente levará a mais disposição belicosa para obter recursos energéticos. Por exemplo, muito subtilmente está a decorrer uma nova corrida à Lua, ainda em fase embrionária, tanto por parte dos EUA como da China, devido principalmente ao desejo de obter uma substância altamente energética que se julga existir em maior abundância na Lua, chamada Hélio 3, um gajo raro. Portanto, amigos, a próxima corrida espacial não vai acabar com um “For all Mankind!”

Uma nota interessante que retirei da Wikipédia sobre as Senkaku é que, em meados da primeira década do século XX, um empreendedor japonês, de seu nome Koga Tatsushirō (古賀辰四郎),estabeleceu, nessas ilhas, uma central de processamento de pesca do Bonito. Sim, o Bonito é um peixe e assim que ouvi falar dele e que descobri que este é aparentado da sardinha, veio-me logo à cabeça que o nome tenha vindo da palavra portuguesa Bonito, tal como “arigato” é um japonesismo de “obrigado”. Mas a Wiki não me confirmou ou negou tal intuição.
As tensões entre a China e o Japão já não são de agora. De facto, a 18 de Setembro de 1931, o Japão Imperial pré Segunda Guerra Mundial, serviu-se do Incidente de Mukden, também conhecido como Incidente da Manchúria (Kyūjitai:滿洲事變, Shinjitai: 満州事変, Manshū-jihen), como pretexto para invadir a Manchúria e lá instalar um seu governo fantoche. Tal como os estados totalitários, também os estados imperialistas vivem de clichés. Muitas vezes são um no mesmo. A suposta razão para a invasão foi uma explosão criada numa linha de caminho de ferro nipónica. A explosão foi criada de tal forma que nem danificou a linha e foi preparada por um tenente japonês, mas culpada em dissidentes chineses. Desde então e até à derrota do Japão na II Grande Guerra, em 1945, rebentou o conflito entre as duas nações. E até aos dias de hoje, comentadores chineses afirmam que o Japão ainda não se arrependeu do seu papel nessa guerra nem pediu desculpas ou fez as devidas reparações às suas acções perante as vítimas das mesmas. Este conflito actual das Senkaku, conhecidas como Diaoyou na China, terá vindo meter achas numa fogueira cujas brasas nunca esmorecem, embora possam por vezes ficar escondidas entre as cinzas do seu descontentamento.
Analise-se agora, o presente deste conflito. Simon Tisdall do The Guardian, afirma que os Norte-Americanos, que ainda hoje se vêem como a maior potência na zona asiática do Pacífico, andam a ficar cada vez mais nervosos com esta situação. Leon Parnetta, secretário de defesa norte-americano, terá dito recentemente numa visita ao Japão que qualquer “comportamento provocador” por quaisquer dos lados pode levar a malentendidos, violência e potencialmente guerra aberta. Ecoou assim as afirmações de Hilary Clinton que disse que deve haver contenção e diálogo entre a China e os vários países com os quais esta última mantém disputas territoriais. Durante a sua visita, contudo, Parnetta confirmou que de facto as Senkaku estão previstas no tratado de defesa Nipónico-Americano, o que implícita que os EUA, se o pior acontecer, terão de ajudar o Japão a defender as ilhas que a China afirma terem sido ilegalmente anexadas. Isto reforça também a ideia chinesa de que o Japão faz parte duma agenda geo-estratégica secreta norte-americana na zona, que pretende conter ou limitar o crescimento do poder chinês. Diga-se de passagem que não andam muito longe da verdade, pois durante a Guerra Fria, os Estados Unidos usaram mesmo o Japão dessa forma, para atrofiar a expansão comunista. Ou no mínimo, para terem um aliado na zona. Ainda na opinião de Tisdall, historicamente, rixas deste género entre estes povos têm sido seguidas de um decréscimo de agressividade e reparação das relações entre os dois estados. Até porque entre estes últimos, existe uma balança comercial de enorme peso e torna-se do próprio interesse nacional de ambos, fazerem a manutenção dessa balança comercial.



Contudo poderá ser diferente desta volta. Mrs Clinton terá anunciado que era do interesse nacional dos EUA que houvesse livre passagem pelo sudoeste do Mar Chinês, algo que o governo Chinês tomou como uma provocação, assim como achou “intolerável” a oferta de compra das ilhas por parte do Governo Japonês (desta jogada, falar-se-á em pormenor mais à frente). Entra como factor nesta história, que como a administração Obama tem alargado relações comerciais com o Vietnam, a Tailândia e a Indonésia, e restringido a Coreia do Norte (aliada da China), a China ficou ainda mais reticente na sua relação com o Japão e com os outros seus vizinhos e mais preocupada com a sua própria segurança nacional.
Desta volta, temi eu, podemos não ter um final feliz, particularmente derivado a mudanças políticas internas do Japão que levaram à decisão de avançar com a compra pelo governo (ou nacionalização à la capitalismo) destas ilhas com ideias ou fito de as começarem a explorar. O primeiro-ministro Yoshihiko Noda foi quem avançou com essa iniciativa. A China, como seria de esperar, respondeu:


O P.M. Noda parece manter uma posição inflexível de que as Senkaku são território japonês e pronto. Apelou à calma da China, mas sem se mostrar disposto a quaisquer negociações ou concessões sobre o assunto. Eis a posição oficial do governo japonês:
O diplomata norte-americano Stephen Harner terá dito à Forbes que a tensão entre a China e o Japão atingiu níveis assustadores. Harner é da opinião que Noda, embora tenha sido exemplar na política interna do país (debatível considerando que é pró nuclear quando a maioria japonesa parece não o ser), tem levado o Japão a ser o principal causador da elevar das tensões entre os dois países.
Stephen Harner é de facto um contribuidor da Forbes e escreveu também um artigo nesta revista cujo cabeçalho diz: “Os Estados Unidos podiam ter evitado a crise Senkaku/Diaoyou. Porque não o fizeram?”. Uma boa pergunta e uma afirmação interessante. Ele começa por dizer que, à parte da corrida a armas nucleares por parte da Coreia do Norte e do Irão, esta disputa é a mais proeminente causa para guerra no Mundo actualmente e que é provável que assim se mantenha por tempo indefinido. O diplomata, embora reconheça que todas as partes interessadas teriam a ganhar em não fazer crescer a crispação entre si, afirma que os EUA podiam ter vetado a decisão japonesa de nacionalizar as ilhas, decisão esta que foi o que volatilizou toda a já tensa situação. Harner diz-nos ainda que o actual embaixador japonês nos EUA, declarou numa entrevista, a 31 de Outubro de 2012, que ao questionar os EUA sobre a compra obteve a resposta de que a América não se iria opor, dando assim “permissão” ao Japão para agir como agiu. É ainda da opinião do diplomata que se os Estados Unidos não tivessem concordado, Noda teria impedido a oferta de compra de acontecer. Stephen Harner postula depois que a culpa será atribuída ao facto das relações entre a China e a América terem vindo a deteriorar e a tornar-se cada vez mais abrasivas, com a tomada de posição dos EUA em retomar o imperialismo naquela zona do mundo e a reanimar os velhos planos contra os aliados de inimigos d’outrora. É uma opinião.

Contudo, toda esta crise foi abafada pelo súbito crescer de tensão entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul/EUA, pois o novo Pequeno Líder (que como decerto sabem é a encarnação do pai, que fora a encarnação do avô… esse sim um Grande Líder -_-) quis mostrar aos seus generais que tem um míssil nuclear em vez dum pénis. A Coreia do Norte, como bloco Orwelliano que pretende ser, barafustou imenso, mostrou as suas armas, até atirou testou mísseis de longo alcance e expulsou sul-coreanos de um complexo industrial que até então era usado por ambos os países, de tal forma que até a China, sua aliada, lhes teve de dizer: “Deixem-se de birras, pá!” Se não leram o 1984, a guerra é usada pelos blocos totalitários para manterem os seus respectivos povos sob o jugo do medo e da miséria constantes. O mesmo se passa na Coreia do Norte, onde o Líder declarou ao seu povo que as ajudas humanitárias que os EUA e outros lhes enviaram em troca deles cessarem o seu programa de armamento nuclear, eram uma respeitosa e temerosa oferenda ao Grande Líder.
Já desde a administração de Bush Júnior, que a política dos EUA para com a Coreia do Norte consiste em procurar mantê-los controlados via China. Como? Bem, reforçando a ideia de que se os Norte coreanos realmente obtiverem armas atómicas de longo alcance, então rapidamente o Japão construirá as suas, o que para a China não é uma perspectiva nada confortável.
No meio de tudo isto, as Senkaku aparentemente ficaram esquecidas… por hora. Mas esta questão voltará à baila, podendo levar a uma Guerra no Pacífico entre super potências com capacidade nuclear. Ora é aqui que entra a parte GLOBAL da coisa! O que é que a Guerra Fria nos ensinou? Que se houver uma guerra nuclear não haverá neutros. A precipitação radioactiva alastrará as consequências dum tal conflito para o resto do mundo. Como tal, será bom levarmos a questão a sério. Cheguei a sugerir num outro post, que talvez Portugal, considerando as boas relações que mantém com a China e o Japão e que não terá nenhum outro interesse além de promover a paz entre dois seus aliados económicos e culturais, pudesse servir de mediador externo para a resolução deste berbicacho. Mas depois, como dizem os meus amigos d’Além Mar, “caí na real, cara!”. Com que credibilidade o faríamos?
Video com as declarações do Passos sobre a Força de Resposta Rápida e uns extras divertidos
Não me refiro ao facto de estarmos às sopas de bancos estrangeiros e de agências de rating, apenas. Refiro-me essencialmente ao facto de a nossa política externa actual ser uma anedota pegada.
Para fundamentar esta afirmação, comecemos por falar na nossa reacção e conduta aquando do recente golpe de estado na Guiné-Bissau. Paulo Portas surgiu na televisão, vi e ouvi eu, a reclamar que o golpe de estado era ilegal. Péssima escolha de palavra, uma vez que não há nenhum golpe de estado que seja legal, senão não era um golpe, era apenas uma mudança de governo depois de eleições. Em seguida, e para mérito das nossas forças armadas, despacha uma força de resposta rápida para Bissau em bom tempo útil, ficando esta ancorada ao largo da costa guineense uns tempos para depois voltar de rabo entre pernas. O pretexto? A salvaguarda da segurança dos portugueses que residem na Guiné-Bissau. Até aplaudiria não fosse o resultado. Não houve necessidade de trazer ninguém, aparentemente ninguém se sentiu ameaçado.
Paulo Portas de seguida, com o apoio pelo menos da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa), pediu na ONU uma intervenção para restituir a legalidade democrática no país. Mas eis que surge a CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) e assume controlo da situação. Despacha para lá uma força nominal de algumas centenas de homens para, alegadamente, policiar a transição de poder, decide quem será o chefe de estado na transição e, efectivamente, enxota a CPLP e Portugal para fora da jogada, também evitando qualquer intervenção, enquanto Portas ainda andava a pedir a força de intervenção na ONU. Resultado disto: a CEDEAO já adiou várias vezes a data para as eleiçõesque reporão a democracia na Guiné-Bissau, enquanto mantém o seu “escolhido” no poder. Uma completa não-resolução do problema. Enquanto isso, o problema da droga na Guiné-Bissau contínua a ser confrontado pelos EUA. Afinal para que serve a CPLP? Para justificar o AO90 talvez? E que credibilidade teve Portugal, ao despachar o seu poderio militar para nada? Não há pior demonstração de fraqueza que é fazermo-nos fortes e deixarmos que o nosso bluff seja comprado. É como quem tem uma arma. Se não a está disposto a usar, mais vale não sacá-la, sempre me disse o meu pai. A nossa força de NÃO intervenção, a mon avis, foi mais uma humilhação que Portas comprou para Portugal, esta última criada pela sua falta de traquejo:

Depois temos a Guerra contra o Islamofascismo. A França, nossa suposta aliada em todas as organizações internacionais excepto a CPLP por razões óbvias, faz uma intervenção no Mali, enviando tropas e equipamento para o terreno e Pedro Passos Coelho dá-se ao LUXO de ir visitar a França, dar uma palmadinha nas costas do seu homologo francês e dizer: “Hollande, mon ami, nós vamos ficar de fora desta, ‘tá? N’há guito, ‘cebes? Se precisares podemos depois mandar os nossos instrutores ensinar os nativos a dar uns kicks, yá?! Ma friend!” e veio-se embora, congratulando-se pela missão cumprida depois de afirmar que Portugal apoia esta acção da França… em espírito. País tão católico que me faz querer vomitar coisas que já me esqueci de ter comido (parafraseando o Hitch).
Ok, é verdade. Não temos dinheiro para andar a policiar o Mundo. Mas não se trata disso. A política externa trata-se de fazer jogadas no palco internacional de forma a fortalecer relações de mutuo interesse e cooperação, com determinados países, de forma a assegurar os nossos interesses. O que é certo é que os Fascistas com Face Islâmica (mais uma vez parafraseio o Hitch) não vão esquecer o nosso papel na libertação de Timor Lorosae. Eu lembro-me de ver com orgulho os nossos Pára-quedistas a darem cabo dos islâmicos no noticiário da RTP1, era eu puto. Eles, que querem restaurar o seu antigo Califato (que incluída a Andaluzia e o Algarve), não esqueceram o nosso papel na sua perda dessas terras. Esta guerra é nossa, quer nós a queiramos quer não. E os nossos rapazes precisarão de experiência de campo, quanto mais não seja para a passarem às próximas gerações de militares portugueses. Temos dos melhores militares do mundo e sabemo-lo! Sempre que há exercícios da NATO, lá estão os ‘tugas entre os mais bem cotados, quando não são o topo da tabela. Tivemos dinheiro para mandar uma frota dar uma proverbial volta ao bilhar grande, não temos agora para mostrar aos fundamentalistas que temos valores tão vinculados quanto os deles e que estamos aqui para lutar por eles?
 Resta-me só analisar o corrente Ministro dos Negócios Estrangeiros, el Paulinho das Feiras, o sr Paulo Portas, líder assumido da Direita Cristã Portuguesa. Ora este último já revelou ser um mentiroso (Clicar para comprovar a afirmação anterior) de oportunidade, um hipócrita histórico (clicar aqui para comprovar afirmação anterior), cujos princípios, se é que os tem, variam conforme está na oposição ou no governo (ver imagens). E só não lhe chamo corrupto porque isso, infelizmente, ainda não tenho como provar e não estou disposto a ser levado a tribunal por difamação (cof cof submarinos cof cof... estas mudanças de clima súbitas dão cabo da minha renite).
Politicamente, é aquele tipo que traça uma linha na areia e depois apaga-a ele próprio (dadas as últimas notícias sobre as novas medidas de austeridade acho que não preciso dizer mais). Já as suas anteriores declarações, desde que está no governo, desde que assumiu o poder que na sua juventude dizia odiar acerrimamente, só resultaram em que ele tenha andado a engolir sapos, que um Coelho da Páscoa e um Gaspar, o Fantasma Hostil, alegremente lhe vão enfiando goela abaixo.


Quanto ao AO90, foi dos corajosos (palavra escrita com um abuso de sarcasmo) que se abstiveram aquando da votação na Assembleia da República, mas agora que tem um tacho no governo, está constantemente a afirmar que tem de ir para à frente e vai mesmo, tendo-se tornado desde que assumiu funções um fervoroso mAO90ista! Não se preocupem, o mAO90ismo é perfeitamente compatível com qualquer outra religião. Aliás, a sua defesa e aplicação é pura questão de Fé.
Por fim, é claro, vamos abordar a nossa única política externa imperialista: o Acordo Ortográfico de 1990, que já todos sabemos bem o desastre anedótico que é.

Com estes vendedores de automóveis usados como governantes, só podemos esperar da nossa política externa uma completa vassalagem a Broxelas (deve ser erro ortográfico, deve) e pedinchar umas esmolas aos restantes na forma de compra da nossa dívida externa. Ai, se o Dom Afonso Henriques ou o Marquês de Pombal nos vissem agora…

Doseiaisha

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Olá, amigo(a)s!
Eu procuro afastar-me das polémicas no tempo e só falar das coisas quando já tive algum tempo para remoer os diversos argumentos contra e a favor, afim de vos entregar uma visão minha de determinado tópico. Especifiquei “no tempo”, porque também não quero que me leiam devido a sensacionalismos. Ao contrário da Imprensa e restantes Media, eu não tenho a prorrogativa da venda da informação, tal como também não tenho o constrangimento económico (enquanto puder ter net baratinha :D) ou a auto-censura do politicamente correcto. Mas desta volta decidi abordar um tópico que está na baila: a homossexualidade. É que hoje em dia somos todos forçados a pensar nesta questão, não por culpa de quem é gay, mas por culpa de quem é intolerante e arrogantemente ofensivo para quem o é.
Sabem?, quando eu era puto, um dos meus ídolos era o Alexandre o Grande. Mas na altura os gays eram muito mais alvejados do que são hoje, ser-se gay era considerado um insulto. Termos como paneleiro, panisgas, bicha, fufa, etc… eram mais utilizados que gay, homossexual ou lésbica. E provavelmente, mais utilizados entre heteros como ofensa pessoal que para ofender um gay. Ainda sou do tempo em que se falava em escolha sexual, em que a tese que diz que a homossexualidade é uma doença ainda não tinha sido desacreditada. E como tal, embora Alexandre da Macedónia tivesse sido um dos grandes reis conquistadores do Mundo Antigo, tinha nessa altura a fama de ser paneleiro. Não me bastava ser gordo e alto, levando os adultos sem malícia (parece-me) a me chamarem precisamente Alexandre o Grande, ainda era por vezes chamado de paneleiro por associação. Ainda por cima, devido aos meus longos (na altura) cabelos cumpridos, olhos verdes brilhantes, bochechas cheias, eu tinha um aspecto algo que andrógino. Havia quem ficasse na dúvida se eu era rapaz ou rapariga. Houve quem afirmasse que eu era demasiado bonito para homem. Bons velhos tempos! Ahahah Estranhamente quem fazia essa associação, voltando ao Rei Alexandre, estava algo que mais bem informado que os outros putos todos, do ponto de vista histórico. As crianças tendem a ser cruéis por falta de experiência na hipocrisia social, não por falta de conhecimento. São rápidos a ver o que não encaixa no padrão habitual. É assim que aprendemos. Mas bem, eu não me posso queixar, pois eu sabia bem ripostar e entendíamo-nos. Nunca fui alvo do bullying, termo que na altura da minha meninice ainda não se usava por cá embora o comportamento já existisse, precisamente porque prefiro ser aguerrido (física ou verbalmente, conforme necessário ou apropriado) como o Magnus quando me tentam pisar os calos, que seguir a mensagem do Cristo e dar a outra face. É o tanas, que é o parente do badanas!
Eu sou muito introspectivo, desde pequeno. Da mesma forma como muito novo me interessei por religião (a story for another day) e pela política, também muito novo me interessei por sexo. Como tal, quando já mais velho tomei consciência de que haviam 3 (gays, heteros e bi’s) possibilidades de orientação sexual, que na altura ainda havia na sociedade (entre heteros, creio) a ideia que de era uma escolha, eu decidi-me a investigar qual dos 3 melhor se me assentaria. O tratamento que dei ao problema foi o mesmo que dei à questão de visão de mundo (religião e política): investigar, saber mais, falar com as pessoas, debater a questão, chegar a uma conclusão. Esta contudo foi a conclusão a que mais tarde cheguei. Aos meus 16 anos, já sabia que era ateu (que já agora também não é uma escolha, mas isso também fica para outro dia), pelos 21 já sabia que era apartidário, pela mesma idade percebi a minha identidade sexual. Foi desapontante saber que não era uma escolha, pois sou apenas hetero e gostava de ser bi. Just think of the possibbilities! :D

