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Cultura e Fazedores de Opinião Orwellianos

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Amigos, eis que chegou Outubro e cá venho eu dar-vos umas dicas culturais (algumas indicadas pela Embaixada do Japão, outras doutras fontes) em Portugal. Já agora, reservo-me ao direito de não dar aqui voz aos eventos cuja organização e/ou criador tenham adoptado o acordo ortográfico de 1990 (AO90). Mas do AO90 falarei mais e em extensão ainda este mês, mas num post a ele dedicado.
Por outro lado, venho também alertar para os fazedores de opinião e como exemplos vou usar o fenómeno (social) reality show da TVI, que faz em 2013 13 anos e do professor Marcelo Rebelo de Sousa e outros comentadores da actualidade.
Portanto, tiremos da frente as chamadas de atenção culturais para depois nos dedicarmos inteiramente ao proverbial “elefante na sala”.
No Porto:
Em Lisboa:
Relembrar a Exposição Sou Fujimoto em Belém:
Em Lisboa também, quero realçar e referir a Exposição "Mais Menos", que é uma prodigiosa crítica ao Capitalismo desenfreado que ataca a nossa Sociedade Global. Eu não vou faltar. Mais informações nos links abaixo:

Local: Rua Fernando Palha, Armazém nº56 - Marvila - Lisboa

ATENÇÃO: ESTA EXPOSIÇÃO TERMINA ESTE SÁBADO DIA 12 DE OUTUBRO. Desculpem não avisar mais cedo, mas também só descobri ontem.

Site oficial: http://maismenos.net/




Portanto, quanto aos reality shows, particularmente os do género Big Brother (nos quais se engloba Secret Story), o que vos tenho a dizer é que o nome original é o apropriado, pois este género de programas não são só Orwellianos no facto dos “concorrentes” (e coloco entre aspas essa palavra porque estes programas NÃO são um Jogo, e já explico porquê) serem gravados 24 horas por dia, à excepção da retrete, onde são no máximo vigiados, mas também porque a Endemol e a TVI fazem uma campanha de desinformação e edição da realidade como bem entendem para, ignorando o que realmente se passa na Casa, passarem para o público do programa a história que a produção deste último vai guionizando. Poderão vocês perguntar: mas então todos os concorrentes são actores a desempenhar um papel? Não será isso impossível considerando o tempo que demora? Não teriam de ser actores incríveis para aguentar um papel 3 meses?
Bem, se fosse necessário, sim. Mas a verdade é que é facílimo editar imagens e som para com um filme fazer outro. Quantas vezes não sai uma versão dum filme para o cinema, depois uma versão diferente em DVD (algumas em que o sentido da história muda por completo, no caso do "Blade Runner" por exemplo) e ainda um directors cut? Portanto, enfiam-se 20 marmanjo(a)s numa casa com câmaras, onde a única regra é que a Voz é soberana e onde o jogo consiste em mentir aos restantes para não descobrirem um segredo, enquanto cumprem missões secretas (os outros também não podem saber-te em missão) mandadas pela Voz. Essas missões fazem com que os concorrentes tenham atitudes e acções que normalmente não teriam, ficando estas gravadas e fora de contexto, sendo que o contexto pode ou não ser transmitido à audiência que vê o programa. Relembro que na emissão quasi-não editada, porque a produção cala microfones de concorrentes e ou muda de cena conforme lhes dá jeito no canal 13 do Meo, nunca vemos os concorrentes no confessionário. Portanto, quem acompanha na Zon ou por TDT nem sabe da missa a metade. Considerando que são as imagens que chegam à generalidade da população que formam o maior número das opiniões, até porque ver aquilo em directo é tão maçador quanto qualquer outra novela da TVI, e considerando também que se isto fosse mesmo um Jogo seria ganho pela popularidade, conclui-se que se a produção edita as imagens para escrever a novela “da vida real” que quer está a minar ou a favorecer a popularidade deste ou daquela “concorrente” e como tal a viciar as suas hipóteses de ganhar. Passa-se o mesmo na política e lá chegaremos. Mais, o facto dos participantes não serem actores, só faz com que as suas reacções sejam mais genuínas, o que é melhor que lá meter bons actores que pela fadiga desmascarem o programa ou maus actores que se veja logo estarem a fingir.
Qual o interesse, diriam vocês? O dinheiro que muitos patetas gastam de telemóvel a votar neste ou naquela participante.
Ainda quanto aos reality shows, vou dar uns exemplos deste que agora decorre na TVI/Meo.

Primeiro exemplo: esta semana houve uma prova qualquer em que um “concorrente”, que é pai e tem lá a mãe da sua filha a participar também, chamemos-lhe T, recebeu um telefonema da Voz que o mandou dar um beijo a uma concorrente na boca. Eu vi a cena ao lado da minha mãe, em directo e não editado no Meo. Claramente o gajo virou-se para uma concorrente muito vivaça pequenita, chamemos-lhe J, e disse “Queres-me dar um beijo?” mas o beijo não aconteceu e passado algum tempo ele disse para as mulheres que lá estavam “Quem me quer dar um beijo?” e outra concorrente bem alta, chamemos-lhe D, saltou enérgica do sofá e aceitou com agrado o desafio. Mais tarde, a ferida mãe da filha do gajo em questão disse que essa rapariga parecia que tinha um foguete no cu para o beijar, enquanto que a D afirma que foi directamente convidada a isso. No compacto da TVI generalista, ouvimos o T dizer “Queres-me dar um beijo?” mas não se vê a quem ele o diz, não ouvimos a segunda pergunta feita a qualquer mulher que está na sala, e vemos a D a aceitar o desafio. Ora isto é uma edição de imagem e som para reescrever os acontecimentos na Casa e formar a opinião, tornando “verdade” uma das versões de uma das participantes em detrimento da outra, que surge como alguém que está iludida com a realidade por questões amorosas. No 1984 de Orwell, que hoje anda muito no meu pensamento, havia um ministério inteiro (onde trabalha a personagem principal do filme) que se ocupava de reeditar e voltar a emitir livros de história e até jornais de forma a reescrever a história de acordo com as “verdades” do governo central, personalizado no Grande Irmão.
Segundo exemplo: referindo-me ao facto de eles até editarem o que nós vemos no Meo, por exemplo quando a conversa não lhes agrada eles prontamente mudam as cenas. Conversas explícitas sobre sexo ou quando os concorrentes afirmam que andam a partilhar medicação, sem aconselhamento de médicos, dentro da casa para poderem dormir, a Produção muda logo de micros e local da casa a ser mostrado.
Só para reforçar a ideia de porque é que não é um jogo, não há nenhum jogo ( que eu conheça) em que não haja regras excepto obedecer ao mestre. Talvez ele exista na Coreia do Norte (estado Orwelliano tornado realidade) ou numa relação Sado-maso.
Uma última nota sobre o reality show actual da TVI. Ora eu vi o BB1 e fui das pessoas que curtia o Marco Borges, participante que por ter agredido outro saiu da casa (embora o tivessem tentado convencer a ficar). Depois disso o Marco surgiu aqui e ali, em programas de rir, como por exemplo um que parodiava o Big Brother onde Ricardo Araújo Pereira encarnou D. Afonso Henriques, com o célebre “Vamos andar à porrada!”. Achei uma certa piada que o irmão do Marco, o Aníbal, entrasse agora na casa. Essa piada morreu ao fim do primeiro dia. O que o Aníbal está a fazer, não sei se por autoria própria se por desejo da produção (se por ambos), é assumir um comportamento de um tirano. O Salazar também não queria confusão nas ruas, queria paz e sossego, e a PIDE impunha-a. O Aníbal faz isso também e sozinho, mas num mundo de 20 pessoas e um Deus (a Voz), única autoridade acima de Aníbal. Na Coreia do Norte, também uma ditadura de cariz militar, acreditam ou fazem o seu povo acreditar que o Pai morreu e lidera do Céu, enquanto já renasceu no Filho que lidera o exército na Terra. Estão a 1 passo duma santa Trindade, e na Casa dos Segredos, Aníbal e a Voz fazem esse duo dinâmico. Até têm Mandamentos da Voz e parece-me que o Aníbal está desejoso para ser o Papa, senão o Messias!
Depois, o Aníbal vem com uns discursos moralistas incríveis (como se não tivesse 37 anos mas sim 1000. É que até podia ser eterno e um Deus, eu não reconheço autoridade a ninguém excepto mediante argumentos válidos e não apenas de autoridade, sobre a minha pessoa) e uma incrível falta de humildade, sob uma máscara, que só engana tolos, de uma pessoa extremamente humilde. Diz aos outros que tratem as raparigas da Casa como irmãs, “porque elas têm família em casa”, e depois diz a uma que ela é má pessoa (não dizendo mais nada, mas depois justificando essa afirmação com o facto da pessoa ser fútil. Posso ser só eu, mas acho que ser-se fútil não implica ser-se uma má pessoa) esquecendo-se que a família dela está a ver aquilo, e diz a outra para enfiar as palavras dela no cu enquanto lhe chama 3 coisas, uma delas sendo egoísta, criando um péssimo mau ambiente num espaço fechado, que a rapariguinha bem mais nova que ele teve o juízo de não alimentar e que depois, pelo diálogo, fez com que Aníbal tivesse de perceber que errou. Perante os outros, Aníbal justificou-se alegando que nem se lembra do que disse, mas “que foi de coração”. Faz-me lembrar o Passos Coelho e os dessa laia. Mais uma vez se esqueceu que a rapariga em questão tem família em casa e não vai gostar de ouvir aquilo, mas que importa isso? Foi de coração. Usa e abusa da idade como patente militar e procura instalar na casa uma ditadura militar. Quem quer que seja que não concorde com ele, e com ou sem tomates, lhe tenha a audácia de dizer, tem-no como inimigo. Exemplo, ainda na noite em que foi nomeado, disse a um companheiro que quem o tinha nomeado acabara de lhe facilitar a vida (id est, já tem quem nomear se lá ficar). Outro exemplo: ainda à coisa de umas horas, o ouvi dizer a outros dois participantes que se eles se queriam zangar com ele (e é ele quem está sempre a criticá-los e a deitá-los a baixo porque eles não entram na linha como os outros e, coincidência das coincidências, estão nomeados com ele esta semana), que se fechavam os três no quarto e a coisa resolvia-se rapidinho. “Até podem vir os dois”, disse-o ele, todo macho. Pudera, um homem de 37 anos, praticante de artes marciais, treinado nos fuzileiros, a desafiar dois putos, um dos quais que aparente ter um parafuso a menos. Tanta coragem. Quando um desses dois interpelados perguntou e muito bem “Resolvia-se como?”, ele não respondeu mais que “Resolvia-se logo”. O rapaz insistiu e foi directo, perguntando “Pois, mas como? À porrada?”, não foi o Aníbal quem disse que não (pois fora exactamente essa a intenção das suas palavras, qualquer tanso que as ouvia o perceberia, até a Voz que disse ao nesse momento, “Moderem o Tom de Voz”) mas sim o T, que mais parece o Terrier do Ditador, dizendo “Achas que era à porrada?, era a falar!” ao que o outro rapaz que acabara de ser ameaçado questionou “Então porque é que tínhamos de estar fechados no quarto?”. Acrescento ainda que o Aníbal contradiz-se com a mesma facilidade que Passos Coelho, dizendo que não liga a bens materiais, para mais tarde dizer que prefere não comer marisco a comer miolo de camarão, para o senhor imaterial só camarão do bom. Diz à Voz, quando esta multou os participantes por dizerem asneiras, que achava muito bem mas que a coima devia ser maior e ele é o maior brejeiro naquela Casa. O Aníbal contudo confessa-se várias vezes ali um homem frustrado, acho que ele isso não precisa de dizer sequer, nota-se! Quanto aos outros, assinaram o contrato para serem escravos da Voz, amanhem-se e aturem-no que eu não tinha estômago. Odeio ditadores e não aceito tons paternalistas de ninguém, sabendo eu que tanto posso aprender com crianças como com adultos, é apenas uma questão de manter os sentidos despertos e não me armar em superior. O Aníbal, e por isso disse que ele tem falsa modéstia, impera naquela casa como o dono da verdade, com um único argumento (que é de autoridade) baseado no facto de ser mais velho e “de ter quilómetros naquele corpo”, parafraseio, impondo o seu regime autoritário e sendo o primeiro a desrespeitar os seus próprios conselhos. Diz que adora ler, mas só lhe ouço sair da boca sabedoria de cartomante feirante ou de horóscopo e violência glorificada. Quando os meus pais tinham um café, ouvi milhões de vezes as histórias que ele conta naquela casa, por outras bocas e mudando os cenários e intervenientes, contadas no mesmo tom de soberba, geralmente por pessoas frustradas com a vida e/ou ébrias, mas com a mesma retórica que ele usa. E diz ele que quer instigar espírito de grupo, sendo ele o primeiro a ser sectário à lá Bush “se não estão comigo, estão contra mim.” Comportamento normal em alguém que diz adorar ler, mas depois diz que o terramoto em Lisboa foi em 1975, ao lhe ser dito que estava errado, ele recíproca “E o 25 de Abril foi o quê, Voz?” (alegando talvez que nessa data foram abaladas as fundações do estado), mas é de relembrar o nosso militar na reserva, que o golpe de estado do MFA foi em ’74. Disse ainda hoje que, 2 adividir por 2 é 0. Não sei que livros ele anda a ler, mas largue os de auto-ajuda e conselhos pesudo-budistas, e pegue em livros de História e Matemática que lhe farão melhor. Até porque ele está sempre a dizer aos outros para andarem na paz e no amor, mas está constantemente tenso, nervoso e agressivo, sendo que algumas das “concorrentes” expressaram já ter medo que ele se passe. É o proverbial, olha ao que eu digo e não ao que eu faço. Hipocrisia a ser apresentada com sabedoria. O verdadeiro líder, lidera pelo exemplo, e “palavras são vento”, como diria RR Martin.
A minha mãe, que se isso importa tem mais de 50 anos (parece importar ao Aníbal), está tão desiludida e enojada com o desempenho e personalidade dele (ela ainda gostava mais do Marco que eu) que queria ir votar para ele sair. Tive de a recordar que aqueles votos não contam para nada, que noutra edição da Casa dos Segredos um concorrente que já tinha saído perguntou à pivot “Porque é que a claque da pessoa que sai a cada semana é sempre colocada naquela bancada no início do programa?”, coisa que eu já tinha reparado, e no programa seguinte já não se verificou. Ora no início do programa supostamente ainda não acabaram as votações, lembram-se? Aquilo é dinheiro fácil, que se junta ao que ganham da publicidade, sendo que não há forma de um cidadão comum verificar ou recontar os votos, porque para isso precisaria de uma autorização de tribunal para ver todas as chamadas recebidas naquela semana para aqueles números. O totoloto tinha um Júri a assegurar os procedimentos e apareceu lá a bola 0, quando este algarismo não existia nos talões. Eis o tesourinho deprimente:
Agora estas votações que nem são controladas por ninguém, que garantias têm de que influenciem algo mais que a carteira da TVI e da Endemol? “Os portugueses são soberanos”, repetem eles incessantemente, nos muitos espaços de opinião que a TVI tem, com comentadores das revistas cor-de-rosa e ex-participantes onde reforçam as opiniões que a Produção quem gerar na sua audiência. Dá-me vontade de rir... isto porque não sou de chorar. Repare-se, a título de exemplo, desta bronca percentual que surgiu num programa que tem um funcionamento semelhante aos Reallity Shows à lá Big Brother em termos das votações por telefone:
No programa anterior, o chamado Big Brother Vips, no qual ainda hoje não percebo porque usaram VIP e não famosos (é que não vi lá uma única Very Important Person), em que entrou o Zezé Camarinha, alguém na primeira semana, das concorrentes, disse: “O Zezé tem contrato para cá estar 5 semanas.” Eis que o Zezé saiu à quinta semana. Mas o que vale é que isto não está já programado e que “os portugueses são soberanos”. Se a minha mãe, com os seus 50 e tal anos, com o 12º ano de escolaridade, se deixa envolver emocionalmente tanto pelo programa ao ponto de cair na ilusão, num impulso emocional, para querer gastar dinheiro nisto, esquecendo-se da conclusão a que também ela já chegara de que, pelo menos, neste caso os portugueses NÃO são soberanos, como não hão-de ser levados as muitas espectadoras e espectadores da TVI que abordam actrizes na rua criticando-as pelos comportamentos e atitudes das suas personagens como se actores e a personagem que desempenham fossem a mesma pessoa não cair no logro? E os miúdos, os putos e pitas que vêem o programa?
Não estou a dizer que se cancele ou proíba Big Brothers e afins, não faço parte do PSD (tabaco) ou do BE (touradas), apenas quero alertar os espectadores dos programas para que saibam uma simples e incontornável verdade, o objectivo desses programas é controlar não os participantes do mesmo, mas sim a sua audiência para vende publicidade, ganhar share e levá-los a votar duma assentada. Considerando que a Casa já lá está há 13 anos, que as mudanças decorativas e a comida estão a cargo do IKEA e do Intermarché, em termos de modelo de negócios, este programa é o sonho molhado de um capitalista. Ah, esqueci-me da mão-de-obra barata providenciada por um país em que os Chico-espertos é que são os maiores e que muita gente está disposta a dar “o cu e 10 tostões” para ser famoso... nem que seja apenas por 15 minutos. E por isso vendem a sua liberdade e privacidade potencialmente por 1 ano à Endemol. Uma coisa concedo a Miguel Sousa Tavares, creio não estar em erro que ele disse algo nestas linhas, os reallity shows trazem ao de cima o que de pior há no ser humano. Se não foi ele que o disse, alguém disse e eu concordo com a afirmação.

Transportando esta temática para a Política, onde esta desinformação é muito mais perigosa, embora e precisamente, por ser mais subtil. Tomemos dois casos concretos: a última opinião do prof Marcelo na TVI e uma das críticas apontadas e bem por José Diogo Quintela ao Miguel Sousa Tavares.
O professor Marcelo, em rescaldo das Autárquicas, na passada segunda-feira afirmou que a vitória de António Costa fora tão esmagadora pois conseguira entrar no eleitorado do PSD, do BE e da CDU. Ora, eu não sei onde é que o professor foi saber esses resultados, mas de facto a CDU subiu em número de votos face a 2009 a nível Nacional em geral e em particular em Lisboa, logo é impossível que o Costa tenha entrado no seu eleitorado. Isto cheira-me a “nhufa” dos vermelhos... ou será encarnados, professor? Pequena provocação, não leve a mal, professor.
A imagem é retirada do Correio da Manhã do dia 1 de Outubro e uso essa fonte porque é precisamente um jornal bem à direita na sua retórica editorial. Mas para ter mais que uma fonte, fui também buscar os resultados do Expresso:
Mas esta desinformação, e é de notar-se que o professor Marcelo não é homem mal informado ou de falar de cor (excepto quando faz previsões), é expectável. O quanto eu não me admirei de na altura antes e depois da Campanha Eleitoral das Autárquicas, as televisões SIC e TVI, tipicamente com visões de direita (reparem quem convidam para comentar a política assiduamente), darem tanto tempo de antena ao Jerónimo de Sousa, chegando ao inédito de passarem na integra os discursos da festa do Avante! e tudo. Um teórico da conspiração assumiria uma de duas posições: ou até os da direita estão fartos deste governo, mesmo no privado; ou alguém decidiu jogar os dados para ver se o PCP consegui impedir a vitória histórica do PS (expectável na medida em que já não passamos tão mal neste país desde o Estado Novo). Mas agora que se tentou essa jogada, a reacção tem de ser célere, não vão os vermelhos crescer para lá da conta. Entra Marcelo Rebelo de Sousa, o único comentador que não usa o argumento da cassete e que até diz que o PCP e muito inteligente na forma de agir e de não atentar contra o Presidente da República, etc..., desvalorizando a pequena vitória comunista simplesmente não falando dela (na segunda-feira – podem ver o vídeo no site da TVI) e quando fala de passagem na CDU, mete-a com as restantes forças derrotadas, distorcendo a realidade, como comprovado pela imagem acima em conjunção com as palavras do professor. Nem tão pouco o professor Marcelo dá a entender que a esmagadora maioria de António Costa se deve à abstenção. António Costa tem uma maioria absoluta duma minoria que se decidiu a votar. Não acreditem em mim, pesquisem os valores da abstenção do eleitorado alfacinha e percebam isso por vocês mesmos. A CDU foi o único dos 5 partidos da Assembleia da República que subiu o número de votos face a 2009, quer em Lisboa, quer a nível nacional, como demonstram os dados do Expresso e Correio da Manhã (duvidem, e vão em busca doutras fontes):
Dois factos importantes numa análise digna de um politólogo como o Professor Marcelo que são convenientemente deixadas de parte para, digam comigo, nos moldar a opinião.
O caso Miguel Sousa Tavares versus José Diogo Quintela é menos patente, mas demonstra bem o pensamento dos intelectuais da direita que comentam a actualidade socioeconómica portuguesa, como é o do MST. José Diogo Quintela apanhou-o em falso a criticar (e bem) todos os gestores banqueiros deste país por nome, exceptuando um que só por acaso é seu compadre. Vejam imagem abaixo:
Em resposta, MST afirmou sem sequer fundamentar que José Diogo Quintela é um verme que vive à sombra de Ricardo Araújo Pereira e que agora quer usar o próprio MST para se promover, enquanto diz que a sua (de MST) boa educação não lhe permite criticar a família em praça pública. Já a família dos outros que se foda... quem é que isto me faz lembrar? Ah sim, a cultura dos compadrios e jobs e business for the boys que reina na e destrói a nossa nação. Reparem que o MST ao fomentar más opiniões dos concorrentes do seu compadre, enquanto deixa este último intocado, está a favorecer o seu familiar por lei (usando a expressão americana) na opinião pública. Mas o MST é bem capaz de dizer mal de outros que façam o mesmo. Viva a boa educação, tão bela desculpa.
Mas podem vocês dizer: “Mas, Alex, tu já aqui citaste o MST, concordando com ele! Critícá-lo agora não enfraquece os teus argumentos de então?” Ao que a minha resposta é simples. Não, não enfraquece, porque eu ao formar a minha opinião ouço o máximo de opiniões possíveis, penso em todos os argumentos que ouvi, peso o mérito de cada argumento baseando-me no argumento em si (com o auxílio da lógica e dos meus valores pessoais) e não em quem o teceu, e depois então crio a minha opinião, que nunca é suprema e está sempre inacabada e passível de ser alterada ou abandonada ou quiçá reforçada, por argumentos que entretanto surjam e que eu não levara em conta inicialmente. Isto para recordar que o argumento de autoridade, do género “aquele é doutor nalguma coisa logo a opinião dele vale mais que a minha“, não tem valor algum, pois um argumento, uma opinião, vale pelo seu próprio mérito (rigor lógico, premissas e fundamentos) ou falta dele e não por quem a diz. Não comam então a papinha dos jornais, dos fazedores de opinião, vivam (e uso agora uma metáfora cinematográfica) fora da Matrix. Pensem por vocês mesmos. Custa mais, envolve mais pesquisa, mais debate, mais interesse, dá mais trabalho, mas permite-vos escapar às amarras que leva tanta gente a votar desta forma porque o padre assim aconselhou o rebanho (estou a ser literal, aconteceu na Meia Via, concelho de Torres Novas, distrito de Santarém, em prole do PS) ou só é voto válido se for ou no PS ou no PSD. O primeiro passo para sermos livres é sermos livres na nossa própria mente, daí ter trazido a Matrix à baila.

Quero só realçar que, desto modo e sem qualquer embaraço, admito que vejo programas tão estapafúrdios e embrutecidos como estes (i)reallity shows, tal como ouço o Marcelo, o MST, leio o Público e vejo séries e filmes. Pode-se aprender algo ou retirar algo de valor da fonte mais inesperada. Não sou adepto da atitude de intelectuais demasiados cheios de si mesmos e que gostam de se dar a ares de elitistas... tipo o MST. E se agora vejo menos TV, é porque tenho a net, não quis comprar tdt nem gastar dinheiro em serviços de TV e porque a maioria dos canais tem AO90 que me dá asco. Vejo todas essas coisas porque vão fazendo parte, para bem ou mal, da sociedade na qual me insiro e a única forma de me precaver ou salvaguardar dessas coisas é conhecê-las o melhor possível, procurando sempre o que há nas entrelinhas e nos bastidores, porque a superfície tende sempre a ter o verniz da hipocrisia social. Como é dito por um excelente actor inglês no filme “A Knight’s Tale”, e parafraseio: “Toda a actividade humana está inserida no escopo do artista... mas talvez não a tua.”
Voltamos a falar em breve e estou aqui disposto a entrar em diálogo convosco, desde que tenham argumentos de jeito, bem fundamentados, e que não se rebaixem ao insulto fácil, como naquela instância, com o Quintela, fez o MST.
De minha parte, “É tudo... por agora!” ;)

P.P.S.: Acabo de ouvir no Compacto de hoje na TVI que o Aníbal é uma homem duma cultura extraordinária!! Ainda gostava de ver a gravação completa de todas as intervenções que a Marta fez na rua, é que me cheira que há daquelas edições tipo quando querem dizer que os estudantes portugueses são os mais burros e só escolhem os piores exemplos de todos os gravados para comprovar a sua tese, em detrimento da realidade. Este último exemplo é concretizado nesta reportagem da Sábado, a qual diz que entrevistou 100 alunos universitários em Lisboa. Ora 100 alunos dificilmente são uma amostra populacional que possa representar as dezenas ou centenas de milhares de alunos universitários que estudam em Lisboa. Fora isso, é-nos mostrado uma peça de 6 minutos, em que não vemos mais de 10 pessoas. Mesmo que isso provasse alguma coisa, se 6 minutos mostram 10 pessoas, seria preciso no mínimo um vídeo de 600 minutos para mostrar os 100 entrevistados. Que aconteceu aos 90% dos entrevistados? Talvez tenham acertado?
Nas entrevistas que a Marta faz às portas do Colombo, decerto que ou as pessoínhas não estão ocorrentes, pois assim escolheu a TVI e a Endemol, que o homem não sabe dividir 2 por 2 e que acha que 1975 um terramoto destruiu Lisboa (Sem dúvida, um pilar cultural!!); ou pura e simplesmente a sapiência de feira é tudo. O que explicaria vivermos no país de Passos Coelho e de Sócrates, de Cavaco e Soares!!
Prevejo que a Produção vai poupar o Aníbal e meter o tanso do Rúben para fora da casa, uma vez que o tal Bruno é o único naquela casa que calmamente faz frente ao Aníbal e não tem ar de ter uma deficiência mental. Prevejo igualmente que após se achar na mó de cima, o Aníbal vai, qual Saddam Houssein reforçar o seu poder e tornar-se ainda mais irascível e controlador.
A minha mãe está lixada da vida, pois percebeu qual a intenção da Produção. Ela acha que sai o Bruno, pelo que ouviu lá os fazedores de opinião residentes dizer. Eu passado um certo ponto já não tenho pachorra para continuar a ver idiotices.
É aqui que eu deixo de ver o SS 4 (até a abreviação faz lembrar o período negro entre 1939 e 1945! Sabes a que me refiro, ó grande homem da cultura Aníbal Borges?), porque já me basta existir a Coreia. Ai Fausto, ensina a este povo no que dá assinar contratos com o diabo!
Obrigado TVI pelo case study.

Info Sociocultural I

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Bom, isto é a inauguração de uma nova rubrica aqui do blogue. Como é hábito aqui colocar informações sobre eventos culturais, sendo que alguns desses eventos ou são políticos ou têm conotações políticas, e porque cada vez que o faço tenho a chatice de arranjar um novo título para esses posts, agora passam todos a ter o mesmo nome (Info Sociocultural), mudando o número, que seguirá em numeração romana só porque sim.

Temos uma novidade quentinha cortesia da Embaixada do Japão, relativa a concertos musicais do grupo japonês Shinichi Kinoshita. Deixo-vos então com as informações pertinentes que a embaixada japonesa me enviou:

Para o pessoal que vive no Japão, o Festival do Fogo em Kurana realizar-se-á a 22 de Outubro, segundo a página facebook do Kyoto Journal. Eu gosto muito de ver labaredas a dançarem embaladas pelo vento e as sombras que elas geram, seja num grelhador de churrascos seja numa lareira, por isso caso pudesse lá iria. Eis um vídeo exemplificativo:

O meu amigo Ricardo, também ele contra o Acordo Ortográfico de 1990, postou este link no Facebook com a achega irónica que vêem na imagem acima. Facilmente se vê a hipocrisia de um (des)acordo que insistem em defender mas não sabem aplicar e que só veio apagar mais da nossa identidade cultural e de acabar com qualquer regra ortográfica que existisse em Portugal, pois agora vale tudo!! Assim comprovam as imagens que se seguem.


Passamos agora aos eventos mais politizados. Temos pela frente, este mês e a começar já no próximo sábado, duas acções de protesto. As razões que as, na minha opinião, justificam e fundamentam estão resumidas nas imagens abaixo, onde se procura explicitar que, à semelhança do que aconteceu quando Passos prometeu um novo rumo quando queria tirar o poleiro do Sócrates e ganhas as eleições seguiu a mesmíssima política, acontece agora com as promessas de Portas dum “novo ciclo”, referindo-se já aos dois primeiros anos do governo em que o democrata cristão pertence. As mentiras continuam, mas o argumento mais esmagador é que estes cortes nada mais fazem que afundar a nossa economia (o que dela resta) e deixar-nos mais nas mãos da União Europeia. É que para que os despedimentos no sector público fossem motivadores de mais produtividade, mesmo aos olhos de economistas de direita, seria necessário que o sector privado estivesse apto a investir, expandir-se, de forma a absorvê-los, para evitar pagamentos de subsídios de desemprego, aumentar exportações e receitas fiscais. Tal não acontece em Portugal, e por isso mesmo temos a já cliché “espiral recessiva”. Mais ainda, até o Marcelo Rebelo de Sousa, o advogado residente na TVI do PSD, ache que a Troika fechou os olhos na 7ª e 8ª avaliações, sabendo que nós não vamos cumprir os objectivos mais uma vez, porque já há instabilidade que chegue por essa Europa fora para também perderem o controlo de Portugal.
Ou seja, este orçamento “para Troika ver” não resolve nada, para além de continuar a ser predador para com os mais fracos.
A EDP prometeu logo atirar com a sua sobretaxa para as costas dos consumidores, a GALP vai para tribunal. Há ainda a inconstitucionalidade das medidas, que o Tribunal Constitucional terá de avaliar e provavelmente vetar, o que abrirá caminho ao Passos das Portas para arranjar o tal “capital político” para poder fazer o que ele já quer desde quando estava na oposição e herdou o lugar já tão conspurcado de Sá Carneiro: uma revisão constitucional segundo a perspectiva liberal imposta pela Alemanha e necessária à sobrevivência dessa armadilha chamada Euro.
A 26 de Outubro, vai-se realizar uma manifestação do Movimento “Que se lixe a Troika”, projectada a nível nacional. Permita a minha vida e a ela me juntarei em Lisboa. Não tanto pelo carácter revolucionário (??) da coisa, mas antes por duas outras razões: sou solidário com movimentos que sejam contra mais perda de soberania (exceptuando movimentos nacionalistas, há que saber distinguir as coisas) e gosto de ver e sentir por mim mesmo. Já dizia Christopher Hitchens que fora para jornalista para não ter de saber as notícias através dos jornalistas. Este era o homem que lia o New York Times apenas para saber o que a maioria pensava que estava a acontecer. Smart, to say the least!
Já no próximo fim-de-semana, vai haver a manifestação da CGTP.
Sobre esta vou alargar-me um pouco, pelo grande alarido que sobre ela se tem feito. Decidiram fazer a manifestação sobre a Ponte 25 de Abril, e os Laranginhas tremeram perante os sindicalizados dos Vermelhos, pois aparentemente foi na sequência duma acção semelhante que o governo de que era Primeiro-Ministro o actual Presidente da República caiu. Levantou-se então a polémica, em que alguém decidiu lançar um parecer contra a realização da manifestação naquele local devido ao potencial risco para os manifestantes. A CGTP contra-atacou que lá se fazem maratonas. Almoços de feijoada e piqueniques, mas insistem os alarmistas da segurança que “uma manifestação é diferente, porque as pessoas vão com outro espírito e porque, embora a CGTP seja mui conscienciosa e bem organizada”, reconhecem todos, “poderão haver infiltrados que promovam distúrbios e as autoridades não terão como controlar o pânico e evitar feridos e afins” – parafraseio o argumento tal como o ouvi em vários programas. A CGTP foi falar com o Ministro Miguel Macedo (cujo olhar e maneirismos me dão calafrios, então aquele bitaite sobre formigas e cigarras... ui!!), e procuram um compromisso. Deixar faixas de rodagem abertas para a circulação de veículos de emergência ou das autoridades. O Ministro no entanto e ainda assim, vetou a manifestação. A CGTP não se ficou e, seguindo à letra os argumentos (estúpidos) que diziam que aquela ponte não era para peões mas sim para veículos motorizados, organizou uma frota de, até há hora do jornal da noite de hoje, trezentos (300) e muitos autocarros e vai carregar sobre a ponte, vinda das duas margens do Tejo, para fazer um brutal buzinão sobre a Ponte de Salazar... uops, 25 de Abril. Aliás, os camaradas, a quem eu por isso saúdo, adoram pisar os monumentos deixados pelo Velho da Outra Senhora, como o fazem muitas vezes na Fonte Luminosa por ele inaugurada. E já que falamos do tempos idos, sou o único que se lembra do Marquês de Pombal e da célebre carroça de terra das suas propriedades? É o que me faz lembrar este episódio!
No meio disto tudo, e pelas imagens acima já poderão ter reparado, o Movimento dos Indignados convergiu “sobre” a Ponte 25 de Abril. Então quando a CGTP decidiu não ir contra a autoridade vigente/reinante (mesmo que a lei em questão seja debatível – o direito à manifestação contra o direito à segurança [sendo que hoje em dia há bombas em maratonas e que o direito à segurança não impede que o cidadão coloque a sua vida em risco, ou então sempre que alguém faz um desporto radical lá teria de estar um agente da autoridade para o impedir!!]), optando por uma airosa e inteligente (especialmente barulhenta e “blindada”) solução, os Indignados indignaram-se descarregando a sua (in)justa indignação sobre o camarada Arménio Carlos, rosto actual da CGTP. Ora vide imagem abaixo:
Os comentários nesta imagem tinham várias posições, algumas a favor da CGTP, algumas muito belicosas mas oriundas de sofá. Aquele tipo de cidadão que durante o Estado Novo desejava a Revolução, mas que esperava que os Comunas ou outros a fizessem, acabando num aplauso orgásmico ao MFA, para depois acabar a amaldiçoar o PREC e a votar PS(D) – CDS. Falavam de ir buscar cocktails Molotov e declaravam “estes sindicatos já não representam ninguém”. Entre todos os comentários, ninguém se manifestava contra a decisão da Inter-Sindical ao mesmo tempo que se identificava como seu sindicalizado. Ou seja, comentários como o dos cocktails de Molotov e as pedradas nos escudos do Corpo de Intervenção após a última manif da CGTP levado a cabo pelos tais “infiltrados” encapuçados, são as atitudes e opiniões que dão força aos pseudo argumentos que foram usados para reprimir a marcha sobre a ponte e os que dizem que os sindicatos já não representam ninguém NÃO ESTÃO NELES SINDICALIZADOS! A indignação não pensada ou instrumentalizada não tem força nenhuma e cai no ridículo de pensar que uma central sindical tem de fazer manifestações fora-da-lei para agradar a pessoas que nela não estão inscritas e como tal é normal que não seja essas que a instituição procure representar.
Os Indignados falharam ainda em perceber que durante uma semana se falou de CGTP na televisão. Que pessoas da Direita tiveram de repetidamente dizer que a CGTP tem uma organização fabulosa (mas ai os infiltrados!!) e um papel importantíssimo na coesão social. Pedro Mexia, que eu presumo ser um apartidário de Direita, explicitamente disse no Governo Sombra que a CGTP podia meter 50 000 pessoas na Ponte, "pode dar-se a esse luxo" disse ele, quando qualquer outra organização em Portugal sozinha não consegue, para contrapôr o ponto do seu colega à direita no mesmo programa que perguntava "E quem se segue? O movimento Pró Vida, a UGT, sempre que alguém se lembre de fazer uma manif vai para a Ponte, etc...?" (parafraseio). O governo foi obrigado a mostrar a “careca repressora”, alegando pseudo motivos para proibir uma manifestação legal segundo a Constituição actual, num acto bem Salazarista. E mesmo assim a CGTP vai fazer o seu protesto sobre a Ponte 25 de Abril, só que de forma mais poluente. Obrigado, senhores do Governo, por não se importarem de mostrar a vossa incrível burrice e ineficácia política! É que o Partido Comunista Português está habituadíssimo a resistir sobre repressão de regimes totalitários. Talvez a cassete ainda tenha uns truques na fita e este apartidário está a ficar cada vez mais vermelho de raiva para com o Statu Quo e o Partido do Estado. (imagem abaixo por Fabrício Duque)
É pena que os Indignados [que muitas vezes incluem os Anonymous (movimento que eu admiro), muitos daqueles a que o Jerónimo de Sousa chama “amigos do PCP” e marxistas apartidários como eu (julgando pela sua página de facebook dos Indignados), já agora recordo que comunistas/socialistas/sociais-democratas são todos marxistas de base (mas não quando são pseudo como os actuais mestres do PSD = Pseudo Sociais Democratas ou PS = Pseudo Socialistas)] sejam, como a maioria dos Portugueses, facilmente divididos, o velho mas eficaz "dividir para reinar", caindo no jogo do próprio Centrão. Sim, estou a (ab)usar (d)uma terminologia do PCP.
Para muita pena minha não estou em Lisboa, nem vou estar a tempo de rumar à Ponte no Sábado, mas parece que o PCP apelou aos Motards e que o Sindicato dos Estivadores vai fechar o Porto de Lisboa. (clicar aqui) Oh meus/nossos Indignados, sem haver formalmente uma ditadura, que mais querem vocês de um protesto à séria e sem deixar que a razão escape por entre dedos cheios de calhaus desmiolados?
Recordo ainda, e para terminar, que na Islândia, onde 90% do povo (largamente ateu, realço) veio para a rua e expulsou o governo corrupto ou incapaz que os conduziu à falência, expulsou banqueiros do país, colocou um governo de esquerda (lá os Sociais Democratas são a Esquerda) no poder, mandou mercados internacionais à merda, e mesmo assim teve a ajuda e uns parabéns do FMI, recuperando o desemprego para os 5% e levando a julgamento muitos dos corruptos responsáveis, negando-se por Referendo Nacional a salvar bancos, o povo tem cerca de 60% dos seus trabalhadores sindicalizados. Em Portugal, com 20% de desemprego, temos cerca de 30% de trabalhadores sindicalizados e 80% de assumidas ovelhas cristãs, duma seita ou de outra, a ruminar Relvas do PS(D)-CDS. Pensem nisso!
Sayonara, tomodachi! ;)
P.P.S.: Fiz uma crítica ao filme Pacific Rim no outro blogue em que participo, por isso se curtem Manga e Anime possivelmente curtirão esse filme. Vejam a crítica se vos aprouver:

(R)Evolução nos Becos sem Saída

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Um beco sem saída é precisamente o pensamento da Direita. É só lá que eles gostam de estar, assustando ou com o Inferno ou com a Austeridade, fingindo-se Deuses caridosos e cheios de moral e sendo Demónios impiedosos e egoístas. Portanto, se na política encontrares um beco sem saída é simples, vira à Esquerda.
Se a constante falha em atingir objectivos e a constante tendência em nomear para altos cargos governamentais ou para promoções dentro do mesmo organismo pessoas corruptas e/ou incompetentes não é motivo suficiente para que nós levantemos os cus do sofá e ergamos a voz em uníssono contra um governo caduco composto por gente medíocre e, sinceramente, desprezível, então eu dou-vos mais.
Vim hoje a ler no Público que os Jotinhas da JSD decidiram embargar a proposta pré-aprovada de uma lei para a Co-Adopção Homossexual, redigida pelo PS.  Ora, há escassas semanas um tipo do PS, cujo nome não me recordo, veio dizer que o PS tinha de se preocupar era com as “forças revolucionárias” dentro da Assembleia da República (AR) que eram impeditivo ou obstáculo ao Partido Socialista. Este supremo Pseudo Socialista referia-se é claro ao PCP-PEV (uma vez que o BE coitado…) cuja coligação, a CDU, detém a qualquer altura entre 10% e 15% dos votos dos eleitores. As mesmas forças que, já agora é bom de recordar, possibilitaram a presidência da República ao Mário Soares numa certa segunda volta. Ora, esta afirmação só pela análise das percentagens é fátua e estapafúrdia, e mereceu o escárnio do Governo Sombra. Quem me dera a mim que assim não fosse! Mas é. E de facto, vem-se agora provar que não são as forças revolucionárias que travam o PS, são os seus amigos à direita, com as suas manias reaccionárias.
Enquanto a Califórnia já permite um terceiro tipo de registo sexual e a Alemanha pondera fazer o mesmo, enquanto vários países (Reino Unido, França, Uruguai) nos seguem na legalização do Casamento Gay, quando outros nos antecederam na mesma (como é caso o Canadá), a nossa Direita impede a nossa evolução social. Talvez seja a sua moral cristã (se é que isso não é uma contradição nos termos) e o seu apego “aos bons costumes” que os impede de deixarem de ser parvos. Afinal, o PSD só foi aplaudido recentemente em duas instâncias. Na sua Universidade de Verão e numa Igreja. Há que defender o eleitorado, né?
Querem então os Jotinhas Laranja fazer um referendo e perguntar ao povo português se querem ou não a adopção homossexual legalizada! O PS já desmascarou e bem o joguinho sujo de palavras que vai nessa pergunta, pois co-adopção é legalmente diferente de adopção, mas por mim que se dane. Que se legalize a Adopção por casais gay duma vez. É inevitável e é moral. Pode não ser moral para os Cristãos, mas é moral para quem não depende da Bíblia (livro onde a escravatura, o genocídio, e o tratamento das mulheres como posse do marido é moral pois Deus assim diz) para ter um código moral e ético de vida. Para aqueles que sabem que a moral é uma característica evolutiva que surge entre animais sociais, como o Homem. A moral baseia-se apenas em encontrarmos um nível onde consigamos o maior bem para o maior número de pessoas sem afectar negativamente as restantes. Ora, os estudos indicam que a adopção por casais gay não afecta o desenvolvimento da criança. A mera lógica levaria aí, uma vez que os próprios gays surgem de famílias tradicionais e são filhos de heterossexuais. Para além disso, não sejamos hipócritas, já há décadas (para ser conservador na minha estimativa) que casais homossexuais criam filhos, não está é nada legalizado. Para além disso, com a adopção completa, os gays que assim desejassem (imagino que, qual os heteros, hajam muitos gays que nem se desejam casar nem tão pouco ter filhos) poderiam ajudar a minimizar o número de crianças à guarda de instituições estatais e de caridade. Seria resolver dois problemas de uma só cajadada, servindo sim o bem comum da nação, menos crianças sem famílias e os direitos dos homossexuais iguais (como manda a constituição) aos dos heterossexuais.


Que se faça o referendo, embora seja só perder tempo, dinheiro e inventar cortinas de fumo para desviar atenções de problemas mais prescientes dos Portugueses inventando problemas onde eles não existem, e os Portugueses que demonstrem que mesmo sendo 80% cristãos, não são fanáticos, que sabem ouvir a razão, que a Fé não é tudo, acima de tudo que explicitem a estes Pseudo Sociais-Democratas que a sua Moral vai muito para além da Bíblia, já há muito ultrapassada e obsoleta.
Não posso deixar passar esta oportunidade para fazer aqui um comentário sobre o Papa Chico. O Papa Chico é o Paulo Portas do Vaticano. É um spin doctor que chega de mansinho e vos apresenta más notícias como se de facto estas fossem as melhores notícias do mundo. Porquê? Porque há em torno deste Papa, através de feroz campanha propagandista e também de um (para mim) inacreditável e desesperado desejo dos crentes de que "este sim, é bom" depois da desilusão do anterior, a noção de que ele vai reformar a Igreja Católica. Ora bem, o próprio do senhor em questão já disse que, e parafraseio, “é um filho da Igreja e as posições da Igreja são conhecidas”. Ou seja, que no que diz respeito aos gays, às mulheres, à pedofilia, a ideia é manter Statu Quo. Só que ele diz-vos isto, dizendo “Ah e tal, a Igreja tem andado demasiada obcecada com o casamento gay e o aborto.” Portanto, não diz que a posição da Igreja se tenha alterado um cagagésimo que seja daquilo que foi a sua posição durante os pontificados predecessores, simplesmente que vamos deixar de falar disso com tanta veemência, e acrescento eu, porque não é bom para as relações públicas da Santa Sé. Não quer marginalizá-los, mas não deixa contudo de relembrar o Santo Pai que é errado tanto praticar actos homossexuais no sexo (pecado), como vai mais longe e diz que também é errado fazer lobby pelos gays. Quanto às mulheres, diz que elas têm um papel importantíssimo na Igreja, mas não as vai ordenar e elas continuarão a ser o que eram… subalternas de homens. Tanto os homens como as mulheres dessa instituição, continuarão a ter de ser casados com o Senhor, o que deixa em aberto o problema de ter essas pessoas a cuidar de menores… já sabemos onde isso os leva. O Papa Chico promoveu duas reformas, mas tudo a nível estatal, do estado do qual é figura suprema e política, o Vaticano. A primeira reforma foi a nível das finanças, caçando os ministros que criaram buracos orçamentais à Igreja (consolidando as Finanças Católicas), e a outra é uma reforma penal, onde agravou as penas para os pedófilos. Outro paralelo com o Executivo Português que cria leis para não serem usadas, uma vez que ainda não se deu ao trabalho de responder ao pedido de cedência de informação sobre pedofilia dentro da Igreja feita pela ONU. Parecem de facto muito determinados em castigar pedófilos, e contudo a encobri-los também. Talvez eles já se tenham confessado ao Francisco e este os tenha perdoado. É assim no Reino do Senhor, promoções todos os dias.
É que, lembremo-nos, este papa não só entra a fazer Santos (que é sem dúvida do que precisamos, mais ídolos antropomórficos), como ainda distribui indulgências pelo Twitter para atrair a “molecada brasileira”! Se isto não é uma promoção! "Ah pecaste?! Não faz mal, meu filho, segue-me no twitter e trata-me por tu, porque é fixe e eu assim absolvo-te dos teus pecados e ficas de consciência tranquila mesmo tendo morto ou violado alguém!" Portanto, passamos da obsessão com casamento gay e aborto, para nos focarmos no twitter, até porque este foi inventado, adivinhe-se só!!, por Cristo! Jesus H. Christ, what will they think up next??!? É como se eliminassem Buda, Sócrates, os Sábios Chineses, etc... da História só para o Cristo ter inventado o Twitter. E já agora, as indulgências são imorais. Desde quando é que eu faço um crime e tenho a possibilidade de viver de consciência tranquila sem pagar essa dívida à sociedade? Quanto mais através do twitter! Enfim, fico parvo. Deve ser o choque tecnológico de que falava o Sócrates!
O Francisco (já que ele me incita a tratá-lo por tu), também se rebelou contra a idolatração do Dinheiro (sentimento que eu partilho),  o que é natural pois o Deus dos Cristãos nunca gostou de concorrência e está a ver-se a braços com uma batalha sem vitória possível. É que enquanto o Deus da Bíblia é doutro mundo, o Guito é do mundo material. Ainda assim, não ouvi dizer que o Vaticano em peso ia fazer um voto de pobreza e abdicar de todas as suas posses materiais. Algo que possivelmente agradaria ao São Francisco.

Enfim, um papa de mente velha e bafienta que se quer passar por progressista e revolucionário.
O Papa Chico tem ainda uma palavra para os ateus, 'tadito quer estar bem com Deus e com os Diabos, dizendo que se estes praticarem “o bem”, Deus os receberá bem. Como se nós precisássemos dessa “benesse” para andarmos descansados da Vida. Mas o Bem segundo quem? O Papa diz que desde que ouçamos a consciência conseguimos praticar o bem. Confessou também nessa oportunidade que a verdade não é absoluta, mas sim relativa. Pena que isto o diga só a título pessoal e não em nome da instituição. Disse ainda, segundo o Público:
“O Papa termina a carta com uma declaração sobre o objectivo principal da Igreja Católica, com referências aos "erros e pecados" cometidos: "Apesar da lentidão, da infidelidade, dos erros e dos pecados que [a Igreja] cometeu e poderá ainda vir a cometer contra os seus membros, a Igreja, acredite em mim, não tem qualquer outro sentido e objectivo que não seja viver e testemunhar Jesus."”
Ora, eu pergunto-me, se testemunhar Jesus é tudo o que lhes interessa, porque é que os registos Históricos da Santa Sé estão fechados até aos professores e estudiosos da História que sabem mexer com documentos antigos sem os estragar? Quando Salman Rushdie foi ao Vaticano, perguntaram-lhe se havia algo que ele desejava ver, ele disse que queria ter acesso a documentos históricos fechados da Igreja Católica e esse acesso foi-lhe negado. Que escondem as testemunhas (completamente indirectas) do Nazareno? A mim faz-me lembrar um Portas, a vender Coelho por Porco.
Da Rússia também chegam más notícias, onde já se criam legislações a proibir a homossexualidade.Estará a Direita Portuguesa numa de se tornar numa versão fraca das políticas desse bandalho do KGB, agora Mafia Russa, do Putin?!
Chegamos agora ao Japão, onde as coisas também não vão bem para os gays. Embora haja pouca descriminação descarada para com a comunidade Gay japonesa, também não parece haver uma manifesta preocupação popular em alterar a situação. Para além disso, a Constituição Japonesa, que não é revista desde 1947, quando entrou em vigor, também oferece um obstáculo ao casamento gay, no artigo 24, onde diz: “o casamento será baseado no mutuo acordo de ambos os sexos”. Segundo o advogado especializado em lei matrimonial Mazakazu Umemura, mesmo com vontade popular o casamento gay no Japão ainda tem uma longa estrada pela frente. Na humilde opinião deste vosso escriba, isso resolve-se o obstáculo constitucional com um referendo, onde japoneses e japonesas decidem de “mutuo acordo” se querem ou não legalizar o casamento gay. Ambos os sexos, abrange os dois sexos, não exclui ser apenas um. O senhor Umemura diz ainda que o povo não liga à questão, embora alguns advogados e activistas homossexuais procurem a legalização. Já o reinante partido Democrata Liberal, carregado que está de tradicionalistas, logo a começar pelo primeiro-ministro, não é favorável ao casamento homossexual. Estamos a falar dum governo que tem um ministro, o sr Taro Aso, que recentemente disse que “os idosos devem morrer depressa para bem da economia”. Acho que o Passos iria gostar dele.
Mas há esperança. Há pequenos sinais de um crescendo no apoio ao casamento homossexual no Japão, nos últimos anos. Em 2009, o Ministério da Justiça Japonês começou a expedir documentos necessários a casais gays que se queiram casar no estrangeiro. Informalmente, há uma aceitação grande pela sociedade japonesa dos casais homossexuais, embora poucos cidadãos japoneses estejam dispostos a manifestar-se na rua nesse sentido, ao contrário de países como Portugal ou os Estados Unidos. Depois de alguns problemas, a Disneylândia Tóquio fez a sua primeira cerimónia de casamento lésbico no Parque. Alguns hotéis também aceitam albergar esse tipo de eventos, de acordo com activistas LGBT nipónicos, embora eles não tenham qualquer efeito legal. E há pelo menos um templo tradicional japonês que também faz este tipo de cerimónias. O templo Shunkoin, que já conta 420 anos de existência e é situado em Quioto, começou a fazer cerimónias de casamento para casais do mesmo sexo desde há uns dois anos para cá, depois de uns turistas que visitaram o templo de meditação Zen perguntarem se era possível que um casal lésbico se casasse ali. O monge chefe do templo, Zenryu Kawakami, disse ao Japan Real Time (a minha fonte para este pedaço do texto) que a pergunta o levou a pesquisar e a descobrir que “os sutras budistas nada dizem a favor ou contra” o casamento gay. Desde então o sr Kawakami já casou cerca de 5 casais lésbicos, maioritariamente estrangeiros. “Os seguidores do Budismo são frequentemente liberais”, acrescenta o monge.
Patrick Linehan, o abertamente gay Cônsul Geral Norte-Americano para Osaka, testemunha que: “No Japão, ao contrário do que acontece nos EUA e noutros países, não há um ódio ou uma descriminação de base religiosa contra as minorias sexuais. Há contudo conhecimento insuficiente e pouca consciência da questão.” O Cônsul diz também que ele e o seu esposo, casados em 2007 no Canadá, frequentam com casal eventos estatais, onde por vezes são recebidos com baralhação e espanto, mas nunca são descriminados. “Quando eu vim pela primeira vez ao Japão, há 25 anos atrás, foi-me dito por um japonês que não haviam gays neste país.”, recordou Linehan, para acrescentar. “O Japão ainda tem muito que mudar.”
Este testemunho foi dado numa entrevista pela Ehime Shimbun. A Ehime, entidade activista pelos direitos LGBT no Japão, fez também uma sondagem perante os partidos políticos japoneses. Sem surpresas, a resposta do partido da Direita Liberal (e cá está um exemplo de como a política distorce as palavra, liberal uma ova!) que governa o país foi “O casamento deve ser entre sexos diferentes. Logo, não há necessidade de adoptar um regime legal de casamento” para casais homossexuais. Já a Esquerda, e também nada me espanta, apoia a legalização do casamento homossexual, sendo que o Partido da Restauração e o Partido Social-Democrata japoneses apoiam a legalização do casamento gay, enquanto que o Partido Comunista Japonês apoiou a introdução de uniões civis. Parece que os gays só encontram amigos políticos à Esquerda! Humm...
É estranho contudo que os tipos do Governo Japonês, que querem tanto uma alteração constitucional como o Passos Coelho, não se saberem aproveitar desta oportunidade para a levarem a cabo. E ainda bem, porque o que eles querem é declarar guerra a alguém (como eu já indiquei neste outro post que aqui deixo linkado). Este pessoal da Direita até para politicar é incompetente. Ao menos, o Sócrates, que dentro do PS (Pseudo Socialismo) consegue estar à esquerda do Mário Soares (nestas questões sociais é bem mais liberal e menos conservador), conseguia mentir com estilo sobre o curso, sobre estar a favorecer certas empresas com o esquema dos painéis solares subsidiados pelo Governo, etc... Enfim, parece que o governo Liberal (mas só economicamente) do Japão quer aproximar o seu estado do norte-americano. Para quê é que eu não sei! Visto que os EUA têm uma dívida tão enorme (em termos percentuais) como a nossa e muito crime, e o Japão é a 4ª economia mundial e tem muito menos crime. Alguém me explique que isto é sem dúvida demasiado para a minha parca inteligência.
Mas não só pelos direitos LGBT, mas também pela nossa Economia, por uma verdadeira mudança de rumo, por um rasgar com uma austeridade que nada é mais que um silício que procurar fazer-nos todos penar pelos pecados do 1%, pecados esses partilhados pelos próprios credores que nos sangram, o bom aluno preso do colégio de padres infernal.
Saiam à rua amanhã, contra este governo desgovernado e patético que nada mais tem feito que nos desunir e destruir aquilo que é nosso, evitando fazer a reforma de estado que realmente precisamos e que realmente nos mudaria para melhor, começando por cessar os jobs for the boys e as influências políticas na economia e vice-versa, ou avançando com uma lei clara, concisa e eficaz contra o enriquecimento ilícito, só para dar uns exemplos!
Porque é que eu me importo com os direitos da comunidade LGBT, se sou hetero? Chama-se solidariedade e é a base da nossa sociedade. Mesmo não sendo problemas meus, são questões que fazem sofrer outros sem necessidade, quando a sua solução não me trará nem a outros qualquer dano. São questões que, deixadas por resolver, aumentam a desigualdade de direitos na nossa sociedade. Não tem a ver com altruísmo, tem a ver com a esperança de que um dia, quando o problema for meu, outros ergam a voz ao lado da minha. É essa solidariedade, tantas vezes esquecida ou trocada pela caridadezinha, que tem faltado em Portugal. Os Capitães de Abril atiraram, ou tentaram atirar, o Poder para a Rua. Já é hora do Povo ir lá reclamá-lo, sem pedras e fogo, mas sim com o poder da Razão e da União.
Amanhã, dia 26 de Outubro, pelas 14h no Rossio. É que o plano B é este:
Como diria o John Connor: "Se estás a ler isto, tu és a Resistência." Vemo-nos lá? ;)

Info Sociocultural II

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Meus amigos, bem-vindos sejam e Novembro também.
Como sempre, a Embaixada mandou-me novas e eis que as venho veícular, juntamente com outras que foram surgindo no meu radar. Este mês, como fazem às vezes, o email portador do boletim da Embaixada trouxe o link para o mesmo e não apenas o ficheiro pdf. Portanto, deixo-vos o link para o boletim, do qual vou realçar os eventos que acho pertinente fazer. Estão espalhados pelo mês e pelo país.
Antes de começarmos com os eventos, queria apenas expressar a minha tristeza pelo encerrar derradeiro da Majora, ficando ainda a esperança que num futuro mais risonho algum português pegue na marca e a relance (e aos postos de trabalho que se perderam) e voltemos a reforjar, mais forte e competitiva, o mercado de brinquedos em Portugal. Até lá, e a partir de amanhã dis 3 de Novembro, o Correio da Manhã (Jornal que tem um acordo ortográfico acordado consigo mesmo, imitando o que faz o estado português e ficando-se pelo mixordês e que eu não compro) faz-se acompanhar com jogos tradicionais da Majora:
 Ataquemos então o boletim informativo, começando por Lisboa:


  


  
Eu estou particularmente interessado neste seguinte e vou pedir mais informações para o email indicado, para saber se posso assistir ao curso e quais as condições para tal:
Seguem-se os eventos que ocorrem em Lisboa mas também noutras cidades:

E assim chegamos ao Porto:
 Em Gaia:
 Também no Porto mas já fora da informação dada pela Embaixada, existe ainda este workshop:
Não esquecendo da Capital Europeia da Cultura e Berço da Nação:

Um pequeno à parte, só para congratular o Luís de Matos, o mais famoso ilusionista português,que foi premiado em Londres:
Além de conhecer alguns truques simples, com cartas e outros, sempre adorei a arte do ilusionismo embora não tenha ido muito longe nesse campo. O Luís é um exemplo para qualquer pessoa que sonhe em trazer magia à vida das pessoas sem as iludir sobre o facto de ser mera ilusão e engodo. O Ilusionismo é das poucas instâncias em que sabemos que estamos a ser enganados e podemos ter prazer com isso. Outra arte capaz de o fazer é a 7ª.

Quero também realçar algo que me esqueci de mencionar noutros boletins da Embaixada Japonesa, que é o papel da NCreatures em publicar e veícular Manga em Portugal.
Se gostam de anime e manga, não deixem de visitar o site da NCreatures, cuja versão portuguesa é, pelo menos há data, SEM Acordo Ortográfico de 1990:
E como eu acho que a Democracia Directa é o modelo que devemos adoptar para o futuro, uma das formas de nos irmos treinando para ela, além de nos mantermos constantemente informados pelos canais oficiais e por outros que arranjemos, é o irmos lendo e assinando petições com as quais concordemos. Eis algumas que eu subscrevi recentemente.
No campo internacional:
Eu esforço-me aqui por ir falando do drama de Fukushima e tenho um post bastante extenso sobre essa situação para escrever, baseado em várias notícias que têm saído na imprensa portuguesa e internacional. Mas esse post requer bem mais tempo e calma.
Note-se que os leões andam a ser mortos pelos ossos e para com eles fazer "poções mágicas" para melhorar performance sexual. Isto é ridículo e odioso. É por isso que não gosto de crendice e/ou superstição de qualquer tipo.

No campo nacional:
Esta fala por si.
Não concordo que o pai que era presidiário foragido, que leva o filho de 13 anos para um roubo, e o coloca em ainda mais perigo fugindo à polícia, tenha direito a receber do oficial que matou essa criança durante uma perseguição qualquer montante de compensação, ainda para mais 80 mil euros. É de loucos. Qual é então o impeditivo ou a lição aprendida, que impeça este criminoso inconsciente e desumano de voltar a fazer o mesmo com outro filho(a)? Qual é a mensagem que está a ser dada a outros bandidos que lhe sigam nas pisadas?

Resta-me ainda deixar uma palavrinha para dois projectos.
O primeiro é da União Europeia que nos pergunta como é que impedimos tanto lixo de chegar aos mares? (link) E o segundo é sobre dois jovens que desejam restaurar o Palácio de Cristal do Porto. Eu sou todo a favor da manutenção e rentabilização (por oposição à venda) da nossa herança cultural, sejam material ou imaterial, por isso desejo-lhes a melhor das sortes e espero que encontrem o apoio que necessitam para tal. Todas as informações aqui.
Deixo-vos também, via P3, mais um traço cultural japonês, à mistura com arte portuguesa no Japão:
http://p3.publico.pt/cultura/exposicoes/9716/da-fotografia-de-shomei-tomatsu-street-art-de-rigo-23

Não se esqueçam que amanhã (dia 3 de Novembro) é dia de eclipse parcial do Sol. Vamos ver é se as nuvens cooperam e deixam ver. O apogeu será pelo 12h20 (hora de Lisboa) e pelas 13h já deve ter acabado. É o último deste ano. (link) Não olhem directamente para o sol. Usem filtros apropriados. ;)

Por agora é tudo e vejam lá se carregam na imagem lá em cima, que diz que eu não respeito o Acordo Ortográfico, e assinem por favor a Iniciativa Legislativa contra o Acordo Ortográfico de 1990.
Abdi, abdi... that's all folks!

Rapidögraphia: Álvaro Cunhal

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Não sou historiador, nem tão pouco tive ainda ocasião para ler as biografias não autorizadas dele ou muita da restante tinta que sobre ele correu. Que posso eu então adicionar? Apenas a minha perspectiva, baseada em tudo o que encontrei online (vídeos de youtube, artigos de jornais, o próprio site do centenário criado pelo Partido Comunista Português [PCP]) e que tenho analizado criticamente ao longo deste ano.
Álvaro Cunhal foi para uns a encarnação de um bicho papão, para outros o homem que os lideraria para "os amanhãs que cantam". P'lo meio, existem os que, independentemente do lado da barricada política em que se encontram, conseguem descortinar para lá de todo o ruído branco da imprensa, nacional e estrangeira, o enorme intelecto combinado com poderoso e estóico coração solidário que foi o camarada, como de resto fica testemunhado na tão abrangente obra que deixou ao Mundo.
O que eu, por exemplo, desconhecia até ir à exposição sobre a vida e a obra do líder histórico do PCP, era que ele tinha tido 3 irmãos, dois dos quais morreram muito novos. Como demonstra a imagem abaixo, o seu irmão mais velho, mesmo tendo morrido novo, também deixou rasgos de uma potente mente artística e de revolucionário, algo que deve ser intrínseco à família.
É que, na verdade, Cunhal sempre foi reservado quanto à sua família, factor decerto propício à imagem que os seus inimigos e adversários quiseram que a maioria dele tivesse: um estalinista desumano, frio, calculista, sedento de poder. Humildemente vos digo que, interpretando os documentários feitos sobre ele e sobre o PCP durante a sua liderança, com o devido desconto que se deve dar aos media e tendo também em conta o quão desfavorecido a nível de comunicação social o PCP estava nos anos '80 e '90, acho que o Álvaro foi um humanista, mais que ideológico, idealista e que queria efectivamente mudar o mundo para melhor. Digo isto, obviamente admitindo que não sabemos se o teria conseguido caso tivesse tido o apoio do povo pós revolução, pois até ele chegou a dizer que o caminho para o Comunismo é desconhecido, nenhum marxista o conhece, e que cada país é um caso diferente com soluções diferentes em si mesmo. Ou seja, ao contrário do que gostam de fazer crer, que o marxismo é uma receita, a cassete, e que já foi provada ineficaz, Cunhal afirma que assim não é. E nisso, como em muitos outros tópicos, concordamos. Voltando à questão da família e vida privada, numa entrevista que vi a Johnny Depp, este último contou que um dos conselhos que Marlon Brando lhe deu de forma mais veemente foi: "Nunca fales da tua família!". Eu acho que Cunhal seguia essa linha de pensamento, resguardando da sua exposição mediática os seus entes queridos. Isto é afirmado pelo próprio Cunhal no vídeo que "linko" abaixo uma vez que o blogspot há vídeo que não quer exibir e só permite "linkar". Damn the ghosts in the machine!!
Antes que comecem com as piadas, este vídeo já foi uma vez removido do youtube pois estava a ser instrumentalizado para gozar com o Carlos Cruz, com um título alusivo ao seu envolvimento no Processo Casa Pia. Ainda bem que eu na altura achei por bem sacar o vídeo para o meu arquivo pessoal. Dizia o título do vídeo na altura, que é um segmento duma entrevista na RTP, feita em 1992.
Incidindo nessa parte da sua vida, da qual até há bem pouco tempo tão pouco nos chegou, a jornalista Judite Sousa aceitou um convite do PCP para escrever um livro sobre Cunhal, para marcar também dessa forma o Centenário da figura histórica. Desse livro, surgiu a seguinte peça jornalística que seria insensato deixar de fora deste post:
Há muitas coisas a realçar deste documentário curto da TVI. Comece-se pela relação de grande intimidade com a irmã, com quem estava sempre que podia, com quem muito falava, e a quem fez muita falta durante os anos de prisão, onde ainda assim se podia ver, e os anos de exílio quando assumiu em pleno a direcção do PCP contra o Estado Novo. Acho interessante aqui colocar então este vídeo que é uma reflexão da sua irmã Eugénia sobre o que é o comunismo, ou de como ele deve ser para funcionar:
Depois, a relação com a sua filha. Também essa perturbada sem dúvida pela vida da clandestinidade que muito os separou, mas há ali um carinho genuíno naquela abraço fácil e impregnado da confiança que só o amor e a confiança filial e paternal conseguem produzir, sendo que se não existir a cumplicidade na relação então isso traduzir-se-ia inevitavelmente na linguagem corporal de ambos ou pelo menos de um. Além disso, o episódio que é falado acima na escola, em que a Ana Cunhal se defendeu de provocadores com um golpe de Karate... meus amigos, qualquer pai que dê uma educação destas à filha merece respeito como um bom pai. Preparou-a para uma vida num mundo perigoso e em convulsão como sabemos o nosso ser. Somando isso à amizade e cumplicidade que parecem ter mantido apesar das distâncias que muitas vezes os separaram, diria que ele foi um excelente pai. Além disso, o mundo melhor que ele queria criar seria em prol do futuro da filha e dos netos.
Juntando isso aos anos que ela viveu na URSS, e tendo uma ideia da qualidade do ensino por lá antes da queda do muro, a filha de Cunhal é uma mulher que eu adorava conhecer e travar conversa. É daquelas pessoas que deve ter imenso para contar e ensinar.
Acho aqui também pertinente fazer notar o quanto o pensamento político de Cunhal, em consonância com uma esquerda emancipadora e voltada para o futuro, se debruçava sobre as crianças (imagens acima), que hoje são o futuro amanhã, e os direitos da Mulher (imagem abaixo).
Quanto à reportagem de Judite Sousa, uma das coisas mais curiosas que nela encontro, para além do testemunho de Joshua Ruah (médico de Álvaro Cunhal), são as declarações de Miguel Sousa Tavares (MST). O Miguel é daquelas pessoas que mesmo quando não se concorda vale a pena ler e ouvir, particularmente pelo facto de que embora ele não esconda que é de Direita, não tem afiliação partidária. Embora sempre com aquela pose um tanto ou quanto arrogante e de dono da verdade, que eu presumo venha da educação dada pelo pai que afinal era um monárquico, parece-me ser sério no sentido de que não está a soldo de ninguém. Nas suas declarações, dizia eu, os pontos mais interessantes são o que diz sobre o desejo de poder de Cunhal e o que diz sobre o encontro que teve com Cunhal no Algarve. Diz-nos que a primeira pergunta que fez a Cunhal foi sobre se ele queria ter ficado com o poder depois do 25 de Abril, "e ele disse-me que não, mas eu acho que sim."é como conclui MST sobre isso. Ora bem, é óbvio que Cunhal queria o poder, todos os políticos o querem. A minha diferença de opinião com o MST é no tipo de poder. Cunhal não conspirou nos eventos que levaram em Novembro de '75 ao confronto entre forças militares. O próprio Ramalho Eanes que levou a cabo a operação militar que contrapôs essa revolta dos pára-quedistas, afirmou que a situação resolvera-se depressa porque os militares envolvidos não tinham ligações partidárias (fonte aqui, perto do final do Documentário da RTP - "Portugal 74-75" - O retrato do 25 de Abril). Depois porque Cunhal não era parvo. A razão que ele apresenta para querer adiar as eleições democráticas era de que, em grande parte do país, as pessoas eram coagidas pelo medo e pela fé a serem anti-comunistas. Prática que fora enraízada ainda no tempo da ditadura e que foi (ab)usada depois pelo Centrão para fazer política. Ou nunca ouviram dizer, a título de exemplo, "É pá, aquele Jerónimo de Sousa parece ser uma excelente pessoa, se calhar dava um bom presidente da República... mas é comunista, pá." Ou seja, Cunhal sabia que naquela altura os comunistas não tinham hipóteses numas eleições, e Soares também o sabia daí a democracia lhe ser tão apetecível. A questão é que Soares também queria o poder. Eu penso que Cunhal queria estender o PREC, para lhe dar uma hipótese de funcionar, de reorganizar o país, expulsando os banqueiros e afins (muito como fez recentemente a Islândia), reordenando o território, reforjando a agricultura e a industrialização. Roma não se fez em dois anos, sequer. E note-se que os governos de hoje se queixam sempre de 4 anos não chegarem para modificar para melhor o país, por isso como é que o povo e alguns analistas esperavam que o PREC resultasse em 2 e tão conturbados anos? Mas a Revolução teria de ter feito esse milagre para agradar às pessoas. Estranhamente, há segundo o Expresso (notícia aqui), 20% dos portugueses hoje que acreditam que a austeridade resolve a crise mas precisa de tempo. Interessante que para a austeridade, que nada cria, já tem de haver tempo para os adeptos da direita, mas para melhorar o aparelho produtivo não. Até porque, creio eu, Cunhal também tinha uma visão da democracia que vai nas linhas de Rosseau, que leva à conclusão que ela não existe em Capitalismo, e que aquelas eleições apressadas iriam apenas abrir as portas aos capitalistas:
Na minha opinião, o que Cunhal cria era consumar a Revolução e evitar que esta fosse abortada como veio a acontecer às mãos de um suposto revolucionário que é, ainda hoje, só ares. Já lá iremos.
Depois a um nível mais pessoal, Sousa Tavares fala-nos dum encontro fortuito no Algarve com Cunhal, ambos de férias, em que MST ajudou o líder comunista a escolher melões (pelos 39min), e expressa um arrependimento por não ter convidado o Álvaro para tomar um café. Ora, eu não desejaria ir tomar café com Hitler, Mussolini, Mao ou Estaline se pudesse. Não teria nada para lhes dizer. Eu acho que as pessoas com quem nós gostaríamos de travar conhecimento mais pessoal e "pick their brains" como dizem os americanos, são aquelas que nos fascinam e que de certa forma admiramos. É certo que também há fascínios mórbidos, mas o Miguel não me parece desses.
Esqueci-me acima de mencionar que MST também realça o enorme peso que Cunhal teve a nível do movimento comunista internacional, sendo muitíssimo respeitado pelos mais altos níveis da URSS. O jornalista afirma ainda que Cunhal "era uma pessoa que infundia muito respeito, intimidava!", aos 33min. Aqui temos uma confusão entre respeito e medo própria em acho do pensamento da direita, mas ainda assim creio que afirmada com admiração e não com malícia, visto que justifica a afirmação com o ele (Cunhal) "ser uma pessoa intelectualmente superior, de facto", além do seu passado de luta. E a essa tirada acrescentou ainda ao testemunho da personalidade carismática de Cunhal, um testemunho do fairplay que Álvaro tinha no debato político. O prazer pela discussão, que é notório também noutros marxistas eminentes como Hitchens (também já lá iremos), segundo MST era também apelativo a Cunhal.
Eu realço este testemunho precisamente por vir da Direita apartidária, de alguém que desconfia de Cunhal, que discorda dos seus ideais e visão de mundo, e ainda assim me parece admirá-lo. E aqui está uma prova, para mim, de que MST não é só arrogância.
Cunhal sempre fora enérgico, amante de desporto e de mulheres, de literatura e arte, com um sentido de humor patente nalgumas das suas declarações e posturas. Era um céptico, tanto que é dito num documentário de 2006 que "linko" abaixo, que ele não aceitou logo entrar para o PCP, quando o recrutador primeiro lhe falou. Foi estudar os vários sistemas políticos para tomar essa decisão. Tudo isso foi, na minha opinião, essencial para a suportar com paixão e (citando Odete Santos sobre comunistas em geral) "sangue na guelra" as vicissitudes envolvidas em todos os combates que travou, dentro e fora do partido e do movimento Comunistas.
A sua história em traços históricos e largos pode ser encontrada em pelo menos duas peças que estão completas no youtube e aqui coloco à vossa disposição, poupando-vos à sua busca virtual:
- Reportagem de 2006 sobre Álvaro Cunhal:
Links para o resto do documentário: Parte 2; Parte 3; Parte 4; Parte 5.