Mas, devido à investigação que fiz à minha própria natureza, acabei por sentir uma enorme empatia para com os gays e mesmo alguns bi’s, devido ao facto de durante séculos e milénios serem reprimidos por uma ditadura social dos “bons valores”, baseada como é normal dum profundas lavagens cerebrais religiosas e falta de cultura. E esta ditadura é imposta sob ameaça de penas como o completo ostracismo ou mesmo a pena de morte. Em muitas partes do mundo hoje, ainda acontece. E em mundinhos mais pequenos como o de muitas famílias portuguesas, de certeza que ainda acontece. Durante muito tempo, não tinha paciência para as manifestações dos gays ou para as suas reivindicações. Achava eu, na minha ingénua ignorância, que se eles queriam ser gays que fossem para quê me chatearem com isso? Mas prende-se com o facto de não os deixarem, de um casal de homens não poder namorar na avenida ou andar de mão dada, devido (na melhor das hipóteses) a olhares reprovadores cravejados de repulsa ou mesmo ódio. Christopher Hitchens nas suas memórias chegou a falar de experiências gays que teve quando era mais novo, num colégio interno de rapazes. “What do they fucking expect?!” dizia ele meio a sério meio a brincar. Ele acabou por descobrir ser heterossexual, mas achou que devia partilhar tais experiências como um gesto solidário ao movimento gay. Dizia também que mais que sexo, a homossexualidade também deve ser reconhecida nos parâmetros do amor romântico e, como tal, respeitado desse prisma. Concordo com ele uma vez mais. Ele dizia ainda que não confiava em nenhuma pessoa que nunca se tenha questionado, no seu íntimo, sobre isso. Não irei tão longe… Mas mais do que eliminar o olhar reprovador da sociedade, é uma questão legal: terem os mesmos direitos que os heterossexuais perante a sociedade civil e não serem descriminados socialmente devido à sua natureza.
Numa nota de antiteísmo, o Hitch dizia isto do Deus de Abraão em geral relativamente ao pecado (pois todo o homem peca, até o Adão que supostamente era perfeito… criado à imagem do seu criador), mas focando-nos na problemática em questão, se Deus criou o Homem e nos criou doentes (seja os gays ou os ateus), e depois sob pena de irmos arder eternamente nos infernos nos ordena que fiquemos saudáveis (aos seus olhos), não é este um deus mesquinho que condena algumas das suas criações ao fracasso? Não é este deus vil? Ainda assim há homossexuais católicos, entenda-se lá como (cliquem nesta frase para um video ilustrativo em inglês).
Em Portugal, o Sócrates foi ver o Leite e acabou por colocar o país no bom caminho, legalizando o casamento homossexual. Até um relógio avariado dá horas certas duas vezes por dia, né? Recentemente, a esquerda portuguesa (esquerda esquerda e esquerda centro) em peso, com a abstenção da maioria da direita, legalizou finalmente a co-adopção por casais homossexuais na Assembleia da República (AR). Em breve, não duvido, provavelmente já em governo chuchialista, a adopção plena será também legalizada. O meu receio até agora, pelo que li, infundado sobre a adopção era que uma criança não tendo contributo educacional de um macho e uma fêmea não teria um desenvolvimento normal. Consideremos o seguinte: o gay (tal como o ateu) pode e tem surgido de casais heterossexuais (religiosos), logo não haverá porque esperar que heterossexuais (crentes) não surjam do seio de famílias não convencionais (de “bons” valores religiosos). Nós somos produto da nossa educação e experiência, mas não aparecemos como uma tábua rasa no mundo, já trazemos bagagem (e não, não me refiro a vidas passadas). Depois, as pressões no recreio dos bullys perante os putos que tenham dois pais ou duas mães poderá persistir durante umas gerações, mas dentro em breve desaparecerá. Porquê? Porque o que hoje é tabu, se não for prejudicial para a sociedade, amanhã é normal. E a homossexualidade já cá anda desde que o Homem era Macaco, pois até os macaquinhos a têm, e ainda cá estamos. Aliás, todos os animais que vivem em sociedade desenvolvem práticas homossexuais. Além do mais, a co-adopção e, suspeito eu, a adopção por casais gays, em termos práticos já existem, só não são reconhecidas legalmente. O que quer dizer que se morre o pai ou a mãe (biológico ou adoptivo) que legalmente é o tutor da criança no casal gay, a criança tendo um outro encarregado de educação nunca reconhecido pela lei, pode ser atirada para (essa sim comprovadamente prejudicial) a guarda do estado. Relembre-se da Casa Pia, como exemplo negativo ao extremo. Assim sendo, a legalização é a única solução, além de se matar dois Coelho’s de uma cajadada só: há muita criança para adoptar e poucos casais com possibilidades e/ou vontade para tal. Os argumentos contra são, pelo menos o que eu ouvi, baseados em medos. Medo de que os valores religiosos sejam eliminados da sociedade, medo de que os pilares sociais ocidentais (as tradições) sejam substituídas, medo que toda a população ou a maioria se torne gay por ou serem criados por gays ou por whatever, e finalmente por medo da Esquerda política que tem sido a fomentadora destas mudanças… Quanto à primeira, era bom era! Ahahah, mas visto que até há homossexuais não só cristãos mas especificamente católicos, não vejo isso a acontecer. Quanto à segunda, ninguém está a substituir nada, as famílias convencionais (casal composto por um macho e uma fêmea) continuarão a existir e aventurar-me-ia eu a dizer que continuarão em maior número. O terceiro medo é simplesmente parvo. O quarto medo é mera politiquice.

É óbvio que para todas as revoluções, antes duma evolução delas poder surgir, há sempre uma tentativa de reacção. Lamento em dizer que mais uma vez a reacção vem da Direita. E, tendo em conta, de onde originam os sentimentos anti-gay, não custa a vermos que é a Direita Cristã. Sim, a mesma que nos deu o Mussulini, o Franco e o Salazar, entre outros. A mesma que apoiou o Hitler até à queda do Terceiro Reich. A mesma que na Rússia fez de Estaline um santo e apoia incondicionalmente o Putin e os seus esbirros xenófobos e nacionalistas. Por cá, os representantes da Direita Cristã moderados comprovaram agora que estão bem domados. Falo claro do CDS. Não estou a chamar-lhes fascistas, mas tal como os comunistas têm uma herança negra com que lidar. Só os sapos que o Passos e o Gaspar os fizeram engolir desde que a eles se aliaram com ganas de poder, e agora esta esmagadora permissividade, esta sim, contra-natura que tiveram perante um tópico com o qual estão amplamente em desacordo, demonstraram bem a sua dupla-face, a que têm na oposição e a que têm depois de chegados ao poleiro. Aliás, apercebi-me agora que na coligação o CDS tem sido um exemplo perfeito do que é dar a outra face quando se é ofendido. Um corolário que daqui se pode remover é que, embora o país possa ser de maioria cristã, a sua (pseudo [um dias destes elaboro este pseudo]) democracia é comprovadamente secular, e os seus cristãos melhores cristãos que os cristãos poderiam ser se seguissem à letra a sua fé. Não deixa contudo de ser triste que os movimentos cristãos zelotas recorram ao golpe baixo da chantagem psicológica para atingirem os seus fins, como estes senhores que se predispõem a usar a peregrinação a Fátima para recolher assinaturas para um pedido de um referendo ao aborto, estranhamente à eutanásia (quem me dera, pois acho que lhes saía o tiro pela culatra), e provavelmente agora a esta questão dos direitos dos homossexuais, questionando os “fiéis” quão “bons cristãos” são! Dá-me asco, sinceramente. É que isto é forçar uma reacção desejada sem oferecer qualquer argumento lógico ou racional, sem debate, só pela chantagem propagandista. É também armarem-se em deuses eles próprios ou no mínimo investirem-se de poder divino, pois não ouvi o Papa em Roma a pedir que assinassem essa petição... or else. Mas enfim, “olha, são coisas deles” (quem via o Curto Circuito nos dias do Unas, percebe a piada)!

O problema é que os partidos de Deus na Europa não desistem, id est, o CDS não está sozinho. Não se contentam em reinar dentro das igrejas e catequeses, querem poder também no plano civil. Querem tornar a alegada lei divina, lei civil.
Na França, a aprovação do casamento gay, gerou confrontos com manifestantes contra essa lei vindos da Direita:
Em Espanha, fizeram com que a Religião conte para a média escolar.
Mas mais ninguém vê o problema com isto?? Já é mau o suficiente haver uma disciplina de Religião e Moral, como há em Portugal (ou havia no meu tempo), que dá primazia a uma determinada Religião (neste caso, a da Igreja Católica) perante todas as outras numa cultura supostamente de estado laico e que defende a liberdade religiosa num contexto de sociedade secular com pluralidade religiosa, quanto mais fazê-la parte da avaliação duma criança!!! E se a criança vier duma família cuja religião é outra? Agora temos cá cristãos ortodoxos, evangelistas, muçulmanos, budistas, espíritas... ah sim, e ateus! Como pode um estado secular proteger uma religião em detrimento das outras? Não pode. Nem devia sequer de haver capelões no exército e ainda bem que o Sócrates acabou com as isenções de impostos a padres. O Estado não pode favorecer uma religião específica, porque senão teria que dar o mesmo tratamento a todas as outras e torna-se incomportável. A melhor maneira é não favorecer nenhuma. As ditas igrejas que se amanhem. Os seus ensinamentos ficam para as igrejas e catequeses e templos demais. Fora da escola pública.
E mais, chegam a estes extremos, a esta loucura, incapazes talvez de viverem num mundo de democracia e respeito pelos direitos humanos, ou incapazes de lidar com a inevitabilidade da mudança das vontades:
Dito isto, é bom ver que por todo o mundo ultimamente se tem visto um ganhar de terreno em todas as frentes nos direitos homossexuais e como tal, essa revolução, tal como a da emancipação das mulheres, estará próxima de ficar concluída, no Ocidente. Deixo-vos alguns exemplos disso mesmo:
Em Portugal:
Em França:
Inglaterra:
Mas é preciso reconhecer que há pessoas sensatas também na Direita (não especificamente cristã) e é minha convicção de que se houvesse mais liberdade de voto na AR, teríamos um país mais democrático e como tal mais justo.


Dito tudo isto, vou-vos só dar uma perspectiva histórica e actual sobre o que se passou e passa com a homossexualidade no Japão.
Na antiguidade japonesa, o termo usado para designar gays era nanshoku (que também poderá ser lido, danshoku) e que, etimologicamente, é gerado por dois caracteres: 男色. Literalmente falando o primeiro caracter quer dizer “macho” e o segundo “cor”. Contudo, o caracter que designa cor () ainda hoje é sinónimo de prazer sexual tanto na China como no Japão. Um outro termo usado como sinónimo seria shudo (衆道, abreviado do termo wakashudo, que se poderá traduzir para “a via dos rapazes adolescentes”).
Existe uma variedade de referências literárias algo que obscuras que evidenciam actos homossexuais, como por exemplo o romance Genji Monogatari (源氏物語, “O Conto de Genji”), oriundo do Período Heian, sensivelmente séc. XI.
A sociedade medieval japonesa é eximiamente estruturada em classes. Assim, na classe monástica, havia relacionamentos homossexuais de género tipicamente pedófilo, ou seja entre um adulto e alguém ainda não considerado adulto. Trata-se de relacionamentos, dá-me a entender, muito parecidos com o que acontecia na Grécia Clássica, em que o mestre mantinha uma relação homossexual com o aprendiz e isto estava imiscuído no ensino. No caso japonês, a relação era dissolvida assim que o aprendiz chegava à maioridade. Diz-se que, fora dos mosteiros, os monges japoneses tinham preferência por prostitutos (kagema) e não prostitutas e que isso era alvo de chacota social. Em termos religiosos, não havia oposição à homossexualidade no Japão nas religiões não-budistas kami (quer dizer divindade ou ídolo), mesmo na Era Tokugawa. De facto, um escritor dessa Era, chamado Ihara Saikaku, especulou que uma vez que as primeiras gerações de deuses Shinto eram todas masculinas, os próprios deuses tiveram de praticar o nanshoku por falta de parceiros femininos, dando uma explicação religiosa para a existência dessa prática (como diria o Hitchens, one never knows what the religious will say next :). Algumas divindades Shinto eram protectoras dos gays. Na classe guerreira (Samurai), havia a mesma relação professor-aluno que podia, caso ambas as partes assim consentissem, ser homossexual, exactamente como na Grécia de Alexandre o Grande. Essa relação tinha até uma formalização contratual chamada contrato de irmandade e exigia exclusividade. Não podiam ter outros parceiros masculinos. E enquanto o mentor ensinava o aprendiz nas variadas artes marciais, etiqueta samurai e código de honra, o desejo do mais velho de ser um bom exemplo a seguir para o seu pupilo levava-o a comportar-se de forma mais honrosa. Assim sendo, a relação shudo era tida como uma relação de engrandecimento mútuo. Depois, a relação ia para além disso, sendo que era exigida uma lealdade até à morte de ambas as partes uma para com a outra, sendo que quaisquer dividas de honra ou vinganças de um eram dos dois. Contudo, a relação com mulheres não ficava restringida e assim que o aluno fosse maior de idade poderiam ambos procurar outros parceiros homens se assim quisessem. O nenja (tutor) era especificamente o activo nesta relação e o aluno o passivo, numa respeitosa submissão. O papel passivo estava interditado aos homens adultos nestas relações. Há um filme interessante sobre este tipo de relações em contexto do Japão medieval e na classe guerreira que é o Gohatto (quer dizer “tabu”). Quando o vi na RTP2, estranhei a leveza com que os mestres percebiam que dois dos seus alunos estavam apaixonados. Se fosse na Europa era fogueiras com eles, provavelmente. Na classe média, os actores e actrizes acabavam por ter um segundo emprego na prostituição, sendo procurados por patronos ricos que se tornavam nos seus mecenas a troco de favores sexuais. Contudo, durante muito tempo, os prostitutos adultos não eram procurados por homens, enquanto as prostitutas eram mesmo sendo adultas, devido a não ser bem visto pela sociedade que um homem se deitasse com um outro sendo este maior de idade. Pelo século XVII, eles terão resolvido este problema ocultando, até quando fisicamente possível, a sua idade e, desde que as aparências (leia-se ilusão de juventude por parte do prostituto) fossem mantidas, era na boa. Os mais procurados por estes mecenas, tanto os femininos como os masculinos, eram os actores onnagata(que faziam papel de mulher) e os wakashu-gata (que faziam papéis gay). Estes actores eram muito retratados nas impressões nanshuko shunga (shunga quer dizer “imagem de primavera”, 春画, e primavera é um eufemismo oriental para erotismo ou sexo), cujo exemplo podem ver na imagem abaixo. Devo admitir que me ri da proximidade da palavra shunga em termos sonoros da nossa palavra de calão chunga, significando (para os lusófonos não portugueses que possam não perceber) que é reles, que não presta, que é de mau gosto!
Para os dias de hoje, deixo-vos com um testemunho dum imigrante brasileiro que vive no Japão que teve a bondade de deixar este registo no youtube. A perspectiva que ele dá bate certo com o que encontrei noutras fontes na Internet, pelo que dou-a por correcta e objectiva. (ignorem o primeiro minuto e meio que é ele a desabafar a frustração de pessoal que deixou comentários menos construtivos aos seus outros vídeos)
Relativamente a nomenclatura, ela é hoje diferente e mais diversa. Existe a palavra doseiaisha (同性愛者, literalmente “pessoa que ama o mesmo sexo”), que por razões óbvias dá título a este post. E depois a influências de culturas ocidentais, como gei(ゲイ, gay), homo(ホモ), homosekusharu (ホモセクシャル, homossexual), rezu (レズ, les) e rezubian (レズビアン, lésbica).
Como pode ser entendido no vídeo, os gays japoneses não são legalmente reconhecidos, sendo que também não são perseguidos pela lei. Fora algumas zonas mais metropolitanas como Tokyo ou Osaka, onde já há gays fora do armário, a sua maioria ainda vive vidas dentro deste último. Há por exemplo um testemunho, dum casal de gays que até têm alianças, mas que quando vão para os empregos a retiram e fingem ser heterossexuais até voltarem a casa, por medo do que os colegas e patrões possam achar.
Só para terminar, nos dias de hoje, segundo a Wikipédia, no Japão os homossexuais podem servir nas forças armadas, pois embora ser gay não tenha estatuto legal, também não é activamente contrariado ou proibido. Simplesmente é legalmente ignorado. Tive a curiosidade de ir ver o que dizia sobre Portugal e fiquei orgulhoso de ler que em Portugal os gays podem servir nas forças armadas como qualquer cidadão pois a nossa Constituição proíbe descriminação sexual.
Mais uma vez me despeço com amizade e com renovada esperança na única coisa na qual tenho fé (não cega): a Humanidade.

Celebrações e Educativas Palhaçadas Ortográficas

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Senhoras e senhores, irmãos e irmãs, amigos, camaradas, chegámos ao mês que traz o Verão!
Para deprimir ainda mais um país já em d(r?)epressão, sabe-se agora que este será o verão mais frio dos últimos 200 anos. Caso para muitos levantarem a questão, mas afinal onde está o Aquecimento Global? Aos que fizeram essa pergunta sem ser em retórica irónica, sugiro que tomeis o primeiro avião ou barco para o Pólo Norte e perguntais a um urso polar, se ele ainda não se tiver afogado por o gelo descongelar mais depressa todos os anos.
Mas animemo-nos porque este mês é mês de festa. Em Lisboa temos os Santos Populares a animar a malta e este ateu adora esses santos! :D Coloco aqui scans das páginas da Maxim deste mês sobre os santos (Maxim, não me leves a mal, mas até é uma boa publicidade para vós, um quid pro quo), fazendo-lhe um pequeno reparo ao qual o meu pai é que me chamou à atenção. O santo padroeiro de Lisboa é São Vicente e não Santo António. Mas como diria o meu pai "Valha-nos Santo Ambrósio, que é o padroeiro dos ignorantes!" ahahah


Por outro lado, existem as festas e celebrações relativas ao festejo dos 470 anos de relações entre Portugal e Japão.
A Embaixada do Japão indicou-me então dois eventos por email, pedindo-me que os veiculasse, mas também uma colega minha que agora estuda no ISCTE me avisou de outro. Quanto a esse último anúncio, fui forçado a corrigir o acordês de que vinha infectado o texto do email. No caso dos anúncios da Embaixada, já estão curados desse mal até nas imagens!! :D Oh para mim todo contente! Pequenas vitórias, baby steps, win by attrition/vencer por desgaste... a essência da guerra de guerrilha também se pode aplicar na guerra cultural!

- Via Embaixada do Japão:

1) "A Embaixada do Japão tem o prazer de divulgar a vinda do grupo ‘Kiwi & the Papaya Mangoes’ a Portugal, entre os próximos dias 13 a 16 de Junho, com concertos no Porto - na Casa da Música, em Lisboa - na Festa do Japão em Lisboa e nas Festas da Cidade de Lisboa e em Abrantes - nas festas da cidade. Concerto a não perder!!

Agradecemos a respectiva divulgação e contamos com a sua presença."

2) “Inserido na programação das comemorações dos 470 anos de Amizade Japão Portugal, a Embaixada do Japão tem o prazer de divulgar o Workshop e Demonstração de Música e Dança Folclórica Japonesa com o Grupo de tambores “Raku” e Grupo de Folclore Japonês “Arauma Chiyo”, ambos provenientes da Ritsumeikan Asia Pacific University – APU em Oita ( ilha do Kyushu – sul do Japão).



O workshop terá lugar no dia 14 de Junho das 18h30 às 20h00 no auditório do Museu do Oriente, com entrada livre sujeita a levantamento de bilhete no limite da lotação da sala. Os interessados poderão levantar os bilhetes na recepção do Museu do Oriente disponíveis no dia do evento.



Mais informações consultar:



A Embaixada do Japão apresenta os seus melhores cumprimentos, espera contar com a sua presença e agradece a divulgação que possa ser feita.”


- Via Cat(a minha colega):

«Caros Alunos/Professores/Colegas,

”No próximo dia 12 de Junho, vamos dar as boas-vindas ao grupo de dançarinos e músicos da nossa universidade parceira Ritsumeikan Asia Pacific University do Japão. Este grupo vai aCtuar durante as marchas populares e também fizemos um convite para fazerem um espeCtáculo para a nossa comunidade.

Por isso vimos por este meio convidar-vos para a Festa do Japão no ISCTE-IUL no dia 12 de Junho (quarta-feira) às 14 horas  no Grande Auditório do ISCTE-IUL (Edifício II, piso I). Esta é uma oportunidade única para conhecer a arte nipónica e ouvir tambores japoneses.


Organização:
IEPM – International Exchange Programmes in Management (
ISCTEBusinessSchool)
TUNA ISCTE

Embaixada do Japão em Lisboa »


E com isto termino a parte festiva deste post, mas a cultura continua.
Vamos começar pelo Acordo Ortográfico de 1990 (AO90). Não vou fazer mais um post enorme sobre isso (não este mês, pelo menos) embora haja muito a comentar, como um juiz ter exigido a entidades oficiais que não o aplicassem, visto não estarem sob a alçada directa do governo e como tal a resolução da Assembleia da República não os vincula a tal, só para dar um exemplo. Contudo, vou postar aqui este vídeo do Miguel Sousa Tavares (conhecido na net como MST), aquando do seu contributo opinativo e como testemunha contra o AO90 no âmbito da Conferência “Onde Pára e Para onde vai a Língua Portuguesa?”:
Oh, e lá está ele a implicar com o Cavaco, pá! Oh Miguel, assim já é perseguição! Quanto ao assunto do palhaço, veja-se que bonita é a nossa democracia, em cujos governantes se fartam de dizer mal dos déspotas da Coreia do Norte, mas por cá também não se pode ofender o Pequeníssimo Líder. Tristeza. Lá que ele o processasse como uma pessoa normal tem o direito de fazer se se sente alvejada, tudo muito bem. É um direito que assiste a todo o cidadão, mesmo àquele que tem temporariamente o título de Presidente da República. Agora colocar um processo ao Miguel alegando um artigo da constituição que remete para ofensas ao cargo de Presidente da República? O Miguel Sousa Tavares não procurou ofender o cargo, apenas explicitar de uma forma colorida que a pessoa que actualmente o ocupa... enfim, pá!
A mim sempre me ensinaram que quem quer respeito, dá-se ao respeito. É preciso lembrar que estamos a falar do homem que diz não entender o AO90, que diz que não o vai utilizar porque já é velho, mas que o promulga na mesma? É necessário recordar que este foi o homem que diz que está a sentir a crise como todos os portugueses, pois 10 mil euros de ordenados não lhe cobrem já as despesas? É por ventura imperativo ir buscar a memória de que aquele que pagou aos agricultores portugueses para nada fazerem e deu cabo da frota pesqueira portuguesa a solda da então CEE, agora nos venha dizer que a saída da crise está no mar e na agricultura? (raios, não me recordo do nome dessa via política… era qualquer coisa ismo… bem, há-de ocorrer-me!) Ou o seu envolvimento nada investigado no caso BPN? (carregar para ver vídeo ilucidativo) Ou talvez baste dizer que é o presidente mais desrespeitado seguramente desde que temos presidentes neste país, com petições a pedirem a sua demissão (eu assinei-a). E palhaço sou eu? Não, porque eu não votei nele duas vezes para PR, depois de saber a porcaria que ele fez enquanto Primeiro Ministro.Mas, Miguel, excedeste-te sim senhor, e eu e essa classe já tão ignorada pela sociedade que tu maltrataste aguardamos o teu pedido de desculpas.

Falando em palhaçadas, abordemos a actualidade, onde quem está na baila não é o PR, mas sim o Ministro da Educação. Sabem o que é que este pilar do conhecimento académico tem a dizer sobre as dificuldades da língua portuguesa?
Pois é. O que vale é que o senhor está a obrigar todos os putos em Portugal a aprender o Acordo Ortográfico que não resolve nenhum desses problemas e ainda deixa a língua tão ambígua que os alunos são só perguntas e os professores só podem dar a única resposta que nenhum professor deve dar: “Porque é assim.” Sem crer, o ilustre ministro da deseducação generalizada bate em cheio na cabeça do prego, crucificando o AO90 ao ridículo da sua incapacidade prática para atingir seja qual for (dos já de si pseudo) objectivos que lhe serviram de pretexto para o Sócrates o canonizar (down, boy!, este não é um versículo satânico).
E ainda me tem este biltre a coragem de dizer que os professores é que estão errados ao fazerem greve nos seus intocáveis e preciosos exames pois não estão a pensar nos alunos ao marcarem greve para essas sagradas datas? Como se nunca tivessem sido adiados exames antes. Como se os exames não fossem o fim do ano lectivo e as regras novas que se quer renegociar (ou que os professores querem renegociar) não fossem para ser statu quo já no início do próximo ano lectivo. Como se não fosse impossível fazer greve estando-se de FÉRIAS! Ainda se vem fingir protector das criancinhas? Já se esqueceu do que gritava e pregava quando estava na UDP, né? Pois… o poder e o dinheiro dão com cada amnésia!
No jugo dele, temos turmas enormes, professores cada vez menos, com menos feriados e agora querem eles mais horas de trabalho, pelo mesmo ordenado. Isto é que vai dar produtividade e melhorar a qualidade do ensino, ó ó! E claro, só falta o Passos vir dizer outra vez que os políticos é que são mal pagos!
Isto nem é só hipocrisia, é pura lavagem cerebral para colocar Zé Povinho contra Manel Povinho, a fim de se eliminar qualquer oposição ao Culto da Austeridade. Se há coisa que me irrita é quando as pessoas dizem “malandros dos grevistas, com o país na falência e em vez de trabalharem mais, fazem greve, que só dá prejuízo!”. Irrita-me porque percebe-se logo que quem isto argumenta nada sabe sobre o que um economista quer dizer quando diz que os portugueses não produzem. Pensem lá um bocadinho. Os ‘tugas são uns mandriões em geral, né? Mas a Alemanha, onde são todos super eficientes e trabalhadores, veio logo contratar ‘tugas para as empresas deles. E olha, eles lá não só produzem como são apontados como os melhores dos melhores. Estranho, né? Será da falta de Sol, lá? Não, é porque os produtos que a Alemanha cria e vende são mais valiosos ou estão mais valorizados que os dos Portugueses. E muito porquê? Graças ao Cavaquismo (eu bem vos disse que me haveria de lembrar) também, mas não só. Nós já trabalhávamos mais que eles no tempo do Sócrates, ou no mínimo, tanto quanto eles em horas. O valor que é atribuído a esse trabalho é que é menor. Não é mais um dia de trabalho por ano ou menos que vão cobrir essa diferença. Tanto que não que ainda não tivemos dos génios que defendem isso nenhuma vitória verdadeira conquistada pela aplicação das suas políticas.
Depois há aquela dos “Sacanas dos gajos dos transportes só pensam neles. Um gajo a querer ir trabalhar e lá eles a fazerem greve! Egoístas”, é isso! São egoístas eles por pensarem neles, mas não quem diz esta barbaridade só se interessando da sua situação pessoal! Eu também já me lixei com greves da CP, do Metro Lisboa, nunca me ouviram nem ouvirão a dizer isto.
Agora vêm com “os professores têm o dever disto e daquilo e ai as criancinhas!”, mas muitas dessas criancinhas poderão um dia vir a ser professores e se estes agora não batem o pé, quando chegar à vez deles nada mais serão que escravos do regime. Esquecem-se essas vozes tão moralistas, que quando alguém faz greve perde ele próprio um dia de salário. Esquecem-se que se uma greve nada perturbar o normal decorrer da vida da sociedade então não tem braço para forçar o estado/o patrão a negociar. Em vez de desprezarem a luta dos outros pelas suas benesses, que tal forjarem os vossos próprios sindicatos para também reivindicarem as vossas ao invés de se contentarem com estarem sempre a perder? Muita gente lisonja a Social Democracia Nórdica. Muita dessa mesma gente diz que os problemas da nossa sociedade são causados ou aprofundados pela existência de tantos sindicados. “Nunca, senão o patrão foge de vez para a China e ficamos desempregados!”, afinal parece que o patrão adora viver no (pseudo)comunismo.
Mas comparem as percentagens: por cá temos cerca de 30 % de trabalhadores sindicalizados, em média nesses países nórdicos em cujo estado social é mantido e quase não há desemprego, há cerca de 60% de trabalhadores sindicalizados? Só para vos dar que pensar, espero.
Assinem a ILC (com os 3 links abaixo e os CTT), porque como diz o Medina Carreira (pelos 16min50seg) “Isso é tudo óbvio, mas o que é óbvio em Portugal não anda”, e digo eu temos de continuar a empurrar:


Bem haja a todos os que resistem e vivem, coitados dos que se contentam com a mera sobrevivência, e que se fodam os que fomentam a luta entre os dois primeiros para para seu ganho pessoal levarem a deles avante! Enfim, para rematar só relembrar abaixo com o mAO90ismo!!
Alex, signing off... ;)

Actualização: (13 de Junho de 2013, 01h57min TMG) as páginas "scanadas" da Maxim Portugal sobre os Santos Populares em Lisboa.

Levanta a Manga e salva 3 vidas

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Olá, pessoal.
Parece que hoje é o dia mundial do Dador de Sangue. Eu sou dador de sangue, mas não estou a festejar o dia. E porquê? Porque o governo português, que destruiu um sistema de recolha de sangue quasi perfeito com um mero mover duma burra e burocrática caneta, ainda não teve a honestidade e/ou a maturidade suficientes para assumirem e reverterem o seu erro.
Um governo que é eleito para resolver uma crise, nunca deveria começar o seu mandato destruindo um sistema que está a funcionar em pleno e que tinha custo quase nulo (no que diz respeito à contribuição dos dadores nesse sistema) para a máquina estatal. Como é que o governo o fez? Retirando a isenção dos dadores de sangue às taxas moderadoras no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Essa medida fez revoltar muitos dos dadores de sangue, na sua grande maioria classe média, classe esse que dois anos volvidos deste governo é virtualmente inexistente neste país. De facto, muitos dos constituintes dessa classe foram forçados a emigrar pelo adensar das condições económicas negativas que este governo alegadamente viria resolver.
Ora, depois de muito barulho ser feito, o governo, sempre lavando a mão de todos os pecados culpabilizando a Troika, insistiu em retirar as isenções, deixando apenas as dos centros de saúde para os dadores. Tal é indicado claramente no site do IPS:
“A legislação em vigor prevê, no artigo 4.º, a isenção do pagamento de taxas moderadoras para os Dadores Benévolos de Sangue, nas prestações em cuidados de saúde primários (Centros de Saúde).”
Meus senhores, o sangue que eu dou serve para transfusões de emergência ou para permitir fazer em segurança operações. Os centros de saúde não oferecem nenhum destes serviços. Ou seja, se eu me vir em apuros e precisar duma operação ou for esfaqueado num assalto e precisar de sangue, terei de pagá-lo mesmo sendo parte dos que fazem com que esse sangue esteja disponível. Não faz sentido. Porquê? Bem:
- o dador de sangue é tipicamente uma pessoa saudável, logo não vai usar e abusar dessa isenção, e é desejável ao SNS mantê-lo em boa forma física para continuar a ter fonte de sangue saudável que tanto necessita para a sua actividade;
- o facto do dador de sangue ter uma isenção, não quer dizer que esteja constantemente no hospital, a tirar a vez a outro nas filas de espera ou a entupir o SNS. Tipicamente são pessoas com consciência social acima da média na sua sociedade e não vão usufruir de algo apenas porque lhes é de borla;
- muitos dadores de sangue deslocam-se até aos hospitais ou outros centros de recolha pelos seus próprios meios (como eu e o meu pai sempre fizemos, ele há muitos mais anos que eu), de 3 em 3 meses (ou 4 em 4, no caso feminino), para fazer a dádiva sem nunca sequer pensar em exigir os gastos de deslocação ao estado;
- a isenção dos dadores é individual e não se estende a familiares ou amigos, como as cunhas dos políticos, id est, só quem contribui tem a isenção;
- uma outra regra, extremamente importante, é que nem todos os dadores têm acesso à isenção. Apenas os dadores assíduos, que dão pelo menos duas vezes por ano (recordo que no caso masculino consegue-se dar 4 vezes e feminino 3 vezes no máximo, por ano, devido aos ciclos de reposição sanguíneos), é que acediam à isenção. Isto porquê? Porque é necessário manter os níveis de sangue no Banco de Sangue. Se uma pessoa der uma vez em 3 anos, porque foi ao parque e estava lá uma carrinha a fazer uma acção de recolha, não deixa de ser dadora, mas não é assídua o suficiente para merecer a isenção.
- a isenção e as regras para a ela aceder existiam exactamente para estimular os dadores de sangue, não só a darem (porque isso ou se tem essa boa fé e consciência ou não se tem), mas sim a darem sistemática e assiduamente até lhes ser impossível por idade ou doença.
É claro que há uma tentativa de que a doação de sangue seja 100% conseguida por dadores voluntários. Mas o que é que se define como doação 100% voluntária? Segundo a definição do Conselho Europeu (clique aqui para ir para a fonte desta citação):“A doação voluntária e não paga de sangue deve significar a doação de sangue ou dos constituintes do sangue por uma pessoa de sua livre e espontânea vontade, sem receber pagamento em dinheiro ou em géneros em troca que possa ser considerado um substituto monetário. Isto inclui também tempo de trabalho que inclua o tempo de doação e deslocação para a doação. Pequenas ofertas, gratuitidades, comes & bebes, devolução de custos directos ou custos de viagem para a doação SÃO COMPATÍVEIS com a doação não paga e voluntária.” Ou seja, nós em Portugal nunca pedimos custos de viagem ou custos directos e muitos de nós perdiam horas de trabalho, que embora pudessem ser justificadas perante o patrão, não eram remuneradas, e nunca soube de estas serem exigidas ou pagas. O cidadão doador sempre assumiu estes pequenos prejuízos em prole de um Estado Social. Logo estávamos mais que dentro da definição da União Europeia como doação voluntária e não paga de sangue. Não só isso, como éramos um exemplo a seguir.
O que é certo é que com estas medidas, tais como elas eram antes do advento deste actual governo, o SNS em Portugal tinha os seus stocks de sangue tão elevados que se dava ao luxo de exportar sangue. Poucos países têm esse luxo, essa auto-suficiência. O Japão, por exemplo, não a tem e é a 3ª economia do planeta. Parece que na Ásia torna-se muito difícil explicar a uma pessoa o que é dar só por dar. Talvez metendo umas medidas parecidas com as nossas, que não enriquecem ninguém monetariamente como no sistema americano, mas que dão um estímulo na forma duma isenção facilite essa compreensão. Os japoneses têm tentado outras formas de atrair mais dadores, como sempre e com grande inteligência utilizando a sua cultura, tornando os locais de recolha em autênticas bibliotecas de manga (a típica banda desenhada japonesa). Para saberem mais, leiam esta notícia do Jornal da Rede Globo. Dou-vos um cheirinho citando o artigo directamente:
"Enquanto aguarda a doação, Roberto escolhe na máquina automática uma bebida, entre dezenas de opções de graça, como café preparado na hora e aproveita para ler um mangá. Quando o aparelho de chamada toca, é hora da doação.
Para passar o tempo durante a doação, a tecnologia ajuda. Todas as cadeiras têm um aparelho de TV comandado por um equipamento sensível ao toque. O doador pode escolher um vídeo e ouvir o som por meio de autofalantes. A doação dura dez minutos, mas - com a diversão - parece ser bem mais rápida. Roberto já está acostumado.
Tóquio já tem cinco bancos de sangue temáticos. Um deles foi inspirado num bar futurista, a decoração brinca com o símbolo da Cruz Vermelha nas paredes e nos bancos."
A menina à esquerda chama-se Nakagawa Shoko e foi a primeira vez que deu sangue. Reparem no livro de Manga ao colo dela.
Por alguma razão estúpida, o blogger não me permite colocar aqui um video do youtube como já fiz milhares de vezes!!! Diz que não o encontra. Acontece de tempos a tempos. Assim sendo, deixo apenas o link para uma "reportagem" de uns camaradas brasileiros que vivem no Japão e demonstram como funciona a recolha de sangue por lá:


E nós, que nunca precisámos de tais medidas adicionais nem tais gastos, desde 2011, que pusemos a nossa auto-suficiência sanguínea em risco. Os vampiros tomaram posse, com as suas ideias neo-liberais [quem nem capitalistas são porque veja-se o caso também nada brilhante dos EUA (o auge do capitalismo na Terra) onde se paga cada dádiva de sangue aos dadores em dinheiro enquanto que a nós até isenções se negam], mas sim autênticos esclavagistas que acham que o Estado quer-se não social mas sim sanguessuga e parasita. Um Estado que lhes serve de rampa de lançamento de carreiras em gestão de topo nas empresas fomentadoras de corrupção, que existe para lhes granjear luvas e subornos na ordem de milhões e negociatas que nos têm deixado todos na penúria, para depois nos acusarem de vivermos acima das nossa possibilidades, enquanto dizem que eles próprios são mal pagos. ‘Tadinhos! Estes actuais governantes e outros de cor (política) diferente mas de índole igual, que andaram (e andam!) anos e anos a literalmente deitar fora plasma proveniente dessa mesma recolha de sangue abundante que se fazia em Portugal, para depois importarem medicamentos feitos a partir de plasma do estrangeiro. E estes actuais, resolveram essa exergia? Não. E ainda anularam a medida que assegurava o contínuo fluir de sangue do povo para o seu (leia-se “do povo”) Estado Social. Parabéns, meus senhores, em serem uma cambada de pseudo tecnocratas destrutivos e para inglês ver. Ah, já me esquecia de mencionar que, também nesta parte dos desperdícios, este governo actual ainda teve de gastar dinheiro em campanhas publicitárias para conseguir manter os níveis de sangue no mínimo que permita coisas simples como, sei lá?, fazer uma operação cirúrgica. E isto quando dar uma isenção quase sempre, não lhes custa puto. Acho que todos concordamos que uma austeridade nos era inevitável, mas esta austeridade cega e fanática que nada resolve e causa problemas onde eles não existiam não nos serve.
Gostava de realçar também que o Estado Social não implica altruísmo. Aliás, eu acho que o altruísmo é outro conto de fadas, muito (ab)usado por políticos para promoverem a sua imagem. Recordam-se do tipo a ir dar sangue de fatinho na scooter? Ah, sim!, o ministro da Solidariedade Social... esse título só por si evoca na minha mente os ministérios do Big Brother de Orwell. O ministério do Amor, que promovia o ódio, o ministério da Paz, que promovia a guerra, etc... Interessante notar que a Scooter já lá vai, substituída por um carro com motorista. Nós damos sangue porque sim sabe-nos bem ajudar os outros, sentimo-nos bem connosco próprios (logo essa sensação já remove o altruísmo, caso no qual faríamos algo sem obtermos nada em troca, nem uma good vibe sobre nós próprios), mas também porque entendemos a necessidade de haver sangue disponível caso nos aconteça algo a nós ou àqueles que amamos. A cooperação solidária é uma consequência da nossa evolução, do nosso desejo de aumentarmos as nossas probabilidades de sobrevivência e de melhorarmos as condições desta última. Logo, se alguém decidir começar a dar sangue exclusivamente para ter a isenção, desde que à partida esteja saudável, por mim está no seu direito e é tão bem-vindo como o dador que a dispensa e mesmo assim sangra por todos nós pelo menos duas vezes por ano. Hoje, que nos aumentam continuamente a carga fiscal com a desculpa de uma dívida contraída por bancos e corruptos e também para "manter o Estado Social", é importante relembrar que o Estado Social e a sua manutenção não implica Escravatura Moderna. Para isso, mais vale termos só o privado e sermos tão bem tratados como somos relativamente a energias, medicamentos, etc, pelo Big Business. Um Estado Social não pode ser desculpa para mais PPP's desastrosas e empresas de trabalho temporário possuídas por membros da assembleia e seu staff. Isso sim, nós não podemos obviamente suportar.
Como já devem saber, perdi o meu emprego precário e voltei a ser N.I.N.J.A., o que me dá, segundo este Admirável Estado Novo, acesso imediato à isenção completa do SNS por falta de rendimentos. O mesmo acontece quando se tem um ordenado num escalão em que não se pague IRS. A ironia desagradável da situação é que onde dantes tinha a isenção porque contribuía a mais que o cidadão comum, agora dão-me a isenção por caridadezinha. É esta inversão de valores que temos de alterar se queremos que o país não reverta ao terceiro mundo. E sim, já estamos no segundo mundo!
Como tal, permaneço dador de medula sempre (e nunca recebi nenhuma isenção ou regalia a mais por isso [nem esperava obtê-la], nem um dador de sangue é de forma alguma obrigado a ser também dador de medula para ter qualquer isenção. De facto tive de ser eu a pedir para me registar, porque nunca me perguntaram se queria ser. Nem tinham de perguntar, pois a ideia é ser voluntário.) e continuo a doar sangue, mas enquanto não for reparado este erro técnico e de valores, dou sangue apenas uma vez por ano (relembro as regras que acima expliquei para se atingir a isenção e acrescento que raros foram os anos em que só dei 2 vezes) em protesto. Só não deixo de dar completamente, porque ao contrário dos nossos governantes eu ainda tenho consciência social, por mim e pelos outros, não deixando que a política que a mim não me enche o papo (antes pelo contrário) me faça perder de vista o que é importante. Escolho dar em Julho e Agosto, porque por experiência sei que são os meses que as pessoas dão menos.
Em Janeiro deste ano de 2013, terá havido um debate sobre a reinstituição da isenção total aos dadores de sangue. Foi categoricamente rejeitada pela maioria da direita:


É dito na notícia acima que teve votos favoráveis de toda a Esquerda na assembleia, por isso a minha esperança nesta luta é quando voltarmos a ter o PS (PSeudo esquerda) no governo (tipo, próximas legislativas, ya?!, como dizem os alfacinhas jove's) este problema seja resolvido.
Amanhã vou à Festa do Japão em Belém. Querem vir?

Sayonara, tomodachi! ;)

P.P.S.: Se chegaram aqui e não perceberam o quão importante é dar sangue e seja preciso eu o realçar, então é porque falhei. Um bom fim de semana!

Montanhismos Octogenários

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Assim perguntou Gollum a Bilbo, n’”O Hobbit”:

What has roots as nobody sees,
Is taller than trees
Up, up it goes,
And yet never grows?

A resposta, como deveis saber, caro leitor, é uma montanha. A montanha que não foi ter com o Maomé, a montanha que é sinónimo de obstáculo que só pode ser superado com uma jornada repleta de perigos.

Que tem isso a ver com octogenários? Bem, no passado mês de Maio, deste ano gregoriano de 2013, um senhor japonês chamado Yuichiro Miura, tornou-se no primeiro octogenário a atingir o cume do monte Evereste (que pode ser visto na imagem acima).
Fê-lo com o apoio duma equipa de peritos montanhistas, na companhia do seu filho, Gota, e sob remota vigilância da sua filha, Emili, que os acompanhava mentalmente.
Segundo a equipa de apoio de Miura, centralizada em Tokyo, o pico foi atingido às 9h05min da hora local, na quinta-feira dia 23 de Maio, tornando Miura o mais velho conquistador do Evereste. Yuichiro e Gota fizeram um telefonema do topo do Evereste, que gerou um sorriso e um bater de palmas por parte de Emili, momento captado por uma equipa da NHK (a emissora pública japonesa). No telefonema, Yuichiro disse: “Consegui! Nunca imaginei conseguir escalar o Evereste aos 80. Este é a melhor sensação do mundo, embora eu esteja totalmente exausto. Até nos 80, ainda passo muito bem.” Numa transmissão de rádio para a estação Kyodo, feita também a partir do ponto mais alto do mundo, na qual Yuichiro disse: “Chegamos ao topo. 80 anos e 7 meses… A mais incrível equipa de alpinistas do mundo ajudou-me o caminho todo até cá acima.”
A chegada ao cimo, foi capturada em vídeo e acompanhada a 10 quilómetros de distância, por uma equipa da agência Kyodo, com uma câmara colocada numa elevação a 5500 metros do topo.
Contudo, o recorde de Miura é de vida curta, pois nos seus calcanhares já vinha um escalador nepalês de 81 anos. Emili, filha de Yuichiro, afirmou que o recorde ao pai pouco importa pois ele faz o que faz pelo desafio em si e está em competição é consigo próprio. Um atitude admirável, na minha opinião, que me relembra uma afirmação de Funakoshi, mestre fundador do Karate Shotokan, que disse e parafraseio: “O Karate não é acerca da vitória ou da derrota, é sim sobre o aperfeiçoamento do carácter do praticante.”
Antes de deixar o tópico do montanhismo, quero apenas recordar que também este ano, pela primeira vez, uma mulher portuguesa escalou o Evereste. Parabéns, Maria de Conceição, pelo objectivo cumprido.Eu soube da notícia via jornal Público, onde é dito(clicar nesta frase para ler a notícia toda):
“Maria da Conceição queria ser a primeira mulher portuguesa a escalar o Everest. E conseguiu. A hospedeira de bordo alcançou o cume da montanha mais alta do mundo esta terça-feira, às 9h13m locais (4h28m em Portugal). A iniciativa tinha um objectivo principal: angariar um milhão de dólares (cerca de 800 mil euros) para a Fundação Maria Cristina, que ajuda famílias carenciadas no Bangladesh.”
Só para terminar o tópico de montanhismo, gostaria de recordar que desde 1953 que o Evereste já matou mais de 300 alpinistas, como avisa e recorda a foto abaixo, tira a 17 de Maio de 2010, quando dois corpos foram recuperados da montanha (fonte).
Quero também aproveitar esta oportunidade para indicar que o meu avô materno, o último que me resta vivo, fez, neste último 8 de Junho, 89 anos de idade. Ainda está com uma saúde brutal, vai todos os dias tratar da horta, tem a sua autonomia, come que nem um diabo acabadinho de escapar do inferno e nunca engorda (infelizmente não herdei essa sua qualidade genética, ehehe), e não pára de vociferar sobre a sociedade em que vivemos, em particular a podridão do mundo político. Este meu avô sempre foi uma fonte de inspiração da minha imaginação, pois ele também adorava contar histórias, na sua maioria super exageradas, embora algumas também bem contextualizadas na História que lhe foi (literalmente) reguada cérebro adentro. Hoje em dia, a minha mãe está-lhe sempre a contestar as estórias sobre a sua ida à Índia e outras parecidas, e a sua memória já não lhe permite conjugar com a admirável precisão que antes tinha para um homem que só tinha a antiga 3ª classe completada e que, como a maioria da sua geração, começou a trabalhar muito cedo. Por falar em trabalho, trabalhou 55 anos numa só empresa de camionagem, tendo continuado a trabalhar em biscates e ferro-velho durante muitos anos após se reformar. Quando no seu apogeu, era o tipo de homem capaz de ir para dentro dum bosque e construir um centro comercial. Pronto, estou a exagerar... um bocado... vá muito, mas assim percebem a ideia na boa tradição da minha família! eheh É verdade que ele prometeu a mim, e a todos os meus primos maternos, que construiria um avião a cada um de nós e eram só babelas, mas fez carros de rolamentos para os filhos, pranchas de bodyboard feitas em material compósito e uma rampa de skate enorme para os meus primos. A mim ofereceu-me uma bicicleta, o meu primeiro computador, ensinou-me a cerrar lenha, soldar aço (e ainda recentemente o vi a soldar e posso testemunhar que solda à mão tão bem como certas máquinas industriais), e também ética de trabalho e liderança, além de estimular a minha imaginação. E ainda recentemente me espantou, sabendo bem o que é o processo de vulcanização da borracha, que eu dei numa das cadeiras da universidade. Relembro que ele só (?) frequentou a universidade da vida, na qual ainda labuta.
Tem uma reforma de 600 e poucos euros, que no geral em Portugal e na sua geração e extracto social não é nada má, mas compreenda-se que é a dele somada a uma contribuição da da minha avó materna já falecida. E tendo em conta que a empresa para quem ele trabalhou entretanto negociou uma indemnização por vários anos que não lhe fez os devidos aumentos na reforma, de acordo com regras que eu sinceramente não conheço para delas falar, e fizeram-lhe as contas nessa indemnização para ele viver até aos 83 anos. Vejam lá o dinheiro que os sacanas não pouparam já. Interessante notar-se ainda assim que o “ordenado” dele (como ele lhe chama) nem chega para lhe conseguir actualmente uma estadia num lar da terceira idade (como indica a notícia abaixo). Sorte a dele que nos tem a nós e a nossa a sua saúde inquebrantável e orgulhosa autonomia. É claro que não poderia passar esta oportunidade sem honrar a sua vida criticando eu também um dos males sociais da actualidade e para este último chamar atenção:
Ele está agora a percorrer a fronteira entre os 80 e os 90, e eu espero vê-lo a superar a dos 110. O meu avô sempre disse: “Pede pouco se queres muito.” Mas eu sou orgulhoso e não aprendi essa lição!
Eu tenho este exemplo na família, e outros que tais dos meus avós paternos, de pessoas que vivem até idades avançadas com uma autonomia para lá da norma. Faz-me pensar sobre como estamos a evoluir em termos de longevidade, o que gera dois problemas imediatos: a subsistência do Estado Social e o aumento demográfico mundial. Mas o facto é que também é pelo facto de vivermos até mais tarde que permite uma melhor passagem de conhecimentos nas sociedades e uma mais rápida evolução. É interessante vermos dicotomia de uma situação. Todo o bem tem a sua cota parte de mal. Leva-me também a considerar que a vida e a morte têm uma relação bem mais complexa que serem a simples antítese uma da outra.

Uma das minhas preferidas curtas-metragens é a do "The Old Man and the Sea", precisamente porque sempre me recordo do espírito guerreiro, inquebrável e indomável do meu avô:
Nota: talvez venha a fazer legendas para ela mais tarde e se o fizer alterarei devidamente esta entrada.
Seja como for, eu considero os meus avós as raízes nada invisíveis do ramo da minha família que em mim culmina, só para fazer a ligação ao poema com que abri esta entrada. São, para mim e apenas porque são os mais velhos que conheci na minha linhagem, o ponto de partida da minha escalada rumo às estrelas.
Sayonara, tomodachi! ;)


Cartaz Cultural

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Olá, pessoal!
Este mês estive ausente, mas não deixei contudo de trabalhar no blog. Tenho estado a reunir material e ideias para posts nos próximos meses que, espero eu, poderão dar que pensar. Mas conforme o nível de exigência técnicas dos posts (caso eu tenha por exemplo que fazer edição de vídeos e legendagem dos mesmos), também a dificuldade posterior de os executar numa forma acabada satisfatória que vos possa oferendar.
Ainda assim, no dia de hoje e no dia de amanhã, espero conseguir meter aqui duas entradas. A de hoje prende-se com as novidades da Embaixada do Japão, que não me canso de congratular por limpar a infecção de AO90 dos seus boletins informativos, mas também com outras sugestões culturais e menções honrosas e desonrosas de actividades culturais que se passaram em Lisboa. O resto do país que me desculpe, mas é lá que vivo na maior parte do ano.


Aproveito para destacar alguns dos eventos mencionados no boletim, onde encontrarão também notícias das últimas actividades culturais da Embaixada e outras de conteúdo económico:


Este vai um bocado em cima do prazo, mas para os poetas que por aqui passeiem os olhos ainda virá a tempo, espero.
De seguida, uma das minhas paixões, a sétima arte. De todos aqueles filmes, apenas conheço a versão americanizada do Pulse, que adorei, excelente filme de terror. Fico em pulgas para ver o original:
Também há oportunidades para investigadores em vários campos, possibilidade de bolsa de estadia no Japão:
Para finalizar, um pouco de arte plástica:
Não pensem que não vi aquele direção na última imagem, mas a culpa disso é dos senhores do nosso governo que insistem em não se desvincular do Acordo Ortográfico, um jovem de 20 anos, velho de cabeça.
Aconselho a leitura de todo o pdf informativo, que linkei acima, pois há lá links para outras informações de cariz económico que também vos poderá interessar, caso se sintam ou sejam empreendedores ou empresários no activo.

Mas ainda há mais actividades culturais para os interessados, embora estas últimas tenha sabido delas via Facebook.
Uma tem a ver com uma curta metragem na qual participa a actriz Oceana Basílio, intitulada O Cheiro das Velas, e que será projectada em Lisboa, já no mês de Agosto:

 E em Setembro no CCB, uma exposição de arquitectura de Sou Fujimoto:
Ora, resta-me então mencionar duas actividades culturais mui experimentais, e eu infelizmente, uma devido aos exames, outra devido a me ausentar de Lisboa, não as pude experimentar

Falo do visionamento por iniciativa de Filipe Melo (realizador de I'll see you in my Dreams) daquele que se diz "o pior filme da humanidade", o The Room de Tommy Wiseau, cujo objectivo parece ser o completo desrespeito do "código de conduta" como o desenhado por Mark Kermode e amigos:
Eu gosto de um máximo de silêncio na audiência durante os filmes, não me importando se as pessoas de vez em quando falarem baixinho com a pessoa a seu lado ou quando se ri a bom rir. Não gosto é do ruído horrendo de pipocas a serem mastigadas, pacotes de batatas ou embrulhos de chocolates a serem rasgados, o som de chupar numa palhinha quando o copo está quasi-vazio. Mas adoraria esta experiência totalmente oposta da minha experiência ideal de cinema, devido ao elemento de paródia da mesma.

A segunda experiência cultural feita em Lisboa que quero mencionar é a intitulada Lisboa em Si. Quando vi esta experiência noticiada no Público online, pareceu-me uma ideia muito interessante. Era descrita como uma tentativa de se criar uma orquestra sinfónica com os sons da cidade, buzinas de barcos nas docas, sinos das igrejas, buzinas de bombeiros, etc... Como eu outrora vi um filme cujo nome não sei, em que um actor americano fazia um sapateado ao ritmo de New York, em que o ritmo era dado pelos carros a passar, a buzinar, a pisarem tampas de esgoto soltas, etc... foi essa a imagética que eu imaginei, pois no filme, com a magia de Hollywood talvez, funcionava. Além disso, na notícia, falava-se de métodos científicos para a recolha de sons em vários locais, para depois através de software e um orgão digital com ele apetrechado, mais tarde se fazer a sinfonia de Lisboa. Bom, isso era o que eu pensava. Isto foi o resultado:
Em suma, uma experiência falhada. Esse meu colega foi dos que foi para um dos pontos assistir e ouvir ao concerto metropolitano. No vídeo acima, noutro ponto da cidade face àquele em que esteve o meu colega, chega-se a ouvir pessoas a dizer que não se ouve sinfonia nenhuma. E na conversa de facbook, conclui-se que o defeito não era no ponto escolhido para ouvir. Por outro lado, fala-se em software nas notícias, mas a suposta orquestra era coordenada pelo autor desta ideia via rádio, o que deixa no ar a pergunta, "software para quê mesmo?". É que é uma pergunta interessante pois custou dinheiro à Câmara de Lisboa. E eu sou daqueles que acha que mesmo em crise devemos apostar e investir na cultura, mas há limites. E de facto, não tivesse estado em época de exames, ter-me-ia provavelmente oferecido como voluntário. Vendo este resultado, postado no facebook de um colega meu, procurei perceber o que correra mal. Eis que surgiu outro vídeo no seguimento desse post do meu colega. O vídeo de apresentação no projecto na Câmara de Lisboa.
Vendo este último vídeo, podemos inferir pelas palavras do Pedro Castanheira, o impulsionador deste evento, desta tentativa, o que correu mal. Diz-nos ele "(...) Vamos fazê-lo duma maneira científica, vamos fazer um software, (...) vamos calar uma cidade durante sete minutos (...) sem silêncio da cidade o projecto não tem mesmo potencial (...) como devem calcular tudo isto é Fé!". Ora estes soundbites que removi dum discurso (na íntegra no vídeo acima linkado) permitem, a este sincero ateu, perceber o que se passou de errado com esta iniciativa. O primeiro problema é a afirmação de se querer fazer algo de "maneira científica" quando se afirma que "tudo isto é Fé". A mistura das duas actividades (Ciência e Fé) nunca deu bom resultado para a Humanidade, algo que pode ser comprovado de forma histórica nesta palestra de Neil Degrasse Tyson. Perdoem-me aos que não são fluentes em inglês, mas não houve tempo para a legendar. Mas depois um homem que espera fazer uma sinfonia com sons da cidade, esperando calar a metrópole em Si, em vez de procurar usar o seu ruído, o seu barulho de forma construtiva, creio eu que estará condenado ao insucesso. Há forças que nós não controlamos que também incomodam acusticamente, como o próprio vento e esse não há quem o cale. "Palavras são vento", diria George RR Martin. Por último, fazer as coisas de forma científica, é usar o método científico (que se baseia no método experimental e em dados factuais, não na fé), e não a simplesmente bater tecla e criar um software. Como iria Marcelo Rebelo de Sousa "É curto! Não chega."
O discurso apaixonado de Pedro Castanheira, faz-me lembrar o discurso do neo-guru do "bater punho", apadrinhado pelo maçon mor Relvas, Miguel Gonçalves. Como dizia o outro mesmo..? Ah sim, "Palavras são vento". Ter projectos culturais é bom, apoiá-los é óptimo, mas independentemente de quão ambiciosa ou grandiosa é a obra a que  se propõe (ou especialmente quando o é ambiciosa e cara), deve-se ter extremo cuidado com a implementação. A ideia pode ser criada com fé, mas para correr bem, a implementação tem de ser realista e objectiva.
Até mais logo, espero...

P.S.S.: Deixo aqui o apelo para que façam novo visionamento do The Room agora já em Agosto, para eu poder ir. Decerto não serei o único interessado, uma vez que parece que o primeiro esgotou, segundo facebook do Nuno Markl.