Álvaro Cunhal foi preso 3 vezes. A última terminou numa de duas das mais ousadas fugas prisionais do Estado Novo: a fuga de Peniche. Cinquenta anos depois, alguns dos participantes Cunhal e Camaradas, relatam como aconteceu: deixo aqui duas partes desse relato retirados duma reportagem da SIC:
Mas antes desta fuga, houve uma campanha nacional e internacional a exigir a libertação de Cunhal e dos presos políticos. Dessa campanha deixo a imagem abaixo, com artigos de jornais, panfletos e cartazes, que procuravam espalhar a palavra sobre Cunhal e sobre os horrores da prisão para o prisioneiro político:
Como é conhecido, também foi na prisão que Álvaro Cunhal acabou a sua licenciatura em direito, da qual ele disse, com humor e numa entrevista de rádio, não ter canudo devido a ter estado preso. A sua tese foi republicada mais recentemente quando se deu a discussão sobre o aborto, pois era esse o objecto do seu estudo. No júri estavam figuras proeminentes do Estado Novo, como o próprio Marcelo Caetano. Teve a nota de 16, mesmo naquele tempo dos "bons costumes católicos". Também foi ele que, sendo levado a tribunal, fez da sua auto-defesa um ataque ao Regime de Salazar, avisando-os que seriam eles um dia considerados criminosos e condenados e não ele. Quando questionado sobre o que o permitira aguentar as torturas constantes, ele replicou "Salvou-me o Trabalho".
A sua arte é deveras interessante. Eu esperava que ela incidisse no operário, nas fábricas, nos sindicatos, ou seja no Martelo, mas pelo contrário ela incide na Foice, nas paisagens bucólicas, nas gentes do campo, na resistência dos campestres. (NOTA: se clicarem nas imagens podem vê-las maiores e fazer download para poderem fazer zoom com no pc)
E não se esquece também dos misticismos do povo, que faziam fugir os cobardes, havendo sempre alguém que não se deixa assustar pelo papão e firma o pé:
Como o Canal Porto também teve a boa vontade de reportar, os agricultores, que por defeito profissional são gente do campo na sua vasta maioria, também não esqueceram Álvaro Cunhal, que sempre por eles lutou. Sentindo-se desprezados pelos governos desde a Revolução e pela própria União Europeia, os agricultores que irão brevemente enfrentar mais duas ameaças capitalistas, a privatização da água e as sementes patenteadas (contra as quais o ministério actual não parece ser contra), relembram a coragem do Álvaro e o seu contributo e interesse em através da Agricultura tornar Portugal mais produtivo e, como tal, mais autónomo. Reportagem do Canal Porto, sobre encontro de agricultores em Vila Real, no link abaixo:
Na prisão, produziu belas obras de arte no campo da pintura, mas também fez trabalhos de análise histórica, escreveu romances, traduziu Shakespeare, fez estudos sobre Darwin e sobre a "Questão Agrária", e ainda notas sobre o método e conteúdo para a elaboração do programa do PCP.
Depois da fuga, deu o salto e foi para o estrangeiro, onde assumiu definitivamente a liderança do PCP. Tornou-se também um vulto muito respeitado do movimento comunista internacional, algo que o Miguel Sousa Tavares já havia realçado na reportagem de Judite Sousa, mas que é aqui recordado por outras vozes neste vídeo mais curto:
Mais uma vez, torna-se forçoso e interessante comparar Cunhal a Soares, e depressa se nota que o respeito que Cunhal tinha dentro do movimento comunista tinha uma dimensão muito superior ao peso que Mário Soares alguma vez teve no campo do movimento socialista. Na entrevista com MST, Sousa Tavares diz que há muita gente que diz que não é Cunhal que é controlado pela União Soviética, mas que é ele que manda na USSR, o que Cunhal prontamente nega.
Mas é também dito por MST que Cunhal é tão respeitado como os mais altos líderes soviéticos dentro do movimento comunista. Já depois da Revolução dos Cravos, o Muro caiu e a União Soviética ruiu com ele, resultado directo da Perestroika contra a qual Cunhal era, prevendo o seu resultado. Daí veio o fim da sua amizade e relação com Breznev, documentado no vídeo acima, e recentemente reanalisada num livro chamado Cunhal, Breznev e o 25 de Abril. Ainda não li o livro, mas o autor não aplica o acordo ortográfico de 1990, o que na minha lista é já um ponto a seu favor.
Depois do 25 de Abril, o primeiro evento mais importante desse período da vida de Cunhal foi o debate com Soares, o debate do século passado em Portugal. Infelizmente esse debate não está na íntegra no youtube, mas apenas pedaços dele que de resto estão incluídos naquele documentário de 2006 que postei acima. Das afirmações feitas, é interessante analisar-se o que Soares diz e o que depois, tendo o poder, fez.
Por exemplo, Mário Soares afirma (pelos 3min15seg do vídeo), que Cunhal "teima em governar com uma minoria", é portanto interessante que hoje em dia, no Portugal que Soares em grande escala criou, ser precisamente isso o que acontece. Não tomem a minha palavra, tomem a palavra de Medina Carreira com a concordância de Paulo Morais, que neste debate (aqui linkado), pelos 4min30seg, diz precisamente que há uma minoria a governar a maioria mesmo dentro dos partidos do poder [PS(D)] e que essa minoria está a proteger uma teia de interesses a custos altíssimos para o erário público.
Ora, se isso não é a exploração do homem pelo homem, eu não sei o que será. No debate, Soares diz que quer fazer um país sem classes e sem explorações, mas quando abriu as portas aos banqueiros expulsos e expropriados que mandavam e mandam no país e não só lhes devolveu tudo como ainda os recompensou pela maçada, de onde veio o dinheiro senão das costas do povo? Mário Soares abriu não as portas a um socialismo democrático em Portugal, mas sim a um novo tipo de capitalismo, um "capitalismo sem risco", como diz no mesmo vídeo o Medina Carreira (conversa com Paulo Morais e Judite Sousa), pelos 40 min, referindo-se às PPP's, SWAPs, e todos essas negociatas e proteccionismo que o estado dá a privados fazendo literalmente a transferência de dinheiros do público para alguns privados. E não foram os banqueiros que nos hipotecaram a soberania ou o que dela restava depois do PS nos ter metido na então CEE agora UE (sem sequer referendar a questão perante o povo, realce-se. Para onde terá ido o alto sentido democrático de Soares nessa hora?), nesta última crise?
Para além disso, Soares tornou-se nisto:


Já para não falarmos nas acusações sobre diamantes que são meros boatos improvados, na erecção duma fundação sua homóloga que é ela própria só ares, etc..., Soares chega-nos agora todas as semanas com ataques a Cavaco Silva, mas ataques fracos e patéticos como o "Cavaco devia ser julgado", mas dizendo isto sem ter provas nenhumas a acrescentar ou testemunhos a dar sobre o porque é que ele deveria ser julgado. Considerando que ainda há quem acredite que Soares é de esquerda, isto danifica a causa da esquerda em Portugal. Mas entende-se, Soares vê o seu adversário já tombado reavivado na memória do povo como um grande homem, com um obra que grandiosa que fala por si mesma por vários meios, um verdadeira e completo revolucionário, e deseja ter a mesma fama. Procura agora apresentar-se como uma espécie de Gandalf da esquerda portuguesa, alguém que reúne os esforços desconexos e separados da Esquerda, para derrotar uma direita destrutiva, numa guerra pela alma do país. O problema é que Soares é e sempre foi só ares e a Ares nunca convenceu, apenas a uma maioria idiota do povo português a quem prometeu facilidades e condenou à escravatura económica.
Pelo contrário, Cunhal viveu e morreu com dignidade e mesmo nos seus anos de crepúsculo era dotado dum carisma (embora ele tenha declarado que não gostava nada dessa palavra), duma claridade de pensamento e discurso e de dever que marcam qualquer pessoa que não se deixe só levar pelos preconceitos ideológicos. A minha mãe uma vez contou-me que ouviu Júlia Pinheiro (que é confessa eleitora da direita), dizer num dos seus programas na SIC, só coisas boas de Cunhal, tendo sido ela a última jornalista a entrevistá-lo. Procurei em vão imagens desse programa, mas não as há online, conseguindo apenas um outro testemunho que corrobora o da minha mãe:
Medina Carreira também já disse noutras ocasiões que quem não mente em Portugal não ganha eleições, algo que abona a favor de Cunhal que nunca foi eleito. Mas também disse o economista no decorrer dum raciocínio que um dia o país chegará a uma situação em que o Povo já não acreditará em ninguém, e não haverá alguém capaz de tranquilizar o povo, quando há 30 anos havia o Spínola, o Costa Gomes, o Álvaro Cunhal (ver este vídeo aos 7min20seg), porque o povo já não confia em ninguém. Estranhamente não disse Sá Carneiro, que era dessa época também e da sua cor política. Ora também isto implicará que aos olhos do ex-ministro social democrata, Álvaro Cunhal podia ser muita coisa, mas era também sério e as pessoas, mesmo que não comungassem da sua ideologia, não duvidavam em geral da sua seriedade.
Já com 83 anos e a meses dos 84, Álvaro deu uma entrevista "concedida a Maria Valentina Paiva, da Rádio Bragançana, a 21 de Fevereiro de 1997", que vos "linko" abaixo. Nessa entrevista, nota-se um homem comum (no melhor dos sentidos), de bem com a vida e sem frustrações, que nos revela um pouco da sua vida privada, mas sempre com o cuidado receoso nas palavras para que não seja nem mal interpretado nem mal rotulado. Como diz o povo, "Gato escaldado..." E também uma pessoa que afirma que a sua escrita e pintura não são hobbies mas trabalho, que retira a dúvida levantada por alguns que dizem não saber se a verdade na ficção de Cunhal é inconsciente ou consciente (artigo relativamente bom do Expresso), porque nos verdadeiros tempos livres, no lazer, é mesmo para descansar, diz ele, e aí gosta é de praia e família. No final da entrevista, dirige também uma mensagem "aos muitos que nos ouvem", consciente sempre de estar a falar para as massas ou pelo menos assim o desejando, dizendo que nada mais gostaria que poder alargar aquela conversa de 3 pessoas a todos os que a ouvem. Tal como Miguel Sousa Tavares, também eu gostava sinceramente de ter ido beber um café com um homem que nesta entrevista afirma uma convicção que também eu tenho mas só agora soube que partilhávamos, que os velhos não só ensinam os novos como também com estes últimos aprendem, se tiverem uma conversa a sério e não "uma troca de monólogos".
Dois anos mais tarde, em 1999, Cunhal tem ainda esta palavra sobre o Futuro e o Caminho a Seguir, no Rivoli do Porto, já com um dos seus olhos debilitado pela doença, mas ainda com uma voz potente e um discurso coeso.
Em 2005, Cunhal morreu. Foi a terceira e última vez que estive a menos de 200 metros do corpo dele, pois estava em Lisboa, no meu segundo ano de universidade, e decidi que era importante presenciar o último momento histórico daquele grande homem. Tendo na altura já plena consciência política, nunca esperei ver aquilo, estando o PCP tão em baixo à época.
Um tão enorme desfile, um rio de caudal e comprimento tão largo feito de pessoas, as bandeiras vermelhas flamejantes no ar, erectas e orgulhosas, a contrastarem com a tristeza de muitos. Fez-me na altura e faz-me agora pensar num monólogo de Banderas, no final do filme "The Mask of Zorro", em que ele descreve ao filho no berço o funeral de herói que o avô, o Zorro original, teve:
"The people of the land gave him a hero's funeral, the largest anyone had ever seen. They came from far and wide to say farewell to their brave and noble champion." Traduzindo: O povo da terra deu-lhe o funeral de um herói, o maior que alguém alguma vez viu. Eles vieram de longe e perto para dizer adeus ao seu corajoso e nobre campeão.
E como sempre, Mário Soares não perdeu a oportunidade de se colar uma vez mais a Cunhal. Mais não fez que o que devia, até porque o rival propiciou-lhe a vitória numa das corridas à Presidência da República, algo que, como é dito, Soares nunca agradeceu. Esse acto de Cunhal não parece próprio de alguém que ambiciona o poder só por si, mas antes de alguém para quem o poder não passa de mera ferramenta para atingir o, esse sim importante, objectivo duma sociedade mais justa, produtiva e igual.
Álvaro Cunhal foi, segundo os seus desejos, cremado e as suas cinzas espalhadas pelo Cemitério do Alto de S. João (algo que muito custou à irmã e que eu presumo ele ter sido feito para impedir qualquer culto à sua personalidade). Não houve discursos então, também segundo os seus desejos, mas houve canções de coração pesado.
Como morreu em 2005, já não teve o prazer de saber que o aborto fora referendado e despenalizado pelo povo em 2007. Portanto, dado que se deu a revolução do 25 de Abril em 1974, algo que ele previu uns 26 anos antes segundo a peça sobre ele de 2006 que acima vou disponibilizei, e que a sua tese de licenciatura foi precisamente a defesa da despenalização do Aborto, aqueles que dizem que ele deveria ser um frustrado pois nada alcançou, simplesmente não o entendem além de ignorar os feitos singulares dele no campo das artes, da literatura, da análise histórica, etc... Ele não tinha a presunção de alcançar nada sozinho, mas sim trabalhar para acordar e mobilizar as massas para que se alcançassem esses objectivos colectivamente. São inegáveis as vitórias que assim obteve, apesar de toda a repressão e mais tarde reacção que teve de enfrentar toda a sua vida.
OS GRANDES PORTUGUESES - episódio de Álvaro Cunhal: Parte1, Parte2, Parte3, Parte4, Parte 5.
No programa "Os Grandes Portugueses", foi eleito Salazar como o maior português de todos os tempos, com Álvaro Cunhal em segundo lugar. Muitos leram isso como um voto de revolta do povo contra o governo de então e o rumo geral do país. Presumo que Salazar ganhou também porque a direita, temente de ter Cunhal eleito como o maior dos portugueses, se terá unido em torno de Salazar. Não há nenhum partido português fascista actualmente com expressão popular e ainda bem, mas como eles temem o PCP é uma coisa incrível! Ainda no domingo passado, Marcelo Rebelo de Sousa comentava uma sondagem publicada no Expresso e dizia, convicto, "o PCP está fortíssimo!". Quando se falou de percentagens, o PCP tinha 11% de intenção de voto para as legislativas. Isto para a Direita é um PCP fortíssimo demais para o goste dela (para mim, é um PCP ainda demasiado fraco para ser efectivo), mas isto só para realçar com um exemplo o quanto a Direita não quer dar espaço aos Comunistas. Ainda assim, valeu a pena ouvir aquelas palavras pelo Advogado de Cavaco Silva, precisamente no dia do centenário de Cunhal. Quem me dera que tivessem mais substância por trás. Mas eis as reacções à vitória de Salazar no programa:

Interessante ver que até na morte, há uma reacção generalizada nos votos contra o Álvaro Cunhal. É de notar também que os ingleses pelo menos, no programa equivalente britânico, tiveram juízo e nomearam Winston Churchill e não a Dama de Ferro, por exemplo. Curioso também notar que, segundo a wikipédia, Mário Soares ou mesmo Cavaco Silva ou Sá Carneiro, não estão em nenhumas das primeiras 10 posições. Mário Soares aparece em 12º, depois de Salgueiro Maia, e Sá Carneiro em 16º(com Pinto da Costa logo a seguir??). Não quero atirar achas para a fogueira mas o Cavaco ficou em 27º. Qualquer destes teriam sido possivelmente instrumentalizados pela direita para impedir Cunhal de ser o primeiro, o que dá tese a que o voto em Salazar foi de protesto face a PS(D).
Pegando noutro filme de Banderas, o "The 13th Warrior", a certa altura um líder constata que morrerá um homem pobre. Um rei promete-lhe um funeral digno de um rei, mas o líder guerreiro diz para quem estivesse na sala "Um homem poderia considerar-se rico se alguém desenhasse a história dos seus feitos." O personagem interpretado por Banderas, o único de entre os presentes que sabe escrever percebe que está a ser interpelado e diz "Um tal homem poder-se-ia considerar rico com certeza!", aceitando a comenda que lhe fora feita. O que não faltam por aí são livros sobre Álvaro Cunhal, sendo um dos mais conhecidos e badalados, a biografia não autorizada nem acompanhada escrita por Pacheco Pereira. Álvaro Cunhal nunca quis escrever as suas memórias.
Neste ano de 2013, ano em que Álvaro Cunhal faria 100 anos caso fosse vivo, o PCP honrou de várias formas a memória do seu líder histórico. Eu presenciei a exposição sobre a Obra e a Vida do Álvaro Cunhal, como testemunham muitas das fotos com que procurei colorir este texto. Mas houve também uma na faculdade de Letras de Lisboa, onde Cunhal cursou e no qual estimulou os movimentos estudantis. Várias palestras sobre a sua obra foram também lá apresentadas no decorrer no centenário. Recolhi os vários vídeos e aqui também os reúno através de links para vossa apreciação:
As várias intervenções: Sessão de Abertura, Congresso Parte1, Congresso Parte2, Congresso Parte 3, Álvaro Cunhal, movimento estudantil e importância académica da obra.

O Público recolheu também as impressões da malta mais jovem e como é que estes conhecem Álvaro Cunhal (link para o vídeo), isto penso que entre membros da JCP. E a esses testemunhos adiciono este (link aqui), que me parece particularmente incisivo, com discurso mais seguro e cuidado, e que fala do que é um comunista hoje.
O "Até amanhã, Camaradas" passou este ano de série a filme e estreou nos cinemas Portugueses. Eu, no passado dia 10 de Novembro, a título de um acenar respeitoso ao camarada Cunhal, escrevi e publiquei num outro bolgue onde participo, o 74rte, que trata única e exclusivamente de cinema, a crítica ao "Até amanhã, Camaradas" e também ao "Cinco dias, Cinco noites", outro filme inspirado pelos romances homónimos de Manuel Tiago, pseudónimo do Álvaro. Para o caso de as quererem ler, aí as têm.
O "Até amanhã, Camaradas" teve uma antestreia invulgar, tendo sido projectado no Salão Nobre da Assembleia da República, para os deputados, governo, o elenco e a equipa, Eugénia a irmã de Cunhal, e outros, no decorrer das comemorações do Centenário.
Durante este ano, foi também oficializada numa cerimónia, uma avenida da capital, que já há alguns anos tinha sido baptizada com o nome de Álvaro Cunhal.
O presidente alfacinha também deu ares de sua graça na inauguração e brindou os presentes com um discurso (vídeo "linkado" aqui:Avenida em Lisboa homenageia Álvaro Cunhal).
Ao nível internacional, a Exposição sobre a Obra e a Vida de Cunhal também viajou, tendo sido exposta no Parlamento Europeu, segundo o Público. E no dia do centenário do seu nascimento, Cunhal foi relembrado em Comício do PCP, no Campo Pequeno. O Público chamou-lhe uma "romaria".

DOS CRÍTICOS DE CUNHAL
Contudo, longe de mim calar as vozes daqueles que criticam Álvaro Cunhal, pois nenhum homem é isento de defeitos, nem tão pouco julgo concordar com tudo o que Cunhal achava e fez. Dou portanto dois exemplos nacionais dessas críticas, que encontrei durante a execução deste texto, um que apenas achincalha sem acrescentar nada e outro um tanto ou quanto mais incisivo e profundo. E para terminar, darei também um exemplo internacional de crítica ao PCP.
Sobre este primeiro artigo, que de tão pouco diz e nada acrescenta, lê-se em menos de 1 minuto. Ataca Cunhal por conspirar para transformar Portugal numa "Bulgária ocidental" (lengalenga é a mesma de outros mas com expressões diferentes, como "fazer do Alentejo uma Cuba", ou "fazer de Portugal mais um satélite da Rússia", etc...) sem oferecer qualquer prova disso mesmo. Talvez ele acredite em Mário Soares pura e simplesmente, que tal afirmou também sem provas, mas não o vejo correr a escrever um texto a reforçar a ideia de Soares que Cavaco tem de ser julgado por crimes...huh... incertos com provas inexistentes ou testemunhas credíveis. Depois ataca Cunhal por promover o PREC e destruir a economia portuguesa!! Esta é estonteante, porque o problema da economia portuguesa é o mesmo desde, pelo menos, o século XIX:
Portanto, quem destrói a economia portuguesa é quem a hipoteca em vez de a tornar produtiva. E aqui sim, o Cavaco pode e deve ser acusado de ter criado as políticas para destruir a pesca e a agricultura em Portugal, algo que o PREC desejava melhorar. Mais uma vez 2 anos de alegado PREC, em que surgiram 6 governos, não é experiência válida para dizer se funcionaria ou não. O próprio Cunhal disse o que achava sobre isso e ao que vim a descobrir fez uma leitura na altura experimentando o acontecimento próxima da que eu faço pelo olhar crítico à nossa história:
Adiante. A última acusação é a de "O inimigo da Europa". Ora bem, concordo se estivermos a falar da Europa actual, a que sobre disfarce duma benéfica aliança, os países mais desenvolvidos se enchem dos países menos desenvolvidos. Ou de onde acham que vieram os dinheiros para que os nossos agricultores não produzissem? Ou de onde vieram as sanções no passado por produzirmos leite a mais? Ou quem nos anda a emprestar dinheiro a juro, querendo forçar uma agenda de federalismo europeu, a par dos EUA, quando nos EUA há uma transferência de dinheiro 10 vezes maior dos países de centro (isto é mais ricos) para os países periféricos do que a que existe na União Europeia? Se é dessa Europa que falamos, também eu estou contra ela. Se falamos da Europa enquanto povos e locais que a compõem, é simplesmente estúpido. Cunhal apenas achava que devíamos cooperar com os outros povos europeus, mas não enquanto bloco económico e militar. O que o torna muito menos imperialista e estalinista que este seu tipo de detractores, por muito de direita que digam ser. Ainda que, é minha opinião, que o espectro político não é uma recta mas um círculo, pois os extremos tocam-se. Logo se calhar eles são de uma direita extrema que toca mais no que se passa agora na China, alegado país comunista, que é portador de um capitalismo selvático e como tal está, enquanto estado, a prosperar num mundo capitalista e é o paraíso para o capitalista puro (mão de obra barata quasi-escrava, sindicatos proibidos por lei, ditadura estatal), que no Salazarismo. Os extremos tocam-se. Enfim, eu podia atirar os diamantes contra o Mário Soares, o filho dele ainda recentemente falou disso na televisão ao falar-se da crise com Angola, mas a verdade é que isso são rumores e boatos dos quais não há provas, por isso não é ataque válido. Fale-se sim do que as pessoas realmente afirmaram e depois no que realmente fizeram! E aí mostrem-me o ditador Álvaro Cunhal, sem ser meramente baseado em suspeitas anti-comunistas, com provas, com algo que ele tenha escrito nesse sentido, e eu render-me-ei às evidências se se comprovarem serem de fonte fidedigna. A comparação feita no título e no corpo desse artigo de opinião, entre Cunhal e um rei, é tão patética (desculpem a repetição, mas não há melhor palavra) que nem vale a pena comentar.

Ora, aqui temos outro artigo que visa criticar Cunhal, com receio, começo a achar, que durante o seu centenário, já o homem morto e queimado há 8 anos, o povo decida votar nele para Primeiro Ministro ou Presidente da República. Embora goze, este artigo não deixa de ser mais incisivo e provocador de pensamento, muito mais digno que o anterior. Como tal, é uma crítica que tem de ser levada mais a sério.
Começa por criticar Álvaro Cunhal por este ter escrito em 1939 um apoio ao pacto de não agressão germano-soviético, raciocinando que uma guerra entre as potências imperialistas era bom para a internacional comunista. Ora, em termos puramente de Arte da Guerra, se ele argumentou isso, estava correcto. É sempre positivo deixar que os inimigos se destruam uns aos outros. Quanto à 2ª Guerra Mundial(WWII, sigla inglesa), Trotsky, membro da Troika Original, ao lado de Lenine e Estaline, procurou avisar a internacional comunista sobre os perigos do Nacional Socialismo. Infelizmente, após a morte de Lenine, Estaline tomou poder e perseguiu até à morte Trotsky. A História podia ser hoje muito diferente, se Estaline não tivesse levado a sua avante. Mas ainda assim, foi a Rússia de Estaline que derrotou o Hitler. E o tempo que esse pacto de não agressão ganhou para Estaline se preparar para a guerra, pode ter sido decisivo. Seja como for, em 1939 ainda não se sabia o terror que a WWII viria a gerar e Cunhal era novo. Por muito estudioso e intelectual que fosse, estava a argumentar do campo teórico, da perspectiva dum raciocínio frio e calculista. Mas atenção, até Churchill chegou a apoiar Hitler por ele ser anti-comunista, antes de perceber o que ele era. Erros destes são cometidos na política internacional, onde o principal é perceber quem são os inimigos e os aliados, o que não é tarefa fácil.
Ataca o Cunhal por este ter criticado um relatório produzido nos dias de Krushev que dava conta dos crimes de Estaline. Sobre isso, sinceramente não me posso pronunciar porque não sei, nem é dito, em que termos foi criticado nem o quê. Mais uma vez, os argumentos são suportados por o que alguém disse que Cunhal fizera, neste caso citando Pacheco Pereira e Carlos Gaspar (politólogo). Em seguida, afirma que Cunhal é anti-democrático e explicita-o assim:
"Após o 25 de Abril, Cunhal continuou obcecado com a revolução russa,  sonhando repetir a experiência de Lenine. Deixou que as eleições para a Assembleia Constituinte se realizassem em 1975, pensava que o PCP as ganhasse mas ficou em terceiro lugar (com apenas 12%, a seguir ao PS e PSD)."
"Deixou que as eleições (...) se realizassem?", muito poder roga este senhor a Álvaro Cunhal!!! Continua a citar quando dá jeito Pacheco Pereira, presume-se, para dar um ar substanciado àquilo que são apenas boatos, reafirmando a convicção de outros de que Cunhal tendo perdido eleições fomentou o 25 de Novembro de 1976 para criar "uma república comunista integrada por Lisboa, Setúbal, Évora e Beja, com território contínuo, um Portugal do Sul, dividido do norte democrata." Tudo claro como água e contradito nos documentários que eu aqui coloquei sobre o PREC, feito pela RTP, dito por pessoas que não Cunhal ou os seus camaradas, e negado pelo próprio Cunhal quando questionado.
Por último, e esta foi a questão que realmente nunca antes tinha visto abordada, Álvaro Cunhal é acusado de homofobia:
"No campo dos costumes, há também que recordar aquilo em que o PCP nunca tocará. Referimo-nos à  a famosa frase de Álvaro Cunhal sobre a questão da homossexualidade numa entrevista a Carlos Cruz na década de 1980: "é uma coisa muito triste".  
É certo que Cunhal era um homem de outra geração, nascido no princípio do século, numa sociedade fechada e conservadora. No entanto, como líder político, de uma vanguarda de esquerda, tinha a obrigação nos anos 1980 de ter ultrapassado o preconceito em relação à homossexualidade.  
Esta opinião de Cunhal tem, aliás, forte relevo político. Estão por estudar a fundo as circunstâncias da expulsão de Júlio Fogaça, que era homossexual, do PCP , onde se podem ter misturado questões políticas com questões homofóbicas. Também está por perceber a razão de o PCP lidar ainda hoje com visível incómodo com o tema da homossexualidade, ao invés do que acontece com o Bloco de Esquerda.", escreveu o opinador.
Ora, a expressão usada na entrevista com Carlos Cruz está fora de contexto e infelizmente, como acontece com o debate com Soares, a entrevista com MST, esta última entrevista também não está no youtube na íntegra, por isso não sei enquadrá-la e o comentador esforça-se por nessa posição manter os seus leitores. Quanto ao segundo parágrafo que citei, dizer que Cunhal tinha a obrigação de estar à frente do seu tempo, contrário à época em que cresceu e viveu, e ter ultrapassado qualquer preconceito em relação à homossexualidade, eu devo dizer não em defesa de Cunhal mas em meu detrimento que eu, que nasci em 1985, não fui sempre como sou hoje e já há alguns anos defensor da causa gay. Precisei antes de perceber que ser gay não é uma escolha ou um capricho, mas uma natureza. Que as marchas homossexuais não eram compostas apenas por bichas que se queriam mostrar e obter atenção. Mas percebi-o. Por outro lado, o meu avô (e quando soube disso já era eu a favor da causa homossexual), que tem 89 anos (é portanto da geração de Soares), ainda hoje não entende os gays. "O que é que isso dá para o país?" pergunta ele, sem conseguir dar sentido àquilo. E o meu avô noutras coisas é bem progressista, acha por exemplo que os padres deviam ser homens casados e pais de família, para que não enveredassem pelos caminhos do adultério e da pedofilia. Se calhar foram anos a mais com a Igreja e a Sociedade a censurarem comportamentos homossexuais e depois sair desse espaço mental seja complicado. Mas dei-me ao trabalho de ver até os comentários dos leitores, alguns deles interessantes mesmo vindo de pessoas que pelo que escrevem são totalmente opostas a Cunhal. Quanto às questão dos gays veja-se:
Aqui, o senhor Pasternak, cuja visão da história contrasta completamente com a minha interpretação pessoal, diz que mais tarde Cunhal pediu desculpas por ter instrumentalizado ou denegrido a homossexualidade. É claro que nem Pasternak diz de onde obteve esse "Parece que mais tarde...", nem tão pouco se coibiu de dotar tal acto de uma cínica estratégia política. Ora, fala-se isto dum homem que chocou precisamente por não querer deixar reformar o seu partido, como os restantes partidos comunistas europeus fizeram após a queda do Muro, possivelmente para detrimento político. Hoje, o PCP é o partido político com mais peso institucional na Europa, daí as afirmações do Marcelo, "os comunas estão fortíssimos", parafraseio. Mas à época essa indisponibilidade para mudar, tornou o PCP mais facilmente alvo das críticas do costumo, de que está desactualizado, de que é um relíquia, bla bla bla... Ou seja, o Durão Barroso que foi do MRPP, mudou-se para o PSD para chegar onde chegou. O Soares saiu do PC para fundar o seu partido, o PS, pois viu que através do Álvaro não chegava ao poder. Até o Sócrates começou na JSD. O tipo que permaneceu fiel a um ideal mal visto pela maioria dos portugueses e com uma péssima campanha de relações públicas, é que disse uma coisa só para parecer bem. Toda a lógica, sem dúvida!!! Digam-me em Portugal quantos políticos teriam a hombridade de reconhecer em público que erraram e ainda mais pedir desculpa por isso?? Se é que todo o episódio, desde a acusação ao pedido de desculpas, aconteceu mesmo, acho que só diz bem de um homem que percebe que errou e procurou fazer emendas.
Finalmente no terceiro parágrafo citado, é criticado o PCP e não Cunhal, mas é muito dito que é impossível dissociar o PCP de Cunhal. Ainda assim, seria uma crítica boa (foi à época), não tivesse recentemente o PCP, juntamente com PS e BE, votado a favor do projecto lei da Co-Adopção Homossexual no Parlamento. Eu por exemplo, sou bem mais picuinhas. Eu critico o PCP por não ter votado contra o Acordo Ortográfico em vez de meramente se ter abstido. Mas isso é uma crítica que poderá de futuro ser também minimizada se levarem uma proposta ao Parlamento para destituir um acordo com quem a maioria discorda. E aí o PCP estará contra o PS e o BE, mas ao lado dos 60% a 80% dos portugueses que são contra o AO90.
Como não podia deixar de ser, fala-se nos comentários do suposto desejo de Cunhal de transformar o país na Cuba Europeia e eis o que diz outro comentador à cerca disso:
Note-se que o New Dawn (como se intitula o leitor que deu a opinião acima) começa por dizer que Cunhal é obsoleto (id est, não é um comunista), mas ainda assim revela, tendo uma visão crítica da História, que não concorda com essas afirmações de que Cunhal alguma vez achasse que conseguiria fazer isso, quanto mais não fosse pelas condições internacionais instaladas à época.
Há ainda esta outra opinião que culpa o Cunhal pelo retorno em força do Capitalismo Selvagem, ainda que eu não consiga perceber bem se é sarcasmo, ironia, ou se acredita mesmo no que está a dizer.
Interessante que não deixou de referir um artigo em que foram denotados os avisos de Cunhal sobre os perigos do euro, da desindustrialização, do abate da frota pesqueira, da desertificação, e da especulação imobiliária e financeira. Ou seja, o homem previu as nossas crises actuais, embora a maioria não lhe tenha querido dar ouvidos. Cavaco Silva, que é economista pelo menos no papel, potenciou-as. Não tenho como não estar à esquerda. E um dia destes farei aqui um post detalhado a explicar como cheguei à esquerda e porque é que ainda lá estou e continuarei, ainda que a minha ideia de esquerda é apartidária. Não sou militante de partido nenhum e tenho assim liberdade de criticar até aqueles que mais próximos estão das minhas ideias, como fiz acima. Por enquanto, sou aquilo a que os comunistas chamam "um amigo do Partido". Se me começar a desagradar o Partido, com facilidade deixo de o ser. Mas nesse outro post, falarei também do PCP, do Marxismo enquanto teoria, dos vários ramos ou ideologias que dele derivaram, etc...
A última crítica a Cunhal, a que tem carácter internacional, surge pelas mãos de um outro marxista que eu admiro e sobre o qual fiz também já um post nesta rubrica (http://150anosportugaljapao.blogspot.com/2013/04/rapidographia-christopher-hitchens.html), também já falecido, também um intelectual, chamado Christopher Hitchens. Em 2004, quando nos visitou, ainda eu não sabia quem ele era, o Hitch disse o seguinte, falando do PREC:
"«Houve algo que me afectou muito, talvez porque sou jornalista: o caso do República, em 1975, quando a extrema esquerda tomou conta do jornal e expulsou os "socialistas moderados" do PS. Havia muita gente que dizia que não era censura, eram só os trabalhadores a tomar conta do seu jornal. Mas para mim foi o teste: aquela gente só estava interessada na liberdade de imprensa se a pudesse controlar... Como as eleições livres, era considerada por eles uma liberdade burguesa - e ver isso mudou a minha maneira de pensar. Na altura era membro de uma organização trotskista, e deixei-a. »Foi o seu momento orwelliano? «Sou um grande admirador de Orwell e não posso arrogar-me a sua capacidade de análise, a sua intuição.
Mas de facto percebi aí que a política do PCP, de Cunhal, de Vasco Gonçalves, era essencialmente estalinista. Pensei: talvez seja verdade que Mário Soares é um "socialista da NATO", e bem conservador, mas prefiro-o de longe aos socialistas do Pacto de Varsóvia.
»
" Considerando que Hitchens, tal como Orwell, eram Trotskistas (aliás Hitchens achava que Orwell escrevera o Animal Farm para defender a ideia de que devia ter sido Trotsky a ficar no poder soviético e não Estaline), portanto faziam parte da esquerda anti-totalitária ou como o Hitch fraseava a resistência à esquerda a Estaline. Diga-se de passagem que Hitchens uns 10 anos antes de morrer se tornou apartidário, sem nunca renegar o marxismo, mas assumindo a morte do movimento socialista internacional. Eu acho que foi pena o Hitch e o Álvaro nunca terem falado. Talvez não o tivesse achado tão conservador como achou Soares, o "socialista da NATO". Não sei se os dois se entenderiam, desconfio que não, ah mas que debate podia ter sido! Eu por mim gosto de consultar as obras e opiniões dos dois, de forma crítica e aberta, e estou muito no início tanto num como noutro, porque afinal é na dialéctica em que se baseia o Marxismo e a dialéctica é nada mais que a "interpenetração de ideias ou posições diferentes e as consequências disso mesmo", parafraseio Hitchens. Para além disso, é interessante notar que o Le Monde (que apoiou Miterrand numas eleições, e o Hitch dizia ser da mesma família política que Miterrand foi dos poucos em toda a imprensa internacional, que culpou o PCP pelo caso República, quando era socialista) publicou a favor do PCP, dizendo que esse movimento de tomada de controlo do República não fora comunista, mas antes levado a cabo pelos trabalhadores do jornal. Diga-se de passagem que isso deu muito jeito ao Mário Soares & Co.
Seja como for, Cunhal está hoje ainda vivo, no sentido figurado, no PCP, na sua obra artística, literária e política, que aparentemente ainda fascinam as pessoas:
Está no top 5 dos livros não ficção da Wook, que por ironia é liderado por outro marxista (já) não militante chamado Ricardo Araújo Pereira.
Na secção de não ficção da FNAC, aparece em primeiro com o livro da Judite Sousa e depois mais abaixo novamente um outro livro sobre ele e a sua relação com Breznev que já mencionei acima.
Estes livros levaram os Indignados, ou pelo menos foi através dessa página no Facebook que eu obtive a imagem abaixo, a gozarem com a situação:

Mas brincadeiras à parte, termino esta minha longa mas, admito, puramente virtual e superficial dissertação sobre Cunhal, não menos completa ou abrangente contudo que muitos artigos de jornal, contra ou a favor, que outros escreveram durante este ano (e nalguns dos quais me apoiei até), deixando um sumário de como vejo o Álvaro.
Acho que é um homem incontornável da História Portuguesa, um guerrilheiro, um político, um intelectual, um humanista, que de certa forma foi um Orwell português (não querendo assim minimizar a singularidade e individualidade de ambas as figuras que comparo), não que tivessem uma visão de mundo completamente igual, mas antes por ambos serem marxistas e tirem tido o mérito de apontar e prever as crises das suas épocas e de combaterem o fascismo com alma e coração, dando não só a alma mas também o corpo ao manifesto. Enquanto uns, muitos, acham que ele teria sido um Estaline em ponto pequeno, se calhar um Fidel, eu desconfio que ele tinha tudo para ser o nosso Mandela.
Não se admirem de ver o Mandela sorridente entre os Comunistas, afinal foi a CIA que o denunciou ao Regime Sul Africano e foram comunistas sul-africanos que lhe deram guarida na clandestinidade. Tal como Malcom X e Martin Luther King, Mandela tinha fortes ligações marxistas. Álvaro Cunhal queria reunir os portugueses democratas em torno do ideal comunista, para fazer de Abril uma sociedade de socialismo democrático, como indica por exemplo o comentário abaixo onde se diz contra a perseguição religiosa de qualquer tipo, sendo ele próprio ateu assim com é o pensamento marxista:
Mas não pôde consumar a sua revolução porque a verdade é que o povo nunca abraçou a revolução. Esta foi feita apesar do povo e foi por isso que o 25 de Abril não mais conseguiu que dar-nos o direito de falar, ainda que os governantes que defendem os interesses do 1% não nos ouçam na mesma. O povo não fez o 25 de Abril, bateu-lhe palmas. O povo não queria o socialismo, provavelmente ainda hoje grande parte do povo nem sabe bem o que isso é e quão grande é a hipocrisia actual do nome do Partido Socialista, mas na altura do PREC bateu-lhe palmas. Tal como batia palmas ao Estado Novo antes, ainda que também não o quisessem. O nosso mal é que as revoluções, que nunca passaram de golpes de estado neste país, têm sempre sido feitas por uns poucos e depois perdem-se p'lo caminho dos muitos que não sabem bem o que querem fazer com a liberdade que alguém lhes dá e vão na melhor cantiga de bandido que ouçam.
Álvaro Cunhal, usando uma metáfora cinematográfica e parafraseando o discurso final do "The Dark Knight": "... era o herói que Portugal precisava, mas que o Povo Português recusou. Por isso o perseguiram. Mas ele aguentou. Porque ele não foi o nosso herói. Foi um acérrimo defensor. Um visionário aconselhador. Um Cavaleiro das Trevas." Ainda (ab)usando das deixas desse belo filme, ele foi alguém que viveu o tempo suficiente para se ver tornado aos olhos doutros num vilão. Mas ainda assim, ele foi também daqueles que, como o Poeta disse, "por obras valorosas se vão da lei da morte libertando".

Enquanto ele desejou que nós conseguíssemos realizar os nossos sonhos, eu deixo-vos com o sonho dele e despeço-me com um alegre e sincero "Até amanhã, camaradas"! ;)
P.P.S.: Esta entrada contém além das fotos minhas, imagens retiradas de artigos do Expresso e do Público, e ambos os jornais são supracitados e "linkados". O youtube foi também indispensável.

Info Sociocultural III

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E estão a terminar, com o término do ano, as comemoraçãos do 470º aniversário da relação entre Portugal e o Japão. Deixo-vos o link para o pdf informativo da Embaixada do Japão, do qual e como é meu hábito saliento alguns pontos:

- a decorrer durante este mês, está um ciclo de cinema japonês na Cinemateca Nacional:
- já no próximo dia 11, portanto esta quarta-feira, vai haver um workshop centrado na obra de Robert J. Langdon (nada relacionado com o Código Da Vinci garanto-vos) no que diz respeito à arte nipónica de dobragens em papel, o Origami. Entre outras coisas, o cientista em questão ficou conhecido como o grande teórico da "matemática do origami". Este evento não está no boletim, mas a imagem é um printscreen do site da Embaixada.

- a decorrer está também a exposição Tourbillon:

- por último, a embaixada deu já aviso prévio sobre cursos centrados em cultura japonesa, que acontecerão nos vindouros dias de Janeiro e Fevereiro do próximo ano:
Como poderão perceber, muitos destes eventos estão relacionados com o Museu do Oriente que, para meu gáudio e contentamento, também não adoptou o pérfido desAcordo Ortográfico de 1990. O site é user friendly e para quem tem interesse em cultura oriental vale muito a pena consultar de tempos a tempos:

Agora, vejamos a cultura de origem nacional.
Para começar, também com início no dia 11 e em cena até ao dia 15, no teatro da Comuna em Lisboa, temos a peça de Rui Neto, com desempenho de São José Correia, intitulada Worms.
Não deixem de visitar o blog da peça por vocês mesmos, pois está extremamente simples, altamente funcional, sem Acordo Ortográfico, completo com um teaser trailer para a peça e também fotos dos bastidores. Eu já reservei o meu bilhete. Vejo-vos lá! ;)
A São José Correia chegou a ser minha vizinha, vivemos durante um semestre na mesma rua. Embora a visse muitas vezes nunca fui incomodá-la. É certo que os actores acabam por, e como dano colateral do seu ofício, ficar conhecidos, mas é minha opinião que isso não nos dá o direito de andarmos a chateá-los ou pior ainda feitos maluquinhos a tirar-lhes fotografias para vender às revistas cor-de-rosa hipersensacionalistas, como a da qual retirei isto:
Agora, eu duvido muito que a São vá ficar mesmo Nua em Palco. Não que eu me opusesse, como é lógico, mas estamos a falar de alguém que recusou os vários avanços apoiados por avultadas quantias, por parte da playboy para pousar nua, se bem se recordam de há uns anos quando a actriz esteve por terras de Vera Cruz. Há ainda a sua afirmação, aqui contada pelo Fernando Alvim:
E no seguimento da ideia perpetuada pela resposta da São, não se esqueçam de protecção!

Saúdo ainda Francisco Goiana da Silva, médico estagiário que procurou com uma exposição de escultura para obter fundos para pagar o seu estágio e que vai para representar Portugal em Davos, na Suíça, onde se vai debater a Humanidade. E lá Francisco vai procurar mudar o mundo e argumentar em defesa do Serviço Nacional de Saúde Português, especialmente o seu carácter constitucional de "tendencialmente gratuito".

Estamos em época natalícia e o presidente da câmara alfacinha não se poupou a despesas para a celebração. Entre 14 e 24 de Dezembro, o Terreiro do Paço vai ser inundado de luz, num espectáculo chamado Circo de Luz, que incorpora a técnica de 3D mapping para projectar imagens luminosas. Os Deolinda e o Nuno Markl ajudam a animar a festa, juntando som e voz à luz. Eu não estava em Lisboa, há uns meses, quando houve um evento semelhante e estou felicissímo por ter uma segunda oportunidade de o desfrutar.
http://www.vousair.com/cartaz/novidades/espectaculos/item/8577-espectaculo-circo-de-luz-no-terreiro-do-paco 

Ah, sim! E parece que os Gato Fedorento irão voltar à televisão com um... coiso!

No espírito do N.I.N.J.A. Samurai, que celebra a nossa amizade com o Japão o ano todo, todos anos, deixo-vos ainda um link para um episódio do programa de TVI24 denominado "Ganhar o Mundo", que fala sobre o Japão e as possibilidades económicas, com a participação do Embaixador do Japão em Portugal e que toca também a nossa história comum que já tem quase 500 anos de idade. Espero, antes de findar o mês, aqui deixar um post sobre precisamente esse episódio dos Descobrimentos, em detalhe, um vez que é ignorado (ou infelizmente o foi quando eu estudei História) no Ensino Público.

Por agora é tudo. Espero voltar em breve, mas desejo-vos desde já um excelente mês, o melhor Natal possível e umas óptimas entradas para 2014. ;)

Uma Cultura de Rebanho prá Matança

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Algumas sugestões para os meses vindouros, para várias partes do país:
- uma maratona BTT marcada 6 de Abril em Castelo de Vide:
Inscrição na prova: 8€
Almoço (atletas e acompanhantes): 6€
Maratona de 100km
Meia-Maratona de 50km

- em Leiria, já dia 13 de Fevereiro, temos teatro:
«“As Muralhas de Elsinor” já tem estreia marcada, dia 13 de Fevereiro em Leiria partindo depois para digressão por todo o país. Com um elenco jovem e muito talentoso. Rodrigo Trindade (Escola Profissional de Teatro de Cascais, protagonista Mundo ao Contrário - TVI, Woyzeck - Teatro Experimental de Cascais) Marco Mendonça (Escola Superior Teatro e Cinema), Sara Cecília (Escola Profissional de Teatro de Cascais, I Love it - TVI, Woyzeck - Teatro Experimental de Cascais), João Leiria (Escola Profissional de Teatro de Cascais, Morangos com Açúcar - TVI, Podia Acabaro Mundo - SIC e Miguel Babo que encena e que completa o elenco. O texto original do, também jovem, Hugo Barreiros, aborda os temas existenciais expressos por dois guardas, cujos diálogos alimentam a expressão dramática do autor em relação a estes mesmo temas. Uma abordagem criativa e plena de humor que prende o público na utilização original do cenário dramático de “Hamlet” de Wiliam Shakespeare onde se enquadra todo o desenrolar da peça. Uma peça para todas as idades (M12) com a particularidade de ter uma banda sonora original, feita propositadamente para esta encenação, assinada por Nuno Simões. O conhecido músico de David Fonseca, criou temas excelente que se integram também de forma excelente na encenação.», informação dada pela única actriz neste elenco, a Sara Cecilia (imagem abaixo).
"E se a história de "Hamlet" fosse contada na perspectiva dos dois guardas? É precisamente isso que acontece nesta peça, que dá a conhecer o outro lado da história, a partir do olhar de Bernardo e Francisco, personagens que aqui ganham uma densidade emocional que contrasta com a pouca importância que lhes é dada. A banda sonora, da autoria de Luís Albuquerque, é interpretada ao vivo."inPúblico.
Eis um vislumbre dos Bastidores da peça, em tempo de ensaios:

- e em Almada, a peça Worms volta a estar em cena, já nos próximos dias 7, 8 e 9:
 
Por falar em teatro, particularmente na peça Worms, que eu já aqui referi e à estreia da qual fui de facto, no Teatro da Comuna, tenho de reportar que foi um tanto ou quanto decepcionante. A São José Correia dá o seu melhor, única coisa que impediu os procedimentos de terem sido um completo desperdício do meu tempo e dinheiro! A peça é um monólogo, algo dificílimo de fazer. Espera-se que o que seja declamado a par com a forma como tal declamação é produzida, sejam suficientes para prender os espectadores aos seus assentos. O problema aqui é que o texto é uma verborreia incoerente de uma personagem que não chegamos a perceber se é louca e está a imaginar alguma coisa, se vive no agora e está a passar por uma catástrofe, se a acção se passa num futuro pós-apocalíptico… não chegamos a perceber. Enquanto a São está montada numa estrutura de ferro, que não deve ser nada agradável, entregando o discurso com uma fluência e entregas completas, nós não podemos senão sentirmo-nos despegados do que se está a passar. Oh, há umas piaditas sobre o Papa que eu até curti, umas tiradas ultra-ligeiras, quiçá superficiais, sobre a crise, mas depois toda uma conversa paranóica sobre moscas… Depois há a questão da actriz estar ali montada, como uma jarra numa mesa, imóvel, auxiliada apenas por uma câmara que espelha a sua face num grande ecrã para que melhor a possamos ver… ou seja, vou ao teatro ver televisão… e uns efeitozecos com laseres (nada de concreto) e umas quantas de emissões de fumo e vapor de água. Dito assim, pode parecer que acontece muita coisa, mas não. E o facto de ela não se poder mexer retira dimensão à peça. Enquanto experiência teatral é interessante, mas na minha opinião a única conclusão desta experiência é que o esquema, o aparato, não resulta. O texto teria de ser melhor, o aparato melhor usado, os efeitos teriam de ter alguma finalidade para além de encher. Repare-se que é possível fazer muito do pouco. Isto não é teatro, mas reparem nesta curta, por exemplo:
Embora tenha duas vozes, eventualmente dois actores, a maior parte da curta é o diálogo (grande parte monólogo) e ambas as personagens estão presas no local. Mas funciona.
Quanto aos efeitos e ao suporte metálico (que eu devia de ter fotografado mas não levei máquina, telemóvel merdoso), se isso está a fazer as vezes do cenário do teatro clássico, então deveriam ser melhor pensados para ajudar a história e não simplesmente serem atirados para o palco como o pó mágico da Sininho ou uma macheia de areia para os olhos.
- Em Lisboa, no próximo dia 12 de Fevereiro (imagem acima), na Assembleia da República "estala à bomba, qu'o foguete vai no ar, arrebenta, fica todo queimado", dizia o poeta. Uma exposição de arte pelo camarada (na luta contra o AO90 e pela alma de Portugal) Gastão de Brito e Silva, que procura denunciar o estado do país e tentar melhorá-lo, ao que parece já com alguns resultados. Ler link abaixo e os comentários ao post, se quiserem saber mais:

- como, por incrível que pareça dado o dilúvio tempestivo que vai na rua enquanto escrevo estas palavras, o Verão se aproxima e as Festas de fim de ano não perdoam na balança, eis um guia para não ser embarrilado pelos ginásios. Cortesia da Deco e da Visão (atenção, possibilidade de acordês presente):


Finalmente, queria deixar uma espécie de mensagem de Ano Novo (notoriamente atrasada, mas hey a minha vida não é isto!). Gostava de ter algo inspirador para dizer, mas a verdade é que me parece, ao contrário de muito boa gente, que os sinais positivos de que muitos falam, pecam tanto por ser demasiado pequenos como por serem demasiado tardios.
A verdade é que não se sabe quanto destas baixas da taxa de desemprego (ou serão taxas de crescimento de desemprego?, fico sempre confuso!) se devem à emigração desesperada e massiva que Portugal sofre nos dias de hoje. Estamos a sangrar a massa trabalhadora e contributiva do país, ao mesmo tempo que os politólogos afirmam que vamos ter problemas demográficos devido à baixa de natalidade. Isso é tudo lindo, mas se somos 10.5 milhões sensivelmente e já não há trabalho para 17%, o que raio quereriam eles fazer com mais demografia? Para quê? Para a mandarmos emigrar? Para termos mão de obra ainda mais barata como a China?
Mas o relógio de Portas contínua a sua contagem decrescente, em Passos de bebé birrento, para o grande momento de Independência de um país que não controla a moeda que usa, que não lhe é permitido alavancar as suas enormes reservas de ouro para negociar a dívida com os seus credores, que está vinculado por tratados com outras nações e que está (e continuará a estar porque nada estrutural foi alterado no Estado) às sopas dos subsídios comunitários… não sei o que fazer com tanta independência, a sério.
À PARTE: aposto que a Troika, desde da cerimónia do relógio, anda a bombar o vídeo abaixo!

A Reforma do Estado, chutada para fora, pelo CDS; o anular do Acordo Ortográfico chutado para prolongamento pelo CDS; a Co-Adopção para Casais Gay chutada para canto pela JSD; sem falar na privatização de cotas de empresas que davam dinheiro ao Estado, em prole de rendimentos extraordinários para aparentar um decréscimo do défice, enquanto o contribuinte contínua a pagar as PPP’s, os SWAP, toda a minha gente é absolvido no caso dos submarinos, as empresas que dão prejuízo não são nem privatizadas nem reestruturadas, o combate à corrupção não só não é feito como é ainda mais impossibilitado com a crescente falta de meios nas polícias e a não simplificação da Lei e da burocracia, e a cidadania é vendida a troco de negócios de imóveis!
Se Portugal conseguiu um aumento brutal nas suas exportações, NÃO FOI POR CAUSA DESTE GOVERNO, FOI APESAR DELE! Tudo o resto é medíocre propaganda e quem nela cai é parte do nosso problema colectivo.
Se Portugal tem aguentado, muitos portugueses não têm, ou têm passado fome, falta de medicação, falta de um tecto, etc…
Todos os nossos problemas continuam por resolver, sendo que perdemos capital humano, perdemos qualidade na Saúde e Escolas públicas, perdemos coesão social e, a médio prazo (10 anos no caso dos CTT), o Estado perdeu fontes de rendimento.
Mas se querem encontrar os culpados, como diria a personagem V do filme “V de Vingança”, “you need only look into a mirror!” (tradução = precisam apenas de olhar para um espelho!).
O povo português continua a ser facilmente distraído com patéticas e vis manobras de diversão políticas, com as classes política e jornalística a usarem assuntos sérios mas de fácil resolução para mentes sérias e honestas, como munição mediática. O referendo da Co-Adopção Gay, a lei dos Animais que era para ser mas afinal não, e agora a histeria das Praxes.
Sobre isso, aqui está das poucas opiniões sóbrias que encontrei (pena o acordês em que está escrita):
Segundo o Público, já desde o século XIX que pessoas se queixam das praxes. Nessa época, tal tradição só existia em Coimbra. Depois, generalizou-se às restantes universidades, segundo a alegada noção de que “é tradição”. Pois eu quando vim para a faculdade, vinha preparado e decidido a não ser praxado. De facto não o fui, mas também não cheguei a ter a oportunidade de bater o pé. Cheguei em Segunda Fase e na minha altura isso queria dizer começar as aulas em finais de Outubro, inícios de Novembro, já muito após terem acabado as praxes. Contudo, descobri, no meu segundo ano, que as praxes do meu curso, Engenharia Aeroespacial no IST, não eram de todo a vulgar cópia da tradição académica de Coimbra. Não, os alunos de Aero haviam feito uma coisa muito sua, muito sui generis. Para nós, as praxes não tinham formalidade, ninguém era obrigado a trajar para praxar, ninguém era humilhado, não havia qualquer tribunal de praxe, embora este fosse sempre ameaçado. Eu praxei no segundo e terceiro anos, sem nunca ter sido praxado. E foi só na penúltima vez que fui à praxe que fui baptizado com outros caloiros, apenas por me apeteceu. Ainda estava calor. O que fazíamos? Estas figuras:


Já agora, aquela senhora ao pé do carro da polícia de camisola amarela é Mãe de um dos caloiros desse ano e andou connosco alguns dias, curiosa e querendo partilhar da experiência do filho. E já agora, se repararem, o sinal está verde! Como podem ver só se vê um trajado e não é ele o veterano mais velho, é o rapaz que vai a segurar o avião. Não havia cá Dux’s nem prepotências dessas. No final, o que interessava era que os caloiros se conhecessem uns aos outros, conhecessem alguns dos veteranos, tivessem um padrinho ou madrinha que lhes abrisse caminho, e que nos tratássemos de igual para igual daí em frente, colegas que somos. No fim de contas, a mítica integração! Até há bem poucos anos, o meu curso nem ia no cortejo do IST. Não sei como as coisas estão agora, porque chegou-se a uma altura que não me fazia sentido continuar a ocupar o lugar, além de começar a não gostar de certas alterações. Uma maioria de “batman’s” (como eu chamo aos alunos trajados. Confesso que partilho da opinião do Miguel Torga sobre o traje) formou-se e decidiram por voto que íamos começar a ir com a manada ao cortejo de caloiros do IST. Portanto, não sei quanto as coisas já descambaram para a típica imitação da alegada tradição. Ou para coisas piores, como aquelas que já outros falaram. Espero que não. De resto, também há outras experiências de praxe que terão sido boas. Saquei a imagem abaixo dum Facebook duma desconhecida, mas como estava publicado para quem quisesse ver, coloco aqui o print screen como testemunho:
Por isso, dada a minha experiência do que a praxe pode ser (muito embora consciente de ser um caso mais excepcional que habitual [link para exemplo na origem - Coimbra]) e dado que as praxes são extracurriculares (ainda me lembro quando as proibiram dentro do IST e nós as viemos fazer para a Alameda D Afonso Henriques, acho que as imagens acima são dessas praxes mesmo), a ideia avançada por alguns de proibir as praxes é simplesmente idiota. Não dá para se proibir. É como proibir a marijuana, quem a quiser vai obtê-la. E o que é conduta ilegal já o é e pode e deve ser tratada dentro do âmbito da Lei. Além disso, a ilegalidade pode levar a que as coisas passem a ser feitas às escondidas e mais tragédias como as do Meco (se é que realmente foram no âmbito de Praxes) sucedam, ao invés de menos.
Seja como for, é preciso relembrar que isto não é de agora e já antes deste caso do Meco que tinham havido incidentes menos, digamos, de acordo com a Lei. Mas eis que agora veio o histerismo. Estranhamente, ninguém fala (por exemplo) da famosa Queima das Fitas em Coimbra… nem imagino quantas comas alcoólicas, quantas overdoses e acidentes se dão nesses tradicionais procedimentos académicos, mas como isso não teve a mesma atenção mediática que a tragédia do Meco, who cares, right? Ninguém fala em proibir isso… e ainda bem.
O Estado pode e, na minha opinião, deve não só mas também de ser uma rede de segurança para os seus cidadãos, mas nunca pode ser uma sala fechada e almofadada e/ou um colete-de-forças, perdido na intenção de salvar o cidadão de si mesmo! Senão corremos o risco do estado totalitário, que trata os seus cidadãos como crianças a quem não se pode dar responsabilidade sobre si mesmas. A verdade é que se queremos ser livres não podemos, como disse a personagem Simon Phoenix, no filme “Homem Demolidor”, tirar o direito às pessoas de serem idiotas.
A verdade é que as pessoas, tipicamente (há casos em que são mais novos), vêm para a faculdade com idade para votar, para conduzir, para beber, etc… São, ou espera-se que sejam, adultos. Se chegam à faculdade e não são capazes de dizer que não à pressão de grupo e fazem coisas com as quais não se sentem bem ou que os colocam em perigo de vida, ou que atentam à sua dignidade, então o problema é da Educação (e não me refiro à que é dada na Escola) que levaram que não lhes deu a proverbial espinha dorsal que qualquer pessoa precisa na Vida. Tanto da parte do caloiro que se deixa levar, como da parte do veterano indigno desse nome, que respectivamente sejam abusados e abusem nas e das praxes, há uma incrível falta de cultura e de pensamento individual que levem a um carácter autónomo, livre e solidário. É se calhar por isso que, quando chega a altura de votar, a maioria vai com a manada. É a velha história do:
- Porque fizeste isso?
- Porque o João fez…
- E se o João se atirar para dentro dum poço, tu também te atiras?

Quem nunca ouviu isto quando era criança?
Quem não entendeu à primeira?
Quando deixarmos de ser um rebanho de ovelhas ávidas a alinhar com a maioria ou, pelo menos, incapazes de lhe resistir, e passarmos a ser um colectivo de pensadores independentes (com opinião formada e convicção de pensamento, capazes de tomar conta de si mesmos), mesmo com a tenra idade de 18 anos, aí sim!, teremos uma hipótese de realcançar, enquanto nação, um esplendor não só tão grande como maior que o dos nossos antepassados. Antes de voltarmos a ser independentes externamente, teremos de nos tornarmos independentes mentalmente. Cada um de nós. Como eu disse acima, ainda temos os problemas todos por resolver.
Feliz e próspero 2014! E deixo-vos na companhia sempre alegre do Bruno Nogueira, com a sua tirada sobre o tipo de praxes que eu estarei sempre pronto a renegar:
http://www.tsf.pt/paginainicial/AudioeVideo.aspx?content_id=3653080

P.P.S.: E quanto à rapariga do Prós e Contras? Eu cá gostei da forma como ela argumentou. Muito inteligente, controlou a sala e dominou o momento. Se o Relvas ainda fosse ministro, ela tinha trabalho garantido!

Otori, São Valentim e Ginkgo?

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Eu estou a gostar muito d’«A Saga dos Otori» (originalmente chamada “Tales of the Otori”), criada pela escritora Lian Hearn, ao ponto de ter finalmente decidido fazer uma crítica aos 4 de 5 livros que já li da supracitada obra, sendo que desde que no Natal me foi oferendado a prequela desta história (o quinto e último livro a ser publicado) não só li a prequela como reli os volumes 1 e 2 da trilogia original e já iniciei o terceiro.
A saga passa-se no Japão Medieval dos Samurai, mas não no Japão Histórico. Antes a acção decorre num Japão alternativo e imaginário, em tudo igual ao Histórico excepto nos intervenientes e nalguma da geografia do país.
Temos portanto um país dividido em feudos, que existem em constante guerra uns com os outros perante um fraco imperador que é descrito como desprovido de poder, arrecadado algures numa capital longínqua. De facto, o Japão foi assim durante imensos anos, nos dias do Xogunato. Lidamos também com um Japão já infectado por missionários cristãos, gerando assim uma nova minoria no Japão, prontamente a ser perseguida por uma classe guerreira temerosa de pessoas que não os considera como seus superiores mas antes como seu iguais (atitude explicada no livro pelo versículo bíblico "todos somos criados iguais", parafraseio). Assim, ao longo de todos os livros desta história, vamos tendo vislumbres de tópicos ou questões que ainda hoje atormentam ou, porque não?, assombram a Humanidade: guerras de classes, perseguição religiosa, direitos das mulheres, os abusos dos poderosos, a austeridade servida às massas através de impostos cada vez maiores... parece-vos familiar?
Tudo isto surge no decorrer da constante luta de uma facção do clã Otori, liderada inicialmente por Otori Shigeru, justo herdeiro do clã, afastado do poder graças a traições e maquinações políticas, por parte dos seus tios. 
A prequela, intitulada originalmente “Heaven’s Net is Wide”, que em Portugal foi chamada “O Fio do Destino” (vá-se lá saber porquê?!?), conta-nos essencialmente como é que Shigeru perdeu o governo do seu clã, ou melhor, como não chegou a herdá-lo. Mas também nos mostra como o seu carácter foi forjado, derivado a uma educação espectacular, digna de um rei, temperada com um sentido de responsabilidade pelo e proximidade para com o seu povo. Ao contrário dos seus tios, que lhe usurpam o poder do clã, ele não vê os seus súbditos como posses, mas antes como pessoas cuja segurança deve ser mantida e a quem a justiça e a prosperidade são devidas. Ou pelo menos, a consciência que cabe ao governante o dever de fazer o seu melhor para proporcionar condições para que o povo goze desses três direitos. São também falados os seus amores e desamores, as suas frustrações e pequenas vitórias. Mas grande parte do livro é o relato da vida de um homem destinado a herdar um grande poder que se tem de adaptar a novas circunstâncias da sua vida, ocultando a sua força com uma máscara de fraqueza, enquanto muito pacientemente aguarda o momento de exercer a sua vingança e recuperar o plano que tinha em jovem para a bem-aventurança do seu povo.
E é assim que chegamos a Otori Takeo, herdeiro de Shigeru, e principal personagem da trilogia e da sequela (o 4º livro da Saga, aquele que ainda não li), e que se torna alvo de todas as esperanças de êxito de Shigeru, bem como a sua ferramenta, ou melhor dizendo arma, para atingir o seu objectivo. É de facto só na trilogia que conhecemos o destino de Shigeru e da sua amada e aliada de pleno direito, a senhora de Maruyama Naomi (um outro feudo), mas também é quando conhecemos (e tão bem quanto Shigeru ou Takeo) Kaede, a herdeira de Shirakawa (ainda um outro feudo, cujo clã governante é familiar de Maruyama) e futura amada de Takeo. É através desta personagem principalmente que vemos a perspectiva feminina de uma feminista que procura sobreviver num mundo dominado por machistas.
Estes são livros muito românticos, mas que não contêm romances propriamente cor-de-rosa. As paixões e amores desta história são sempre forçados a enfrentar tudo e todos para existirem, sendo por vezes forçados a existirem apenas em segredo. A força do desejo sexual puro, a líbido, não é colocada de parte como num filme da Disney, mas antes usada para tornar mais realista a vida destas personagens. A própria sociedade e a sua organização e costumes surge como um obstáculo, que impede os poderosos de fazerem o que lhes dá na real gana no que diz respeito ao amor. Os casamentos estão sempre a ser combinados por pessoas que não os noivos, em prole desta aliança ou daquela necessidade de aplacar uma ofensa para com um aliado em riscos de se tornar inimigo. É essencialmente o que acontece na série de tv “Jogo dos Tronos” e nos livros que a inspiram. Uma outra semelhança que “A Saga dos Otori” tem com o universo de RR Martin, é que Hearn também não tem medo de sacrificar uma personagem com quem acabou de gerar muita empatia perante o leitor. Assim, o leitor é forçado a sentir o medo das personagens quando elas arriscam algo ou quando se decidem a afrontar a sociedade que os impede de ser felizes ou de atingirem os seus objectivos.
No que diz respeito à ligação entre a trilogia original (os volumes 1, 2 e 3) e a prequela, esta está mais bem feita que a ligação entre a trilogia original da Guerra das Estrelas e a trilogia mais moderna dessa mesma saga. Os mais pequenos pormenores estão atados com uma precisão admirável e sempre muito subtilmente. De tal forma, que é até melhor começar a ler “A Saga dos Otori” pelo o último dos seus livros a ser publicado, a prequela. É que ao contrário da Guerra das Estrelas, não há nenhum momento de “Luke, I am your father”, para ser estragado.
Além das várias classes sociais do Japão Medieval e das minorias como os barakumin e os conversos cristãos (neste universo intitulados de Ocultos), o livro recebe ainda uma outra dimensão que é o mundo hermético da Tribo, um conjunto de famílias que se organizou como uma rede de espiões e assassinos ao serviço de quem lhes pagar mais, sem quaisquer lealdade excepto à própria Tribo. Essencialmente, ninjas.
A autora decidiu-se por dar um toque de espiritualidade e fantástico a uma, de resto, história muito realista. Esse toque materializa-se nalguns destes ninjas que são dotados de poderes que rivalizariam os de um Jedi e na existência de profetas e profecias entre os Ocultos, cujo único poder é a sua total convicção e entrega à causa dos ensinamentos do seu Deus.
O facto de Otori Takeo ter uma ascendência que une os Ocultos, os Samurai, e os Ninja, numa mesma pessoa, tornam-no o ponto óbvio de confluência da trama. Ele é o herdeiro adoptivo de Shigeru, o mais popular dos nobres que conseguiu sempre manter a seu lado o apoio das classes mais baixas; é também alguém cuja mãe pertencia aos ocultos, uma minoria que Shigeru e Naomi (a senhora de Maruyama) decidiram proteger, e foi então criado entre eles até quase à maioridade; e herdou de seu pai os mais altos poderes da Tribo, organização que o cobiça e exige a sua lealdade sob ameaça de morte. Em perigo constante tanto da Tribo, como dos senhores feudais, é nos seus poucos aliados nobres mas essencialmente nas classes baixas que Takeo terá de procurar a sua base de poder.
Enquanto isso, Kaede, herdeira do único feudo que permite as mulheres governarem, está ela também em risco constante, daqueles que desejam usurpar o seu dote e daqueles que ela insulta meramente por recusar pedidos de casamento.

Em suma, temos uma buffet de tópicos, tratados pela perspectiva de personagens com as quais facilmente se empatiza, todo o romantismo da Era Medieval mas num contexto em que os nobres, mesmo os mais pérfidos ou maquiavélicos, são cultos (ao contrário da nossa era medieval europeia, em que a classe governante era maioritariamente inculta e só sabia mesmo “andar à porrada”). É um rodizio que se torna coerente por uma escrita que tem tanto de bela como de fluida e simples. O facto de haver algum ateísmo no meio de tantas personagens místicas ou espirituais, também me aliciou na leitura destes livros. Na vida social, todos fingem ter algum tipo de credo, particularmente budista ou shintoísta. Contudo, algumas das personagens, quando falam com o seu círculo interno de amigos ou com “os seus botões”, dão-se à liberdade de afirmações de descrença ou cepticismo, como demonstra o diálogo escrito no scan seguinte:
Claro que é sempre um bónus para quem, como eu, vibra com os folclore e mitos medievais japoneses, esta história estar cravejada de ninjas e samurai. A única pena que tenho é que seja dado tão pouca atenção aos lutadores sumo, sendo que até agora só apareceu uma referência a uma escola de lutadores, mas sem grande profundidade ou interesse para a história central. É apenas uma episódio de passagem. Sendo que a cerimónia pouco conhecida por detrás do Sumo, no Japão Medieval, tive pena que a autora não a usasse mais. Um dia destes abordo o tema aqui.
E se bem que se o Japão Medieval aqui apresentado é imaginário em pessoas e locais, o espírito japonês está extremamente bem representado nestes livros. O valor da honra, a desonra da derrota e o ter de lhe sobreviver, o choque de culturas onde o suicídio é hábito com outras em que este é proíbido, mas também os ensinamentos da arte da guerra (não declarados mas subtilmente escritos das entrelinhas das acções dos actores da história), o ateísmo e o choque de religiões, as classes e as suas ligações, etc…
A tradutora Isabel Nunes está de parabéns. Acho que nos quatro livros, até agora, detectei apenas uma gralha. Em vez de caractér, aparece carácter. Os títulos é que estão um bocado mal traduzidos, mas não sei se foi culpa dela ou da editora. Já indiquei o título da prequela, eis os restantes:
- Livro 1: Across the Nightingale Floor (tradução literal: Através do Chão do Rouxinol) passa a “A Tribo dos Mágicos”;
- Livro 2: Grass for is Pillow(t.l.: Erva para a Almofada Dele), eu colocaria algo como “Erva como Almofada”, mas a tradução foi “O Desafio do Guerreiro” (alguém deve ter visto o Braveheart nessa semana!!);
- Livro3: Brilliance of the Moon (t.l.: Luminosidade da Lua) passou a “As Cinco Batalhas”;
- Finalmente a Sequela, que eu ainda não li: The Harsh Cry of the Heron (t.l.: O Rude Grito da Garça”) passou a “O Voo da Garça”.
Eu até concordo que alguns dos títulos portugueses são melhores que os originais, mas detesto quando o marketing se sobrepõe ao autor, como me parece ser o caso. Não esqueçamos que estes são apenas subtítulos, pois o título é “A Saga dos Otori”.
Seja como for, como o último dos livros oriunda de 2007, facilmente se encontram sem acordo ortográfico!!
Note-se, aludindo às imagens directamente abaixo e acima, que para algumas mulheres, aquelas a quem eu enquanto homem daria preferência de um ponto de vista psicológico e cultural, dão extrema importância à língua (full pun intended):
Assim sendo e como se avizinha o dia de St Valentim (mais um santo desencaminhado pelos mestres do marketing), este é também um belo presente para um(a) namorado(a) que goste de ler e até um presente que, caso quem oferece também goste de ler, pode ser algo que ambos os membros do casal possam desfrutar conjuntamente. Eu sou da opinião que tanto mais romântico é o presente do dia dos namorados quanto possa ser uma prenda que se desfrute a dois.
Por falar no dia dos namorados, eu escrevi no ano passado um post sobre isso, a afirmar o quão era um dia não de romantismo mas de comércio, e qual não é o meu espanto quando este ano revisitei esse meu post e reparei que tenho lá um único comentário e que é precisamente um link para uma oferta comercial relacionada com o Dia dos Namorados. É tão bom quando nos provam correctos! :D Se quiserem ver é só seguirem este link:




Quero ainda acrescentar mais uma prova, if you will, que faz o meu caso acerca da natureza comercial do Dia dos Namorados, ou de São Valentim se preferirem. Uma ex-colega de trabalho minha colocou, por piada, a imagem acima no facebook dela. Ela é solteira e achou por bem brincar com a cena. Embora não sirva apenas para esse dia, vários países desenvolveram de facto um nicho de mercado no aluguer de namorados ou namoradas. Acontece na China (Link aqui), no Brasil (Link aqui), com uma sucursal em Portugal trazida para cá por um alumnae do Instituto Superior Técnico, a minha alma matter, (Link aqui), e finalmente no Japão, como demonstra o vídeo abaixo.
Agora já ninguém precisa de se sentir socialmente inferior por não ter a seu lado a sua alma gémea no dia de São Valentim ou noutra ocasião social qualquer, desde que claro tenha dinheiro! Felizmente, este mundo ainda não está perdido e outra amiga "facebookiana" publicou uma outra imagem dedicada àqueles que são, não só desavergonhada mas também, orgulhosamente solteiros.
Mudando de assunto drasticamente, quando estava a ler a prequela, descobri lá um termo de origem chinesa que desconhecia: Ginkgo. Fui pesquisar e percebi que era uma árvore. Segundo a wikipédia a palavra quer dizer em chinês “damasco prateado”. Não liguei mais na altura. Uns dias depois, surge-me este artigo (Link aqui) no news feed do facebook precisamente sobre as Ginkgo. Não teria ligado ao artigo, não tivesse reconhecido o nome e teria ficado a perder gravemente com isso. É fácil então de perceber o que levou o Jung a acreditar no seu Sincronismo! A vida tem destas coisas
As Ginkgo parecem ser as mais antigas árvores existentes. No artigo acima linkado, Roger Cohn, seu autor, começa por afimar:
“Reverenciadas pela sua beleza e longevidade, as ginkgo são fósseis vivos, imutáveis durante mais de 200 milhões de anos.”
Segue-se então uma entrevista concedida à Yale Environment 360 pelo botânico Peter Crane, que diz ter escrito uma biografia destas árvores raras e estranhamente únicas, e sobre a qual eu aqui deixo um resumo.
Muitos milhares de moradores citadinos conhecerão a ginkgo por ser uma árvore de rua, com elegantes folhas em forma de leque ou abano, frutos malcheirosos, e nozes desejadas pelas suas qualidades medicinais, mas Peter Crane vê esta árvore como algo mais que isso. Para ele é uma raridade na natureza devido ao facto de ser uma espécie única de árvore sem qualquer parente vivo, um fóssil vivo nas suas palavras que privou (isto é, coexistiu) com dinossauros e que não mudou em 200 milhões de anos de existência, mas também um exemplo perfeito de como a Humanidade pode ajudar uma espécie a sobreviver.
Sendo reitor da Escola de Yale para Estudos da Floresta e do Ambiente, Crane tem vindo a escrever uma biografia desta árvore ao longo dos milénios. Ginkgo: The Tree That Time Forgot, é o título do seu novo livro que conta como esta árvore se espalhou pelo Mundo.
O botânico afirma que, como só existem 5 grupos de plantas de semente e a Ginkgo compõe um deles, é impossível que alguém que persiga um sério interesse em plantas não se cruze com ela algures nos seus estudos. Por outro lado, acrescenta, que uma vez que se veja a folha tão característica desta árvore, nunca mais se esquece. É muito estranho que a ginkgo não tenha quaisquer parentes vivos de fácil distinção. Tal não acontece com as cerca de 350000 espécies actualmente vivas. Crane procurou explicitar no seu livro que de facto já existiram várias formas de parentes da ginkgo, mas que todas essas árvores aparentadas à ginkgo se tornaram extintas e só esta última chegou aos dias de hoje. Num breve à parte, parece-me a mim que esta árvore é o equivalente vegetal do crocodilo, que também oriunda dos tempos dos dinossauros e subsiste nos dias de hoje, embora ameaçado pelo Homem.
Foi através do registo fóssil que os cientistas como Crane e também um seu colega chinês paleobotânico chamado Zhou Zhiyan, chegaram há conclusão que a ginkgo não se alterou muito em 200 milhões de anos de existência. Zhiyan terá descoberto algumas diferenças na forma como as sementes estaria agarradas à planta via os fósseis, mas não era nada de marcante. Já Peter Crane afirma que nos fósseis que ele estudou, com cerca de 65 milhões de anos, não há quaisquer diferenças. Os fósseis mais antigos das ginkgo têm pouco mais de 200 milhões de anos.