Jardim e Festa do Japão - uma crítica que se espera construtiva

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Meus amigos, mea culpa! Já pareço o governo, que promete e não cumpre. Tinha-vos dito que esperava ter ontem escrito mais um post, chego-vos apenas hoje, já virado o mês. Mas há que salientar uma crassa e notória diferença entre a minha conduta e a do governo: eu tardo mas cumpro, eles (com)prometem(-se/-nos) e nem cedo nem tarde cumprem. Mas não vos trago hoje politiquices, muito embora vos trá-las-ei dentro em breve, não só banhadas de críticas, mas também recheadas de ideias que se não são inovadoras, são pelos menos exemplificativas de caminhos alternativos a esta nociva união nacional que se avizinha, baseada num consenso forçado pelo medo e numa ilusão de paz social feita apenas de retórica política, um verdadeiro e nada admirável estado novo que a concretizar-se para lá das palavras, ter-me-á como inimigo constante.
O que me traz contudo aqui hoje é cultura que vivi e que quero convosco partilhar.

Finalmente consegui ir a uma edição da Festa do Japão, em Belém. Este é o relatório do pedacinho que lá passei.
Já estava para lá ir desde a primeira edição, que, se não me falha a memória tinha ainda mais para ver que esta teve, pois não vi lá autómatos japoneses, por exemplo. Mas actividades não lhe faltou, como demonstra o link abaixo:
Também nunca tinha ido ao Jardim do Japão em Belém. Fica muito próximo do Padrão dos Descobrimentos e do Museu da Arte Popular, já para não falar de termos o Tejo com toda a sua beleza natural dum lado e o CCB, com a sua majestosa arquitectura, do outro. O jardim em si um espaço airoso e verdejante, e tive a sorte de o visitar pela primeira vez (aquela que nunca se esquece) num solarengo mas não demasiado quente dia de fins de Primavera lusitana. Ainda assim, esperava mais Japão naquele jardim. Algo mais assim:
Esperava jardins de areia e pedra, que não vi; esperava uma lagoa artificial rodeada de pedras com uma pontezinha a atravessar ao estilo nipónico, que não marcou presença; e, porque não?, uma daquelas fontes com um fio de água que corre a encher uma cana que periodicamente, quase uma clepsidra nipónica, se esvazia sozinha por meio tão-somente da gravidade; umas quantas de cerejeiras trariam uma muito em falta sombra e complementariam a imagem; já agora, que estamos com a mão na massa, uns Budas, um portal japonês, e talvez uma estátua de um dragão a invocar uma lenda japonesa, a de Izumi Kotaro por exemplo, e uma outra para o dragão de S. Jorge, fazendo-se assim uma ligação a Lisboa. Ambas as estátuas deviam estar orientadas, de forma a que a de motivo japonês estar a oriente da com motivo ocidental, e cada uma acompanhada duma placa com um resumo da lenda, em português e em japonês.
Tentei encontrar a lenda de Izumi Kotaro online, para a colocar aqui de permeio, em forma resumida, mas confesso o meu falhanço. Enfim, eis mais uma super-imagem (in memoriam dos super-ministérios já extintos do governo), que aconselho-vos a fazerem download para o vosso pc, afim de com o zoom, verem bem os pormenores, que contém em pormenor detalhado algumas da ideias que menciono acima:
Eu sou assim, um tanto ou quanto exigente. Eu sei, eu sei, estamos em crise… mas fica talvez a ideia para ser concretizada num futuro mais risonho. Dito isto, as colinas e vales que o compõem, em dimensões de Portugal dos Pequeninos, são perfeitos para um piquenique familiar ou de amigos, para namoricos à beira rio (cuja presença na Festa se fez sentir) e, last but never least, para as brincadeiras de crianças, daquelas que nem exigem brinquedos, como jogar à apanhada, brincar aos cowboys e índios, ou às escondidas… mas saberão os miúdos da era do smartphone e Facebook ainda brincar assim? Já começo a parecer os meus pais, quando falavam da minha geração do PC e das Sega Saturns. Lembro-me de ir uma vez a uma visita de estudo a Lisboa, na primária, não me recordo do ano, provavelmente mais uma ida ao Jardim Zoológico, e ver no caminho, de dentro do autocarro, o prédio majestoso, todo ele janelas de vidro que dizia simplesmente em enormes letras azuis e brancas: SEGA. Nessa altura, ainda a Sega fazia consolas, agora só faz jogos para as consolas dos outros e pc’s. Menciono-o não sem nostalgia, mas também por ser uma empresa japonesa. Mas digresso, nesta batalha diária entre o adulto emergente e a criança nostálgica que alimenta os meus sonhos.

Portanto, o Jardim ficou aquém das minhas expectativas, muito embora esteja um espaço bem cuidado, que peque apenas por falta de mais sombra. Mas e a festa em si?
Ora bem, a festa era composta de quiosques ou bancas com vários workshops que, segundo fui mais tarde informado por uma amiga (Obrigado, Tita), se fizéssemos todo o circuito de workshops com um cartãozinho que seria carimbado em cada bancada, receberíamos depois uma t-shirt do evento. Por não saber que assim era e também porque não dispunha de muito tempo, uma vez que estava na recta final duma fase de exames, não fiz o circuito. Espero que essa ideia se mantenha para o ano. Havia também um palco principal onde, durante o tempo que eu lá estive, se faziam demonstrações de artes marciais, estando representados várias escolas e estilos, armados e desarmados e mistos, de origem nipónica. Não podia faltar a zona comercial, onde se poderia diferenciar a zona de Comes & Bebes, onde a fila alastrava e se tornava cada vez maior (o que no meu tempo limitado me impediu de qualquer ideia de provar alguma das iguarias), qual um poderoso e serpenteante dragão oriental, e uma zona de bancas de merchandising, manga e produtos de ervanária japoneses. Havia também um quiosque de venda de cerejas do Fundão (imagem acima). Tinham excelente aspecto, e de bom grado teria dado os 2 euros pelo cartucho, não fosse mais uma vez a fila crescente combinada com falta de tempo. O povo Português a demonstrar que é efectivamente um excelente garfo, pois se haviam filas era para a comida! As cerejas estavam lá muito bem, pois têm um lugar de destaque na cultura japonesa, na vinda da Primavera, algo que já antes mereceu a minha atenção no post Haru:
Mas o que é uma festa sem convivas? E, felizmente, não faltava gente no evento, folgo em dizer. O dia estava convidativo e o pessoal não faltou. Velhos, novos, homens e mulheres, pessoas de todas as cores e formatos possíveis, mesmo como eu gosto. E haviam os que sobressaíam de entre a multidão: os praticantes de artes marciais, com os seus guis de treino; algumas mulheres japonesas com kimonos tradicionais, que estavam nas bancas de workshops e/ou que preambulavam pelo jardim; e os praticantes de cosplay, que se vestiam não só de personagens de manga, mas também de outras personagens menos identificáveis, numa mescla entre o espírito ibérico de Carnaval e o espírito nipónico do Cosplay, como a super-imagem acima (fotos minhas) e o vídeo abaixo (que não é meu, mas sim do canal de youtube da Ana Santos) testemunham:
Diria uma grande maioria, não tenho disso dúvidas, que a festa tinha então tudo o que era expectável. Eu nunca pertenci a uma maioria, excepto aquela para a qual nasci e sobre a qual não tive escolha por razões óbvias, a dos caucasianos, e portanto, fiel a mim próprio, pertenço à minoria que esperava mais deste evento. Queria workshops de Karakuri (autómatos japoneses), quiçá a possibilidade de comprar um na forma de kit para montar em casa (uma ideia para os senhores do merchandising), por exemplo?
Para alguém que adora “meter as mãos à obra” e “dar o corpo ao manifesto”, seria óptimo workshops das próprias artes marciais, onde quem quisesse pudesse ir aprender 3 ou 4 golpes duma ou de outra arte, mesmo dar uns trambolhões, o que para pessoas com formação prévia num ou vários estilos é sempre uma mais valia. Não exigiria muito, apenas alguns tatamis e a disponibilidade de 1 ou 2 senseis e/ou senpais, por parte a organização, e roupa de treino para os que quisessem participar dessa forma. Para quem pratica, há uma incomensurável diferença entre ver e fazer, acreditem.
Uma arte marcial que podia bem dar-se a conhecer desta forma era a do tiro com arco japonês. Foi feita, nesta última edição da Festa do Japão, uma demonstração de uma kata de tiro com arco no palco principal. Não se pode exemplificar o disparo de uma seta, por razões óbvias, mas para simular a tensão de disparar um arco, os artistas marciais fizeram a Kata a mãos nuas e depois com uma borracha na mão. Mas podia-se fazer esse disparo e disponibilizar essa experiência aos frequentadores da Festa, preparando-se uma espécie de carreira de tiro, para esse efeito, tendo especial atenção à segurança da actividade. Eu lembro-me de ter 10/11 anos e ir a uma Feira de Caça e Pesca onde disparei um arco. Foi a minha primeira experiência nessa arte. Na altura, nem força tinha para puxar a corda e fazer pontaria ao mesmo tempo, pelo que o resultado não foi nada bom: duas setas a falharem o alvo, acertando nos fardos de palha, e a terceira a cair no papel do alvo, mas fora da circunferência maior. Mesmo com o falhanço, e com a ilusão que "à quarta é que teria sido", a experiência em si não deixou de ser deliciosa. Entretanto, já experimentei novamente, em 2010, no Alto Alentejo, onde fiz 3 dias de turismo rural e actividades radicais com o meu melhor amigo, e sou consideravelmente melhor agora. Ora, a Kata do arco, pelo menos a que foi demonstrada, é simples e ninguém espera ficar logo mestre. Podiam disponibilizar-se para a ensinar, de mão livre e com borracha. Será, garanto, uma experiência que se leva para casa no coração e na memória sensorial, em particular se depois nos for permitido executá-la com arco em mãos, culminando numa única (para evitar filas) tentativa de disparo real. Não seria possível aos mais novos, por imposição das próprias medidas do arco nipónico (mais alto que o Arco Longo ocidental), mas os adolescentes e os adultos sem dúvida que não diriam não à experiência. Até se pode dessa forma, granjear mais alunos para o dojo (fica mais uma ideia). Até se podia também ter lá um arco ocidental, para se poder também experimentar e comparar as experiências. Nem que se pagasse um X pela experiência.
Seria também desejável ver muito mais japoneses. Por incrível que pareça, numa festa do Japão, contavam-se os japoneses pelos dedos das mãos. Seria engraçado haver maior interacção entre os dois povos, no decorrer da própria festa. Pelas fotografias, poderão notar que as artes marciais foram demonstradas por portugueses, por exemplo. E nem um mestre japonês. Nós temos mestres excelentes, eu conheço alguns pessoalmente. Mas também conheci mestres japoneses de Karate e há uma diferença que vai muito para além da língua falada, da técnica, ou das diferenças físicas. Senti que faltou essa interacção cultural. Espero que para o ano possa desfrutar da festa em pleno, sem estar forçado por razões pessoais a olhar para o relógio, mas gostaria que se pudessem realizar estas pequenas alterações, para a festa se tornar toda ela mais interactiva. Por exemplo, aproveitarem a visita de crianças ou jovens japoneses traduzidos a conhecer Lisboa por iniciativa de ambos os governos, acompanhados de interpretes ou que falem eles inglês, para que houvesse mais intercâmbio com portugueses.
E para mero gáudio de visionamento, porreiro, porreiro seria vermos umas armaduras de Samurai (uma que fosse), para além das exposições de bonsais e caligrafia e demonstrações de artes marciais:
Deixo aqui este apelo, na esperança de que, tal como o esforço contra a aplicação do AO90 nos boletins da Embaixada parece ter sido ouvido (sendo que tenho plena consciência que não terei sido o único a pressionar nesse sentido), seja escutado e se possível sirva de crítica construtiva que resulte num aprofundamento do muito bom trabalho que já foi, tem vindo a ser, e é continuamente desenvolvido.
Verdade seja dita, que eu teria desfrutado muito mais se tivesse ido com mais tempo e paz de espírito, mas contínuo a advogar uma maior experiência prática para a festa. Imagino que a malta do cosplay ou os praticantes de artes marciais que fizeram as demonstrações não se queixem disso, com boas razões. Mas para o comum visitante, falta, na minha opinião, essa componente. A festa a mim soube-me um pouco como o Sushi: o Sushi que se come no Ocidente está a um mundo de diferença do verdadeiro Sushi Japonês. O que eu gostaria de ver era o encurtar dessa diferença.

É verdade, alguém viu a bengala do Maestro Vitorino de Almeida?
Estranhamente, na imagem deste jornal, que saquei da página de facebook do Nuno Markl, nem sequer se vê bem a bengala, por isso mesmo que a queiram procurar, chapéu! Mas pede-se a quem a encontrar que a devolva ao seu dono, quiçá via facebook do Markl, visto que a notícia também não ajuda nesse departamento, pois todos nós (ou quase todos) sabemos o que é o valor sentimental duma herança familiar. Pede-se apenas um pouco de simples (mas tão rara) solidariedade humana.
Parece que terá ficado num táxi (ler artigo na imagem acima). Lembram-se da teoria do Nuno Markl sobre a ligação entre o Táxi e o Michael Jackson?
De que cor eram os táxis nos anos '70 e '80? Pretos (esquecendo a capota verde). E o Michael?
De que cor eram os táxis na década de '90 e '00? Brancos. E o Michael?
Ah pois é!! ehehe
Flashbacks de quando eu via o Curto Circuito, onde o Markl soltava destas pérolas entre críticas de cinema.

Sayonara, tamodachi! ;)

P.P.S.: Encontrei este vídeo na busca de vídeos sobre a Festa do Japão e não resisti em adicioná-lo a esta entrada. Para quando uma representação em peso, uma comitiva portuguesa, para ir lá vender loiça das Caldas???? Até parece que não precisamos de exportar! :D
Festival da Fertalidade em Kawasaki:

(Des)dobrando o Natsu

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Boas, pessoal! É Verão, já repararam? :D Está um calor do caraças no ano que cientistas (devem ser formados na mesma universidade do Vítor Gaspar, especializada em previsão astróloga e afins ciências herméticas que não funcionam!) indicaram como sendo o menos quente nos últimos 200 anos. Mas estou a ser injusto, afinal a meteorologia não é uma ciência exacta e a astrologia nem ciência é. É que é difícil de acreditar e, se seguirem o link acima, é de realçar o "poderá ser" metido no cabeçalho da notícia do Público. Faz-me lembrar os Romanos, que quando andavam a conquistar aqui a Ibéria, praguejavam constantemente sobre o clima (ou assim rezam historiadores da época que sobre isso escreveram já séculos depois da ocorrência e que são as únicas fontes disponíveis), dizendo que os Invernos eram rigorosos e os Verões insuportáveis. Cá para mim, o aquecimento global está é a mostrar-se à grande e o buraco (e não refiro ao que a ministra mostrou, tá JN? :D) do ozono sente-se bem, pois quando eu era puto podia-se estar na boa sem protecção e ao meio dia ao sol e agora fico escaldado, todo lagosta, se o fizer!
Enfim, não se esqueçam é de beber muita águinha, entre as bjecas claro está, e se quiseram, e não viram o ano passado, vejam este post que eu fiz sobre o Verão intitulado simplesmente Natsu: (clicar aqui para ir para o post em questão).
É, para quem tem essa oportunidade, tempo de ir à praia (seja marítima ou fluvial), mas cautela, podem haver percalços que estraguem o dia, como avisa o Público online:
10 coisas que podem arruinar um dia de praia
E, como eu sou todo do lowcoast, instigo-os a fazerem o vosso próprio brinquedo biodegradável:
Nós por cá, este ano, já tivemos uns contratempos com as águas marítimas: uma infestação de algas marítimas em Lisboa e Margem Sul; uma praga de mosquitos em Silves, no Algarve; e, mais recentemente, em duas praias na Quarteira, devido a um problema de esgotos. Enquanto o primeiro caso foi a Natureza em normal funcionamento, como tal foi levantada a interdição de banho nas praias em Lisboa& nas praias da Costa da Caparica, nos outros casos mais sul, foram definitivamente causadas por ineficácia dos serviços sanitários da zona, e vivendo essa região essencialmente do turismo desta época de férias e verão, deviam prestar bem mais atenção particularmente a tudo o que possa pôr em causa a subsistência da população local. Mas desengane-se quem pensa que isso só acontece neste nosso país de 2º mundo. Não, senhor. No Japão, um dos G8, as águas infelizmente também acusam problemas.
A praia de Tokyo reabriu após um esforço de 51 anos (clicar aqui para obter fonte em inglês), sendo que o que levou a que a praia à beira da metrópole plantada, cuja vista é dita no artigo deixar muito a desejar, fosse interditada a banhos foi precisamente o que permitiu a ascensão económica do ainda Império do Japão (têm imperador): a vasta industrialização do país. "Enquanto crescíamos economicamente, senti que perdíamos algo.", afirma Yuzo Sekiguchi, que é arquitecto e que, impulsionado por memórias antigas de pescar à beira-mar em Tóquio, criou uma organização de fins não-lucrativos em 1977, instrumento para a acção de luta, que durou cinco décadas, para restaurar a costa de Tóquio. A sua convicção fortaleceu devido ao que encontrou em viagens que fez pelo o oeste asiático (Afeganistão, Índia e Paquistão), onde reconheceu, nos olhos das pessoas que lá encontrou, em particular das crianças, um brilho especial. Achou que algo estava mal no seu país, em que as crianças cresciam fechadas em salas de aula demasiado lotadas, preocupadas em entrar em colégios de elite para obterem bons empregos, mas sem qualquer contacto com a Natureza. Iam à praia, se por ventura a casa da avó fosse numa zona marítima, mas em Tóquio não podiam. Sekiguchi decidiu que a responsabilidade era dos adultos e que, pelas crianças, a situação tinha de mudar. E essa luta foi tão custosa como morosa. Muito embora fosse tarefa difícil melhorar a condição ecológica das águas, o mais difícil foi conseguir o apoio dos burocratas governamentais, que ainda hoje não assumem qualquer responsabilidade na abertura das praias. "O governo local estava extremamente relutante em aceitar responsabilidade naquilo que nos proponhamos a fazer. A administração verticalmente dividida foi lenta a conseguir que alguma coisa fosse feita.", conta Sekiguchi, acrescentando "Eu não conseguia dizer para que serviam políticos e burocratas. Parecia que eles estavam lá para vincular o povo às regras deles." A abertura do Parque Kasai Rinkai aconteceu a título condicional. Os mergulhos são proibidos e só se pode estar com água até à cintura, pois as autoridades não aceitam responsabilidade pela qualidade das águas. É contudo permitido nada em Julho e Agosto. O parque é gerido pelo governo metroplitano de Tóquio, que avisa no seu site que a abertura da praia é da exclusiva responsabilidade a organização de Sekiguchi e não deles, e que pode ser fechada em caso de "ventos fortes, chuva, fraca claridade na água, ondas altas e relâmpagos". Sekiguchi explica como foi difícil chegar até aqui mas congratula-se por se ter conseguido pelo menos isto. Mas o activista marítimo prossegue, com vitalidade e inteligência, e já encontrou um poderoso aliado, portador de uma nova esperança, para o melhoramento progressivo das águas. Esse aliado provém dum estudo norte-americano, feito na baía de Chesapeake, na costa oriental dos EUA, que diz que ostras podem ajudar a limpar as águas. A organização testou este método num rio em Tóquio antes de a aplicar em Kasai Rinkai, demonstrando na minha opinião que se baseia verdadeiramente no método científico, não simplesmente aceitando a papinha toda só porque algum especialista "disse que" num ficheiro de excel defeituoso, como o nosso ex-fantasminha antipático lá das Finanças. A qualidade da água na praia melhorou bastante nos últimos anos e, após instalada uma vedação submarina para impedir a entrada de raias naquela área, a praia ficou segura e pronta a receber pessoas. Sekiguchi promete que isto é apenas o início e diz "Mas é algo que a nossa geração deve às nossas crianças. Precisamos de deixar um oceano em que as crianças possam sentir o sabor do Verão." SAÚDA-SE!
Eu acredito firmemente que se todos nos esforçarmos para tornar o nosso bocadinho do mundo um melhor sítio, ao somarmos todos os melhoramentos "individuais", criaremos um mundo melhor. Este senhor é um herói, se estes existem. Um exemplo de responsabilidade cívica aliada ao inconformismo. Um forte bem-haja, tomadochi Yuzo, e "a luta contínua" e "hasta la vitoria siempre"!
Entretanto, já me chegaram mais novas da embaixada do Japão em Portugal, através do boletim de Agosto, mas algumas delas já eu falei no primeiro post deste mês e as outras são para Setembro ou já foram, pelo que vou meter uma delas (que é para este mês e tem prazo limite para inscrição) e complementar com mais umas quantas de informações para actividades, procurando ser um pouco mais abrangente que apenas a grande Lisboa. Até porque é Verão e a malta precisa de preencher os seus dias com algo divertido, relaxante e, porque não?, culturalmente rico que nos permita enfrentar "o estado a que isto chegou". ;)
Portanto, até ao final do mês, farei outro post com os eventos que estão marcados para Setembro, que vêm no boletim da embaixada.
De resto, falemos de cinema, que pelos vistos e para minha tristeza mas não surpresa, é um negócio que se está a ressentir da crise à grande, mas também muito por culpa de quem vai ao cinema e de quem faz negócio do cinema (um tópico para outra altura).
No Porto, e um bem haja a quem organizou a coisa, tem havido durante este mês e vai continuar até Setembro, cinema à borla e ao ar livre. Eu soube disso através da P3 online, a qual vos vai informando nos dias, sobre que filme passa e a que horas, caso tenham um like na página deles no Facebook. Hoje, os amigos tripeiros poderão ver a reencarnação dos filmes "Evil Dead", por cá, "A Noite dos Mortos Vivos", cuja crítica escrevi aqui(http://74rte.blogspot.com/2013/07/evil-dead-2013.html).
Link para o artigo da P3: http://p3.publico.pt/cultura/filmes/8791/cinema-ao-ar-livre-e-gratuito
Para quem estiver no Algarve, à semelhança dos alfacinhas em Lisboa, também terão oportunidade este mês de verem uma curta metragem, intitulada "O cheiro das Velas", no Festival de Curtas-Metragens de Faro, a 31 de Agosto:
Em Lisboa, e como já tinha dito no post anterior a este, é já no dia 22, no teatro do Chiado. Para mais informações desta curta que participou do conceituado Festival de Cannes, no elenco da qual participa a deslumbrante e talentosa Oceana Basílio, cujos encantos e o próprio nome fazem dela uma perfeita embaixatriz do Verão. Não concordam?