Quanto ao terrível cheiro dos seus frutos, que Crane diz ser semelhante ao do vómito, julga-se que se trata de um agente dispersivo, isto é, uma forma de atrair animais que venham comer o fruto e depois larguem as suas sementes com as fezes noutro local, dispersando as ginkgo pela Terra. Deduz-se isso porque há histórias de cães a comerem frutos desta árvore, ficando depois indispostos. O botânico deixa então a pergunta no ar, as ginkgo ainda vivem, mas será que os animais que as ajudavam a dispersar-se ainda subsistem ou já estarão extintos?
 
O que parece ser certo é que estas árvores ainda retêm a capacidade de se dispersar pela Terra, portanto ainda terão algum agente dispersor. Há relatos de castores e esquilos a comerem frutos das ginkgo, o que segundo Crane não é de admirar, pois após ter passado o mau cheiro, que é produzido pela parte externa das sementes, as sementes em si são atraentes (assemelham-se a um pistachio) e são muito nutritivas e suculentas. Estas sementes costumam cair à terra no final do Outono, no caso norte-americano, portanto em finais de Novembro, inícios de Dezembro. E a única salvação do cheiro é o facto do solo congelar, avança o botânico. Contudo, apenas as sementes das ginkgo femininas cheiram mal, pelo que hoje em dia as ginkgo masculinas é que são mais cultivadas. As lojas botânicas normalmente têm é sementes masculinas (imagem acima deste parágrafo).
A melhor estimativa de desde há quanto tempo o homem cultiva a ginkgo é desde há 1000 anos, na China. Deduz-se isso porque há registos de cultivo de outras plantas na China há mais tempo, mas a ginkgo só surge nos registos a partir de há mil anos atrás. Supõe-se também que tal se deva ao facto de a ginkgo ser uma árvore rara desde sempre. Deverá ter sido primeiro notado pelas suas bolotas e também devido a elas terá começado a ser cultivada, durante muito tempo só na China, só chegando no século XIV ou XV, pelas rotas comerciais, à Coreia e ao Japão. O primeiro ocidental a encontrar-se com uma ginkgo de que há registo, que tenha escrito sobre isso, Engelbert Kaempfer (sobre o qual vale a pena uma visita à sua página da wikipédia) que estava com a Companhia das Índias Orientais Holandesa no seu posto comercial no sul do Japão em 1692 (muito tempo depois de Portugal ter perdido o monopólio do comércio com o Japão, uma história para outro dia). Ao retornar à Europa, ao escrever sobre a sua estadia no Oriente, ele foi o primeiro a usar a palavra ginkgo e também a apresentar uma ilustração da árvore. Podemos ver abaixo um facsimile de uma das suas ilustrações. É provável, indica-nos Crane, que só umas décadas depois a árvore tenha sido introduzida na Europa, pelos 1730-50.
Quanto às suas propriedades e usos medicinais, das quais goza a reputação de auxiliar ou aumentar a memória, o botânico de Yale diz-nos que há duas vertentes, uma ocidental que se foca em extractos das folhas, e outra tradicional chinesa que se centra nas propriedades das sementes. No Ocidente e segundo Crane, têm sido feitos estudos sobre se os derivados das folhas de ginkgo realmente produzem algum efeito positivo medicinal, mas até agora os resultados têm sido algo que ambíguos, nem provando nem negando tais propriedades.
Quanto à ginkgo em si, Crane não sabe exactamente o que a torna tão resistente. O que lhe parece verdade é que as pestes que atingem outras árvores parecem desgostar das folhas da ginkgo que e embora as suas raízes não recebam muito oxigénio nas ruas de cidades, mas sim muito sal e sabe-se lá mais o quê, estas árvores parecem aguentar-se bem perante tais privações e ataques químicos. Tal faz com que seja uma planta muito usada, por todo o lado, como árvore de rua. Encontra-se por toda a Tóquio, por toda a Seoul e por toda a Manhattan, para dar alguns exemplos. Mas note-se que também em Lisboa temos árvores ginkgo, como exemplificado neste link! O livro de Crane também aprofunda a temática das árvores num contexto urbanístico, alegando por exemplo o efeito psicológico que surge de ter árvores de ambos os lados da estrada, criando a ilusão da estrada ser mais estreita e levando os condutores a andar mais devagar, ou a mera produção de sombra que diminui o calor na cidade, podendo prolongar a passagem, doutra forma rápida, das pessoas por uma zona de comércio, ajudando à actividade económica por exemplo. Mas também fala noutros efeitos menos utilitários, como simplesmente tornar mais agradáveis os passeios citadinos, permitindo aos cidadãos, especialmente aos mais novos, todos os efeitos positivos de andar na rua potenciados por uma vasta sombra nos dias solarengos de Verão. No livro, Crane conta uma história de uma moradora do Harlem que tem uma ginkgo à frente da sua casa e que encontra sempre pessoas em redor da árvore independentemente do cheiro. Crane explica que tal é natural de pessoas cujo passado cultural seja familiar com as ginkgo. É comum, diz ele, pessoas da Coreia, da China ou do Japão procurarem uma ginkgo no Outono e apanharem as suas sementes, na maioria das vezes para consumo próprio e não para venda. Muitas vezes nem esperam que as sementes caíam da árvore e antes promovem a sua queda com o auxílio de uma vara.
Contudo, para uma pequena proporção da população em geral, as bolotas e sementes da ginkgo são tóxicas, não sendo então aconselhável comer muitas destas sementes. Ainda que concedendo isso, Crane afirma que o número de pessoas a que isso acontece é mesmo muito pequeno e que ele já comeu sementes de ginkgo em diversas ocasiões sem lhe causarem mal algum.


Peter Crane afirma ainda no seu livro, que o cultivo mesmo fora do habitat natural das ginkgo, embora a manutenção da existência da espécie neste último também seja importante, é uma óptima ferramenta para garantir a sobrevivência desta planta rara e tão única. O botânico confessa que esta árvore, devido à sua intemporalidade face à espécie humana, o ajudou a pensar para além do “aqui e agora”. Ele acrescenta também que a ginkgo é para ele um equivalente temporal aos esboços espaciais da Via Láctea com uma seta a apontar para um pontinho que diz “Estás aqui”, recordando-nos de quão pequenos somos, quão curta é a nossa passagem pelo Universo do qual não somos o centro e no qual existem coisas bem mais antigas que nós. Um pensamento fácil para um ateu, mas extremamente confuso para um crente dos monoteísmos, acrescento eu.
Devido a um trabalho que o reitor fez sobre um fóssil de Ginkgo, um colega seu teve a gentileza de dar o seu nome a uma espécie de ginkgo: Ginkgo Cranei. Crane contudo permanece céptico de que isso dure, inseguro de que as diferenças subtis que o estudo revelou sobre a espécie fossilizada na verdade venham a ser inexistentes, denotando-se que realmente só existe uma espécie de ginkgo e que o nome do fóssil reverta para o simples Ginkgo Biloba. No fim das contas, quem não gostava de ter um bocadinho que fosse de imortalidade, mesmo que apenas (ou especialmente por isso mesmo!!) simbólica?
Na página da wikipédia portuguesa sobre a Ginkgo, é também indicado que a planta só começou a suscitar verdadeira curiosidade no Ocidente depois de ter sido constatado que esta árvore sobreviveu à radiação da bomba nuclear de Hiroshima. Além disso, aprofunda no uso farmacêutico dado aos derivados desta planta. A página em inglês da mesma enciclopédia virtual detém ainda mais informação, para quem esteja interessado em pesquisar mais.
Despeço-me por agora, deixando-vos com uma memória de tempos idos, dum costume brasileiro intitulado de "cartão de paquera", mas a que eu chamaria "o amor espressado em forma burocrática". Bons romances!

Viva o Teatro!!

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Hoje foi o Dia Mundial do Teatro.
Embora eu seja da opinião que um destes dias teremos um problema do caraças e teremos de voltar a alterar os nossos calendários, ou mesmo a reestruturá-los (como a dívida, ‘tão a ver?), porque já não teremos dias suficientes para todas as coisas cujo celebrar queremos consagrar com um dado dia, este é um dia que eu acho importante celebrar. E porquê?
O teatro é parte integrante de ser humano. Não, não estou a exagerar. Quando em pequenos fazemos birra, explodindo em choro por vezes sem razão nenhuma só para conseguirmos o que queremos, que é isso se não um teatro? Quando mais tarde pegamos em bonecos, utensílios de brincar ou apenas na nossa imaginação e nos tornamos em personagens de aventuras imaginárias que nos ajudam a passar o dia e também a crescer e a aprender, que mais estamos a fazer se não teatro? E mesmo não fazendo parte daquela classe que ainda em adultos têm o privilégio de continuar a brincar ao faz-de-conta, sendo para isso pagos, todos nós continuamos a ambicionar essa magia que nos pode levar a fazer rir, chorar, saltar de pavor, deixar melancólicos ou inspirar a mudar a nossa vida, essa magia do faz-de-conta que nos traz ao de cima a criança que há em nós.
Pode ser que o cinema e as séries televisivas sejam uma forma de teatro moderna, mas todos facilmente reconhecemos que no teatro dificilmente há take 2 e que se as coisas correm mal, ou o actor dá a volta rapidamente ao texto e os seus colegas o acompanham ou tudo falha. Para além disso, a relação entre o público e a plateia é íntima e não distante como as dos grande e pequeno ecrãs. Se é uma comédia que está a ser encenada e não há risos na plateia, isso afectará negativamente o desempenho do actor. O inverso é também verdade. Gera-se assim um espectáculo que é influenciado pela empatia humana. É essa ligação empática, quasi-telepática, que separa o teatro do cinema e da televisão. Além de que, claro está, o teatro é milenar e o cinema não mais que centenário.
Também passam teatro na televisão, por exemplo na RTP Memória as revistas à portuguesa ou mesmo os episódios de Wrestling importados dos EUA. Mas não é a mesma coisa. Falta a empatia. Eu percebi isso, estranhamente, graças ao Youtube. Descobri em 2012 que haviam encenado um musical de um dos meus filmes de culto favoritos, The Evil Dead. Procurei no Youtube e encontrei a peça em questão, isto é, encontrei uma videogravação da mesma. Embora a peça tenha feito imenso sucesso, embora eu goste de teatro, de musicais e do material fonte, não consegui achar piada àquilo em vídeo. Faltava a empatia, a atmosfera.
Eu já pisei um palco amador uma vez, ainda muito novo, e quase por achar que tinha algo a provar… a coisa correu mal e jurei para nunca mais. A minha fez teatro amador na sua juventude e ao que parece o meu avô, seu pai, também. Eu sempre preferi encenar peças com os meus bonecos. Mas até já essa capacidade perdi. Resta-me ver teatro… nem que seja o Sócrates, o Passos, o Seguro e o Portas, actores que seguem o Método sem dúvida, a mentirem ao país. É mau teatro, é pior que amador, é reles, mas é teatro ainda assim.
É trágico que tenhamos, já que toquei na política, um Presidente da República que vê um enorme potencial na Língua Portuguesa (ideia errónea que desmascararei quando voltar a falar do Acordo Ortográfico de 1990, me aguarrrdem!), um enorme potencial do Mar (no qual nada faz para que neste se invista, sendo que já tenha no passado feito muito para remover qualquer investimento nesta área), mas que não reconhece o imenso potencial económico das artes cénicas. Sim, porque se isto da dinheiro na Broadway, também o pode dar cá. Tal como o Cinema, já agora. Mas para a Direita Portuguesa, a cultura mais não merece que uma mísera Secretaria de Estado e os actores mais não são que “prestadores de serviços”. Quando este governo tomou posse, um dos seus membros originais veio anunciar que a guerra de classes havia acabado. Para tal, este governo prontificou-se a acabar com as classes. Quase o conseguiu: destroçou ou afugentou a parte da classe média que sobrevivera ao jugo de Sócrates e eliminou toda uma classe (a dos actores) despojando-os para efeitos fiscais do seu nome de classe, tornando-os indistintos prestadores de serviços. O Ruy de Carvalho, que cometeu o erro deneles votar, que o diga.
Verdade seja dita que não é só o Ruy (e trato-o assim porque além de individuo de pleno direito, o senhor é um tesouro nacional, o que o faz um pouquinho de todos nós) que se queixa, na minha opinião com razão, mas várias gerações de actores.
Dá vontade de desejar muita merda aos nossos governantes e aos seus mesquinhos e curtos horizontes, subjugá-los a uma forçada emigração por via de uma chuva de patacas furibundas! Hey, o teatro sempre serviu para castigar os costumes e satirizar a sociedade, revelando-lhe os podres, certo? 
Já agora, sabeis acaso, caro leitor, porque é que é de bom tom desejar muita merda a um profissional do teatro que tenha uma peça a estrear? Parece que em tempos idos, a nobreza ia ao teatro de coche. Se a afluência a um dada peça fosse grande, a entrada do teatro em questão ficaria ladrilhada de merda de cavalo. Este hábito de merdoso mas simpático desejar foi mais uma importação francesa do séc XIX.
Como disse o José Hermano Saraiva, em relação a um dos 12 trabalhos do Hércules que consistia em limpar os estábulos dos deuses: “Meus amigos, era muita bosta!
Mas a culpa é também nossa, do povo. Ah pois é! Antes de mais por, em geral nós (embora voto meu, e eu voto, jamais tenha eleito um governo), elegermos paspalhos sem ideias nem cultura, nalguns casos que se fazem até chamar de doutor sem nem uma licenciatura terem, que a troco dumas migalhas das grandes cortes europeias e duma boa próxima vida após a chamada “morte política” prontamente se predispõem não só a estragar o nosso país como a enterrar a nossa cultura e identidade. Depois, porque não vamos ao Teatro, não apoiamos Cinema Português, etc… Agora é da crise, que até é uma boa justificação, mas e nos tempos das vacas gordas, porque é que os teatros eram tão pouco frequentados em terras lusas? Em Torres Novas, de onde oriundo, havia um teatro que no meio tempo era cinema (foi onde de facto vi tanto o meu primeiro filme e a minha primeira peça de teatro, de que me lembre), que passou muitos anos fechado e abandonado, e foi recentemente recuperado pela Câmara, mas é muito pouco usado. E contudo, na minha adolescência, tive a felicidade de quase todas as semanas ir ao cinema, ver um filme que estreava.
A imagem acima foi retirado do facebook de uma jovem actriz, que é também a miss CPLP 2013, a qual eu já tive o prazer de ver ao vivo, numa peça, podendo assim afirmar-vos que é bem mais que uma carinha laroca, até porque é excelente com uma máscara!
Embora muitas destas imagens exibam manequins vestidos com kimonos tradicionais japoneses, as fotos foram tiradas no palco do Teatro Nacional Dom Carlos, o qual visitei em 2012. As fotos das e sobre as patacas também vieram de lá.



Antes de começar a falar do teatro japonês (porque afinal o blog é centrado no Japão), queria só, uma vez que é o Dia do Teatro, falar-vos duma iniciativa bem portuguesa que em tudo me agrada e que está relacionada com a imagem que abre este post. Refiro-me ao restauro do Palácio do Bolhão, no Porto, pela a Academia Contemporânea de Espectáculo, em prol do Teatro do Bolhão. Nesta iniciativa, sobre a qual melhor se podem informar no link abaixo, procura-se, ao mesmo tempo que se dá uma casa à nobre arte, restaurar um monumento nacional. Poderá haver causa cultural mais digna de ajuda? Em troca de pequeno contributo monetário, podem ver o vosso nome imortalizado num palácio da Invicta. Acho que é uma muito bela troca, se bem que injusta para a iniciativa em si que recebe apenas dinheiro.;) 


Na Língua Japonesa (e segundo o tradutor da Google), Gekijō (劇場) é como se diz Teatro (Link para ouvir Pronúncia – vale a pena, pois parece quase um bramido de ovelha). Como em todas as grandes civilizações, o teatro é central na cultura nipónica, tendo evoluído, tal como no caso português, em várias formas: o Noh, o Kabuki, o Bunraku e ainda o teatro negro (não se preocupem, nada tem de racista eheh).
O teatro Noh, cujo nome deriva da palavra sino-nipónica para “perícia”, é uma das principais formas clássicas de drama musical japonesas, e é encenada desde pelo menos do século XIII D.C, sendo que a sua forma actual começou no período Muromachi. Muitas das suas personagens estão mascaradas e os actores, sempre homens, interpretam tanto papéis masculinos como femininos. Tradicionalmente, um “dia de teatro Noh” dura mesmo todo o dia e consiste em cinco peças Noh, intercaladas de peças Kyogen, peças mais curtas e humorísticas cujo o nome quer dizer literalmente “palavras loucas” ou “discurso selvagem”. Presentemente, o teatro Noh consiste em apenas duas peças Noh, intercaladas por uma peça Kyogen. É um campo de teatro muito codificado e fortemente, regulado pelo sistema Iemoto, que dá prioridade à tradição em detrimento da inovação. Mesmo assim, há quem faça reviver peças antigas e já abandonadas, há quem componha peças novas e mesmo quem crie peças que mescle esta variante com outras suas pares.
O teatro Kabuki, composto pelos kanji (cantar)(dançar)(habilidade), sendo por vezes traduzido de forma simplista para “a arte de cantar e dançar”, consiste numa forma muito estilizada de drama, com ênfase na maquilhagem dos artistas. Julga-se que o nome derive do verbo japonês Kabuku, que pode significar “encostar” ou “ser fora do vulgar”, sendo assim uma arte teatral que executa peças bizarras ou experimentais, a vanguarda do teatro tradicional japonês. De facto, o termo kabukimonoé usado para designar pessoas que tenham uma forma bizarra ou fora da norma de se vestir no sei dia a dia. É muito mais novo que o Noh, tendo sido originado no século XVI D.C., período Edo da História do Japão, quando Izumo no Okuno, uma sacerdotisa do Shintoísmo, em 1603 começou a desempenhar uma nova forma de dança nos leitos secos dos rios, em Quioto. Este é portanto o polar oposto do Noh, tendo actrizes a desempenhar os papéis masculinos e femininos do quotidiano nipónico. Um dos factores que tornou esta forma teatral muito apelativa foi o facto de muitas das trupes que a desempenhavam estarem receptivas à prostituição. De facto, o kabuki tornou-se norma no red light district de Edo, capital do Japão, actualmente conhecida como Tóquio.
O teatro Bunraku, também chamado Ningyo Joruri, é a versão japonesa de uma peça de marionetas. A componente física desempenhada pelos mestres de marionetas, designados de Ningyotsukai, é acompanhada de uma componente musical, os cantadores chamados Tayu e os tocadores de Shamisen (espécie de banjo japonês). Por vezes, também juntam tambores taiko à peça. A combinação do canto acompanhado pela melodia do shamisen é chamada de joruri e ningyo quer dizer marioneta. Já o termo Bunraku surge do nome de um teatro muito conhecido no Japão por exibir esta arte.
Por último, quero ainda referir o Teatro Negro, cuja técnica pode também ser usada no Bunraku para colocar toda a atenção nas marionetas, e sobre o qual deixo um exemplo em baixo, porque é deveras difícil de explicar por palavras!
Isto foi só um lamiré, porque cada um destes estilos é um mundo, e o mesmo pode ser dito das formas ocidentais, o drama, a comédia, a sátira, etc… Um dia destes, aprofundarei, num post para cada uma, as formas japonesas aqui para o blog. Quem sabe se não inspiro algum encenador a fundir alguns dos seus elementos com os nossos estilos? Ao mesmo tempo, continuarei a veícular esta e outras iniciativas em prol da cultura e das artes.
Viva o Teatro, onde a arte não só imita a vida, como está viva, e como toda a vida merece ser protegida!


E agora para vos despachar com bom humor, tomodachi, fiquem com um teatrinho radiofónico, cortesia do Nuno Markl e da malta das manhãs da Comercial.
Sayonara... por agora!

GOJIRA

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Recordar-se-ão os leitores assíduos aqui do Samurai que eu fiz em temos um post sobre as origens do Godzilla intitulado Hibakusha II: O Rei dos Daikaiju.
Desta volta, vou apenas limitar-me a fazer uma crítica de cinema relativa ao novo filme do Rei dos Daikaiju.
O filme chega-nos pela visão e direcção de Gareth Edwards, realizador que fez o filme “Monsters” que estreou em 2010 e captou a atenção dos cinéfilos de todo o mundo pois foi o primeiro a conseguir efectivamente criar no seu quarto todos os efeitos especiais digitais do filme, mas com a qualidade ao nível de Hollywood. Para aqueles de vocês que sejam fluentes em inglês sugiro-vos a entrevista que o Dr Mark Kermode fez ao então jovem realizador exactamente devido a esse feito, que vos deixo aqui linkada.
O novo “Godzilla” tem muito do carácter do filme de estreia do realizador, por isso é bastante interessante ver os dois filmes de seguida e por ordem de data de estreia. Ambos os filmes procuram centrar-se em personagens humanas, através das quais experimentamos uma Terra onde monstros enormes e poderosos existem abertamente e causam problemas aos humanos. Mas enquanto em “Monsters”, o filme não evolui dessa dinâmica, em “Godzilla” o próprio monstro torna-se uma personagem, pela qual começamos a torcer, e como que se torna mais importante que os humanos que temos anteriormente andado a seguir durante o filme. Considerando o título do filme, não só foi uma boa jogada, como era a única jogada de sucesso.
Uma outra coisa interessante em “Godzilla”, e que também o diferencia em “Monsters”, é o facto dos humanos surgirem literalmente como se fossem colónias de formigas desesperadamente a fugirem dum luta de dois humanos sobre a sua metrópole. É que neste filme os humanos nada podem contra os monstros, tal como as formigas nada podem contra humanos.
É notório nos bonecos relativos aos dois últimos filmes do Godzilla essa diferença. Na primeira adaptação americana, os bonecos que sairam eram tipo GI Joe, com os homens tão importantes ou mais que o Godzilla (figura à direita). Nesta última versão, os monstros é que interessam e os humanos estão lá como se fossem cenário (figura à esquerda).
Como não podia deixar de ser num reboot (recomeçar) da frandchise, que já agora já tem confirmada uma sequela com o mesmo realizador ao leme, a história procura reintroduzir o Godzilla e, portanto, é uma história de origem. Assim a origem do rei dos monstros é recontada. Acaba por não se distanciar muito do original, mas ao invés de ser um produto da radiação de bombas nucleares sobre animais, acaba por ter uma inclinação ecológica e dizer que estes monstros precederam os dinossauros e viviam num era onde a radiação à superfície terrestre era muito mais elevada. Assim, quando os americanos começaram a mandar bombas e muitos países a fazerem reactores nucleares, os sobreviventes ou descendentes dessas raças acordam de hibernação. Essa premissa, algo que defeituosa devido à escala de tempos envolvida, já foi antes usada para explicar os dragões em “Reign of Fire”, o meu filme favorito com dragões, mas depois encaixa bem numa explicação de cadeia alimentar que completa o sentido lógico da história.
A ideia de que há uma conspiração em que os governos estão a esconder algo das populações que dizem servir e toda a paranóia que acompanha essas ideias, talvez não tão descabidas quanto isso como a realidade nos mostra(refiro-me, por exemplo, ao programa de espionagem norte-americano), é muito bem instrumentalizada para dar corpo ao início do filme. Isso e uma certa consciência do horror do desastre natural de Fukushima e de como as uzinas nucleares quando destroçadas pela Natureza podem, literalmente, envenenar a Terra. Simplesmente, em vez de movimentos da crosta terrestre, o que causa a destruição são as alimárias pré-pré-históricas que dão mote ao filme. Mas o governo local ter de evacuar as pessoas de uma zona radioactiva, deixando vidas inteiras para trás, casas desprovidas de vida, mas cheias de memórias, completamente mobiladas, cidades inteiras tornadas urbes fantasmas, tudo isso surge abertamente reforçando a credibilidade do filme, recordando os terríveis acontecimentos do passado muito recente.
A única coisa que me chateou no filme, ou que achei idiota, foi os militares continuarem a armar-se com metralhadoras e pistolas quando já sabiam o que enfrentavam e que nem bombas nucleares os matavam. Algo que estúpido. Os militares não têm a tendência de carregar armas desnecessárias.
Também achei desnecessário a ida para São Francisco. Aquela ponte já foi mais vezes destruída nos filmes que o cagar da ameixa, passo a expressão, e não era necessário americanizar mais ainda o filme.
Quanto ao boneco, o Godzilla está engraçado, uma mistura de gorila e dragão de Komodo. Embora eu não me junte nem ao grupo que odiou a versão anterior do Godzilla, a que os japoneses chamaram só Zilla porque acharam-no muito pequeno ahaha, nem ao grupo que achou este Godzilla gordo (parece que assim aconteceu entre espectadores nipónicos… nunca estão satisfeitos ahaha), não desgostei desta nova encarnação e o CGI está bem feito e não temos a sensação de falta de peso no boneco, tal como ela não havia no filme do Guillermo Del Toro “Pacific Rim” (ler a minha crítica a esse filme aqui) com os seus kaijus e robots gigantes (criticado por mim aqui). E isso e o sentido de escala é o essencial nestes filmes.
Gostei da banda sonora e do tom negro e mais sério do filme, que contrasta com a versão americana anterior. Os actores estão todos de parabéns, sem que haja nenhum que sobressaía durante o filme, excepto talvez o próprio Godzilla. A cena da qual se vê um pouco no trailer do salto HALO é magnífica num grande ecrã.
Resumindo, é um óptimo filme, próprio para qualquer idade e que merece o grande ecrã. Eu vi em 2D e IMAX. Não me parece que o 3D lá contribua nada, para além da eventual coisa pontiaguda a sair do ecrã, mas como não vi em 3D não afirmo, só suspeito. Aguardo com altas expectativas (o que nunca é bom) a continuação.
De salientar, numa outra nota, que o Godzilla tem agora um planeta com o seu nome!
E, para os mais nerds de nós, eis também uma curiosidade, da qual o mérito não é meu, sobre quando estreou o primeiro filme do Godzilla, o original japonês, em Portugal, ainda nos dias do Estado Novo e com um título idiota:
Se tiver tempo e pachorra, traduzirei aquele vídeo da entrevista do Kermode ao Edwards e depois linko-o aqui também!
Para lá do filme e como já não venho cá há demasiado tempo, deixo-vos aqui também umas actividades para este fim-de-semana e para o resto do mês:
-. esta sexta e este sábado, 20 e 21 respectivamente de Junho, a iniciativa 24 Horas, no Pavilhão do Conhecimento. Notem que o site está sem Acordo Ortográfico... yeah!! :D
- sábado, dia 21 de Junho, a partir das 16h, no Jardim do Japão em Belém, para lá da Torre de Belém, à beira Tejo e ao lado do CCB, a Festa do Japão terá novamente lugar:
-  uma oportunidade para os que tiverem condições para isso, até dia 25 de Junho ainda se podem inscrever nas bolsas para estudar no Japão. Toda a informação no link abaixo:
- por último, uma produção de Sandra Fanha, com realização de José Barahona, dia 27 de Junho no MU.SA (MUSEU DAS ARTES DE SINTRA), estreia "Vianna da Mota", numa projecção ao ar Livre (mais informações abaixo). "Um músico prodígio nascido no século XIX...":
E por hora me despeço, senhoras e senhores, irmãos e irmãs, camadaras e amigos, que amanhã tenho um dia inteiro de despedida de solteiro do meu melhor amigo, do qual tenho também a honra de ser padrinho de casamento. E para isso, com'é lógic' (grande Jorge Jesus!!), não vos convido.
Sayonara, tomodachi! ;)

Kaze Tachinu

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Alegadamente, este será o último filme de Miyazaki, ou pelo menos este último voltou a anunciar, pela sexta vez, que se vai retirar do Cinema. Sendo sincero, e querendo primeiro “limpar a garganta” disso, devo alertar que, embora eu seja um admirador de Anime, não sou grande seguidor deste realizador. Particularmente, porque tenho a impressão que os filmes dele são muito feitos para crianças, enquanto que o que me atraiu para o Anime é que uma grande porção deste género é especificamente feita para adultos… e não, não me estou a referir apenas ao Hentai, seus tarado(a)s! Afinal, o Anime explora o fantástico, a ficção científica, mitologias e futurismos, de uma forma muito interessante, mas recorrendo às liberdades próprias da animação.
Contudo, este filme achei-o mais na tradição do Anime que eu admiro que na habitual fantasia “infantil-amigável”, quasi-paternalista do Miyazaki. Já o “Howl’s Moving Castle” deixava de lado o paternalismo e também com uma mensagem anti-guerra, verdade seja dita, embora ainda numa onda de absoluta fantasia. Mas este filme pretende ser mais realista, mais historicamente correcto e mais directo.
Acompanhamos a vida de um rapaz, o Hiro, que sonha com fazer aviões e cresce para se tornar num brilhante e dedicado engenheiro aeroespacial. Mas ele começa a sua actividade de escolha pela altura em que o Eixo do Mal original se está a formar, a aliança entre a Itália de Mussolini, a Alemanha de Hitler e o Japão de Hirohito, levando-o a exercer tendo em conta que irá fazer aviões para serem usados na guerra.
O filme é uma biografia ficcionalizada de Jiro Horikishi (1903-1982), o engenheiro responsável pelo Mitsubishi AM5 e o seu sucessor o Mitsubishi AM6 Zero, aviões que vieram a ser usados pelo Japão na II Guerra Mundial. O enredo é adaptado duma Manga homónima, escrita pelo realizador, que foi por sua vez ligeiramente inspirada num conto curto de 1937, escrito por Tatsuo Hori, e chamada "O Vento Elevou-se".
Ao longo do filme, encontramos um Japão inundado de pobreza, procurando desesperadamente “apanhar na curva” o então “mundo industrializado”, aspirando assim melhorar a sua riqueza interna e nível de vida. Uma lembrança interessante de que a austeridade normalmente precede a guerra. O filme lida então com questões morais, no sentido de que os que sonham em fazer belas máquinas voadoras têm de enfrentar o terrível facto de que elas irão primeiro ser usadas para o Mal. A certa altura, uma das personagens, um dos engenheiros, afirma que prefere “viver num mundo com Pirâmides”. É uma afirmação subtil mas que dá um enorme reforço a essa discussão moral que decorre no filme, uma vez que as pirâmides embora belas e um incrível testemunho do engenho e capacidade humanas, foram feitas com uso de trabalho escravo, por uma sociedade teocrática e totalitária. Ainda assim, sendo eu contra (e falo agora por mim) quaisquer tipos de escravatura e ditadura, também eu não gostaria de viver num mundo sem pirâmides e sempre que as vejo ser destruídas num filme, sinto-me enormemente triste. Continuando a falar de mim, e sendo que já fiz parte duma equipa que criou um protótipooriginal de avião telecomandado em miniatura, devo dizer que sei bem a alegriade vermos algo que nós ajudámos a conceber, construir e para o qual dedicámostempo e trabalho, voar é enorme e indescritível.
Este tipo de ideias assim subtilmente dando corpo e substância ao filme, a alusão à II Grande Guerra sem a abordar directamente, adicionadas a umas quantas de personagens que não sendo pró-guerra se vêm forçadas a dela participarem por força dos seus líderes, é uma óptima maneira de quase subliminarmente avisar as crianças para os perigos dos desejos de aumentar a nossa riqueza pela agressão para com os nossos vizinhos. O filme continua a ter fantasia, mas esta passa-se nos sonhos da personagem principal, encorajando o espectador a sonhar. Dessa perspectiva, eu tenho para comigo que este filme é possivelmente o melhor filme por Miyazaki, não só realizador mas também guionista, porque finalmente fala para as crianças não como crianças, mas como se elas já fossem adultas. Para mim essa é a maneira certa de falarmos como crianças e afirmo isto porque, já tendo sido crianças, bem sei o quanto odiava paternalismos das pessoas e desenhos animados fofinhos e desprovidos de qualquer maldade ou subtilezas realistas como, por exemplo, os Teletubies. Assim sendo, espero que este sexto anúncio de reforma não seja mais que o antecessor do sétimo e que o senhor Miyazaki continue a evoluir e a fazer belos filmes de anime. Porque independentemente da história, todos eles são belos.
Preciso ainda de dizer que achei, particularmente no início e pontualmente ao longo da obra, o filme parado, mas ganha bom ritmo à medida que passa do meio da sua duração e se aproxima do final. Gostei muito da história romântica que surge na segunda parte e que é toda ela trágica e adulta. Adorei as personagens, que estranhamente, à excepção de membros das polícias políticas dos regimes em questão, são todas boas pessoas, sendo a personagem principal um autêntico herói da vida quotidiana. Isto é, uma pessoa que está sempre no seu auge moral e trata os outros com todo o valor, independentemente do seu status social ou proveniência.
O Japão é também espectacularmente bem retratado, mais uma vez os tremores de terra são uma constante do sofrimento nipónico, e a cena do tremor de terra achei-a soberba.
Numa última nota, eu vi a versão dobrada em inglês e reconheci até Lars Von Trier a interpretar um alemão não nazi e que anda de facto a fugir da Gestapo, que é uma ironia deliciosa considerando toda aquela sua última controvérsia em Cannes, ainda não há muito tempo. Não reconheci a voz de Joseph Gordon-Levitt, muito para crédito deste último. Os desenhos animados, anime ou não, são das poucas coisas em que eu tolero a dobragem como substituto da legendagem, embora nem aí goste muito, por muito que perceba a questão económica. Há muito actor a precisar de emprego e esta é uma boa maneira de ganhar algum. É, para mim, a única boa justificação. É que eu aprendi inglês de forma nativa por ser criança num tempo em que nem os desenhos animados eram dobrados. E não fui o único e acho que é uma vantagem linguística que essa cultura da legenda traz aos portugueses e que deve ser defendida, embora não de forma fanática ou intolerante. Dito isto, o título em Português é uma tristeza... "As Asas do Vento"... é que não tem nada a ver com o título em Japonês e além disso é simplesmente patético. "O Vento Eleva-se" ou "O Vento Ergue-se" serviriam perfeitamente.
Em suma, um filme perfeito para os pais verem com os filhos e começarem desde pequeninos, quando se começa a torcer o pepino como diz o povo, a aprenderem sobre algumas das maiores asneiras da Humanidade, com as consequências das quais ainda vivemos, a ver se de futuro não cometemos os mesmos erros. É importante notar que este filmeestreou numa altura em que o Japão luta consigo mesmo para manter o artigo 9 dasua Constituição que impede formalmente o país de declarar guerra a outrospaíses, algo que eu já aqui abordei num post para o qual chamo novamente avossa atenção.


Como Post Scriptum e em jeitos de despedida, deixo-vos umas dicas de actividades para o futuro próximo.
Uma produção de Sandra Fanha, com realização de José Barahona, dia 27 de Junho no MU.SA (MUSEU DAS ARTES DE SINTRA), estreia "Vianna da Mota", numa projecção ao ar Livre (mais informações abaixo).




A Estação Espacial Internacional (ou ISS na sua sigla inglesa), uma adolescente de 15 anos feitos no ano passado, tem agora 4 "olhos" com os quais observa a Terra, sua avó/nossa mãe se quisermos personificar a coisa, numa experiência para escolher a marca e modelo de câmaras a usar de futuro nas suas operações. A NASA está a fazer live feed (ou seja a transmitir imagens em directo) na internet provenientes dessas câmaras, embora só se consiga ver quando a ISS está no lado diurno da sua rotação. (link aqui) Dura até Outubro.
Sayonara, tomodachi! ;)

Novidades Nipónicas e + Desacordo!

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Olá, "senhoras e senhores, irmãos e irmãs, amigos, camaradas"!
Esta entrada para variar vai ser curtinha mas ainda assim cheia de informação. Para não variar vou cascar mais um bocado no Acordo Ortográfico de 1990 (AO90), ao mesmo tempo que vos dou as últimas sobre Portugal e o Japão.
Começo por vos falar de oportunidades, lá fora e cá dentro:

O Japão estreita mais uma vez a distância que nos separa disponibilizando bolsas de estudo/investigação para portugueses que queiram para lá ir estudar. O processo de candidatura está todo explicado nesta notícia do público.
As oportunidades dentro do país vão aparecendo mensalmente, sendo focam a transmissão cultural, e poderão verificá-las no:

Dos eventos destaco a Festa Japonesa, em Belém, que se realizará a 15 de Junho, no Jardim do Japão. (para mais informações, verificar link acima).

E pronto, tendo terminada a parte agradável, vamos então agora abordar o (des)Acordo. Lembram-se de eu vos falar, e não sou o único, da ambiguidade inata deste AO90? Bem, eis mais um exemplo de como ele sabota qualquer tentativa de se ter um vocabulário científico universal e NÃO ambíguo.


Repare-se que o Expresso já adoptou um novo Acordo Ortográfico. Não o de 1990, que diz utilizar, mas o AOCM (Acordo Ortográfico do Correio da Manhã), que basicamente diz que se aplica o AO90 mas não completamente... Esta universalidade é suprema.
No boletim que postei acima da Embaixada do Japão só detectei um erro derivado à aplicação do AO90, mas ou foi lapso ou foi causado por copy paste uma vez que o evento em questão está relacionado com uma escola portuguesa.
Como gosto sempre de fazer, vou deixar-vos também com mais uns exemplos de desobediência activa ao Acordo Ortográfico de 1990:
O Jornal Sénior é uma nova publicação, com um público alvo mais velho o que é inteligente sendo que a realidade portuguesa é a de uma população envelhecida, tal como parece que acontece no Japão. Este jornal não aplica o AO90. Como costumam dizer os camaradas da página do Facebook Tradutores contra o Acordo Ortográfico: "Saúda-se!"
Escrevem-se livros não só a identificarem pormenorizadamente os erros do AO90, mas também a contar a sórdida Origin Story (expressão idiomática do mundo da banda desenhada norte-americana) deste documento pseudo-científico, pseudo-cultural, gerado por interesses político-económicos.
Por falar em Economia, note-se que parece que se venderam cerca de 1 milhão de livros a menos em Portugal no ano de 2012, face aos anos anteriores. A primeira reacção (e não pode deixar de ser um factor com enorme peso) será culpar a crise. Mas será só isso? O camarada JAA do blog que postarei a seguir não acha e eu partilho da sua opinião:
Só para enfatizar este argumento, vou partilhar com vocês algo que me aconteceu recentemente. Estava eu no Vasco da Gama, Centro Comercial em Lisboa, a fazer tempo à espera que me enchessem o tinteiro da impressora, quando resolvi ir à Bertrand ver as novidades e quiçá ler umas páginas de algum livro desconhecido. Tinha 1 hora para matar, segundo o funcionário da Worten. Depois de vaguear pelas estantes encontrei um livro de autor português cujo título me intrigou. Chama-se "O Leitor de Cadáveres". A história passa-se na China, no início do segundo milénio D.C., anno domini se preferirem, e conta a história de um rapaz muito inteligente que se tornará uma espécie de médico legista da época. A contra capa do livro informa que a história é baseada em dados históricos e como eu sou grande admirador da civilização milenar chinesa (quanto mais não seja pela sua esmagadora antiguidade), peguei no livro e comecei a devorá-lo. Perdi contudo o apetite e até a fome, quando já ponderava comprá-lo, quando detectei o AO90. Foi difícil, pois nas primeiras páginas não aparecem nenhumas palavras em que houvesse diferença. Assim que tal aconteceu, fui ver a editora... tem o nome Porto, mas não foi por ser Benfiquista que eu, após acabar o primeiro capítulo, arrumei o livro onde o encontrei e fui buscar o meu tinteiro, já sem interesse nenhum em gastar o pouco dinheiro que tenho num livro cuja história até me poderia ter interessado. É que como disse Saramago, ele a ironizar mas eu muito a sério parafraseio, tirarem-me os C's e os P's faz-me mal!
Felizmente ainda há editoras com inteligência e noção de cidadania, como a Guerra e Paz que acabou de se juntar às nossas fileiras, no mesmo mês que a Maxim saiu do armário: o mais recente inimigo do AO90.

O meu melhor amigo está-me sempre a dizer que não vale a pena, que não percebe porque me importo com isso, que já não há volta a dar, porque o AO90 já está implementado, que os putos já o estão a aprender na escola... mas estarão mesmo? Como os governos do centro adoram destruir a Educaçãoé algo que me espanta tanto que não me espanta nada, pois os governos do Statu Quo, dos interesses económicos, do PS(D), lucram da ignorância e apatia intelectual daqueles que governam. Neste tópico, aconselho a leitura também de outra notícia, desta volta sobre os custos que vão acarretar a súbita alteração no programa de Matemática, na qual um atento leitor do Público online comenta o facto de serem as editoras a lucrar com isto tudo e serem o lobby que domina o Ministério da tutela. Será sem dúvida nenhuma a isto que se refere o Cavaco (que teima em não arder de vez) quando fala no Potencial Económico da Língua Portuguesa, mais uma forma de infligir sacrifícios aos já martirizados portugueses. Sem dúvida o nosso iluminado PR é produto de divina inspiração (que afirmação mais deplorável do ponto de vista secular!!).

Para terminar, é importante perceber-se, e não me canso/nunca me cansarei de o realçar, que não é só em Portugal que se resiste ao AO90, mas sim em toda a Lusofonia. A Rádio Televisão de Cabo Verde e a Televisão de Moçambique não usam o (des)Acordo Ortográfico. Estes são os canais homólogos da nossa RTP nos seus países, canais públicos controlados pelo estado e ambos estes estados terão rectificado o AO90. Agora digam-me quem anda a propagandear desinformação, Ciberdúvidas? E o meu post anterior bem demonstra que muitos brasileiros estão contra o AO90.

Vá lá, portugueses, assinem sem demora a ILC contra o AO90 se ainda não o fizeram. Para tal usem os links abaixo:
Como obter o número de eleitor, via net ou telemóvel

Despeço-me com amizade, eternamente grato por me lerem, mais ainda se a mim se juntarem nesta luta as vossas vozes, pois se tens net e sabes ler, 'tá na altura de começares a escrever também! Convertam as vossas canetas em katanas! A Cristina Pinheiro Moita já o fez com o poema que abaixo vos deixo.
Abaixo o mAO90ismo!
Sayonara, tomodachi! ;)

«Este acordo ortográfico
Por vezes até nos faz rir
Não sei por onde parámos
Ó que caminho a seguir
Se é “pára” já não existe
Se para não sei se “pára”
Para / “Pára”
“Pára” / Para
Quem me sabe explicar?
Porque não “pára” a idiotice
As crianças gostam de brincar
Mas não querem tanta burrice
Faltasse a pala ao Camões
Quem sabe ele ainda visse?
Para trocar o “pára” por Stop
Antes que alguém caísse»

As Senkaku e a Política Externa

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Há pessoas que adoram dizer que são “cidadãos do mundo” do mundo como se hoje em dia não o fossemos todos. Com o advento da poluição global, do poder atómico e da globalização, hoje todos, quer o queiramos quer não, cidadãos do mundo.
Como tal, mesmo para a maioria de nós que em nada influência as decisões ou os acontecimentos no palco mundial, é imperativo mantermo-nos informados do que se passa lá por fora. Por exemplo, o Pacífico tem andado algo que belicoso ultimamente. E é interessante ver como uma crise acaba por interromper outra. Refiro claro à disputa das ilhas Senkaku, que aqueceu no final do ano passado e início deste ano, mas que entretanto foi esfriada pela arrogância lunática da Coreia do Norte.
Mas antes de mais, impõe-se um pouco de História e Geografia, ladies and gents!


As ilhas em questão ficam no mar da China, grosseiramente a leste da China Continental, a oeste de Okinawa e a norte da ponta sudoeste das ilhas Ryukyu. Em Japonês, as ilhas têm três variações do seu nome 尖閣列島Senkaku-rettō, 尖閣群島Senkaku-guntō,Senkaku-shotō.Senkaku quererá dizer Pináculos em Pavilhão ou Pavilhão de Pináculos, segundo a wikipédia inglesa (daí a minha dificuldade na tradução). As ilhas foram oficialmente anexadas pelo governo Japonês em 1895, sendo que só após os EUA descobrirem nas ilhas reservas de gás natural em 1968 e, acrescente-se, apenas depois do Tio Sam devolver a soberania ao Japão em 1972, é que a República Popular da China decidiu reclamar estas ilhas como sua propriedade. Num post anterior, escrevi uma pequena tirada sobre como todas as nossas disputas acabam por ser derivadas de necessidades energéticas. Esta não é excepção. Excepção seria uma guerra religiosa, que não tivesse nenhum interesse materialista no seu âmago. Portanto, algo que não existe, pois estas últimas parecem ser sempre pelo controlo de terras, quer neste Verso, quer no plano astral ahahha.
Mas disse eu também, e nessa mesma entrada, que a civilização humana vai necessitar de gerar muito mais energia no futuro próximo, o que possivelmente levará a mais disposição belicosa para obter recursos energéticos. Por exemplo, muito subtilmente está a decorrer uma nova corrida à Lua, ainda em fase embrionária, tanto por parte dos EUA como da China, devido principalmente ao desejo de obter uma substância altamente energética que se julga existir em maior abundância na Lua, chamada Hélio 3, um gajo raro. Portanto, amigos, a próxima corrida espacial não vai acabar com um “For all Mankind!”

Uma nota interessante que retirei da Wikipédia sobre as Senkaku é que, em meados da primeira década do século XX, um empreendedor japonês, de seu nome Koga Tatsushirō (古賀辰四郎),estabeleceu, nessas ilhas, uma central de processamento de pesca do Bonito. Sim, o Bonito é um peixe e assim que ouvi falar dele e que descobri que este é aparentado da sardinha, veio-me logo à cabeça que o nome tenha vindo da palavra portuguesa Bonito, tal como “arigato” é um japonesismo de “obrigado”. Mas a Wiki não me confirmou ou negou tal intuição.
As tensões entre a China e o Japão já não são de agora. De facto, a 18 de Setembro de 1931, o Japão Imperial pré Segunda Guerra Mundial, serviu-se do Incidente de Mukden, também conhecido como Incidente da Manchúria (Kyūjitai:滿洲事變, Shinjitai: 満州事変, Manshū-jihen), como pretexto para invadir a Manchúria e lá instalar um seu governo fantoche. Tal como os estados totalitários, também os estados imperialistas vivem de clichés. Muitas vezes são um no mesmo. A suposta razão para a invasão foi uma explosão criada numa linha de caminho de ferro nipónica. A explosão foi criada de tal forma que nem danificou a linha e foi preparada por um tenente japonês, mas culpada em dissidentes chineses. Desde então e até à derrota do Japão na II Grande Guerra, em 1945, rebentou o conflito entre as duas nações. E até aos dias de hoje, comentadores chineses afirmam que o Japão ainda não se arrependeu do seu papel nessa guerra nem pediu desculpas ou fez as devidas reparações às suas acções perante as vítimas das mesmas. Este conflito actual das Senkaku, conhecidas como Diaoyou na China, terá vindo meter achas numa fogueira cujas brasas nunca esmorecem, embora possam por vezes ficar escondidas entre as cinzas do seu descontentamento.
Analise-se agora, o presente deste conflito. Simon Tisdall do The Guardian, afirma que os Norte-Americanos, que ainda hoje se vêem como a maior potência na zona asiática do Pacífico, andam a ficar cada vez mais nervosos com esta situação. Leon Parnetta, secretário de defesa norte-americano, terá dito recentemente numa visita ao Japão que qualquer “comportamento provocador” por quaisquer dos lados pode levar a malentendidos, violência e potencialmente guerra aberta. Ecoou assim as afirmações de Hilary Clinton que disse que deve haver contenção e diálogo entre a China e os vários países com os quais esta última mantém disputas territoriais. Durante a sua visita, contudo, Parnetta confirmou que de facto as Senkaku estão previstas no tratado de defesa Nipónico-Americano, o que implícita que os EUA, se o pior acontecer, terão de ajudar o Japão a defender as ilhas que a China afirma terem sido ilegalmente anexadas. Isto reforça também a ideia chinesa de que o Japão faz parte duma agenda geo-estratégica secreta norte-americana na zona, que pretende conter ou limitar o crescimento do poder chinês. Diga-se de passagem que não andam muito longe da verdade, pois durante a Guerra Fria, os Estados Unidos usaram mesmo o Japão dessa forma, para atrofiar a expansão comunista. Ou no mínimo, para terem um aliado na zona. Ainda na opinião de Tisdall, historicamente, rixas deste género entre estes povos têm sido seguidas de um decréscimo de agressividade e reparação das relações entre os dois estados. Até porque entre estes últimos, existe uma balança comercial de enorme peso e torna-se do próprio interesse nacional de ambos, fazerem a manutenção dessa balança comercial.



Contudo poderá ser diferente desta volta. Mrs Clinton terá anunciado que era do interesse nacional dos EUA que houvesse livre passagem pelo sudoeste do Mar Chinês, algo que o governo Chinês tomou como uma provocação, assim como achou “intolerável” a oferta de compra das ilhas por parte do Governo Japonês (desta jogada, falar-se-á em pormenor mais à frente). Entra como factor nesta história, que como a administração Obama tem alargado relações comerciais com o Vietnam, a Tailândia e a Indonésia, e restringido a Coreia do Norte (aliada da China), a China ficou ainda mais reticente na sua relação com o Japão e com os outros seus vizinhos e mais preocupada com a sua própria segurança nacional.
Desta volta, temi eu, podemos não ter um final feliz, particularmente derivado a mudanças políticas internas do Japão que levaram à decisão de avançar com a compra pelo governo (ou nacionalização à la capitalismo) destas ilhas com ideias ou fito de as começarem a explorar. O primeiro-ministro Yoshihiko Noda foi quem avançou com essa iniciativa. A China, como seria de esperar, respondeu:


O P.M. Noda parece manter uma posição inflexível de que as Senkaku são território japonês e pronto. Apelou à calma da China, mas sem se mostrar disposto a quaisquer negociações ou concessões sobre o assunto. Eis a posição oficial do governo japonês:
O diplomata norte-americano Stephen Harner terá dito à Forbes que a tensão entre a China e o Japão atingiu níveis assustadores. Harner é da opinião que Noda, embora tenha sido exemplar na política interna do país (debatível considerando que é pró nuclear quando a maioria japonesa parece não o ser), tem levado o Japão a ser o principal causador da elevar das tensões entre os dois países.
Stephen Harner é de facto um contribuidor da Forbes e escreveu também um artigo nesta revista cujo cabeçalho diz: “Os Estados Unidos podiam ter evitado a crise Senkaku/Diaoyou. Porque não o fizeram?”. Uma boa pergunta e uma afirmação interessante. Ele começa por dizer que, à parte da corrida a armas nucleares por parte da Coreia do Norte e do Irão, esta disputa é a mais proeminente causa para guerra no Mundo actualmente e que é provável que assim se mantenha por tempo indefinido. O diplomata, embora reconheça que todas as partes interessadas teriam a ganhar em não fazer crescer a crispação entre si, afirma que os EUA podiam ter vetado a decisão japonesa de nacionalizar as ilhas, decisão esta que foi o que volatilizou toda a já tensa situação. Harner diz-nos ainda que o actual embaixador japonês nos EUA, declarou numa entrevista, a 31 de Outubro de 2012, que ao questionar os EUA sobre a compra obteve a resposta de que a América não se iria opor, dando assim “permissão” ao Japão para agir como agiu. É ainda da opinião do diplomata que se os Estados Unidos não tivessem concordado, Noda teria impedido a oferta de compra de acontecer. Stephen Harner postula depois que a culpa será atribuída ao facto das relações entre a China e a América terem vindo a deteriorar e a tornar-se cada vez mais abrasivas, com a tomada de posição dos EUA em retomar o imperialismo naquela zona do mundo e a reanimar os velhos planos contra os aliados de inimigos d’outrora. É uma opinião.

Contudo, toda esta crise foi abafada pelo súbito crescer de tensão entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul/EUA, pois o novo Pequeno Líder (que como decerto sabem é a encarnação do pai, que fora a encarnação do avô… esse sim um Grande Líder -_-) quis mostrar aos seus generais que tem um míssil nuclear em vez dum pénis. A Coreia do Norte, como bloco Orwelliano que pretende ser, barafustou imenso, mostrou as suas armas, até atirou testou mísseis de longo alcance e expulsou sul-coreanos de um complexo industrial que até então era usado por ambos os países, de tal forma que até a China, sua aliada, lhes teve de dizer: “Deixem-se de birras, pá!” Se não leram o 1984, a guerra é usada pelos blocos totalitários para manterem os seus respectivos povos sob o jugo do medo e da miséria constantes. O mesmo se passa na Coreia do Norte, onde o Líder declarou ao seu povo que as ajudas humanitárias que os EUA e outros lhes enviaram em troca deles cessarem o seu programa de armamento nuclear, eram uma respeitosa e temerosa oferenda ao Grande Líder.
Já desde a administração de Bush Júnior, que a política dos EUA para com a Coreia do Norte consiste em procurar mantê-los controlados via China. Como? Bem, reforçando a ideia de que se os Norte coreanos realmente obtiverem armas atómicas de longo alcance, então rapidamente o Japão construirá as suas, o que para a China não é uma perspectiva nada confortável.
No meio de tudo isto, as Senkaku aparentemente ficaram esquecidas… por hora. Mas esta questão voltará à baila, podendo levar a uma Guerra no Pacífico entre super potências com capacidade nuclear. Ora é aqui que entra a parte GLOBAL da coisa! O que é que a Guerra Fria nos ensinou? Que se houver uma guerra nuclear não haverá neutros. A precipitação radioactiva alastrará as consequências dum tal conflito para o resto do mundo. Como tal, será bom levarmos a questão a sério. Cheguei a sugerir num outro post, que talvez Portugal, considerando as boas relações que mantém com a China e o Japão e que não terá nenhum outro interesse além de promover a paz entre dois seus aliados económicos e culturais, pudesse servir de mediador externo para a resolução deste berbicacho. Mas depois, como dizem os meus amigos d’Além Mar, “caí na real, cara!”. Com que credibilidade o faríamos?
Video com as declarações do Passos sobre a Força de Resposta Rápida e uns extras divertidos
Não me refiro ao facto de estarmos às sopas de bancos estrangeiros e de agências de rating, apenas. Refiro-me essencialmente ao facto de a nossa política externa actual ser uma anedota pegada.
Para fundamentar esta afirmação, comecemos por falar na nossa reacção e conduta aquando do recente golpe de estado na Guiné-Bissau. Paulo Portas surgiu na televisão, vi e ouvi eu, a reclamar que o golpe de estado era ilegal. Péssima escolha de palavra, uma vez que não há nenhum golpe de estado que seja legal, senão não era um golpe, era apenas uma mudança de governo depois de eleições. Em seguida, e para mérito das nossas forças armadas, despacha uma força de resposta rápida para Bissau em bom tempo útil, ficando esta ancorada ao largo da costa guineense uns tempos para depois voltar de rabo entre pernas. O pretexto? A salvaguarda da segurança dos portugueses que residem na Guiné-Bissau. Até aplaudiria não fosse o resultado. Não houve necessidade de trazer ninguém, aparentemente ninguém se sentiu ameaçado.
Paulo Portas de seguida, com o apoio pelo menos da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa), pediu na ONU uma intervenção para restituir a legalidade democrática no país. Mas eis que surge a CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) e assume controlo da situação. Despacha para lá uma força nominal de algumas centenas de homens para, alegadamente, policiar a transição de poder, decide quem será o chefe de estado na transição e, efectivamente, enxota a CPLP e Portugal para fora da jogada, também evitando qualquer intervenção, enquanto Portas ainda andava a pedir a força de intervenção na ONU. Resultado disto: a CEDEAO já adiou várias vezes a data para as eleiçõesque reporão a democracia na Guiné-Bissau, enquanto mantém o seu “escolhido” no poder. Uma completa não-resolução do problema. Enquanto isso, o problema da droga na Guiné-Bissau contínua a ser confrontado pelos EUA. Afinal para que serve a CPLP? Para justificar o AO90 talvez? E que credibilidade teve Portugal, ao despachar o seu poderio militar para nada? Não há pior demonstração de fraqueza que é fazermo-nos fortes e deixarmos que o nosso bluff seja comprado. É como quem tem uma arma. Se não a está disposto a usar, mais vale não sacá-la, sempre me disse o meu pai. A nossa força de NÃO intervenção, a mon avis, foi mais uma humilhação que Portas comprou para Portugal, esta última criada pela sua falta de traquejo:

Depois temos a Guerra contra o Islamofascismo. A França, nossa suposta aliada em todas as organizações internacionais excepto a CPLP por razões óbvias, faz uma intervenção no Mali, enviando tropas e equipamento para o terreno e Pedro Passos Coelho dá-se ao LUXO de ir visitar a França, dar uma palmadinha nas costas do seu homologo francês e dizer: “Hollande, mon ami, nós vamos ficar de fora desta, ‘tá? N’há guito, ‘cebes? Se precisares podemos depois mandar os nossos instrutores ensinar os nativos a dar uns kicks, yá?! Ma friend!” e veio-se embora, congratulando-se pela missão cumprida depois de afirmar que Portugal apoia esta acção da França… em espírito. País tão católico que me faz querer vomitar coisas que já me esqueci de ter comido (parafraseando o Hitch).
Ok, é verdade. Não temos dinheiro para andar a policiar o Mundo. Mas não se trata disso. A política externa trata-se de fazer jogadas no palco internacional de forma a fortalecer relações de mutuo interesse e cooperação, com determinados países, de forma a assegurar os nossos interesses. O que é certo é que os Fascistas com Face Islâmica (mais uma vez parafraseio o Hitch) não vão esquecer o nosso papel na libertação de Timor Lorosae. Eu lembro-me de ver com orgulho os nossos Pára-quedistas a darem cabo dos islâmicos no noticiário da RTP1, era eu puto. Eles, que querem restaurar o seu antigo Califato (que incluída a Andaluzia e o Algarve), não esqueceram o nosso papel na sua perda dessas terras. Esta guerra é nossa, quer nós a queiramos quer não. E os nossos rapazes precisarão de experiência de campo, quanto mais não seja para a passarem às próximas gerações de militares portugueses. Temos dos melhores militares do mundo e sabemo-lo! Sempre que há exercícios da NATO, lá estão os ‘tugas entre os mais bem cotados, quando não são o topo da tabela. Tivemos dinheiro para mandar uma frota dar uma proverbial volta ao bilhar grande, não temos agora para mostrar aos fundamentalistas que temos valores tão vinculados quanto os deles e que estamos aqui para lutar por eles?
 Resta-me só analisar o corrente Ministro dos Negócios Estrangeiros, el Paulinho das Feiras, o sr Paulo Portas, líder assumido da Direita Cristã Portuguesa. Ora este último já revelou ser um mentiroso (Clicar para comprovar a afirmação anterior) de oportunidade, um hipócrita histórico (clicar aqui para comprovar afirmação anterior), cujos princípios, se é que os tem, variam conforme está na oposição ou no governo (ver imagens). E só não lhe chamo corrupto porque isso, infelizmente, ainda não tenho como provar e não estou disposto a ser levado a tribunal por difamação (cof cof submarinos cof cof... estas mudanças de clima súbitas dão cabo da minha renite).
Politicamente, é aquele tipo que traça uma linha na areia e depois apaga-a ele próprio (dadas as últimas notícias sobre as novas medidas de austeridade acho que não preciso dizer mais). Já as suas anteriores declarações, desde que está no governo, desde que assumiu o poder que na sua juventude dizia odiar acerrimamente, só resultaram em que ele tenha andado a engolir sapos, que um Coelho da Páscoa e um Gaspar, o Fantasma Hostil, alegremente lhe vão enfiando goela abaixo.


Quanto ao AO90, foi dos corajosos (palavra escrita com um abuso de sarcasmo) que se abstiveram aquando da votação na Assembleia da República, mas agora que tem um tacho no governo, está constantemente a afirmar que tem de ir para à frente e vai mesmo, tendo-se tornado desde que assumiu funções um fervoroso mAO90ista! Não se preocupem, o mAO90ismo é perfeitamente compatível com qualquer outra religião. Aliás, a sua defesa e aplicação é pura questão de Fé.
Por fim, é claro, vamos abordar a nossa única política externa imperialista: o Acordo Ortográfico de 1990, que já todos sabemos bem o desastre anedótico que é.

Com estes vendedores de automóveis usados como governantes, só podemos esperar da nossa política externa uma completa vassalagem a Broxelas (deve ser erro ortográfico, deve) e pedinchar umas esmolas aos restantes na forma de compra da nossa dívida externa. Ai, se o Dom Afonso Henriques ou o Marquês de Pombal nos vissem agora…

Doseiaisha

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Olá, amigo(a)s!
Eu procuro afastar-me das polémicas no tempo e só falar das coisas quando já tive algum tempo para remoer os diversos argumentos contra e a favor, afim de vos entregar uma visão minha de determinado tópico. Especifiquei “no tempo”, porque também não quero que me leiam devido a sensacionalismos. Ao contrário da Imprensa e restantes Media, eu não tenho a prorrogativa da venda da informação, tal como também não tenho o constrangimento económico (enquanto puder ter net baratinha :D) ou a auto-censura do politicamente correcto. Mas desta volta decidi abordar um tópico que está na baila: a homossexualidade. É que hoje em dia somos todos forçados a pensar nesta questão, não por culpa de quem é gay, mas por culpa de quem é intolerante e arrogantemente ofensivo para quem o é.
Sabem?, quando eu era puto, um dos meus ídolos era o Alexandre o Grande. Mas na altura os gays eram muito mais alvejados do que são hoje, ser-se gay era considerado um insulto. Termos como paneleiro, panisgas, bicha, fufa, etc… eram mais utilizados que gay, homossexual ou lésbica. E provavelmente, mais utilizados entre heteros como ofensa pessoal que para ofender um gay. Ainda sou do tempo em que se falava em escolha sexual, em que a tese que diz que a homossexualidade é uma doença ainda não tinha sido desacreditada. E como tal, embora Alexandre da Macedónia tivesse sido um dos grandes reis conquistadores do Mundo Antigo, tinha nessa altura a fama de ser paneleiro. Não me bastava ser gordo e alto, levando os adultos sem malícia (parece-me) a me chamarem precisamente Alexandre o Grande, ainda era por vezes chamado de paneleiro por associação. Ainda por cima, devido aos meus longos (na altura) cabelos cumpridos, olhos verdes brilhantes, bochechas cheias, eu tinha um aspecto algo que andrógino. Havia quem ficasse na dúvida se eu era rapaz ou rapariga. Houve quem afirmasse que eu era demasiado bonito para homem. Bons velhos tempos! Ahahah Estranhamente quem fazia essa associação, voltando ao Rei Alexandre, estava algo que mais bem informado que os outros putos todos, do ponto de vista histórico. As crianças tendem a ser cruéis por falta de experiência na hipocrisia social, não por falta de conhecimento. São rápidos a ver o que não encaixa no padrão habitual. É assim que aprendemos. Mas bem, eu não me posso queixar, pois eu sabia bem ripostar e entendíamo-nos. Nunca fui alvo do bullying, termo que na altura da minha meninice ainda não se usava por cá embora o comportamento já existisse, precisamente porque prefiro ser aguerrido (física ou verbalmente, conforme necessário ou apropriado) como o Magnus quando me tentam pisar os calos, que seguir a mensagem do Cristo e dar a outra face. É o tanas, que é o parente do badanas!
Eu sou muito introspectivo, desde pequeno. Da mesma forma como muito novo me interessei por religião (a story for another day) e pela política, também muito novo me interessei por sexo. Como tal, quando já mais velho tomei consciência de que haviam 3 (gays, heteros e bi’s) possibilidades de orientação sexual, que na altura ainda havia na sociedade (entre heteros, creio) a ideia que de era uma escolha, eu decidi-me a investigar qual dos 3 melhor se me assentaria. O tratamento que dei ao problema foi o mesmo que dei à questão de visão de mundo (religião e política): investigar, saber mais, falar com as pessoas, debater a questão, chegar a uma conclusão. Esta contudo foi a conclusão a que mais tarde cheguei. Aos meus 16 anos, já sabia que era ateu (que já agora também não é uma escolha, mas isso também fica para outro dia), pelos 21 já sabia que era apartidário, pela mesma idade percebi a minha identidade sexual. Foi desapontante saber que não era uma escolha, pois sou apenas hetero e gostava de ser bi. Just think of the possibbilities! :D

Mas, devido à investigação que fiz à minha própria natureza, acabei por sentir uma enorme empatia para com os gays e mesmo alguns bi’s, devido ao facto de durante séculos e milénios serem reprimidos por uma ditadura social dos “bons valores”, baseada como é normal dum profundas lavagens cerebrais religiosas e falta de cultura. E esta ditadura é imposta sob ameaça de penas como o completo ostracismo ou mesmo a pena de morte. Em muitas partes do mundo hoje, ainda acontece. E em mundinhos mais pequenos como o de muitas famílias portuguesas, de certeza que ainda acontece. Durante muito tempo, não tinha paciência para as manifestações dos gays ou para as suas reivindicações. Achava eu, na minha ingénua ignorância, que se eles queriam ser gays que fossem para quê me chatearem com isso? Mas prende-se com o facto de não os deixarem, de um casal de homens não poder namorar na avenida ou andar de mão dada, devido (na melhor das hipóteses) a olhares reprovadores cravejados de repulsa ou mesmo ódio. Christopher Hitchens nas suas memórias chegou a falar de experiências gays que teve quando era mais novo, num colégio interno de rapazes. “What do they fucking expect?!” dizia ele meio a sério meio a brincar. Ele acabou por descobrir ser heterossexual, mas achou que devia partilhar tais experiências como um gesto solidário ao movimento gay. Dizia também que mais que sexo, a homossexualidade também deve ser reconhecida nos parâmetros do amor romântico e, como tal, respeitado desse prisma. Concordo com ele uma vez mais. Ele dizia ainda que não confiava em nenhuma pessoa que nunca se tenha questionado, no seu íntimo, sobre isso. Não irei tão longe… Mas mais do que eliminar o olhar reprovador da sociedade, é uma questão legal: terem os mesmos direitos que os heterossexuais perante a sociedade civil e não serem descriminados socialmente devido à sua natureza.
Numa nota de antiteísmo, o Hitch dizia isto do Deus de Abraão em geral relativamente ao pecado (pois todo o homem peca, até o Adão que supostamente era perfeito… criado à imagem do seu criador), mas focando-nos na problemática em questão, se Deus criou o Homem e nos criou doentes (seja os gays ou os ateus), e depois sob pena de irmos arder eternamente nos infernos nos ordena que fiquemos saudáveis (aos seus olhos), não é este um deus mesquinho que condena algumas das suas criações ao fracasso? Não é este deus vil? Ainda assim há homossexuais católicos, entenda-se lá como (cliquem nesta frase para um video ilustrativo em inglês).
Em Portugal, o Sócrates foi ver o Leite e acabou por colocar o país no bom caminho, legalizando o casamento homossexual. Até um relógio avariado dá horas certas duas vezes por dia, né? Recentemente, a esquerda portuguesa (esquerda esquerda e esquerda centro) em peso, com a abstenção da maioria da direita, legalizou finalmente a co-adopção por casais homossexuais na Assembleia da República (AR). Em breve, não duvido, provavelmente já em governo chuchialista, a adopção plena será também legalizada. O meu receio até agora, pelo que li, infundado sobre a adopção era que uma criança não tendo contributo educacional de um macho e uma fêmea não teria um desenvolvimento normal. Consideremos o seguinte: o gay (tal como o ateu) pode e tem surgido de casais heterossexuais (religiosos), logo não haverá porque esperar que heterossexuais (crentes) não surjam do seio de famílias não convencionais (de “bons” valores religiosos). Nós somos produto da nossa educação e experiência, mas não aparecemos como uma tábua rasa no mundo, já trazemos bagagem (e não, não me refiro a vidas passadas). Depois, as pressões no recreio dos bullys perante os putos que tenham dois pais ou duas mães poderá persistir durante umas gerações, mas dentro em breve desaparecerá. Porquê? Porque o que hoje é tabu, se não for prejudicial para a sociedade, amanhã é normal. E a homossexualidade já cá anda desde que o Homem era Macaco, pois até os macaquinhos a têm, e ainda cá estamos. Aliás, todos os animais que vivem em sociedade desenvolvem práticas homossexuais. Além do mais, a co-adopção e, suspeito eu, a adopção por casais gays, em termos práticos já existem, só não são reconhecidas legalmente. O que quer dizer que se morre o pai ou a mãe (biológico ou adoptivo) que legalmente é o tutor da criança no casal gay, a criança tendo um outro encarregado de educação nunca reconhecido pela lei, pode ser atirada para (essa sim comprovadamente prejudicial) a guarda do estado. Relembre-se da Casa Pia, como exemplo negativo ao extremo. Assim sendo, a legalização é a única solução, além de se matar dois Coelho’s de uma cajadada só: há muita criança para adoptar e poucos casais com possibilidades e/ou vontade para tal. Os argumentos contra são, pelo menos o que eu ouvi, baseados em medos. Medo de que os valores religiosos sejam eliminados da sociedade, medo de que os pilares sociais ocidentais (as tradições) sejam substituídas, medo que toda a população ou a maioria se torne gay por ou serem criados por gays ou por whatever, e finalmente por medo da Esquerda política que tem sido a fomentadora destas mudanças… Quanto à primeira, era bom era! Ahahah, mas visto que até há homossexuais não só cristãos mas especificamente católicos, não vejo isso a acontecer. Quanto à segunda, ninguém está a substituir nada, as famílias convencionais (casal composto por um macho e uma fêmea) continuarão a existir e aventurar-me-ia eu a dizer que continuarão em maior número. O terceiro medo é simplesmente parvo. O quarto medo é mera politiquice.

É óbvio que para todas as revoluções, antes duma evolução delas poder surgir, há sempre uma tentativa de reacção. Lamento em dizer que mais uma vez a reacção vem da Direita. E, tendo em conta, de onde originam os sentimentos anti-gay, não custa a vermos que é a Direita Cristã. Sim, a mesma que nos deu o Mussulini, o Franco e o Salazar, entre outros. A mesma que apoiou o Hitler até à queda do Terceiro Reich. A mesma que na Rússia fez de Estaline um santo e apoia incondicionalmente o Putin e os seus esbirros xenófobos e nacionalistas. Por cá, os representantes da Direita Cristã moderados comprovaram agora que estão bem domados. Falo claro do CDS. Não estou a chamar-lhes fascistas, mas tal como os comunistas têm uma herança negra com que lidar. Só os sapos que o Passos e o Gaspar os fizeram engolir desde que a eles se aliaram com ganas de poder, e agora esta esmagadora permissividade, esta sim, contra-natura que tiveram perante um tópico com o qual estão amplamente em desacordo, demonstraram bem a sua dupla-face, a que têm na oposição e a que têm depois de chegados ao poleiro. Aliás, apercebi-me agora que na coligação o CDS tem sido um exemplo perfeito do que é dar a outra face quando se é ofendido. Um corolário que daqui se pode remover é que, embora o país possa ser de maioria cristã, a sua (pseudo [um dias destes elaboro este pseudo]) democracia é comprovadamente secular, e os seus cristãos melhores cristãos que os cristãos poderiam ser se seguissem à letra a sua fé. Não deixa contudo de ser triste que os movimentos cristãos zelotas recorram ao golpe baixo da chantagem psicológica para atingirem os seus fins, como estes senhores que se predispõem a usar a peregrinação a Fátima para recolher assinaturas para um pedido de um referendo ao aborto, estranhamente à eutanásia (quem me dera, pois acho que lhes saía o tiro pela culatra), e provavelmente agora a esta questão dos direitos dos homossexuais, questionando os “fiéis” quão “bons cristãos” são! Dá-me asco, sinceramente. É que isto é forçar uma reacção desejada sem oferecer qualquer argumento lógico ou racional, sem debate, só pela chantagem propagandista. É também armarem-se em deuses eles próprios ou no mínimo investirem-se de poder divino, pois não ouvi o Papa em Roma a pedir que assinassem essa petição... or else. Mas enfim, “olha, são coisas deles” (quem via o Curto Circuito nos dias do Unas, percebe a piada)!