Por falar na Maxim e nas praias alfacinhas, tenho que agradecer o jantar que a Maxim me ofereceu, que partilhei na excelsa companhia da minha amiga Ana (não, não é a outra revista com o mesmo nome), no beach lounge da Capricciosa de Carcavelos, que eu aconselho vivamente. Um óptimo espaço, excelente serviço e um staff mui simpático, boas pizzas como é praxe nesta marca, já para não falar na espectacular sangria de frutos vermelhos e da perfeita mousse de manga... estou a ficar com água na boca só de pensar nisso! O jantar demorou para aí umas boas 2 horas e meia e não foi só devido à conversa que fluía como água. A minha versão da pizza Maxim teria sido melhor escolha ;P, mas pronto ganhou uma menina, pois a votação foi via facebook e já se sabe como são vastas as listas de amigos delas, né? ahahaaha

E, já que falamos em estrelas, não nos limitemos ao cinema. Em Agosto, é altura de chuva de estrelas, que se conseguem ver a olho nu em Portugal, se se estiver numa zona sem iluminação pública. As Perseiadas, como são intituladas estas "estrelas cadentes", são um espectáculo natural e gratuito que merece ser apreciado. A noite de 13 para 14 de Agosto será o melhor dia para ver esta "chuva" cósmica, que nada mais é que calhaus que viajam a velocidades fantásticas e friccionam com a atmosfera terrestre. O nome provém da constelação Perseu, que está no quadrante do céu onde se podem ver os meteoritos passar. Olhem para nordeste.
Uma das minhas citações favoritas é do Oscar Wilde e diz: "Estamos todos na sarjeta, mas alguns olham as estrelas". Este espectáculo dá-se todos os anos, mas, como diria o nosso Variações: "Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje!"

E pronto, c'est ça! (recordando os bons tempos do escudo, em que os avec's [e uso o termo com carinho{Ça va, Christophe, mon ami? ;)}] retornavam todos a Portugal nesta altura do ano, porque só o câmbio do dinheiro dava para eles fazerem cá umas férias de lorde, e esse guito cá ficava... também são desse tempo??) Visita de médico e a correr, mas não tardarei muito a insurgir-me com uma nova entrada. Como diria o Porky Pig: "abdi... abdi... that's all folks"!
Um adios 4 now para os muchachos e para as muchachas um beijo tipicamente tuga mas em formato japonês:

Paixões Culturais para Hoje e para o Futuro

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Bom, meus amigos e amigas, já que o governo pouco ou nada quer fazer pela cultura neste país (e não me venham falar de que não há dinheiro, não sejam piegas!), temos de os acordar para a vida. Comecemos então hoje por assinar a petição para se debater e encontrar solução para o problema da Cinemateca (notícia aqui) naquela que deveria ser o símbolo de liberdade democrática em Portugal e cada vez mais é a vista como a moradia de corruptos, a Assembleia da República. Desde do Regicídio que temos vindo a perder identidade cultural (e não, não sou monárquico, sou apologista de democracias seculares e constitucionais), da monarquia à república, da república à ditadura, dessa velha senhora à revolução (ou para ser historicamente exacto, golpe de estado), e daí, via (des)União Europeia e (des)Acordos Ortográficos, ao Deplorável Estado Novo a que chegámos. Não nos podemos arriscar a perder este registo tão importante da nossa História, mais outro tanto da nossa herança colectiva e personalidade nacional. Aquando do Terramoto de 1755, o Marquês de Pombal, no meio de escombros, fogos, fugas de prisão e mortos acumulados, preocupou-se e bem em assegurar a protecção da Torre do Tombo. A Cinemateca é o equivalente em versão cinematográfica, um registo do século passado em celulóide da 7ª Arte em Portugal. Não teremos agora o mesmo espírito e visão para salvarmos a nossa cultura? Poder-se-ão identificar ou registar via facebook, aparentemente, e não perdem mais que 1 minuto se tanto a assinar a petição. São precisas pelo menos 4 mil assinaturas para ir ao plenário:
Feito o nosso dever de cidadão, podemos agora virar-nos para aquilo que o nosso país e os amigos deste último nos podem oferecer, para nos divertirmos, descontrairmos e aproveitarmos as férias ou as horas de lazer. E estranhamente, também é a cultura e não o governo quem nos providencia estas coisas.
Já agora, que vivemos numa época em que toda a gente procura uma oportunidade, eis duas para quem estiver nas condições de as aproveitar. As imagens abaixo vêm do pdf informativo de Agosto da embaixada do Japão (agora que já desistiram do AO90 e se auto excomungaram do mAO90ismo, já posso copiar directamente as imagens). São respectivamente o teste de proficiência na Língua Japonesa, na Universidade do Porto e uma bolsa de investigação para viver no Japão para doutorados com menos de 65 anos:
Sigamos então para a paródia. Para o dia 25 de Agosto, amanhã, tenho uma proposta para quem está por Lisboa e outra para o país todo.
Para quem está em Lisboa é o último dia da iniciativa Lisboa na Rua (cartaz abaixo[este nada tem a ver com a embaixada japonesa]) e peço-vos imensa desculpa de não ter postado isto antes, mas sou recentemente me deparei com o poster online. Também não tenho estado em Lx, senão nos últimos dias.
Para todo o Portugal, a oportunidade de verem Auroras Boreais (notícia da P3 aqui) em pleno verão, amanhã dia 25, às 2h30 na Europa, poderão ver via internet as transmissões destes eventos celestiais através de dois sites:

Quando adiro a este tipo de iniciativas, penso sempre aquela frase que me maravilha à anos do Oscar Wilde: "Estamos todos na sarjeta, mas alguns olham as estrelas.". Frase de grandiosa simplicidade que se traduz numa enorme e verdadeira profundidade. Por falar em olhar as estrelas, apanharam as Perseidas? Eu vi. Já tinha visto estrelas cadentes antes, mas estas viam-se mesmo bem! Parecia que alguém estava a riscar fósforos enormes na nossa atmosfera! ehehhe Não, contínuo ateu... sorry!
Bom, deixemos as estrelas e voltemos-nos para o Futuro (não, não vou armar-me em Maya). Vamos ver o que há na Agenda Cultural para o mês que vem (assim, recebem aviso com tempo :P ). Dois dos eventos já falei deles aqui noutro post, mas vale a pena recordar:

Dos eventos anunciados pela Embaixada do Japão, restam-me anunciar dois:
              -» a 7ª edição do Motelx:
             -» e uma "Tarde Cultural Japonesa com o grupo Kiwakai":
Mas ainda não acabei, porque o N.I.N.J.A. Samurai é contra a centralização e não é adepto de bairrismos ou clubismos.
Em Évora, os amantes do ciclismo, esse nobre desporto que ressuscitou a moral francesa depois da 2ª Guerra Mundial, que é cada vez mais a marca de um país civilizado e cada vez menos a dos países em vias de industrialização (que evolução tão inesperada, mas ambientalmente inteligente, e que demonstra que por vezes para dar um passo em frente necessitamos de dar dois para trás), poderão divertir-se no BikÉvora 2013. «Uma feira “low-cost” de bicicletas e um passeio de ciclismo para ligar os templos romanos de Mérida (Espanha) e Évora são duas das atracções do BikeÉvora 2013, que vai decorrer de 14 a 22 de Setembro.», in P3 (link para o artigo aqui).
Já que falamos de bicicleta, um café no porto que me despertou o interesse e atenção é o Urban Cicle Café, "é uma loja de biclas, que é café que é oficina", in P3 (link para o artigo). Não sei como a ASAE lida com isso, nem me interessa. Adorava ir visitar e aplaudo o conceito.
Ainda antes de largos as bicicletas, queria chamar a atenção para uma micro empresa baseada em Sintra, onde se criam guiadores para poderes personalizar a tua bicicleta (link para o artigo). A Classica Bikes só funciona através do seu site de momento e é um projecto em fase de arranque. É melhor encomendarem depressa antes que os preços aumentem! ahahha
E já que se fala em Sintra, pois que se faça saber igualmente, que por 3 euros se pode alugar um carrinho de golfe eléctrico para andar a abrir nas curvas do monte que leva ao palácio da Pena, por exemplo. Ora vejam:
http://p3.publico.pt/vicios/em-transito/9013/em-sintra-ja-ha-carros-electricos-amigos-do-ambiente-para-passeios-low-cost
Para quem tiver a oportunidade de dar um salto a Matosinhos, poderá divertir-se com a Feira Medieval de Matosinhos, já no mês que vem:
Por falar em desempenhar papéis e colocar adereços, quero apenas chamar-vos à atenção para uma pequena notícia que um amigo meu colocou no Facebook, sobre este simpático mascarado (que obviamente é fã dos Power Rangers) que anda pelo Metro de Tóquio a fazer boas acções (imagem abaixo e link aqui).
"Há malucos para tudo", diz o povo português, mas fossem todos como este. A máscara tem uma função que é, segundo declara o próprio mascarado, ajudá-lo a contornar a mentalidade japonesa que segundo ele dificulta a que os japoneses aceitem ajuda, por temerem ficar a dever favores. Esconder a sua identidade é uma forma simbólica de dizer apriori e sem falar que nada quer em troca.
Já que estamos no tópico de voluntariado, para TODOS os Guerreiros da Paz espalhados por Portugal, que parece um sítio deixado aos caprichos de Nero, sejam voluntários ou profissionais, aos que vivem e aos que deram a vida, aos que neste momento se debatem com dragões: obrigado, força e um grande bem haja. E contem com o meu apoio na vossa luta. Aos governantes, pelo menos arrangem seguros condignos para os voluntários, porque o que se tem visto nas notícias é ridículo. E sr ministro Miguel Macedo, faça lá o obséquio de parar de dizer barbaridades como os incêndios são uma inevitabilidade e comece a apostar em políticas que impulsionem a limpeza das matas e a vigilância destas, políticas preventivas, que vê logo as ocorrências diminuírem drasticamente. O que se tem visto nas notícias mete nojo.
Por último, e como falei de protegermos a nossa identidade, eis três links engraçados para tal:




Antes de me despedir, só indicar que este People Sleeping Project tem uma página de facebook:

Agora sim, durmam bem, tenham um excelente dia amanhã e reencontramos-nos aqui, em breve!
Arigato & Sayonara, tomadochi! ;)

P.P.S.: tenho sempre de ter um destes... no post anterior, sugeri-vos que fossem ver a curta da Oceana ao PFShorts Fest no Teatro Rápido, na Baixa Lisboeta. Pois eu fui e eis a minha crítica ao evento e às curtas metragens que por lá passaram, feita noutro blog em que colaboro dedicado inteiramente a crítica de cinema: http://74rte.blogspot.com/2013/08/pfshorts-fest-no-teatro-rapido.html

Constitucionalize-se a Paz, Legislem-se Armas, Poetize-se a Guerra

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Embora a imagem acima seja alusiva ao tópico principal desta entrada, começo com alguns breves à partes não relacionados.
Primeiro quero prestar homenagem àquele que é reconhecido como o “pai” do Judo (a que ele gostava de chamar “o caminho suave”) Português, o Sensei Kiyoshi Kobayashi, que morreu no Japão, esta passada quinta-feira, com 88 anos dos quais viveu em Portugal mais de 50. Eu que sou praticante de artes marciais, embora de Judo tenha tido muito poucas aulas e não passaram de mais que de uma mera introdução, respeito grandemente qualquer artista, mas sei de experiência pessoal as dificuldades das Artes Marciais e também a realidade vasta do seu universo, sendo que tenho enorme estima por quem delas faz a sua obra e vida. É com prazer que honro alguém que tanto fez pelas artes marciais e pelo desporto portugueses. Que o diga Carlos Lopes! OSS, Sensei!
Quero igualmente estender a minha solidariedade e empatia para com as vítimas de ainda mais um sismo de grande magnitude, novamente no Norte do Japão. Ainda não tiveram tempo de recuperar das feridas do mega sismo de Março de 2011 (link aqui) e já sofrem um outro terramoto (notícia aqui), não tão mau, mas potente. Felizmente não veio acompanhado de um maremoto. O que vale é o espírito nipónico do “Never say die” perante a fúria dos elementos. Força, Japão.
Sobre os Jogos Olímpicos, quero congratular o Japão por ter sido o país escolhido para a próxima edição do evento. E não é sem um gostinho de vingança, pois Espanha tem andado armada em parva ultimamente, connosco sobre as Selvagens e com os Ingleses por Gibraltar, para além de um país à beira dum resgate estar a hipotecar-se mais para fazer um mega evento ser estúpido, na melhor das hipóteses. Não havia outra escolha, face ao colosso económico que é o Japão e às convulsões sociais na Espanha e na Turquia.
Mas não foi a Espanha que começou a polémica sobre estes Jogos Olímpicos. Um jornal francês editou dois cartoons que ligam a tragédia de Fukushima aos Jogos Olímpicos e o Governo Japonês já reagiu demonstrando-se compreensivelmente zangado e ofendido. Vi uma notícia estrangeira sobre isso que não mostrava os cartoons e a mesma notícia mas no Público também não o fazia. Tal como quando da crise dos Cartoons Dinamarqueses que levaram a ameaças dos Jidahistas contra a Dinamarca e mesmo à destruição das suas embaixadas, os jornais ocidentais (numa completa falta de solidariedade para com o direito da liberdade de expressão dinamarquesa) também não se atreveram a publicar os cartoons. Assim, toda a minha gente vendia jornais a falar de Cartoons que ninguém vira  fora da Dinamarca. As situações são bem distintas. Nem se está a criticar a Jihad e o Profeta Maomé, nem os Japoneses são zelotas religiosos (haja Deus, suspira este ateu). Ainda mais, eu acho os cartoons descabidos e de fraca inteligência, pois brincam com mutações provenientes de radiações (tendo em conta que é o único país que já foi bombardeado com armas atómicas e ainda hoje estão a sofrer com isso os sobreviventes em Fukushima) por exemplo não é algo a que ache proveito ou a necessidade de caricaturar. Depois, numa altura em que o artigo 9 da Constituição Japonesa está “sobre fogo” e que o maior vaso de guerra japonês está a meter a China de nervos em franja, os Jogos Olímpicos naquela zona só podem ser bom sinal, se nos lembrarmos da sua ancestral história. Os Jogos Olímpicos eram consagrados em nome dos Deuses do Olimpo e durante os jogos haviam TRÉGUAS entre todas as cidades estado da Grécia Antiga. TRÉGUAS!! É essa a grande mais valia desses jogos, é esse espírito que deve, tem de ser honrado e recuperado. E que melhor altura e lugar que o Japão, neste momento.

Não quero desrespeitar aquela que considero justa indignação dos Japoneses, mas por acreditar no que Voltaire disse, sinto uma obrigação moral e de respeito para com a Liberdade de Expressão, fazendo o que os Media não estão dispostos a fazer por medo de ofender nem que isso defenda a liberdade que lhes permite o seu ganha-pão, publicando aqui os ditos cartoons. Eu acredito firmemente que a liberdade de expressão tem de incluir a liberdade de ofender, embora entenda que quem ofende tem de estar pronto para as consequências. Às vezes, e todos nós se não formos hipócritas o sabemos, basta dizer a verdade para ofender alguém.
Senão como poderão vocês, leitores, ter a vossa própria opinião sobre eles? Numa Era da Imagem como a que vivemos, como é concebível falarmos de uma polémica de imagens como polémicas e não as mostrarmos? É ridículo e triste não termos aprendido com o que aconteceu com a Dinamarca (disto voltarei a falar quando falar aqui dos Media e da Liberdade de Expressão e quanto ambos estão condicionados pelos interesses económicos e quanto isto diminui e perverte o seu papel social).
第九条 日本国民は、正義と秩序を基調とする国際平和を誠実に希求し、国権の発動たる戦争と、武力による威嚇又は武力の行使は、国際紛争を解決する手段としては、永久にこれを放棄する。
二 前項の目的を達するため、陸海空軍その他の戦力は、これを保持しない。国の交戦権は、これを認めない。
Confiando na Wikipédia, acima está escrito (em Kanji) o artigo 9 da Constituição do Japão. Esse artigo declara:

“ARTIGO 9: Aspirando sinceramente a uma paz mundial baseada na Justiça e na Ordem, o Povo Japonês para sempre renuncia à Guerra como um direito soberano da nação ou o uso da força como meio para resolver qualquer disputa internacional. (2) Para atingir o objectivo do parágrafo precedente, forças terrestres, marítimas ou aéreas, bem quaisquer meios beligerantes jamais serão mantidas.”, in Wikipedia. Traduzido directamente do inglês.