O problema é que os partidos de Deus na Europa não desistem, id est, o CDS não está sozinho. Não se contentam em reinar dentro das igrejas e catequeses, querem poder também no plano civil. Querem tornar a alegada lei divina, lei civil.
Na França, a aprovação do casamento gay, gerou confrontos com manifestantes contra essa lei vindos da Direita:
Em Espanha, fizeram com que a Religião conte para a média escolar.
Mas mais ninguém vê o problema com isto?? Já é mau o suficiente haver uma disciplina de Religião e Moral, como há em Portugal (ou havia no meu tempo), que dá primazia a uma determinada Religião (neste caso, a da Igreja Católica) perante todas as outras numa cultura supostamente de estado laico e que defende a liberdade religiosa num contexto de sociedade secular com pluralidade religiosa, quanto mais fazê-la parte da avaliação duma criança!!! E se a criança vier duma família cuja religião é outra? Agora temos cá cristãos ortodoxos, evangelistas, muçulmanos, budistas, espíritas... ah sim, e ateus! Como pode um estado secular proteger uma religião em detrimento das outras? Não pode. Nem devia sequer de haver capelões no exército e ainda bem que o Sócrates acabou com as isenções de impostos a padres. O Estado não pode favorecer uma religião específica, porque senão teria que dar o mesmo tratamento a todas as outras e torna-se incomportável. A melhor maneira é não favorecer nenhuma. As ditas igrejas que se amanhem. Os seus ensinamentos ficam para as igrejas e catequeses e templos demais. Fora da escola pública.
E mais, chegam a estes extremos, a esta loucura, incapazes talvez de viverem num mundo de democracia e respeito pelos direitos humanos, ou incapazes de lidar com a inevitabilidade da mudança das vontades:
Dito isto, é bom ver que por todo o mundo ultimamente se tem visto um ganhar de terreno em todas as frentes nos direitos homossexuais e como tal, essa revolução, tal como a da emancipação das mulheres, estará próxima de ficar concluída, no Ocidente. Deixo-vos alguns exemplos disso mesmo:
Em Portugal:
Em França:
Inglaterra:
Mas é preciso reconhecer que há pessoas sensatas também na Direita (não especificamente cristã) e é minha convicção de que se houvesse mais liberdade de voto na AR, teríamos um país mais democrático e como tal mais justo.


Dito tudo isto, vou-vos só dar uma perspectiva histórica e actual sobre o que se passou e passa com a homossexualidade no Japão.
Na antiguidade japonesa, o termo usado para designar gays era nanshoku (que também poderá ser lido, danshoku) e que, etimologicamente, é gerado por dois caracteres: 男色. Literalmente falando o primeiro caracter quer dizer “macho” e o segundo “cor”. Contudo, o caracter que designa cor () ainda hoje é sinónimo de prazer sexual tanto na China como no Japão. Um outro termo usado como sinónimo seria shudo (衆道, abreviado do termo wakashudo, que se poderá traduzir para “a via dos rapazes adolescentes”).
Existe uma variedade de referências literárias algo que obscuras que evidenciam actos homossexuais, como por exemplo o romance Genji Monogatari (源氏物語, “O Conto de Genji”), oriundo do Período Heian, sensivelmente séc. XI.
A sociedade medieval japonesa é eximiamente estruturada em classes. Assim, na classe monástica, havia relacionamentos homossexuais de género tipicamente pedófilo, ou seja entre um adulto e alguém ainda não considerado adulto. Trata-se de relacionamentos, dá-me a entender, muito parecidos com o que acontecia na Grécia Clássica, em que o mestre mantinha uma relação homossexual com o aprendiz e isto estava imiscuído no ensino. No caso japonês, a relação era dissolvida assim que o aprendiz chegava à maioridade. Diz-se que, fora dos mosteiros, os monges japoneses tinham preferência por prostitutos (kagema) e não prostitutas e que isso era alvo de chacota social. Em termos religiosos, não havia oposição à homossexualidade no Japão nas religiões não-budistas kami (quer dizer divindade ou ídolo), mesmo na Era Tokugawa. De facto, um escritor dessa Era, chamado Ihara Saikaku, especulou que uma vez que as primeiras gerações de deuses Shinto eram todas masculinas, os próprios deuses tiveram de praticar o nanshoku por falta de parceiros femininos, dando uma explicação religiosa para a existência dessa prática (como diria o Hitchens, one never knows what the religious will say next :). Algumas divindades Shinto eram protectoras dos gays. Na classe guerreira (Samurai), havia a mesma relação professor-aluno que podia, caso ambas as partes assim consentissem, ser homossexual, exactamente como na Grécia de Alexandre o Grande. Essa relação tinha até uma formalização contratual chamada contrato de irmandade e exigia exclusividade. Não podiam ter outros parceiros masculinos. E enquanto o mentor ensinava o aprendiz nas variadas artes marciais, etiqueta samurai e código de honra, o desejo do mais velho de ser um bom exemplo a seguir para o seu pupilo levava-o a comportar-se de forma mais honrosa. Assim sendo, a relação shudo era tida como uma relação de engrandecimento mútuo. Depois, a relação ia para além disso, sendo que era exigida uma lealdade até à morte de ambas as partes uma para com a outra, sendo que quaisquer dividas de honra ou vinganças de um eram dos dois. Contudo, a relação com mulheres não ficava restringida e assim que o aluno fosse maior de idade poderiam ambos procurar outros parceiros homens se assim quisessem. O nenja (tutor) era especificamente o activo nesta relação e o aluno o passivo, numa respeitosa submissão. O papel passivo estava interditado aos homens adultos nestas relações. Há um filme interessante sobre este tipo de relações em contexto do Japão medieval e na classe guerreira que é o Gohatto (quer dizer “tabu”). Quando o vi na RTP2, estranhei a leveza com que os mestres percebiam que dois dos seus alunos estavam apaixonados. Se fosse na Europa era fogueiras com eles, provavelmente. Na classe média, os actores e actrizes acabavam por ter um segundo emprego na prostituição, sendo procurados por patronos ricos que se tornavam nos seus mecenas a troco de favores sexuais. Contudo, durante muito tempo, os prostitutos adultos não eram procurados por homens, enquanto as prostitutas eram mesmo sendo adultas, devido a não ser bem visto pela sociedade que um homem se deitasse com um outro sendo este maior de idade. Pelo século XVII, eles terão resolvido este problema ocultando, até quando fisicamente possível, a sua idade e, desde que as aparências (leia-se ilusão de juventude por parte do prostituto) fossem mantidas, era na boa. Os mais procurados por estes mecenas, tanto os femininos como os masculinos, eram os actores onnagata(que faziam papel de mulher) e os wakashu-gata (que faziam papéis gay). Estes actores eram muito retratados nas impressões nanshuko shunga (shunga quer dizer “imagem de primavera”, 春画, e primavera é um eufemismo oriental para erotismo ou sexo), cujo exemplo podem ver na imagem abaixo. Devo admitir que me ri da proximidade da palavra shunga em termos sonoros da nossa palavra de calão chunga, significando (para os lusófonos não portugueses que possam não perceber) que é reles, que não presta, que é de mau gosto!
Para os dias de hoje, deixo-vos com um testemunho dum imigrante brasileiro que vive no Japão que teve a bondade de deixar este registo no youtube. A perspectiva que ele dá bate certo com o que encontrei noutras fontes na Internet, pelo que dou-a por correcta e objectiva. (ignorem o primeiro minuto e meio que é ele a desabafar a frustração de pessoal que deixou comentários menos construtivos aos seus outros vídeos)
Relativamente a nomenclatura, ela é hoje diferente e mais diversa. Existe a palavra doseiaisha (同性愛者, literalmente “pessoa que ama o mesmo sexo”), que por razões óbvias dá título a este post. E depois a influências de culturas ocidentais, como gei(ゲイ, gay), homo(ホモ), homosekusharu (ホモセクシャル, homossexual), rezu (レズ, les) e rezubian (レズビアン, lésbica).
Como pode ser entendido no vídeo, os gays japoneses não são legalmente reconhecidos, sendo que também não são perseguidos pela lei. Fora algumas zonas mais metropolitanas como Tokyo ou Osaka, onde já há gays fora do armário, a sua maioria ainda vive vidas dentro deste último. Há por exemplo um testemunho, dum casal de gays que até têm alianças, mas que quando vão para os empregos a retiram e fingem ser heterossexuais até voltarem a casa, por medo do que os colegas e patrões possam achar.
Só para terminar, nos dias de hoje, segundo a Wikipédia, no Japão os homossexuais podem servir nas forças armadas, pois embora ser gay não tenha estatuto legal, também não é activamente contrariado ou proibido. Simplesmente é legalmente ignorado. Tive a curiosidade de ir ver o que dizia sobre Portugal e fiquei orgulhoso de ler que em Portugal os gays podem servir nas forças armadas como qualquer cidadão pois a nossa Constituição proíbe descriminação sexual.
Mais uma vez me despeço com amizade e com renovada esperança na única coisa na qual tenho fé (não cega): a Humanidade.

Celebrações e Educativas Palhaçadas Ortográficas

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Senhoras e senhores, irmãos e irmãs, amigos, camaradas, chegámos ao mês que traz o Verão!
Para deprimir ainda mais um país já em d(r?)epressão, sabe-se agora que este será o verão mais frio dos últimos 200 anos. Caso para muitos levantarem a questão, mas afinal onde está o Aquecimento Global? Aos que fizeram essa pergunta sem ser em retórica irónica, sugiro que tomeis o primeiro avião ou barco para o Pólo Norte e perguntais a um urso polar, se ele ainda não se tiver afogado por o gelo descongelar mais depressa todos os anos.
Mas animemo-nos porque este mês é mês de festa. Em Lisboa temos os Santos Populares a animar a malta e este ateu adora esses santos! :D Coloco aqui scans das páginas da Maxim deste mês sobre os santos (Maxim, não me leves a mal, mas até é uma boa publicidade para vós, um quid pro quo), fazendo-lhe um pequeno reparo ao qual o meu pai é que me chamou à atenção. O santo padroeiro de Lisboa é São Vicente e não Santo António. Mas como diria o meu pai "Valha-nos Santo Ambrósio, que é o padroeiro dos ignorantes!" ahahah


Por outro lado, existem as festas e celebrações relativas ao festejo dos 470 anos de relações entre Portugal e Japão.
A Embaixada do Japão indicou-me então dois eventos por email, pedindo-me que os veiculasse, mas também uma colega minha que agora estuda no ISCTE me avisou de outro. Quanto a esse último anúncio, fui forçado a corrigir o acordês de que vinha infectado o texto do email. No caso dos anúncios da Embaixada, já estão curados desse mal até nas imagens!! :D Oh para mim todo contente! Pequenas vitórias, baby steps, win by attrition/vencer por desgaste... a essência da guerra de guerrilha também se pode aplicar na guerra cultural!

- Via Embaixada do Japão:

1) "A Embaixada do Japão tem o prazer de divulgar a vinda do grupo ‘Kiwi & the Papaya Mangoes’ a Portugal, entre os próximos dias 13 a 16 de Junho, com concertos no Porto - na Casa da Música, em Lisboa - na Festa do Japão em Lisboa e nas Festas da Cidade de Lisboa e em Abrantes - nas festas da cidade. Concerto a não perder!!

Agradecemos a respectiva divulgação e contamos com a sua presença."

2) “Inserido na programação das comemorações dos 470 anos de Amizade Japão Portugal, a Embaixada do Japão tem o prazer de divulgar o Workshop e Demonstração de Música e Dança Folclórica Japonesa com o Grupo de tambores “Raku” e Grupo de Folclore Japonês “Arauma Chiyo”, ambos provenientes da Ritsumeikan Asia Pacific University – APU em Oita ( ilha do Kyushu – sul do Japão).



O workshop terá lugar no dia 14 de Junho das 18h30 às 20h00 no auditório do Museu do Oriente, com entrada livre sujeita a levantamento de bilhete no limite da lotação da sala. Os interessados poderão levantar os bilhetes na recepção do Museu do Oriente disponíveis no dia do evento.



Mais informações consultar:



A Embaixada do Japão apresenta os seus melhores cumprimentos, espera contar com a sua presença e agradece a divulgação que possa ser feita.”


- Via Cat(a minha colega):

«Caros Alunos/Professores/Colegas,

”No próximo dia 12 de Junho, vamos dar as boas-vindas ao grupo de dançarinos e músicos da nossa universidade parceira Ritsumeikan Asia Pacific University do Japão. Este grupo vai aCtuar durante as marchas populares e também fizemos um convite para fazerem um espeCtáculo para a nossa comunidade.

Por isso vimos por este meio convidar-vos para a Festa do Japão no ISCTE-IUL no dia 12 de Junho (quarta-feira) às 14 horas  no Grande Auditório do ISCTE-IUL (Edifício II, piso I). Esta é uma oportunidade única para conhecer a arte nipónica e ouvir tambores japoneses.


Organização:
IEPM – International Exchange Programmes in Management (
ISCTEBusinessSchool)
TUNA ISCTE

Embaixada do Japão em Lisboa »


E com isto termino a parte festiva deste post, mas a cultura continua.
Vamos começar pelo Acordo Ortográfico de 1990 (AO90). Não vou fazer mais um post enorme sobre isso (não este mês, pelo menos) embora haja muito a comentar, como um juiz ter exigido a entidades oficiais que não o aplicassem, visto não estarem sob a alçada directa do governo e como tal a resolução da Assembleia da República não os vincula a tal, só para dar um exemplo. Contudo, vou postar aqui este vídeo do Miguel Sousa Tavares (conhecido na net como MST), aquando do seu contributo opinativo e como testemunha contra o AO90 no âmbito da Conferência “Onde Pára e Para onde vai a Língua Portuguesa?”:
Oh, e lá está ele a implicar com o Cavaco, pá! Oh Miguel, assim já é perseguição! Quanto ao assunto do palhaço, veja-se que bonita é a nossa democracia, em cujos governantes se fartam de dizer mal dos déspotas da Coreia do Norte, mas por cá também não se pode ofender o Pequeníssimo Líder. Tristeza. Lá que ele o processasse como uma pessoa normal tem o direito de fazer se se sente alvejada, tudo muito bem. É um direito que assiste a todo o cidadão, mesmo àquele que tem temporariamente o título de Presidente da República. Agora colocar um processo ao Miguel alegando um artigo da constituição que remete para ofensas ao cargo de Presidente da República? O Miguel Sousa Tavares não procurou ofender o cargo, apenas explicitar de uma forma colorida que a pessoa que actualmente o ocupa... enfim, pá!
A mim sempre me ensinaram que quem quer respeito, dá-se ao respeito. É preciso lembrar que estamos a falar do homem que diz não entender o AO90, que diz que não o vai utilizar porque já é velho, mas que o promulga na mesma? É necessário recordar que este foi o homem que diz que está a sentir a crise como todos os portugueses, pois 10 mil euros de ordenados não lhe cobrem já as despesas? É por ventura imperativo ir buscar a memória de que aquele que pagou aos agricultores portugueses para nada fazerem e deu cabo da frota pesqueira portuguesa a solda da então CEE, agora nos venha dizer que a saída da crise está no mar e na agricultura? (raios, não me recordo do nome dessa via política… era qualquer coisa ismo… bem, há-de ocorrer-me!) Ou o seu envolvimento nada investigado no caso BPN? (carregar para ver vídeo ilucidativo) Ou talvez baste dizer que é o presidente mais desrespeitado seguramente desde que temos presidentes neste país, com petições a pedirem a sua demissão (eu assinei-a). E palhaço sou eu? Não, porque eu não votei nele duas vezes para PR, depois de saber a porcaria que ele fez enquanto Primeiro Ministro.Mas, Miguel, excedeste-te sim senhor, e eu e essa classe já tão ignorada pela sociedade que tu maltrataste aguardamos o teu pedido de desculpas.

Falando em palhaçadas, abordemos a actualidade, onde quem está na baila não é o PR, mas sim o Ministro da Educação. Sabem o que é que este pilar do conhecimento académico tem a dizer sobre as dificuldades da língua portuguesa?
Pois é. O que vale é que o senhor está a obrigar todos os putos em Portugal a aprender o Acordo Ortográfico que não resolve nenhum desses problemas e ainda deixa a língua tão ambígua que os alunos são só perguntas e os professores só podem dar a única resposta que nenhum professor deve dar: “Porque é assim.” Sem crer, o ilustre ministro da deseducação generalizada bate em cheio na cabeça do prego, crucificando o AO90 ao ridículo da sua incapacidade prática para atingir seja qual for (dos já de si pseudo) objectivos que lhe serviram de pretexto para o Sócrates o canonizar (down, boy!, este não é um versículo satânico).
E ainda me tem este biltre a coragem de dizer que os professores é que estão errados ao fazerem greve nos seus intocáveis e preciosos exames pois não estão a pensar nos alunos ao marcarem greve para essas sagradas datas? Como se nunca tivessem sido adiados exames antes. Como se os exames não fossem o fim do ano lectivo e as regras novas que se quer renegociar (ou que os professores querem renegociar) não fossem para ser statu quo já no início do próximo ano lectivo. Como se não fosse impossível fazer greve estando-se de FÉRIAS! Ainda se vem fingir protector das criancinhas? Já se esqueceu do que gritava e pregava quando estava na UDP, né? Pois… o poder e o dinheiro dão com cada amnésia!
No jugo dele, temos turmas enormes, professores cada vez menos, com menos feriados e agora querem eles mais horas de trabalho, pelo mesmo ordenado. Isto é que vai dar produtividade e melhorar a qualidade do ensino, ó ó! E claro, só falta o Passos vir dizer outra vez que os políticos é que são mal pagos!
Isto nem é só hipocrisia, é pura lavagem cerebral para colocar Zé Povinho contra Manel Povinho, a fim de se eliminar qualquer oposição ao Culto da Austeridade. Se há coisa que me irrita é quando as pessoas dizem “malandros dos grevistas, com o país na falência e em vez de trabalharem mais, fazem greve, que só dá prejuízo!”. Irrita-me porque percebe-se logo que quem isto argumenta nada sabe sobre o que um economista quer dizer quando diz que os portugueses não produzem. Pensem lá um bocadinho. Os ‘tugas são uns mandriões em geral, né? Mas a Alemanha, onde são todos super eficientes e trabalhadores, veio logo contratar ‘tugas para as empresas deles. E olha, eles lá não só produzem como são apontados como os melhores dos melhores. Estranho, né? Será da falta de Sol, lá? Não, é porque os produtos que a Alemanha cria e vende são mais valiosos ou estão mais valorizados que os dos Portugueses. E muito porquê? Graças ao Cavaquismo (eu bem vos disse que me haveria de lembrar) também, mas não só. Nós já trabalhávamos mais que eles no tempo do Sócrates, ou no mínimo, tanto quanto eles em horas. O valor que é atribuído a esse trabalho é que é menor. Não é mais um dia de trabalho por ano ou menos que vão cobrir essa diferença. Tanto que não que ainda não tivemos dos génios que defendem isso nenhuma vitória verdadeira conquistada pela aplicação das suas políticas.
Depois há aquela dos “Sacanas dos gajos dos transportes só pensam neles. Um gajo a querer ir trabalhar e lá eles a fazerem greve! Egoístas”, é isso! São egoístas eles por pensarem neles, mas não quem diz esta barbaridade só se interessando da sua situação pessoal! Eu também já me lixei com greves da CP, do Metro Lisboa, nunca me ouviram nem ouvirão a dizer isto.
Agora vêm com “os professores têm o dever disto e daquilo e ai as criancinhas!”, mas muitas dessas criancinhas poderão um dia vir a ser professores e se estes agora não batem o pé, quando chegar à vez deles nada mais serão que escravos do regime. Esquecem-se essas vozes tão moralistas, que quando alguém faz greve perde ele próprio um dia de salário. Esquecem-se que se uma greve nada perturbar o normal decorrer da vida da sociedade então não tem braço para forçar o estado/o patrão a negociar. Em vez de desprezarem a luta dos outros pelas suas benesses, que tal forjarem os vossos próprios sindicatos para também reivindicarem as vossas ao invés de se contentarem com estarem sempre a perder? Muita gente lisonja a Social Democracia Nórdica. Muita dessa mesma gente diz que os problemas da nossa sociedade são causados ou aprofundados pela existência de tantos sindicados. “Nunca, senão o patrão foge de vez para a China e ficamos desempregados!”, afinal parece que o patrão adora viver no (pseudo)comunismo.
Mas comparem as percentagens: por cá temos cerca de 30 % de trabalhadores sindicalizados, em média nesses países nórdicos em cujo estado social é mantido e quase não há desemprego, há cerca de 60% de trabalhadores sindicalizados? Só para vos dar que pensar, espero.
Assinem a ILC (com os 3 links abaixo e os CTT), porque como diz o Medina Carreira (pelos 16min50seg) “Isso é tudo óbvio, mas o que é óbvio em Portugal não anda”, e digo eu temos de continuar a empurrar:


Bem haja a todos os que resistem e vivem, coitados dos que se contentam com a mera sobrevivência, e que se fodam os que fomentam a luta entre os dois primeiros para para seu ganho pessoal levarem a deles avante! Enfim, para rematar só relembrar abaixo com o mAO90ismo!!
Alex, signing off... ;)

Actualização: (13 de Junho de 2013, 01h57min TMG) as páginas "scanadas" da Maxim Portugal sobre os Santos Populares em Lisboa.

Levanta a Manga e salva 3 vidas

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Olá, pessoal.
Parece que hoje é o dia mundial do Dador de Sangue. Eu sou dador de sangue, mas não estou a festejar o dia. E porquê? Porque o governo português, que destruiu um sistema de recolha de sangue quasi perfeito com um mero mover duma burra e burocrática caneta, ainda não teve a honestidade e/ou a maturidade suficientes para assumirem e reverterem o seu erro.
Um governo que é eleito para resolver uma crise, nunca deveria começar o seu mandato destruindo um sistema que está a funcionar em pleno e que tinha custo quase nulo (no que diz respeito à contribuição dos dadores nesse sistema) para a máquina estatal. Como é que o governo o fez? Retirando a isenção dos dadores de sangue às taxas moderadoras no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Essa medida fez revoltar muitos dos dadores de sangue, na sua grande maioria classe média, classe esse que dois anos volvidos deste governo é virtualmente inexistente neste país. De facto, muitos dos constituintes dessa classe foram forçados a emigrar pelo adensar das condições económicas negativas que este governo alegadamente viria resolver.
Ora, depois de muito barulho ser feito, o governo, sempre lavando a mão de todos os pecados culpabilizando a Troika, insistiu em retirar as isenções, deixando apenas as dos centros de saúde para os dadores. Tal é indicado claramente no site do IPS:
“A legislação em vigor prevê, no artigo 4.º, a isenção do pagamento de taxas moderadoras para os Dadores Benévolos de Sangue, nas prestações em cuidados de saúde primários (Centros de Saúde).”
Meus senhores, o sangue que eu dou serve para transfusões de emergência ou para permitir fazer em segurança operações. Os centros de saúde não oferecem nenhum destes serviços. Ou seja, se eu me vir em apuros e precisar duma operação ou for esfaqueado num assalto e precisar de sangue, terei de pagá-lo mesmo sendo parte dos que fazem com que esse sangue esteja disponível. Não faz sentido. Porquê? Bem:
- o dador de sangue é tipicamente uma pessoa saudável, logo não vai usar e abusar dessa isenção, e é desejável ao SNS mantê-lo em boa forma física para continuar a ter fonte de sangue saudável que tanto necessita para a sua actividade;
- o facto do dador de sangue ter uma isenção, não quer dizer que esteja constantemente no hospital, a tirar a vez a outro nas filas de espera ou a entupir o SNS. Tipicamente são pessoas com consciência social acima da média na sua sociedade e não vão usufruir de algo apenas porque lhes é de borla;
- muitos dadores de sangue deslocam-se até aos hospitais ou outros centros de recolha pelos seus próprios meios (como eu e o meu pai sempre fizemos, ele há muitos mais anos que eu), de 3 em 3 meses (ou 4 em 4, no caso feminino), para fazer a dádiva sem nunca sequer pensar em exigir os gastos de deslocação ao estado;
- a isenção dos dadores é individual e não se estende a familiares ou amigos, como as cunhas dos políticos, id est, só quem contribui tem a isenção;
- uma outra regra, extremamente importante, é que nem todos os dadores têm acesso à isenção. Apenas os dadores assíduos, que dão pelo menos duas vezes por ano (recordo que no caso masculino consegue-se dar 4 vezes e feminino 3 vezes no máximo, por ano, devido aos ciclos de reposição sanguíneos), é que acediam à isenção. Isto porquê? Porque é necessário manter os níveis de sangue no Banco de Sangue. Se uma pessoa der uma vez em 3 anos, porque foi ao parque e estava lá uma carrinha a fazer uma acção de recolha, não deixa de ser dadora, mas não é assídua o suficiente para merecer a isenção.
- a isenção e as regras para a ela aceder existiam exactamente para estimular os dadores de sangue, não só a darem (porque isso ou se tem essa boa fé e consciência ou não se tem), mas sim a darem sistemática e assiduamente até lhes ser impossível por idade ou doença.
É claro que há uma tentativa de que a doação de sangue seja 100% conseguida por dadores voluntários. Mas o que é que se define como doação 100% voluntária? Segundo a definição do Conselho Europeu (clique aqui para ir para a fonte desta citação):“A doação voluntária e não paga de sangue deve significar a doação de sangue ou dos constituintes do sangue por uma pessoa de sua livre e espontânea vontade, sem receber pagamento em dinheiro ou em géneros em troca que possa ser considerado um substituto monetário. Isto inclui também tempo de trabalho que inclua o tempo de doação e deslocação para a doação. Pequenas ofertas, gratuitidades, comes & bebes, devolução de custos directos ou custos de viagem para a doação SÃO COMPATÍVEIS com a doação não paga e voluntária.” Ou seja, nós em Portugal nunca pedimos custos de viagem ou custos directos e muitos de nós perdiam horas de trabalho, que embora pudessem ser justificadas perante o patrão, não eram remuneradas, e nunca soube de estas serem exigidas ou pagas. O cidadão doador sempre assumiu estes pequenos prejuízos em prole de um Estado Social. Logo estávamos mais que dentro da definição da União Europeia como doação voluntária e não paga de sangue. Não só isso, como éramos um exemplo a seguir.
O que é certo é que com estas medidas, tais como elas eram antes do advento deste actual governo, o SNS em Portugal tinha os seus stocks de sangue tão elevados que se dava ao luxo de exportar sangue. Poucos países têm esse luxo, essa auto-suficiência. O Japão, por exemplo, não a tem e é a 3ª economia do planeta. Parece que na Ásia torna-se muito difícil explicar a uma pessoa o que é dar só por dar. Talvez metendo umas medidas parecidas com as nossas, que não enriquecem ninguém monetariamente como no sistema americano, mas que dão um estímulo na forma duma isenção facilite essa compreensão. Os japoneses têm tentado outras formas de atrair mais dadores, como sempre e com grande inteligência utilizando a sua cultura, tornando os locais de recolha em autênticas bibliotecas de manga (a típica banda desenhada japonesa). Para saberem mais, leiam esta notícia do Jornal da Rede Globo. Dou-vos um cheirinho citando o artigo directamente:
"Enquanto aguarda a doação, Roberto escolhe na máquina automática uma bebida, entre dezenas de opções de graça, como café preparado na hora e aproveita para ler um mangá. Quando o aparelho de chamada toca, é hora da doação.
Para passar o tempo durante a doação, a tecnologia ajuda. Todas as cadeiras têm um aparelho de TV comandado por um equipamento sensível ao toque. O doador pode escolher um vídeo e ouvir o som por meio de autofalantes. A doação dura dez minutos, mas - com a diversão - parece ser bem mais rápida. Roberto já está acostumado.
Tóquio já tem cinco bancos de sangue temáticos. Um deles foi inspirado num bar futurista, a decoração brinca com o símbolo da Cruz Vermelha nas paredes e nos bancos."
A menina à esquerda chama-se Nakagawa Shoko e foi a primeira vez que deu sangue. Reparem no livro de Manga ao colo dela.
Por alguma razão estúpida, o blogger não me permite colocar aqui um video do youtube como já fiz milhares de vezes!!! Diz que não o encontra. Acontece de tempos a tempos. Assim sendo, deixo apenas o link para uma "reportagem" de uns camaradas brasileiros que vivem no Japão e demonstram como funciona a recolha de sangue por lá:


E nós, que nunca precisámos de tais medidas adicionais nem tais gastos, desde 2011, que pusemos a nossa auto-suficiência sanguínea em risco. Os vampiros tomaram posse, com as suas ideias neo-liberais [quem nem capitalistas são porque veja-se o caso também nada brilhante dos EUA (o auge do capitalismo na Terra) onde se paga cada dádiva de sangue aos dadores em dinheiro enquanto que a nós até isenções se negam], mas sim autênticos esclavagistas que acham que o Estado quer-se não social mas sim sanguessuga e parasita. Um Estado que lhes serve de rampa de lançamento de carreiras em gestão de topo nas empresas fomentadoras de corrupção, que existe para lhes granjear luvas e subornos na ordem de milhões e negociatas que nos têm deixado todos na penúria, para depois nos acusarem de vivermos acima das nossa possibilidades, enquanto dizem que eles próprios são mal pagos. ‘Tadinhos! Estes actuais governantes e outros de cor (política) diferente mas de índole igual, que andaram (e andam!) anos e anos a literalmente deitar fora plasma proveniente dessa mesma recolha de sangue abundante que se fazia em Portugal, para depois importarem medicamentos feitos a partir de plasma do estrangeiro. E estes actuais, resolveram essa exergia? Não. E ainda anularam a medida que assegurava o contínuo fluir de sangue do povo para o seu (leia-se “do povo”) Estado Social. Parabéns, meus senhores, em serem uma cambada de pseudo tecnocratas destrutivos e para inglês ver. Ah, já me esquecia de mencionar que, também nesta parte dos desperdícios, este governo actual ainda teve de gastar dinheiro em campanhas publicitárias para conseguir manter os níveis de sangue no mínimo que permita coisas simples como, sei lá?, fazer uma operação cirúrgica. E isto quando dar uma isenção quase sempre, não lhes custa puto. Acho que todos concordamos que uma austeridade nos era inevitável, mas esta austeridade cega e fanática que nada resolve e causa problemas onde eles não existiam não nos serve.
Gostava de realçar também que o Estado Social não implica altruísmo. Aliás, eu acho que o altruísmo é outro conto de fadas, muito (ab)usado por políticos para promoverem a sua imagem. Recordam-se do tipo a ir dar sangue de fatinho na scooter? Ah, sim!, o ministro da Solidariedade Social... esse título só por si evoca na minha mente os ministérios do Big Brother de Orwell. O ministério do Amor, que promovia o ódio, o ministério da Paz, que promovia a guerra, etc... Interessante notar que a Scooter já lá vai, substituída por um carro com motorista. Nós damos sangue porque sim sabe-nos bem ajudar os outros, sentimo-nos bem connosco próprios (logo essa sensação já remove o altruísmo, caso no qual faríamos algo sem obtermos nada em troca, nem uma good vibe sobre nós próprios), mas também porque entendemos a necessidade de haver sangue disponível caso nos aconteça algo a nós ou àqueles que amamos. A cooperação solidária é uma consequência da nossa evolução, do nosso desejo de aumentarmos as nossas probabilidades de sobrevivência e de melhorarmos as condições desta última. Logo, se alguém decidir começar a dar sangue exclusivamente para ter a isenção, desde que à partida esteja saudável, por mim está no seu direito e é tão bem-vindo como o dador que a dispensa e mesmo assim sangra por todos nós pelo menos duas vezes por ano. Hoje, que nos aumentam continuamente a carga fiscal com a desculpa de uma dívida contraída por bancos e corruptos e também para "manter o Estado Social", é importante relembrar que o Estado Social e a sua manutenção não implica Escravatura Moderna. Para isso, mais vale termos só o privado e sermos tão bem tratados como somos relativamente a energias, medicamentos, etc, pelo Big Business. Um Estado Social não pode ser desculpa para mais PPP's desastrosas e empresas de trabalho temporário possuídas por membros da assembleia e seu staff. Isso sim, nós não podemos obviamente suportar.
Como já devem saber, perdi o meu emprego precário e voltei a ser N.I.N.J.A., o que me dá, segundo este Admirável Estado Novo, acesso imediato à isenção completa do SNS por falta de rendimentos. O mesmo acontece quando se tem um ordenado num escalão em que não se pague IRS. A ironia desagradável da situação é que onde dantes tinha a isenção porque contribuía a mais que o cidadão comum, agora dão-me a isenção por caridadezinha. É esta inversão de valores que temos de alterar se queremos que o país não reverta ao terceiro mundo. E sim, já estamos no segundo mundo!
Como tal, permaneço dador de medula sempre (e nunca recebi nenhuma isenção ou regalia a mais por isso [nem esperava obtê-la], nem um dador de sangue é de forma alguma obrigado a ser também dador de medula para ter qualquer isenção. De facto tive de ser eu a pedir para me registar, porque nunca me perguntaram se queria ser. Nem tinham de perguntar, pois a ideia é ser voluntário.) e continuo a doar sangue, mas enquanto não for reparado este erro técnico e de valores, dou sangue apenas uma vez por ano (relembro as regras que acima expliquei para se atingir a isenção e acrescento que raros foram os anos em que só dei 2 vezes) em protesto. Só não deixo de dar completamente, porque ao contrário dos nossos governantes eu ainda tenho consciência social, por mim e pelos outros, não deixando que a política que a mim não me enche o papo (antes pelo contrário) me faça perder de vista o que é importante. Escolho dar em Julho e Agosto, porque por experiência sei que são os meses que as pessoas dão menos.
Em Janeiro deste ano de 2013, terá havido um debate sobre a reinstituição da isenção total aos dadores de sangue. Foi categoricamente rejeitada pela maioria da direita:


É dito na notícia acima que teve votos favoráveis de toda a Esquerda na assembleia, por isso a minha esperança nesta luta é quando voltarmos a ter o PS (PSeudo esquerda) no governo (tipo, próximas legislativas, ya?!, como dizem os alfacinhas jove's) este problema seja resolvido.
Amanhã vou à Festa do Japão em Belém. Querem vir?

Sayonara, tomodachi! ;)

P.P.S.: Se chegaram aqui e não perceberam o quão importante é dar sangue e seja preciso eu o realçar, então é porque falhei. Um bom fim de semana!

Montanhismos Octogenários

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Assim perguntou Gollum a Bilbo, n’”O Hobbit”:

What has roots as nobody sees,
Is taller than trees
Up, up it goes,
And yet never grows?

A resposta, como deveis saber, caro leitor, é uma montanha. A montanha que não foi ter com o Maomé, a montanha que é sinónimo de obstáculo que só pode ser superado com uma jornada repleta de perigos.