Entremos agora no tópico que dá mote ao título. Este artigo constitucional, tal como o Godzilla (link aqui), é criação conceptual directamente consequente dos terrores da Segunda Guerra Mundial. O povo japonês, num esforço para evitar cair no erro que então cometeu, desenvolveu este artigo constitucional. Intelectualmente, é um acto de louvar pela sua evolução civilizacional: consagrar uma proibição à guerra, renunciar o direito soberano à guerra, de forma constitucional. Mas na prática, no mundo em que vivemos, nos dias de hoje, por mais belo e moralmente avançado que seja, torna-se um acto mais simbólico do que prático ou pragmático.
Na prática, o Japão tem forças militares. Não lhes chamam forças armadas, mas antes Forças de Auto-Defesa Japonesas. Portanto, desengane-se quem pense que o Japão está à mão de semear, senão provavelmente já a China teria tomado as ilhas Senkaku no ano passado. Os Japoneses, ou pelo menos os que escreveram a sua Constituição, sabem aquela dura verdade que levou os Pais da Revolução Americana a consagrar na sua Constituição a emenda que garante o direito à posse de armas a todos os cidadãos:

Contudo, o artigo 9 da Constituição Japonesa tem o seu mérito real. Impede pela sua própria vontade o povo Japonês de, declarar guerra a outras nações em qualquer caso. Impede-os de construir armas nucleares (tendo o mérito de impedir a proliferação de armas de destruição em massa), de possuir porta-aviões, ou de ter mísseis intercontinentais, para dar alguns exemplos práticos. Na minha opinião, é um passo enorme para a evolução futura das relações internacionais. Isto é, se mudarmos a tónica do pensamento militar, se em vez de declararmos guerra só nos defendermos de alguém que nos declare guerra, estaremos mais seguros de estarmos nós a fazer o que está certo. Pelo menos, no que diz respeito às disputas entre nações. Esta é, e sempre será, a minha posição face às artes marciais: servem apenas para autodefesa e só são para ser usadas depois de esgotadas todas as outras possíveis soluções. O verdadeiro praticante de artes marciais não pratica para andar a criar problemas ou a provocar violência, mas antes para seu auto-melhoramento e para estar preparado caso não lhe dêem outra hipótese que não a escolha entre ser violentado e se defender pelo uso da violência.
Quando me preparava para escrever, pensei que há, no entanto, sérios problemas com a sua aplicação. Até porque decorre de qualquer estratega de nível básico, que a melhor defesa é um potente ataque. Eu considero-me não um pessimista (patente na minha e única instável, mas não cega, fé na Humanidade), não um optimista (preparo-me sempre para o pior, na melhor das minhas possibilidades), mas um realista e sei que há guerras que têm de ser lutadas. Até no pacifismo é perigoso ser um fanático e/ou zelota.
Exemplo fácil, a própria Segunda Guerra Mundial. Mas se analisarmos seriamente essa guerra, vemos que os “bons” (como dizem os putos), isto é aqueles que agiram em mera auto-preservação, como reacção à agressão nua, e não com sonhos megalómanos de conquista mundial, não declaram guerra até serem para isso provocados. Até os Estados Unidos da América só se declaram pelos Aliados depois de Pearl Harbour. Portugal, pelas mãos de Salazar, assumiu a única posição que podia para não ser obliterado, pois as suas forças militares eram fracas e tinha acabado de sair de uma crise económica estando ainda a sofrer os rigores da sua austeridade, e foi oficialmente neutro. Não-oficialmente, Portugal esteve envolvido. Em segredo, Salazar mantinha relações de conluio com os nossos mais antigos aliados, os Ingleses. Quando Churchill disse a Salazar para parar com os envios de volfrâmio que ele vendia aos nazis, este assim fez. Via Aristides Sousa Mendes, honrado por Israel com o título “amigo dos Justos”, salvámos muitos judeus de serem mortos, e mesmo Salazar e o seu Estado Novo permitia aos judeus que cá chegassem que embarcassem de cá para a segurança dos EUA. Além disso, Portugal passou fome enquanto em segredo alimentava as tropas aliadas. No Pacífico, e na única instância histórica em que Portugal e Japão abriram hostilidades, a então colónia portuguesa de Timor-Leste foi forçada a repelir a invasão japonesa. E conseguiu-o com sucesso. Acho que é importante relembrar isto, a bem da manutenção da História, especialmente no ano em que celebramos 470 anos de Amizade com o Japão. Mas lá está, nessa instância, nós só guerreamos em auto-defesa.


Saindo um pouco da guerra convencional, e já vão perceber porque o faço, a guerra contra o álcool (despoletada pelos agora membros do Tea Party, nos anos 20, na Lei Seca americana) só pôde ser vencida com a legalização das bebidas alcoólicas. É que as ruas já andavam ensopadas com sangue de gangsters, polícias e inocentes. Hoje em dia, luta-se a guerra contra as drogas e parece que nada se aprendeu com essa primeira experiência. Também essa só se irá ganhar com a legalização, retirando o mercado aos barões da droga, elevando-se os impostos como por exemplo fazemos ao tabaco procurando minimizar consumos, aumentando a informação disponível sobre o produto, fazendo campanhas de sensibilização nas escolas mas de forma certa e institucional e finalmente, disponibilizando sempre a possibilidade para os que já nela estão enredados saírem dessa armadilha. Será pela educação, inclusão, regulamentação e despenalização que diminuiremos este flagelo social. No final, irá sempre haver (COMO HÁ), quem se drogue para relaxamento, quem se drogue por vício, quem não se drogue. As pessoas têm o direito de fazer o que quiserem com o seu corpo e não pode ser o governo a decidir impedi-las da sua estupidez, sob risco de cairmos num estado orwelliano em que o Big Brother nos protege de nós mesmos e não há liberdade. Mas digresso… também estas guerras têm de ser travadas, e a sua vitória está no melhoramento da educação, essencialmente. Formar melhores cidadãos que hajam em consciência e que saibam que, mesmo que se queiram drogar, será menos mau fumar um charro a meterem LSD, mas que de preferência o melhor será simplesmente dizer NÃO. Mas falei de guerras não-convencionais para chegar aquela que marca a actualidade: a chamada Guerra ao Terror.
Aqui a porca torce o rabo. É tão inevitável como enfrentar o Hitler. Estamos a falar de pessoas que, potenciadas pela falta de escolhas de vida e muitas vezes falta de instrução educacional, são doutrinadas numa religião, “esse ópio do sofredor” citando correctamente Marx, que glorifica e de facto apresenta como caminho para o paraíso na morte a guerra santa. Pessoas essas que, enlouquecidas pelos ditames de livros que se tiveram valor já estão hoje em dia descontextualizados e ultrapassados, são instrumentalizadas por outras vontades, estas muitas vezes bem alimentadas e com ensinos superiores, mas na mesma fanáticas e/ou simplesmente maléficas. Nunca sei se os que puxam cordelinhos, tipo Bin Laden, Saddam e Homeini, acreditam mesmo no que pregam ou só desejam o poder. Mas há o revés dessas moedas, desse vil metal, como por exemplo o hipotético analista da CIA que sabia dos pilotos de aviação árabes “naquela escola do Midwest”, e que calmamente deixou desenrolar-se o11 de Setembro e garantiu a sua reforma em Wall Street. Esta guerra está a decorrer e já não é uma questão de esta nação contra aquela, mas sim como no caso da WWII (sigla inglesa), uma profunda discórdia ideológica. Por exemplo, as teocracias islâmicas, a que Hitchens designou “fascismo com face islâmica”, são ditaduras não só do corpo mas também da mente. Dito e feito, os fundamentalistas que a elas se entregam, seguem ideologia messiânicas nas quais eles são os verdadeiros servos de uma divindade inventada, à qual se submetem totalmente como seu escravos, e que os recompensará por isso no Fim dos Tempos, se eles até lá matarem, converterem ou subjugarem e humilharem todos os restantes. Os direitos de homossexuais, das mulheres e de todos os que não comunguem das suas ideias não lhes assiste. É uma guerra da civilização contra a barbárie. Uns poucos de fanáticos, face a biliões de inocentes que apenas querem viver a sua vida descansados.
No decorrer desta guerra, cujo nome é de si estúpido (pois guerra já de si é o terror), aconteceu a Segunda Guerra do Iraque. Todos nós sabemos que a sua motivação não foi apenas a libertação do Iraque do seu sanguinário e louco ditador, mas também o desejo dos americanos de controlarem o petróleo naquela zona. Eu sei disso, e se me perguntarem se eu preferia que tivessem sido outros que não os americanos a combatê-la ou a dirigir essa guerra, eu digo-vos logo: “Claro que preferia!”. Mas estamos a falar duma situação insustentável, dum ditador que combinava o que pior havia de Hitler e de Estaline, dum país que era vigiado diariamente pelas Nações Unidas (NU) para evitar que este voltasse a atacar os curdos (a maior etnia anteriormente sem estado que existe no mundo) que quase exterminara com armas químicas ou que atacasse os seus vizinhos e irmãos de fé no Irão, que já antes tentara invadir, enquanto que as próprias NU via sanções económicas mantinham na miséria todo o povo iraquiano enquanto o seu ditador megalomaníaco vivia na opulência dos seus palácios e os seus ainda mais psicóticos filhos coleccionavam carros de luxo como se fossem o CR7. Conhecidos terroristas da Al Qaeda e afins gozavam da sua protecção, tendo até alguns passaportes com imunidade diplomática consagrada pelo Iraque [com os quais várias vezes escaparam à detenção por autoridades doutros paízes] e que vinham listados nas listas telefónicas iraquianas sem qualquer medo e com o seu nome. Portanto, falamos de um país sob ditadura teocrática, que já tinha utilizado armas de destruição massiva, já tinha invadido o território de vizinhos, já tinha tentado promover o genocídio de uma etnia e dava guarida a conhecidos terroristas internacionais. Segundo Hitchens (link aqui), e confesso que não sei de onde ele obtém esta informação embora me pareça aceitável como ideia, o Iraque de Saddam já preenchera as 4 condições para perder a sua soberania. Algo tinha de ser feito. As NU deviam ter ajudado os curdos seculares, guerrilheiros socialistas e comunistas, a derrubar o regime de Saddam. Mas a sua inacção manteve-se. Os EUA e o Reino Unido, movidos pelos seus próprios interesses (leia-se petróleo), agiram. O Saddam foi condenado à morte pelo seu próprio povo numa farsa de tribunal quando devia ter sido julgado por crimes contra a Humanidade, um completo e louco programa iraquiano de ocultação de armas foi descoberto e foram desenterrados das areias do deserto tudo desde aviões a centrifugadoras para o enriquecimento de urânio (a que os americanos foram levados por um cientista iraquiano empregado pelo Saddam), foi descoberta uma ligação de venda de armas nucleares que ligava Saddam à Coreia de Norte que se lhe preparava para vender armas nucleares, eleições livres foram institucionalizadas no Iraque e os curdos formaram uma sua região autónoma e secular. É claro que há parte dessa região autónoma, o Iraque via eleições está entregue aos partidos de Deus na mesma, e cravejado de terrorismo nas suas ruas e cidades, mas não foi tudo em vão e a democracia é tão benéfica quanto a maioria dos seus cidadãos o conseguem ser. Mas parafraseando Jefferson, eu prefiro uma democracia perigosa a uma ditadura passiva ou benigna.
A guerra do Iraque foi declarada unilateralmente pela auto-intitulada Coligação do Voluntários, EUA e Grã-Bretanha, mas tal não precisava de ter sido. Podíamos apenas ter feito uma acção de libertação, com umas Nações Unidas mesmo Unidas, ajudando a revolução que já estava a ser levada a cabo pelo exército de libertação curdo. Exactamente como aconteceu quando Portugal e outros ajudaram a libertar Timor Lorosae das garras dos islamofascistas de Jacarta. Nós, levados por um sentimento de culpa por termos abandonado essa ex-colónia ao seu destino após a Revolução dos Cravos, deixando-a à mercê duma Indonésia teocrática, e os Australianos por exemplo porque queriam o seu petróleo e ficaram mui magoados quando Timor optou por se tornar país de língua oficial portuguesa ao invés de língua inglesa. Se quiserem um cheirinho do que foi essa guerra, em forma romanceada, sugiro o mui excelso “A Ilha das Trevas”, de José Rodrigues dos Santos. E não, não acho que nós tenhamos lá ido pelo petróleo. Porquê? Porque são os australianos que estão a ganhar disso e não nós. Talvez a GALP lá tenha um dedinho, confesso que não sei.
De qualquer forma, o problema repete-se agora na Síria. Estamos à beira de gerarmos outro “Iraque II”. Se não conseguem imaginar o filme, ei-lo: os EUA entram, desta vez completamente sozinhos, sem tropas no terreno, bombardeando com drones e outros meios, gerando sem dúvidas danos colaterais (= mortes de inocentes não combatentes). Se armarem mais os rebeldes, que são da mesma ideologia do Irmandade Islâmica e da Al Qaeda, estão potencialmente a criar mais Bin Ladens. O próprio Barack Obama disse que não podíamos correr o risco de que o arsenal químico do Assad ficasse nas mãos deles. Mas pior, entre os refugiados e os que não se conseguirem refugiar e perderem familiares numa guerra que não entendem, lembrar-se-ão das bombas e dir-lhes-ão sem recorrer à mentira que vieram da América. Serão fáceis alvos dos recrutas das organizações islâmicas de terrorismo. Motivados por desejo de vingança, fortificado pela crença no Alá que lhes venderem, serão mártires jihadistas. Se a via diplomática falhar, é isto que teremos. Mas algo tem de ser feito, dirão alguns! Concordo.
O que devia ser feito, caso a diplomacia falhe, seria uma força multinacional da ONU, no terreno e mais que bem equipada para a guerra química, a segurar as pontas de ambos os lados e a restaurar a paz no país. Depois remover-se o ditador, ir-se a eleições e sair. Dir-me-ão, depois segue-se o “Egipto II” ou um “Irão II”… aí já será problema deles. O papel da ONU deve ser apenas proteger os inocentes, procurar parar guerras ou genocídios, e assegurar a democracia. Nada mais.

Até porque, para mim, a guerra contra o fundamentalismo islâmico no geral só pode ser ganha de dentro do próprio Islão e quem terá a melhor hipótese de o fazer são as mulheres islâmicas. Porquê? Bem, se se conseguir que elas recebam uma boa educação, de preferência (sonho eu) secular, elas poderão melhor formar os seus filhos e assim impedi-los que eles caiam nas garras do fundamentalismo religioso. Nenhuma mãe digna desse nome deseja a morte do filho, mesmo por Alá. Já o policiamento internacional imperialista por parte dos americanos ajuda os sacerdotes islamitas a convencer os seus peões de que a guerra santa é também justa e contra a opressão capitalista norte-americana. O que se quer é que o Islão se torne todo moderado, como já foi no auge da sua civilização, quando inventaram a Álgebra e avançaram a Óptica.
Por exemplo, Christopher Hitchens falava muito de no Irão ter havido, produto da insanidade da guerra que Saddam moveu a este país, um “baby boomerang”! A expressão de baby boom significa uma nova geração que tenha inovado em alguma coisa face às anteriores. O baby boomerang do Hitch significava que, quando o Saddam atacou o Irão, eliminou muitos dos jovens iranianos. Isto levou a que os teocratas locais dissessem às mulheres do Irão que voltassem a restabelecer as fileiras iranianas, um “crescei e multiplicai-vos” of sorts. Agora, o Irão tem uma população rejuvenescida mas, tendo crescido na ditadura teocrática e num país sem pais ou avôs, é muito crítica do regime actual o que poderá levar a sua remoção. Do Irão, já se ouviu que não desejam que o que está a acontecer na Síria lhes aconteça a eles, que preferem fazer a sua própria revolução mas de forma pacífica. Ainda bem para eles. Só espero que o façam antes dos seus líderes loucos chegarem à Bomba! Portanto, uma das suas políticas de natalidade poderá destruir o próprio regime totalitário iraniano que a criou, daí baby boomerang, eles atiraram-no mas ele deu meia volta e acertou-lhes em cheio. Insh’Allah! Mais uma vez, a solução é a educação pois reside nos ombros dos jovens.
Uma ironia do destino fez com que na guerra contra o Saddam Hussein, tal como na guerra do Hitler, forças capitalistas e marxistas convergissem. Interessante, não é?
Voltando à questão das armas e da Constituição Norte-Americana, bem vistas as coisas, a sua 2ª Emenda tem menos consequências benéficas práticas ou verificadas que o artigo 9 dos Japoneses. Esta é a emenda que consagra o direito à posse de armas a um cidadão norte-americano. Originalmente, a emenda foi feita para impedir que um povo temesse o seu governo, que na opinião dos Pais Fundadores era o que constituía a ditadura. Eu até comungo desse sentimento, o povo não pode temer o seu Estado, muito menos o seu Governo. Pois bem, quando é que essa emenda serviu nesse sentido em termos práticos? Terá sido durante a Lei Seca, durante o McChartismo dos anos ’50 do século passado, durante a Guerra do Vietname, durante a Luta dos Direitos Humanos, durante o vigor do Acto Patriota que já era para ter sido revisto e contínua incólume? Não, nunca foi usado desde que os ingleses foram corridos. E o mais engraçado é que as sondagens dos próprios americanos mostram que 80% dos constituintes desejam mais controlo nas armas e mesmo assim a recém criada proposta BIPARTIDÁRIA (dos dois partidos do poder) para tal efeito foi recusada no senado americano. Liberdade democrática? Humm… não me parece que a posse de armas a assegure. Já o Japão neste departamento, que é um país tão democrático como os EUA ou Portugal (o que digamos quer dizer que não é verdadeiramente democrático, apenas oligárquico, mas essa discussão fica para outro dia), é um país sem armas. Diz o artigo que uso como fonte [aqui linkado] que no Japão, o país com menos armas em mãos privadas do Mundo e provavelmente o que tem mais restrições na obtenção legal de armas de fogo, teve resultados excelentes no que diz respeito a mortes por armas de fogo. Em 2008, o Japão teve um total de 11 homicídios por arma de fogo, enquanto que os EUA tiveram 25 mil. Mas isto é um ano mau para o Japão, pois em 2006, teve um total de duas (2) mortes por arma de fogo e quando em 2007 o número subiu para 22 isso tornou-se num escândalo nacional no Japão. É acrescentado que quase ninguém possui armas de fogo no Japão, visto que a maioria é ilegal e que é comprar e manter as restantes é um processo oneroso. Até os Yakuza, a máfia japonesa, prefere não usar armas de fogo visto que mortes desse tipo captam demasiada atenção noticiosa ou mediática que os gangsters nipónicos preferem evitar. Segundo o artigo, a Lei Japonesa, 1958, proibiu a posse de qualquer arma de fogo por parte dum cidadão, tem vindo posteriormente a abrir algumas excepções. O artigo abre aludindo a como se podem encontrar em Waikiki, no Hawai, pessoas na rua a distribuir panfletos publicitários, muitas vezes escritos em inglês e japonês, para captar turístas para o Clube de Tiro local. É um choque civilizacional quando os turistas japoneses recebem esses panfletos e quando vão ao dito clube disparar uns tirinhos, possivelmente saberão que se estivessem na sua terra estaria a cometer três crimes: empunhar uma arma de fogo, posse de munições não licenciadas, e o disparo de uma arma de fogo. A primeira das 3 ofensas pode ser punida no Japão por até 10 anos de cadeia. No Japão, as armas de fogo que um cidadão pode obter legalmente, mas com muita dificuldade, são caçadeiras (shotgun) e pressões de ar. O processo legal de obtenção de armas de fogo foi descrito num ensaio de David Kopel, cidadão americano membro da National Rifle Association (associação nacional de espingardas):

1 – o cidadão tem de frequentar um worshop de um dia, findo o qual é testado e tem de passar no teste. O workshop só acontece uma vez por mês;
2 – depois de passar nesse teste, o cidadão tem de frequentar e passar um curso numa carreira de tiro;
3 – feitos os dois primeiros passos, há que ir ao hospital fazer uma análise a estupefacientes e um testes de sanidade mental (é dito que o Japão é único nesta imposição de exigir a certificação da saúde mental dos potenciais possuidores de armas), os resultados dos quais a pessoa tem depois de entregar junto de oficiais da Polícia;
4 – finalmente tem de passar por uma rigorosa investigação do seu passado, sobre se esteve alguma vez envolvido em actividades ilegais, etc…;
E pronto, se passar, já pode ir comprar a sua caçadeira. Resta-lhe apenas informar a polícia sobre o local exacto na sua casa onde a guarda, e o mesmo se aplica às munições, sendo que a arma e as munições têm de ser guardadas fechadas e separadamente. Depois ainda tem de se recordar de levar a arma para inspecção policial uma vez por ano e refazer o teste de 3 em 3 anos!! Ufa, já estou exausto…
Duvido que por lá se cace como cá em Portugal! Seria a revolução se alguém cá quisesse fazer isso, porque diz o Público que um (1) Português em cada três (3), está possui uma arma. Eu não me oporia e digo isto sendo possuidor de 2 pressões de ar, uma de mola e uma de gás, e já tendo tido a experiência de disparar uma pistola semi-automática numa carreira de tiro.Posso dizer que não me saí nada mal e, com a experiência das minhas pistolas pressões de ar, assim que me habituei ao coice da explosão da pólvora, acertei o centro do alvo 2 vezes. A esperiência fez-me lembrar uma frase da obra de arte do Bruce Lee chamada "Enter the Dragon": "Any bloody fool can fire a gun.", traduzindo livremente: qualquer perfeito idiota pode disparar uma arma. Id est, não é preciso grande habilidade para se ser perigoso com uma arma de fogo na mão.

Não podia deixar de aproveitar este post para o N.I.N.J.A. Samurai fazer uma intervenção participativa no recém aquecido debate constitucional português, já que o Ministro Poiares Maduro (ex-acérrimo atacante e crítico das políticas deste governo, agora seu ávido protector), alegado ministro de Desenvolvimento Regional, para mim Ministro da Desinformação Nacional, diz que o debate sobre a Constituição não pode ser exclusivo dos Juízes. Começarei por tentar responder à pergunta chave e idiota do senhor actual Primeiro Ministro (PM). Ei-la formulada pelo próprio:
Ora, digo que a pergunta é idiota porquê? Porque a Constituição não assegura o trabalho a ninguém, tal como a restante Lei não o faz, seria impossível. O que a Lei deve fazer é apenas providenciar uma base legal que assegure os direitos do trabalhador, pois este vai estar sempre em desvantagem negocial perante a entidade empregadora. Mas esqueçamos isso. A Constituição não criou a Crise Económica de 2008, a Banca de Risco e a sua avarenta e endémica toxicidade é que criaram. A crise económica-social-estrutural do Estado Português, não foi criada pela Constituição, foi criada pela promiscuidade do Estado com o Sector Privado, via sucessivos governos PS-PSD, ao longo de quase 40 anos.
À PARTE: Aliás, o sector privado neste país é uma anedota pegada. Vejam-se como quando o estado fechou torneiras à comparticipação de medicamentos, quantas farmácias não fecharam todas elas privadas, sobrevivendo do estado. As PPP’s e os SWAP’s que por aí andam incólumes a encher bolsos privados, comendo directamente da dívida pública que suga os nossos impostos. A EDP e as suas rendas intocáveis que anularam Álvaro Santos Pereira. Sector privado onde se é o estado que está a alimentar esta gente toda?? Ah, é privado no sentido de que os lucros não favorecem o Zé (Povinho, leia-se) mas sim o senhor Dr José “Polvo”, cujos tentáculos estão bem firmados nos partidos do Poder. E as empresas realmente privadas, que sobrevivem sem as benesses estatais, são não têm espaço para crescer nacionalmente pois outras o ocupam, gozando do proteccionismo estatal. Pensem nisso.
Mas adiante. De qualquer forma, como matriz de uma lei que protege os direitos do trabalhador (logo e sim, de índole marxista [como não podia deixar de ser considerando que Comunismo, Socialismo e Social Democracia são ideologias provenientes do Marxismo]), que tem uma certa lógica sendo que é o trabalhador (e isto inclui trabalhadores de colarinho branco e azul) também o contribuinte do estado, pelo menos impediu o Governo actual de criar mais não se sabe quantos novos desempregados sem, algo que até a nada democrática União Europeia consagra como essencial, justa causa, e sem direito a subsídio de desemprego nem nada.
Ficariam dessa forma mais desprotegidos os funcionários públicos que os do privado. Íamos do 8 ao 80. A constituição, shôr Passos Coelho, protege o empregado, não arranja emprego ao desempregado. Tal como o Estado, de um ponto de vista liberal (que se julgava ser o seu), não o faz. O Estado só tem de providenciar as condições para que esse emprego possa surgir. Como? Ora, NÃO asfixiando a economia aumentando os impostos tanto no Consumo como nos Rendimentos, ao mesmo tempo que promove a baixa de salários, que inexoravelmente leva a uma perda de poder de compra, seguida de uma baixa de comércio interno, que implica menos receitas fiscais. Ao fim de 2 anos ainda não percebeu? Ah espera, ele antes das eleições onde foi eleito até sabia isso, não era?!? Deve ter comido queijo...
Quanto ao Tribunal Constitucional (TC). Ora bem, o Tribunal Constitucional só serve para ver se as leis que o sr PM e o seu ilustre e demagogo séquito aprovam em Conselho de Ministros não infringem a Lei consagrada na Constituição. E a interpretação feita por esses juízes, nomeados por PSD e PS essencialmente, segue regras pré-estabelecidas sobre o qual vossa excelência não sabe puto, sendo tão ou mais leigo que eu nessa matéria. Não é uma interpretação livre e como dá jeito, como quando se lê um poema ou a Bíblia, ok?
Por fim de resto, a sua miserável estratégia de culpar o TC p'lo vindouro aumento de impostos que todos sabemos aí vir, convenientemente depois das Eleições Autárquicas (como disse o Ministro da Solidariedade muito solidário com os autarcas que quer eleger em coligações PSD-CDS por esse país fora "Não é momento de se subir impostos" [link para fonte]), é uma patranha que é preciso um completo vegetal mental para engolir. Se até a Ferreira Leite diz, com uma (in)característica sobriedade lógica, que mesmo que o TC tivesse aprovado a Mobilidade Especial, o senhor PM teria de esperar 1 ano (12 meses), segundo a lei que ele criou, antes de poder despedir fosse quem fosse. Sendo esse o caso, que é (basta ler o enunciado da Mobilidade Especial), como é que isso influência alguma coisa o Orçamento para 2014, visto que faltam menos de 4 meses para acabar 2013? Senhor Primeiro Ministro, "não" seja "piegas", sim?
Já agora, sabem em que artigo da Constituição Portuguesa vem estabelecido o Princípio da Igualdade que tanto tem levado o TC a contrariar o Governo?
Irónica coincidência, em Portugal também é o artigo 9 que está a ser alvejado pelo governo actual.
Mas voltando à pergunta do Passos Coelho, esquecendo as contradições do seu discurso aos zombies sem espírito crítico que o aplaudem enquanto frequentam a sua “universidade” de Verão laranjita, sequiosos de um futuro de “tachos” (e não me refiro na restauração que o seu IVA insiste em destruir), avanço uma resposta directa. Eu acho que a Constituição arranjou emprego a este cidadão, que nela se baseou para se negar a pagar impostos na base de que tinha a prioridade de alimentar os filhos:

Sou o único a achar estranho que o homem há meses desempregado, depois de sair nas notícias com tanto alarido, tenha arranjado emprego por outra razão? Se eu tivesse uma empresa e precisasse de um gestor criativo, não pensaria duas vezes a contratar este Matemático pela sua óbvia criatividade na resolução de problemas difíceis num contexto social e legal.
É possível pero no lo creyo que, ao fim de 2 anos, seja apenas coincidência acontecer quando sai nas notícias o seu, na minha opinião, espectacular gesto de cidadania pura! Portanto, senhor Pedro Passos Coelho, meu primeiro ministro no qual não votei, por qué no te callas?!? A Constituição arranjou emprego a 1 cidadão... quantos mandaste tu para o Desemprego? Quantos mais ainda para lá queres mandar?

Para terminar, é claro que o PM pode opinar sobre as decisões do TC, mas a opinião avançada por Passos Coelho só revela uma completa ignorância sobre as bases fundamentais de uma democracia tripartida, o que não deve ajudar nada (ou não deveria num país de jeito e com espírito crítico) ajudar a uma futura reeleição. De resto, é óbvio que a Constituição não é imune a alterações, não é um texto sagrado. Mas depois das trapalhices deste governo de Coligação com falta de cola e com um (In)Seguro a chefiar o PS, é mesmo este tipo de gente que queremos a mexer na nossa Constituição, enquanto são puxados cordelinhos de uma Troika que só quer baixar salários para competir com a China? Serão as alturas de crise as melhores para pensarmos friamente em que país queremos viver?
Eu posso avançar já 3 alterações:
1)      que se retire a protecção extra que há para quem momentaneamente ocupe o lugar de Presidente da República. Qualquer cidadão, se se sente injuriado pode levar outro a tribunal por isso e é uma questão de provar o seu caso. Que o momentâneo ocupante do posto de PR seja mais que os outros só me parece uma reminiscência dos tempos da Outra Senhora. Uma cláusula de não se questionar o Líder. Fuck that is what I say. “Quem quer respeito, dá-se ao respeito”, citando o meu povo e parafraseando George RR Martin “Quem tem de afirmar aos outros que é rei, não o é.”. Case & point, ninguém fez abaixos assinados para demitir o Sampaio ou o Eanes, mas eles também não disseram que eram solidários com o seu povo sofredor pois com 10 000 euros não conseguiam pagar despesas;
2)      estipular-se o número de ministérios que há, independentemente do governo que lá estiver e um número máximo razoável (veja-se o exemplo da Alemanha por exemplo) de adjuntos, secretários, acessores e motoristas que cada um possa ter, bem mais baixo que o actual, que cada governo possa nomear;
3)      copiarmos o artigo 9 japonês.
Aposto que o Partido do Estado não faria nenhuma destas alterações, particularmente aquela que lhes nega a possibilidade de darem os tachos que quiserem.
Olhando para o meu próprio raciocínio, começo eu próprio a perceber que o Artigo 9 dos Japoneses não tem nada de sonhador e tem muito mérito pragmático para além do mérito civilizacional (caso saibam inglês cliquem aqui para aprofundar o tópico). Não é abdicar do direito à autodefesa. Não se trata daquilo que eu considero uma parvoíce, como a completa e unilateral desmantelação de forças militares como quer o Bloco de Esquerda. Não é uma cláusula de não resistência perante a agressão, como o famoso “dar a outra face” de Cristo. É apenas a simples rejeição da violência como solução aceitável para crispações no plano internacional e sobretudo uma rejeição da noção de que fazer guerra deve ser considerado um direito soberano de uma nação.
Por outro lado, ao escrever este post, consolidei também aquilo que já antes achava, que a cura da Humanidade, a emancipação intelectual desta última, e a evolução da sua liberdade democrática estão ligadas inexoravelmente e totalmente dependentes de um dos pilares da nossa civilização: a Educação. Não nos esqueçamos nunca que o nicho evolutivo que nos permitir ascender como espécie dominante deste nosso berlinde azul foi a capacidade de aprender e raciocinar, conjugada com a partilha e contínua transmissão de conhecimentos de geração em geração. Durante milénios, os seres humanos tiveram uma esperança média de vida de cerca de 20 anos e pouco ou nenhum conhecimento passava, a não ser o mais básico. Não havia experiência acumulada, nem velhos ou outro meio para a reter. No plano civilizacional, é a educação que permite a inovação e é também chave da competitividade económica, por muito que vos queiram vender que essa advém apenas de baixar salários e gerar mão-de-obra escrava ou quasi-escrava.
Se entendermos que o artigo 9 da Constituição Japonesa é um artigo progressista e sem contradições pragmáticas (pois não impede a manutenção da segurança soberana do seu povo), é importante perceber que numa altura de grande tensão militar no Pacífico, devido às Coreias e às ilhas Senkaku, este artigo está em perigo de ser revogado, estando debaixo da mira do Partido Liberal Japonês, actualmente no poder. Um partido, que tal como o nosso, anda às avessas com a constituição pela qual jurou servir a sua pátria. No caso japonês, nota-se um enorme à vontade bélico do seu actual governo, sendo que foi um dos países que apoiou o ataque norte-americano à Síria sem antes terem sido esgotadas todas as opções. Felizmente, a Rússia e os EUA já concordaram nos termos que apresentarão ao Assad para este entregar o seu arsenal químico: http://www.publico.pt/mundo/noticia/eua-e-russia-chegam-a-acordo-para-eliminacao-de-armas-quimicas-na-siria-1605822. Pode ser que desta forma se evitem os bombardeamentos e a morte de mais civis inocentes, ao mesmo tento que se esfria a nova Guerra Fria entre a Federação Russa e os EUA.
No passado dia 9 de Agosto, decorreram 68 anos desde que as Bombas caíram sobre Nagasaki e Hiroshima. Os japoneses marcam sempre o dia dessa tragédia, para alguns totalmente desnecessária por parte dos americanos, que já tinham a guerra ganha nessa altura. Durante o ano, muitas vozes se elevaram em defesa do artigo 9, precisamente por se recordarem onde leva a mania da guerra. A estas juntam-se também acções populares anuais, como a Marcha pela Paz.
Este ano, a Marcha pela Paz começou com cerca de mil pessoas, entre as quais a activista filipina Malaya Fabros. A activista anti-nuclear produziu no seu blog (fonte) uma excelente introdução ao Gensuikyo (Conselho Japonês contra as Bombas Atómica e de Hidrogénio), à história da Marcha pela Paz, à velha estrada de Tokaido (no período Edo, era a via que ligava Tóquio e Quioto), mas também fala das culturas diversas do Japão por onde passa e fala do desejo de muitos japoneses de se quererem redimir pelas acções do seu país durante a Segunda Guerra Mundial, e claro não se esquece de mencionar os esforços para salvar o artigo 9 e as acções contra a tecnologia nuclear. Está em inglês e é óbvio que não posso traduzir tudo, mas continuando no tópico desta entrada, aprofundemos um pouco a Marcha da Paz.
Esta última começou em 1958, quando um monge de Hiroshima decidiu colocar os pés ao caminho e ir a Tóquio participar da Conferência Mundial. Pelo caminho, juntaram-se ao monge muitas pessoas que o acompanharam, e desde então, sem nunca falhar um ano, entre 6 de Maio e 4 de Agosto é realizada a Marcha pela Paz no Japão. Uma tradição bem mais bela e valorosa que qualquer peregrinação a Fátima ou Santiago de Compostela, para ir pedir favorezinhos ao ditador divino. Tem objectivos mais nobres e o seu sucesso não assenta em crendices mas sim na mudança das ideias e vontades humanas e terrenas.
Outros também participam desta luta, como o mestre do Anime, Hayao Miyazaki demonstrando o seu desagrado perante a posição do actual governo japonês perante o Artigo 9.
Este ano curiosa e ironicamente, de forma talvez nada inocente por parte dos organizadores, realiza-se em Novembro e no Japão, uma Conferência internacional chamada "Paz como uma Língua Global":
Por minha parte, não posso de momento e por razões económicas ir ao Japão participar da Marcha pela Paz nem tão pouco ir à Conferência supracitada, mas posso guerrear pela Paz no Mundo, não desejando-a meramente, de forma politicamente correcta e superficial como um qualquer estereótipo de miss num concurso de beleza, mas sim pensando, falando, e escrevendo sobre isso como estou a fazer. Mais, posso reforçar a ideia do horror da Guerra, não com as minhas fracas palavras, sem conhecimento de causa ou os laivos poéticos necessário para tal, mas sim com as poderosas palavras daqueles que me inspiram a aspirar ser escritor.
A Poesia de Guerra é essencial para a crítica a esse membro tão terrível dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse e é também, ao que parece, comum por todo o mundo. Do Japão, pela caneta de Mitsuyoshi Toge (link para a fonte em inglês), um poeta católico japonês de Hiroshima, surge “I Could Never Forget the Flash” (Nunca Pude Esquecer o Flash):

Eu nunca consegui esquecer aquele flash de luz,
Num momento, trinta mil pessoas deixaram de ser,
Os gritos de cinquenta mil mortos
No fundo de uma esmagadora escuridão;
Através de fumo amarelo que rodopiava para a luz,
Prédios dividem-se, pontes colapsam,
Eléctricos cheios ardidos enquanto rolavam
Por Hiroshima, todos cheios de montes ilimitados de brasas.
Logo depois, peles penduradas como trapos;
Com mãos sobre os peitos;
Calcorreiam sobre os cérebros destroçados;
Usando retalhos de pano queimado em torno das entranhas;
Vieram fileiras incontáveis de nus,
Todos a chorar.
Corpos no chão da parada, espalhados como estatuetas de Jizo atiradas ao desprezo;
Multidões em pilhas à margem dos rios, carregadas em jangadas amarradas à margem,
Transformados em cadáveres sobre o sol escaldante.
No meio de chamas atiradas contra o céu nocturno;
Ao largo da rua onde mãe e irmão estavam encurralados vivos debaixo da casa ruída,
A cheia de fogo prosseguiu.
Em camas de porcaria no chão do Arsenal,
Carradas, e Deus sabia quem eles eram…
Carradas de meninas de escola deitadas em recusa
De barriguitas saídas, zarolhas, como metade da sua pele arrancada por completo.
O sol brilhou e nada se mexeu,
A não ser as moscas zumbidoras nos alguidares metálicos
Fedendo com obscenidades estagnadas.
Como posso eu esquecer essa quietude
Prevalecendo contra uma cidade de trinta milhares?
No meio dessa calma,
Como posso eu esquecer os suplicares
De partidas mulheres e crianças
Através das suas órbitas oculares
Cortando através das nossas mentes e almas?


Ou escutando, Fernando Pessoa e “O Menino de sua Mãe”:

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado-
Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe.



E pela potente voz de Christopher Hitchens, surge o poema de Wilfred Owens, “Dulce et Decorum Est”:

Quando vi este vídeo do Hitch, e o ouvi recitar o poema, viajei de imediato à minha infância, quando um episódio em particular da série televisiva “As Crónicas do Jovem Indiana Jones” me deu pesadelos durante semanas. É que de certeza que quem escreveu a cena que se segue, conhecia bem este poema de Owen e foi por ele inspirado. Ora vejam:
E por fim, para aligeirar a tensão, a crítica poética mas satírica, pelas palavras e música de Tom Lehrer, em “Who’s Next?”:

Absorvam as palavras, imaginem as imagens. Para aqueles de nós que nunca pisaram o campo de batalha, que tiveram essa sorte de nunca o pisar, esta é a maneira mais próxima que temos de imaginar a sua horrenda realidade, salvo seja um filme bem feito e não apologético ou que não tente glorificar a guerra.
Peace out, my brothers and sisters, & in times of crisis keep safe your Constitutions ,\/n

P.P.S.: Tive de adicionar este vídeo do Ricardo Araújo Pereira à última da hora. É um seu comentário a um livro, cuja história se passa durante a Primeira Guerra Mundial, mas é um livro de humor. É uma outra reflexão sobre Guerra, Morte e Vida, de uma perspectiva cómico-satírica. Fiquei com vontade de ler o livro:
O Bom Soldado Švejk | FNAC Colombo 13.12.2012
P.P.P.S.: Mais uma pérola do Ricardo Araújo Pereira que aqui me parece pertinente citar:
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