Que tem isso a ver com octogenários? Bem, no passado mês de Maio, deste ano gregoriano de 2013, um senhor japonês chamado Yuichiro Miura, tornou-se no primeiro octogenário a atingir o cume do monte Evereste (que pode ser visto na imagem acima).
Fê-lo com o apoio duma equipa de peritos montanhistas, na companhia do seu filho, Gota, e sob remota vigilância da sua filha, Emili, que os acompanhava mentalmente.
Segundo a equipa de apoio de Miura, centralizada em Tokyo, o pico foi atingido às 9h05min da hora local, na quinta-feira dia 23 de Maio, tornando Miura o mais velho conquistador do Evereste. Yuichiro e Gota fizeram um telefonema do topo do Evereste, que gerou um sorriso e um bater de palmas por parte de Emili, momento captado por uma equipa da NHK (a emissora pública japonesa). No telefonema, Yuichiro disse: “Consegui! Nunca imaginei conseguir escalar o Evereste aos 80. Este é a melhor sensação do mundo, embora eu esteja totalmente exausto. Até nos 80, ainda passo muito bem.” Numa transmissão de rádio para a estação Kyodo, feita também a partir do ponto mais alto do mundo, na qual Yuichiro disse: “Chegamos ao topo. 80 anos e 7 meses… A mais incrível equipa de alpinistas do mundo ajudou-me o caminho todo até cá acima.”
A chegada ao cimo, foi capturada em vídeo e acompanhada a 10 quilómetros de distância, por uma equipa da agência Kyodo, com uma câmara colocada numa elevação a 5500 metros do topo.
Contudo, o recorde de Miura é de vida curta, pois nos seus calcanhares já vinha um escalador nepalês de 81 anos. Emili, filha de Yuichiro, afirmou que o recorde ao pai pouco importa pois ele faz o que faz pelo desafio em si e está em competição é consigo próprio. Um atitude admirável, na minha opinião, que me relembra uma afirmação de Funakoshi, mestre fundador do Karate Shotokan, que disse e parafraseio: “O Karate não é acerca da vitória ou da derrota, é sim sobre o aperfeiçoamento do carácter do praticante.”
Antes de deixar o tópico do montanhismo, quero apenas recordar que também este ano, pela primeira vez, uma mulher portuguesa escalou o Evereste. Parabéns, Maria de Conceição, pelo objectivo cumprido.Eu soube da notícia via jornal Público, onde é dito(clicar nesta frase para ler a notícia toda):
“Maria da Conceição queria ser a primeira mulher portuguesa a escalar o Everest. E conseguiu. A hospedeira de bordo alcançou o cume da montanha mais alta do mundo esta terça-feira, às 9h13m locais (4h28m em Portugal). A iniciativa tinha um objectivo principal: angariar um milhão de dólares (cerca de 800 mil euros) para a Fundação Maria Cristina, que ajuda famílias carenciadas no Bangladesh.”
Só para terminar o tópico de montanhismo, gostaria de recordar que desde 1953 que o Evereste já matou mais de 300 alpinistas, como avisa e recorda a foto abaixo, tira a 17 de Maio de 2010, quando dois corpos foram recuperados da montanha (fonte).
Quero também aproveitar esta oportunidade para indicar que o meu avô materno, o último que me resta vivo, fez, neste último 8 de Junho, 89 anos de idade. Ainda está com uma saúde brutal, vai todos os dias tratar da horta, tem a sua autonomia, come que nem um diabo acabadinho de escapar do inferno e nunca engorda (infelizmente não herdei essa sua qualidade genética, ehehe), e não pára de vociferar sobre a sociedade em que vivemos, em particular a podridão do mundo político. Este meu avô sempre foi uma fonte de inspiração da minha imaginação, pois ele também adorava contar histórias, na sua maioria super exageradas, embora algumas também bem contextualizadas na História que lhe foi (literalmente) reguada cérebro adentro. Hoje em dia, a minha mãe está-lhe sempre a contestar as estórias sobre a sua ida à Índia e outras parecidas, e a sua memória já não lhe permite conjugar com a admirável precisão que antes tinha para um homem que só tinha a antiga 3ª classe completada e que, como a maioria da sua geração, começou a trabalhar muito cedo. Por falar em trabalho, trabalhou 55 anos numa só empresa de camionagem, tendo continuado a trabalhar em biscates e ferro-velho durante muitos anos após se reformar. Quando no seu apogeu, era o tipo de homem capaz de ir para dentro dum bosque e construir um centro comercial. Pronto, estou a exagerar... um bocado... vá muito, mas assim percebem a ideia na boa tradição da minha família! eheh É verdade que ele prometeu a mim, e a todos os meus primos maternos, que construiria um avião a cada um de nós e eram só babelas, mas fez carros de rolamentos para os filhos, pranchas de bodyboard feitas em material compósito e uma rampa de skate enorme para os meus primos. A mim ofereceu-me uma bicicleta, o meu primeiro computador, ensinou-me a cerrar lenha, soldar aço (e ainda recentemente o vi a soldar e posso testemunhar que solda à mão tão bem como certas máquinas industriais), e também ética de trabalho e liderança, além de estimular a minha imaginação. E ainda recentemente me espantou, sabendo bem o que é o processo de vulcanização da borracha, que eu dei numa das cadeiras da universidade. Relembro que ele só (?) frequentou a universidade da vida, na qual ainda labuta.
Tem uma reforma de 600 e poucos euros, que no geral em Portugal e na sua geração e extracto social não é nada má, mas compreenda-se que é a dele somada a uma contribuição da da minha avó materna já falecida. E tendo em conta que a empresa para quem ele trabalhou entretanto negociou uma indemnização por vários anos que não lhe fez os devidos aumentos na reforma, de acordo com regras que eu sinceramente não conheço para delas falar, e fizeram-lhe as contas nessa indemnização para ele viver até aos 83 anos. Vejam lá o dinheiro que os sacanas não pouparam já. Interessante notar-se ainda assim que o “ordenado” dele (como ele lhe chama) nem chega para lhe conseguir actualmente uma estadia num lar da terceira idade (como indica a notícia abaixo). Sorte a dele que nos tem a nós e a nossa a sua saúde inquebrantável e orgulhosa autonomia. É claro que não poderia passar esta oportunidade sem honrar a sua vida criticando eu também um dos males sociais da actualidade e para este último chamar atenção:
Ele está agora a percorrer a fronteira entre os 80 e os 90, e eu espero vê-lo a superar a dos 110. O meu avô sempre disse: “Pede pouco se queres muito.” Mas eu sou orgulhoso e não aprendi essa lição!
Eu tenho este exemplo na família, e outros que tais dos meus avós paternos, de pessoas que vivem até idades avançadas com uma autonomia para lá da norma. Faz-me pensar sobre como estamos a evoluir em termos de longevidade, o que gera dois problemas imediatos: a subsistência do Estado Social e o aumento demográfico mundial. Mas o facto é que também é pelo facto de vivermos até mais tarde que permite uma melhor passagem de conhecimentos nas sociedades e uma mais rápida evolução. É interessante vermos dicotomia de uma situação. Todo o bem tem a sua cota parte de mal. Leva-me também a considerar que a vida e a morte têm uma relação bem mais complexa que serem a simples antítese uma da outra.

Uma das minhas preferidas curtas-metragens é a do "The Old Man and the Sea", precisamente porque sempre me recordo do espírito guerreiro, inquebrável e indomável do meu avô:
Nota: talvez venha a fazer legendas para ela mais tarde e se o fizer alterarei devidamente esta entrada.
Seja como for, eu considero os meus avós as raízes nada invisíveis do ramo da minha família que em mim culmina, só para fazer a ligação ao poema com que abri esta entrada. São, para mim e apenas porque são os mais velhos que conheci na minha linhagem, o ponto de partida da minha escalada rumo às estrelas.
Sayonara, tomodachi! ;)

Cartaz Cultural

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Olá, pessoal!
Este mês estive ausente, mas não deixei contudo de trabalhar no blog. Tenho estado a reunir material e ideias para posts nos próximos meses que, espero eu, poderão dar que pensar. Mas conforme o nível de exigência técnicas dos posts (caso eu tenha por exemplo que fazer edição de vídeos e legendagem dos mesmos), também a dificuldade posterior de os executar numa forma acabada satisfatória que vos possa oferendar.
Ainda assim, no dia de hoje e no dia de amanhã, espero conseguir meter aqui duas entradas. A de hoje prende-se com as novidades da Embaixada do Japão, que não me canso de congratular por limpar a infecção de AO90 dos seus boletins informativos, mas também com outras sugestões culturais e menções honrosas e desonrosas de actividades culturais que se passaram em Lisboa. O resto do país que me desculpe, mas é lá que vivo na maior parte do ano.


Aproveito para destacar alguns dos eventos mencionados no boletim, onde encontrarão também notícias das últimas actividades culturais da Embaixada e outras de conteúdo económico:


Este vai um bocado em cima do prazo, mas para os poetas que por aqui passeiem os olhos ainda virá a tempo, espero.
De seguida, uma das minhas paixões, a sétima arte. De todos aqueles filmes, apenas conheço a versão americanizada do Pulse, que adorei, excelente filme de terror. Fico em pulgas para ver o original:
Também há oportunidades para investigadores em vários campos, possibilidade de bolsa de estadia no Japão:
Para finalizar, um pouco de arte plástica:
Não pensem que não vi aquele direção na última imagem, mas a culpa disso é dos senhores do nosso governo que insistem em não se desvincular do Acordo Ortográfico, um jovem de 20 anos, velho de cabeça.
Aconselho a leitura de todo o pdf informativo, que linkei acima, pois há lá links para outras informações de cariz económico que também vos poderá interessar, caso se sintam ou sejam empreendedores ou empresários no activo.

Mas ainda há mais actividades culturais para os interessados, embora estas últimas tenha sabido delas via Facebook.
Uma tem a ver com uma curta metragem na qual participa a actriz Oceana Basílio, intitulada O Cheiro das Velas, e que será projectada em Lisboa, já no mês de Agosto:

 E em Setembro no CCB, uma exposição de arquitectura de Sou Fujimoto:
Ora, resta-me então mencionar duas actividades culturais mui experimentais, e eu infelizmente, uma devido aos exames, outra devido a me ausentar de Lisboa, não as pude experimentar

Falo do visionamento por iniciativa de Filipe Melo (realizador de I'll see you in my Dreams) daquele que se diz "o pior filme da humanidade", o The Room de Tommy Wiseau, cujo objectivo parece ser o completo desrespeito do "código de conduta" como o desenhado por Mark Kermode e amigos:
Eu gosto de um máximo de silêncio na audiência durante os filmes, não me importando se as pessoas de vez em quando falarem baixinho com a pessoa a seu lado ou quando se ri a bom rir. Não gosto é do ruído horrendo de pipocas a serem mastigadas, pacotes de batatas ou embrulhos de chocolates a serem rasgados, o som de chupar numa palhinha quando o copo está quasi-vazio. Mas adoraria esta experiência totalmente oposta da minha experiência ideal de cinema, devido ao elemento de paródia da mesma.

A segunda experiência cultural feita em Lisboa que quero mencionar é a intitulada Lisboa em Si. Quando vi esta experiência noticiada no Público online, pareceu-me uma ideia muito interessante. Era descrita como uma tentativa de se criar uma orquestra sinfónica com os sons da cidade, buzinas de barcos nas docas, sinos das igrejas, buzinas de bombeiros, etc... Como eu outrora vi um filme cujo nome não sei, em que um actor americano fazia um sapateado ao ritmo de New York, em que o ritmo era dado pelos carros a passar, a buzinar, a pisarem tampas de esgoto soltas, etc... foi essa a imagética que eu imaginei, pois no filme, com a magia de Hollywood talvez, funcionava. Além disso, na notícia, falava-se de métodos científicos para a recolha de sons em vários locais, para depois através de software e um orgão digital com ele apetrechado, mais tarde se fazer a sinfonia de Lisboa. Bom, isso era o que eu pensava. Isto foi o resultado:
Em suma, uma experiência falhada. Esse meu colega foi dos que foi para um dos pontos assistir e ouvir ao concerto metropolitano. No vídeo acima, noutro ponto da cidade face àquele em que esteve o meu colega, chega-se a ouvir pessoas a dizer que não se ouve sinfonia nenhuma. E na conversa de facbook, conclui-se que o defeito não era no ponto escolhido para ouvir. Por outro lado, fala-se em software nas notícias, mas a suposta orquestra era coordenada pelo autor desta ideia via rádio, o que deixa no ar a pergunta, "software para quê mesmo?". É que é uma pergunta interessante pois custou dinheiro à Câmara de Lisboa. E eu sou daqueles que acha que mesmo em crise devemos apostar e investir na cultura, mas há limites. E de facto, não tivesse estado em época de exames, ter-me-ia provavelmente oferecido como voluntário. Vendo este resultado, postado no facebook de um colega meu, procurei perceber o que correra mal. Eis que surgiu outro vídeo no seguimento desse post do meu colega. O vídeo de apresentação no projecto na Câmara de Lisboa.
Vendo este último vídeo, podemos inferir pelas palavras do Pedro Castanheira, o impulsionador deste evento, desta tentativa, o que correu mal. Diz-nos ele "(...) Vamos fazê-lo duma maneira científica, vamos fazer um software, (...) vamos calar uma cidade durante sete minutos (...) sem silêncio da cidade o projecto não tem mesmo potencial (...) como devem calcular tudo isto é Fé!". Ora estes soundbites que removi dum discurso (na íntegra no vídeo acima linkado) permitem, a este sincero ateu, perceber o que se passou de errado com esta iniciativa. O primeiro problema é a afirmação de se querer fazer algo de "maneira científica" quando se afirma que "tudo isto é Fé". A mistura das duas actividades (Ciência e Fé) nunca deu bom resultado para a Humanidade, algo que pode ser comprovado de forma histórica nesta palestra de Neil Degrasse Tyson. Perdoem-me aos que não são fluentes em inglês, mas não houve tempo para a legendar. Mas depois um homem que espera fazer uma sinfonia com sons da cidade, esperando calar a metrópole em Si, em vez de procurar usar o seu ruído, o seu barulho de forma construtiva, creio eu que estará condenado ao insucesso. Há forças que nós não controlamos que também incomodam acusticamente, como o próprio vento e esse não há quem o cale. "Palavras são vento", diria George RR Martin. Por último, fazer as coisas de forma científica, é usar o método científico (que se baseia no método experimental e em dados factuais, não na fé), e não a simplesmente bater tecla e criar um software. Como iria Marcelo Rebelo de Sousa "É curto! Não chega."
O discurso apaixonado de Pedro Castanheira, faz-me lembrar o discurso do neo-guru do "bater punho", apadrinhado pelo maçon mor Relvas, Miguel Gonçalves. Como dizia o outro mesmo..? Ah sim, "Palavras são vento". Ter projectos culturais é bom, apoiá-los é óptimo, mas independentemente de quão ambiciosa ou grandiosa é a obra a que  se propõe (ou especialmente quando o é ambiciosa e cara), deve-se ter extremo cuidado com a implementação. A ideia pode ser criada com fé, mas para correr bem, a implementação tem de ser realista e objectiva.
Até mais logo, espero...

P.S.S.: Deixo aqui o apelo para que façam novo visionamento do The Room agora já em Agosto, para eu poder ir. Decerto não serei o único interessado, uma vez que parece que o primeiro esgotou, segundo facebook do Nuno Markl.

Jardim e Festa do Japão - uma crítica que se espera construtiva

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Meus amigos, mea culpa! Já pareço o governo, que promete e não cumpre. Tinha-vos dito que esperava ter ontem escrito mais um post, chego-vos apenas hoje, já virado o mês. Mas há que salientar uma crassa e notória diferença entre a minha conduta e a do governo: eu tardo mas cumpro, eles (com)prometem(-se/-nos) e nem cedo nem tarde cumprem. Mas não vos trago hoje politiquices, muito embora vos trá-las-ei dentro em breve, não só banhadas de críticas, mas também recheadas de ideias que se não são inovadoras, são pelos menos exemplificativas de caminhos alternativos a esta nociva união nacional que se avizinha, baseada num consenso forçado pelo medo e numa ilusão de paz social feita apenas de retórica política, um verdadeiro e nada admirável estado novo que a concretizar-se para lá das palavras, ter-me-á como inimigo constante.
O que me traz contudo aqui hoje é cultura que vivi e que quero convosco partilhar.

Finalmente consegui ir a uma edição da Festa do Japão, em Belém. Este é o relatório do pedacinho que lá passei.
Já estava para lá ir desde a primeira edição, que, se não me falha a memória tinha ainda mais para ver que esta teve, pois não vi lá autómatos japoneses, por exemplo. Mas actividades não lhe faltou, como demonstra o link abaixo:
Também nunca tinha ido ao Jardim do Japão em Belém. Fica muito próximo do Padrão dos Descobrimentos e do Museu da Arte Popular, já para não falar de termos o Tejo com toda a sua beleza natural dum lado e o CCB, com a sua majestosa arquitectura, do outro. O jardim em si um espaço airoso e verdejante, e tive a sorte de o visitar pela primeira vez (aquela que nunca se esquece) num solarengo mas não demasiado quente dia de fins de Primavera lusitana. Ainda assim, esperava mais Japão naquele jardim. Algo mais assim:
Esperava jardins de areia e pedra, que não vi; esperava uma lagoa artificial rodeada de pedras com uma pontezinha a atravessar ao estilo nipónico, que não marcou presença; e, porque não?, uma daquelas fontes com um fio de água que corre a encher uma cana que periodicamente, quase uma clepsidra nipónica, se esvazia sozinha por meio tão-somente da gravidade; umas quantas de cerejeiras trariam uma muito em falta sombra e complementariam a imagem; já agora, que estamos com a mão na massa, uns Budas, um portal japonês, e talvez uma estátua de um dragão a invocar uma lenda japonesa, a de Izumi Kotaro por exemplo, e uma outra para o dragão de S. Jorge, fazendo-se assim uma ligação a Lisboa. Ambas as estátuas deviam estar orientadas, de forma a que a de motivo japonês estar a oriente da com motivo ocidental, e cada uma acompanhada duma placa com um resumo da lenda, em português e em japonês.
Tentei encontrar a lenda de Izumi Kotaro online, para a colocar aqui de permeio, em forma resumida, mas confesso o meu falhanço. Enfim, eis mais uma super-imagem (in memoriam dos super-ministérios já extintos do governo), que aconselho-vos a fazerem download para o vosso pc, afim de com o zoom, verem bem os pormenores, que contém em pormenor detalhado algumas da ideias que menciono acima:
Eu sou assim, um tanto ou quanto exigente. Eu sei, eu sei, estamos em crise… mas fica talvez a ideia para ser concretizada num futuro mais risonho. Dito isto, as colinas e vales que o compõem, em dimensões de Portugal dos Pequeninos, são perfeitos para um piquenique familiar ou de amigos, para namoricos à beira rio (cuja presença na Festa se fez sentir) e, last but never least, para as brincadeiras de crianças, daquelas que nem exigem brinquedos, como jogar à apanhada, brincar aos cowboys e índios, ou às escondidas… mas saberão os miúdos da era do smartphone e Facebook ainda brincar assim? Já começo a parecer os meus pais, quando falavam da minha geração do PC e das Sega Saturns. Lembro-me de ir uma vez a uma visita de estudo a Lisboa, na primária, não me recordo do ano, provavelmente mais uma ida ao Jardim Zoológico, e ver no caminho, de dentro do autocarro, o prédio majestoso, todo ele janelas de vidro que dizia simplesmente em enormes letras azuis e brancas: SEGA. Nessa altura, ainda a Sega fazia consolas, agora só faz jogos para as consolas dos outros e pc’s. Menciono-o não sem nostalgia, mas também por ser uma empresa japonesa. Mas digresso, nesta batalha diária entre o adulto emergente e a criança nostálgica que alimenta os meus sonhos.

Portanto, o Jardim ficou aquém das minhas expectativas, muito embora esteja um espaço bem cuidado, que peque apenas por falta de mais sombra. Mas e a festa em si?
Ora bem, a festa era composta de quiosques ou bancas com vários workshops que, segundo fui mais tarde informado por uma amiga (Obrigado, Tita), se fizéssemos todo o circuito de workshops com um cartãozinho que seria carimbado em cada bancada, receberíamos depois uma t-shirt do evento. Por não saber que assim era e também porque não dispunha de muito tempo, uma vez que estava na recta final duma fase de exames, não fiz o circuito. Espero que essa ideia se mantenha para o ano. Havia também um palco principal onde, durante o tempo que eu lá estive, se faziam demonstrações de artes marciais, estando representados várias escolas e estilos, armados e desarmados e mistos, de origem nipónica. Não podia faltar a zona comercial, onde se poderia diferenciar a zona de Comes & Bebes, onde a fila alastrava e se tornava cada vez maior (o que no meu tempo limitado me impediu de qualquer ideia de provar alguma das iguarias), qual um poderoso e serpenteante dragão oriental, e uma zona de bancas de merchandising, manga e produtos de ervanária japoneses. Havia também um quiosque de venda de cerejas do Fundão (imagem acima). Tinham excelente aspecto, e de bom grado teria dado os 2 euros pelo cartucho, não fosse mais uma vez a fila crescente combinada com falta de tempo. O povo Português a demonstrar que é efectivamente um excelente garfo, pois se haviam filas era para a comida! As cerejas estavam lá muito bem, pois têm um lugar de destaque na cultura japonesa, na vinda da Primavera, algo que já antes mereceu a minha atenção no post Haru:
Mas o que é uma festa sem convivas? E, felizmente, não faltava gente no evento, folgo em dizer. O dia estava convidativo e o pessoal não faltou. Velhos, novos, homens e mulheres, pessoas de todas as cores e formatos possíveis, mesmo como eu gosto. E haviam os que sobressaíam de entre a multidão: os praticantes de artes marciais, com os seus guis de treino; algumas mulheres japonesas com kimonos tradicionais, que estavam nas bancas de workshops e/ou que preambulavam pelo jardim; e os praticantes de cosplay, que se vestiam não só de personagens de manga, mas também de outras personagens menos identificáveis, numa mescla entre o espírito ibérico de Carnaval e o espírito nipónico do Cosplay, como a super-imagem acima (fotos minhas) e o vídeo abaixo (que não é meu, mas sim do canal de youtube da Ana Santos) testemunham:
Diria uma grande maioria, não tenho disso dúvidas, que a festa tinha então tudo o que era expectável. Eu nunca pertenci a uma maioria, excepto aquela para a qual nasci e sobre a qual não tive escolha por razões óbvias, a dos caucasianos, e portanto, fiel a mim próprio, pertenço à minoria que esperava mais deste evento. Queria workshops de Karakuri (autómatos japoneses), quiçá a possibilidade de comprar um na forma de kit para montar em casa (uma ideia para os senhores do merchandising), por exemplo?
Para alguém que adora “meter as mãos à obra” e “dar o corpo ao manifesto”, seria óptimo workshops das próprias artes marciais, onde quem quisesse pudesse ir aprender 3 ou 4 golpes duma ou de outra arte, mesmo dar uns trambolhões, o que para pessoas com formação prévia num ou vários estilos é sempre uma mais valia. Não exigiria muito, apenas alguns tatamis e a disponibilidade de 1 ou 2 senseis e/ou senpais, por parte a organização, e roupa de treino para os que quisessem participar dessa forma. Para quem pratica, há uma incomensurável diferença entre ver e fazer, acreditem.
Uma arte marcial que podia bem dar-se a conhecer desta forma era a do tiro com arco japonês. Foi feita, nesta última edição da Festa do Japão, uma demonstração de uma kata de tiro com arco no palco principal. Não se pode exemplificar o disparo de uma seta, por razões óbvias, mas para simular a tensão de disparar um arco, os artistas marciais fizeram a Kata a mãos nuas e depois com uma borracha na mão. Mas podia-se fazer esse disparo e disponibilizar essa experiência aos frequentadores da Festa, preparando-se uma espécie de carreira de tiro, para esse efeito, tendo especial atenção à segurança da actividade. Eu lembro-me de ter 10/11 anos e ir a uma Feira de Caça e Pesca onde disparei um arco. Foi a minha primeira experiência nessa arte. Na altura, nem força tinha para puxar a corda e fazer pontaria ao mesmo tempo, pelo que o resultado não foi nada bom: duas setas a falharem o alvo, acertando nos fardos de palha, e a terceira a cair no papel do alvo, mas fora da circunferência maior. Mesmo com o falhanço, e com a ilusão que "à quarta é que teria sido", a experiência em si não deixou de ser deliciosa. Entretanto, já experimentei novamente, em 2010, no Alto Alentejo, onde fiz 3 dias de turismo rural e actividades radicais com o meu melhor amigo, e sou consideravelmente melhor agora. Ora, a Kata do arco, pelo menos a que foi demonstrada, é simples e ninguém espera ficar logo mestre. Podiam disponibilizar-se para a ensinar, de mão livre e com borracha. Será, garanto, uma experiência que se leva para casa no coração e na memória sensorial, em particular se depois nos for permitido executá-la com arco em mãos, culminando numa única (para evitar filas) tentativa de disparo real. Não seria possível aos mais novos, por imposição das próprias medidas do arco nipónico (mais alto que o Arco Longo ocidental), mas os adolescentes e os adultos sem dúvida que não diriam não à experiência. Até se pode dessa forma, granjear mais alunos para o dojo (fica mais uma ideia). Até se podia também ter lá um arco ocidental, para se poder também experimentar e comparar as experiências. Nem que se pagasse um X pela experiência.
Seria também desejável ver muito mais japoneses. Por incrível que pareça, numa festa do Japão, contavam-se os japoneses pelos dedos das mãos. Seria engraçado haver maior interacção entre os dois povos, no decorrer da própria festa. Pelas fotografias, poderão notar que as artes marciais foram demonstradas por portugueses, por exemplo. E nem um mestre japonês. Nós temos mestres excelentes, eu conheço alguns pessoalmente. Mas também conheci mestres japoneses de Karate e há uma diferença que vai muito para além da língua falada, da técnica, ou das diferenças físicas. Senti que faltou essa interacção cultural. Espero que para o ano possa desfrutar da festa em pleno, sem estar forçado por razões pessoais a olhar para o relógio, mas gostaria que se pudessem realizar estas pequenas alterações, para a festa se tornar toda ela mais interactiva. Por exemplo, aproveitarem a visita de crianças ou jovens japoneses traduzidos a conhecer Lisboa por iniciativa de ambos os governos, acompanhados de interpretes ou que falem eles inglês, para que houvesse mais intercâmbio com portugueses.
E para mero gáudio de visionamento, porreiro, porreiro seria vermos umas armaduras de Samurai (uma que fosse), para além das exposições de bonsais e caligrafia e demonstrações de artes marciais:
Deixo aqui este apelo, na esperança de que, tal como o esforço contra a aplicação do AO90 nos boletins da Embaixada parece ter sido ouvido (sendo que tenho plena consciência que não terei sido o único a pressionar nesse sentido), seja escutado e se possível sirva de crítica construtiva que resulte num aprofundamento do muito bom trabalho que já foi, tem vindo a ser, e é continuamente desenvolvido.
Verdade seja dita, que eu teria desfrutado muito mais se tivesse ido com mais tempo e paz de espírito, mas contínuo a advogar uma maior experiência prática para a festa. Imagino que a malta do cosplay ou os praticantes de artes marciais que fizeram as demonstrações não se queixem disso, com boas razões. Mas para o comum visitante, falta, na minha opinião, essa componente. A festa a mim soube-me um pouco como o Sushi: o Sushi que se come no Ocidente está a um mundo de diferença do verdadeiro Sushi Japonês. O que eu gostaria de ver era o encurtar dessa diferença.

É verdade, alguém viu a bengala do Maestro Vitorino de Almeida?
Estranhamente, na imagem deste jornal, que saquei da página de facebook do Nuno Markl, nem sequer se vê bem a bengala, por isso mesmo que a queiram procurar, chapéu! Mas pede-se a quem a encontrar que a devolva ao seu dono, quiçá via facebook do Markl, visto que a notícia também não ajuda nesse departamento, pois todos nós (ou quase todos) sabemos o que é o valor sentimental duma herança familiar. Pede-se apenas um pouco de simples (mas tão rara) solidariedade humana.
Parece que terá ficado num táxi (ler artigo na imagem acima). Lembram-se da teoria do Nuno Markl sobre a ligação entre o Táxi e o Michael Jackson?
De que cor eram os táxis nos anos '70 e '80? Pretos (esquecendo a capota verde). E o Michael?
De que cor eram os táxis na década de '90 e '00? Brancos. E o Michael?
Ah pois é!! ehehe
Flashbacks de quando eu via o Curto Circuito, onde o Markl soltava destas pérolas entre críticas de cinema.

Sayonara, tamodachi! ;)

P.P.S.: Encontrei este vídeo na busca de vídeos sobre a Festa do Japão e não resisti em adicioná-lo a esta entrada. Para quando uma representação em peso, uma comitiva portuguesa, para ir lá vender loiça das Caldas???? Até parece que não precisamos de exportar! :D
Festival da Fertalidade em Kawasaki:

(Des)dobrando o Natsu

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Boas, pessoal! É Verão, já repararam? :D Está um calor do caraças no ano que cientistas (devem ser formados na mesma universidade do Vítor Gaspar, especializada em previsão astróloga e afins ciências herméticas que não funcionam!) indicaram como sendo o menos quente nos últimos 200 anos. Mas estou a ser injusto, afinal a meteorologia não é uma ciência exacta e a astrologia nem ciência é. É que é difícil de acreditar e, se seguirem o link acima, é de realçar o "poderá ser" metido no cabeçalho da notícia do Público. Faz-me lembrar os Romanos, que quando andavam a conquistar aqui a Ibéria, praguejavam constantemente sobre o clima (ou assim rezam historiadores da época que sobre isso escreveram já séculos depois da ocorrência e que são as únicas fontes disponíveis), dizendo que os Invernos eram rigorosos e os Verões insuportáveis. Cá para mim, o aquecimento global está é a mostrar-se à grande e o buraco (e não refiro ao que a ministra mostrou, tá JN? :D) do ozono sente-se bem, pois quando eu era puto podia-se estar na boa sem protecção e ao meio dia ao sol e agora fico escaldado, todo lagosta, se o fizer!
Enfim, não se esqueçam é de beber muita águinha, entre as bjecas claro está, e se quiseram, e não viram o ano passado, vejam este post que eu fiz sobre o Verão intitulado simplesmente Natsu: (clicar aqui para ir para o post em questão).
É, para quem tem essa oportunidade, tempo de ir à praia (seja marítima ou fluvial), mas cautela, podem haver percalços que estraguem o dia, como avisa o Público online:
10 coisas que podem arruinar um dia de praia
E, como eu sou todo do lowcoast, instigo-os a fazerem o vosso próprio brinquedo biodegradável:
Nós por cá, este ano, já tivemos uns contratempos com as águas marítimas: uma infestação de algas marítimas em Lisboa e Margem Sul; uma praga de mosquitos em Silves, no Algarve; e, mais recentemente, em duas praias na Quarteira, devido a um problema de esgotos. Enquanto o primeiro caso foi a Natureza em normal funcionamento, como tal foi levantada a interdição de banho nas praias em Lisboa& nas praias da Costa da Caparica, nos outros casos mais sul, foram definitivamente causadas por ineficácia dos serviços sanitários da zona, e vivendo essa região essencialmente do turismo desta época de férias e verão, deviam prestar bem mais atenção particularmente a tudo o que possa pôr em causa a subsistência da população local. Mas desengane-se quem pensa que isso só acontece neste nosso país de 2º mundo. Não, senhor. No Japão, um dos G8, as águas infelizmente também acusam problemas.
A praia de Tokyo reabriu após um esforço de 51 anos (clicar aqui para obter fonte em inglês), sendo que o que levou a que a praia à beira da metrópole plantada, cuja vista é dita no artigo deixar muito a desejar, fosse interditada a banhos foi precisamente o que permitiu a ascensão económica do ainda Império do Japão (têm imperador): a vasta industrialização do país. "Enquanto crescíamos economicamente, senti que perdíamos algo.", afirma Yuzo Sekiguchi, que é arquitecto e que, impulsionado por memórias antigas de pescar à beira-mar em Tóquio, criou uma organização de fins não-lucrativos em 1977, instrumento para a acção de luta, que durou cinco décadas, para restaurar a costa de Tóquio. A sua convicção fortaleceu devido ao que encontrou em viagens que fez pelo o oeste asiático (Afeganistão, Índia e Paquistão), onde reconheceu, nos olhos das pessoas que lá encontrou, em particular das crianças, um brilho especial. Achou que algo estava mal no seu país, em que as crianças cresciam fechadas em salas de aula demasiado lotadas, preocupadas em entrar em colégios de elite para obterem bons empregos, mas sem qualquer contacto com a Natureza. Iam à praia, se por ventura a casa da avó fosse numa zona marítima, mas em Tóquio não podiam. Sekiguchi decidiu que a responsabilidade era dos adultos e que, pelas crianças, a situação tinha de mudar. E essa luta foi tão custosa como morosa. Muito embora fosse tarefa difícil melhorar a condição ecológica das águas, o mais difícil foi conseguir o apoio dos burocratas governamentais, que ainda hoje não assumem qualquer responsabilidade na abertura das praias. "O governo local estava extremamente relutante em aceitar responsabilidade naquilo que nos proponhamos a fazer. A administração verticalmente dividida foi lenta a conseguir que alguma coisa fosse feita.", conta Sekiguchi, acrescentando "Eu não conseguia dizer para que serviam políticos e burocratas. Parecia que eles estavam lá para vincular o povo às regras deles." A abertura do Parque Kasai Rinkai aconteceu a título condicional. Os mergulhos são proibidos e só se pode estar com água até à cintura, pois as autoridades não aceitam responsabilidade pela qualidade das águas. É contudo permitido nada em Julho e Agosto. O parque é gerido pelo governo metroplitano de Tóquio, que avisa no seu site que a abertura da praia é da exclusiva responsabilidade a organização de Sekiguchi e não deles, e que pode ser fechada em caso de "ventos fortes, chuva, fraca claridade na água, ondas altas e relâmpagos". Sekiguchi explica como foi difícil chegar até aqui mas congratula-se por se ter conseguido pelo menos isto. Mas o activista marítimo prossegue, com vitalidade e inteligência, e já encontrou um poderoso aliado, portador de uma nova esperança, para o melhoramento progressivo das águas. Esse aliado provém dum estudo norte-americano, feito na baía de Chesapeake, na costa oriental dos EUA, que diz que ostras podem ajudar a limpar as águas. A organização testou este método num rio em Tóquio antes de a aplicar em Kasai Rinkai, demonstrando na minha opinião que se baseia verdadeiramente no método científico, não simplesmente aceitando a papinha toda só porque algum especialista "disse que" num ficheiro de excel defeituoso, como o nosso ex-fantasminha antipático lá das Finanças. A qualidade da água na praia melhorou bastante nos últimos anos e, após instalada uma vedação submarina para impedir a entrada de raias naquela área, a praia ficou segura e pronta a receber pessoas. Sekiguchi promete que isto é apenas o início e diz "Mas é algo que a nossa geração deve às nossas crianças. Precisamos de deixar um oceano em que as crianças possam sentir o sabor do Verão." SAÚDA-SE!
Eu acredito firmemente que se todos nos esforçarmos para tornar o nosso bocadinho do mundo um melhor sítio, ao somarmos todos os melhoramentos "individuais", criaremos um mundo melhor. Este senhor é um herói, se estes existem. Um exemplo de responsabilidade cívica aliada ao inconformismo. Um forte bem-haja, tomadochi Yuzo, e "a luta contínua" e "hasta la vitoria siempre"!
Entretanto, já me chegaram mais novas da embaixada do Japão em Portugal, através do boletim de Agosto, mas algumas delas já eu falei no primeiro post deste mês e as outras são para Setembro ou já foram, pelo que vou meter uma delas (que é para este mês e tem prazo limite para inscrição) e complementar com mais umas quantas de informações para actividades, procurando ser um pouco mais abrangente que apenas a grande Lisboa. Até porque é Verão e a malta precisa de preencher os seus dias com algo divertido, relaxante e, porque não?, culturalmente rico que nos permita enfrentar "o estado a que isto chegou". ;)
Portanto, até ao final do mês, farei outro post com os eventos que estão marcados para Setembro, que vêm no boletim da embaixada.
De resto, falemos de cinema, que pelos vistos e para minha tristeza mas não surpresa, é um negócio que se está a ressentir da crise à grande, mas também muito por culpa de quem vai ao cinema e de quem faz negócio do cinema (um tópico para outra altura).
No Porto, e um bem haja a quem organizou a coisa, tem havido durante este mês e vai continuar até Setembro, cinema à borla e ao ar livre. Eu soube disso através da P3 online, a qual vos vai informando nos dias, sobre que filme passa e a que horas, caso tenham um like na página deles no Facebook. Hoje, os amigos tripeiros poderão ver a reencarnação dos filmes "Evil Dead", por cá, "A Noite dos Mortos Vivos", cuja crítica escrevi aqui(http://74rte.blogspot.com/2013/07/evil-dead-2013.html).
Link para o artigo da P3: http://p3.publico.pt/cultura/filmes/8791/cinema-ao-ar-livre-e-gratuito
Para quem estiver no Algarve, à semelhança dos alfacinhas em Lisboa, também terão oportunidade este mês de verem uma curta metragem, intitulada "O cheiro das Velas", no Festival de Curtas-Metragens de Faro, a 31 de Agosto:
Em Lisboa, e como já tinha dito no post anterior a este, é já no dia 22, no teatro do Chiado. Para mais informações desta curta que participou do conceituado Festival de Cannes, no elenco da qual participa a deslumbrante e talentosa Oceana Basílio, cujos encantos e o próprio nome fazem dela uma perfeita embaixatriz do Verão. Não concordam?


Por falar na Maxim e nas praias alfacinhas, tenho que agradecer o jantar que a Maxim me ofereceu, que partilhei na excelsa companhia da minha amiga Ana (não, não é a outra revista com o mesmo nome), no beach lounge da Capricciosa de Carcavelos, que eu aconselho vivamente. Um óptimo espaço, excelente serviço e um staff mui simpático, boas pizzas como é praxe nesta marca, já para não falar na espectacular sangria de frutos vermelhos e da perfeita mousse de manga... estou a ficar com água na boca só de pensar nisso! O jantar demorou para aí umas boas 2 horas e meia e não foi só devido à conversa que fluía como água. A minha versão da pizza Maxim teria sido melhor escolha ;P, mas pronto ganhou uma menina, pois a votação foi via facebook e já se sabe como são vastas as listas de amigos delas, né? ahahaaha

E, já que falamos em estrelas, não nos limitemos ao cinema. Em Agosto, é altura de chuva de estrelas, que se conseguem ver a olho nu em Portugal, se se estiver numa zona sem iluminação pública. As Perseiadas, como são intituladas estas "estrelas cadentes", são um espectáculo natural e gratuito que merece ser apreciado. A noite de 13 para 14 de Agosto será o melhor dia para ver esta "chuva" cósmica, que nada mais é que calhaus que viajam a velocidades fantásticas e friccionam com a atmosfera terrestre. O nome provém da constelação Perseu, que está no quadrante do céu onde se podem ver os meteoritos passar. Olhem para nordeste.
Uma das minhas citações favoritas é do Oscar Wilde e diz: "Estamos todos na sarjeta, mas alguns olham as estrelas". Este espectáculo dá-se todos os anos, mas, como diria o nosso Variações: "Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje!"

E pronto, c'est ça! (recordando os bons tempos do escudo, em que os avec's [e uso o termo com carinho{Ça va, Christophe, mon ami? ;)}] retornavam todos a Portugal nesta altura do ano, porque só o câmbio do dinheiro dava para eles fazerem cá umas férias de lorde, e esse guito cá ficava... também são desse tempo??) Visita de médico e a correr, mas não tardarei muito a insurgir-me com uma nova entrada. Como diria o Porky Pig: "abdi... abdi... that's all folks"!
Um adios 4 now para os muchachos e para as muchachas um beijo tipicamente tuga mas em formato japonês:
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