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Channel: N.I.N.J.A. Samurai
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Paixões Culturais para Hoje e para o Futuro

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Bom, meus amigos e amigas, já que o governo pouco ou nada quer fazer pela cultura neste país (e não me venham falar de que não há dinheiro, não sejam piegas!), temos de os acordar para a vida. Comecemos então hoje por assinar a petição para se debater e encontrar solução para o problema da Cinemateca (notícia aqui) naquela que deveria ser o símbolo de liberdade democrática em Portugal e cada vez mais é a vista como a moradia de corruptos, a Assembleia da República. Desde do Regicídio que temos vindo a perder identidade cultural (e não, não sou monárquico, sou apologista de democracias seculares e constitucionais), da monarquia à república, da república à ditadura, dessa velha senhora à revolução (ou para ser historicamente exacto, golpe de estado), e daí, via (des)União Europeia e (des)Acordos Ortográficos, ao Deplorável Estado Novo a que chegámos. Não nos podemos arriscar a perder este registo tão importante da nossa História, mais outro tanto da nossa herança colectiva e personalidade nacional. Aquando do Terramoto de 1755, o Marquês de Pombal, no meio de escombros, fogos, fugas de prisão e mortos acumulados, preocupou-se e bem em assegurar a protecção da Torre do Tombo. A Cinemateca é o equivalente em versão cinematográfica, um registo do século passado em celulóide da 7ª Arte em Portugal. Não teremos agora o mesmo espírito e visão para salvarmos a nossa cultura? Poder-se-ão identificar ou registar via facebook, aparentemente, e não perdem mais que 1 minuto se tanto a assinar a petição. São precisas pelo menos 4 mil assinaturas para ir ao plenário:
Feito o nosso dever de cidadão, podemos agora virar-nos para aquilo que o nosso país e os amigos deste último nos podem oferecer, para nos divertirmos, descontrairmos e aproveitarmos as férias ou as horas de lazer. E estranhamente, também é a cultura e não o governo quem nos providencia estas coisas.
Já agora, que vivemos numa época em que toda a gente procura uma oportunidade, eis duas para quem estiver nas condições de as aproveitar. As imagens abaixo vêm do pdf informativo de Agosto da embaixada do Japão (agora que já desistiram do AO90 e se auto excomungaram do mAO90ismo, já posso copiar directamente as imagens). São respectivamente o teste de proficiência na Língua Japonesa, na Universidade do Porto e uma bolsa de investigação para viver no Japão para doutorados com menos de 65 anos:
Sigamos então para a paródia. Para o dia 25 de Agosto, amanhã, tenho uma proposta para quem está por Lisboa e outra para o país todo.
Para quem está em Lisboa é o último dia da iniciativa Lisboa na Rua (cartaz abaixo[este nada tem a ver com a embaixada japonesa]) e peço-vos imensa desculpa de não ter postado isto antes, mas sou recentemente me deparei com o poster online. Também não tenho estado em Lx, senão nos últimos dias.
Para todo o Portugal, a oportunidade de verem Auroras Boreais (notícia da P3 aqui) em pleno verão, amanhã dia 25, às 2h30 na Europa, poderão ver via internet as transmissões destes eventos celestiais através de dois sites:

Quando adiro a este tipo de iniciativas, penso sempre aquela frase que me maravilha à anos do Oscar Wilde: "Estamos todos na sarjeta, mas alguns olham as estrelas.". Frase de grandiosa simplicidade que se traduz numa enorme e verdadeira profundidade. Por falar em olhar as estrelas, apanharam as Perseidas? Eu vi. Já tinha visto estrelas cadentes antes, mas estas viam-se mesmo bem! Parecia que alguém estava a riscar fósforos enormes na nossa atmosfera! ehehhe Não, contínuo ateu... sorry!
Bom, deixemos as estrelas e voltemos-nos para o Futuro (não, não vou armar-me em Maya). Vamos ver o que há na Agenda Cultural para o mês que vem (assim, recebem aviso com tempo :P ). Dois dos eventos já falei deles aqui noutro post, mas vale a pena recordar:

Dos eventos anunciados pela Embaixada do Japão, restam-me anunciar dois:
              -» a 7ª edição do Motelx:
             -» e uma "Tarde Cultural Japonesa com o grupo Kiwakai":
Mas ainda não acabei, porque o N.I.N.J.A. Samurai é contra a centralização e não é adepto de bairrismos ou clubismos.
Em Évora, os amantes do ciclismo, esse nobre desporto que ressuscitou a moral francesa depois da 2ª Guerra Mundial, que é cada vez mais a marca de um país civilizado e cada vez menos a dos países em vias de industrialização (que evolução tão inesperada, mas ambientalmente inteligente, e que demonstra que por vezes para dar um passo em frente necessitamos de dar dois para trás), poderão divertir-se no BikÉvora 2013. «Uma feira “low-cost” de bicicletas e um passeio de ciclismo para ligar os templos romanos de Mérida (Espanha) e Évora são duas das atracções do BikeÉvora 2013, que vai decorrer de 14 a 22 de Setembro.», in P3 (link para o artigo aqui).
Já que falamos de bicicleta, um café no porto que me despertou o interesse e atenção é o Urban Cicle Café, "é uma loja de biclas, que é café que é oficina", in P3 (link para o artigo). Não sei como a ASAE lida com isso, nem me interessa. Adorava ir visitar e aplaudo o conceito.
Ainda antes de largos as bicicletas, queria chamar a atenção para uma micro empresa baseada em Sintra, onde se criam guiadores para poderes personalizar a tua bicicleta (link para o artigo). A Classica Bikes só funciona através do seu site de momento e é um projecto em fase de arranque. É melhor encomendarem depressa antes que os preços aumentem! ahahha
E já que se fala em Sintra, pois que se faça saber igualmente, que por 3 euros se pode alugar um carrinho de golfe eléctrico para andar a abrir nas curvas do monte que leva ao palácio da Pena, por exemplo. Ora vejam:
http://p3.publico.pt/vicios/em-transito/9013/em-sintra-ja-ha-carros-electricos-amigos-do-ambiente-para-passeios-low-cost
Para quem tiver a oportunidade de dar um salto a Matosinhos, poderá divertir-se com a Feira Medieval de Matosinhos, já no mês que vem:
Por falar em desempenhar papéis e colocar adereços, quero apenas chamar-vos à atenção para uma pequena notícia que um amigo meu colocou no Facebook, sobre este simpático mascarado (que obviamente é fã dos Power Rangers) que anda pelo Metro de Tóquio a fazer boas acções (imagem abaixo e link aqui).
"Há malucos para tudo", diz o povo português, mas fossem todos como este. A máscara tem uma função que é, segundo declara o próprio mascarado, ajudá-lo a contornar a mentalidade japonesa que segundo ele dificulta a que os japoneses aceitem ajuda, por temerem ficar a dever favores. Esconder a sua identidade é uma forma simbólica de dizer apriori e sem falar que nada quer em troca.
Já que estamos no tópico de voluntariado, para TODOS os Guerreiros da Paz espalhados por Portugal, que parece um sítio deixado aos caprichos de Nero, sejam voluntários ou profissionais, aos que vivem e aos que deram a vida, aos que neste momento se debatem com dragões: obrigado, força e um grande bem haja. E contem com o meu apoio na vossa luta. Aos governantes, pelo menos arrangem seguros condignos para os voluntários, porque o que se tem visto nas notícias é ridículo. E sr ministro Miguel Macedo, faça lá o obséquio de parar de dizer barbaridades como os incêndios são uma inevitabilidade e comece a apostar em políticas que impulsionem a limpeza das matas e a vigilância destas, políticas preventivas, que vê logo as ocorrências diminuírem drasticamente. O que se tem visto nas notícias mete nojo.
Por último, e como falei de protegermos a nossa identidade, eis três links engraçados para tal:




Antes de me despedir, só indicar que este People Sleeping Project tem uma página de facebook:

Agora sim, durmam bem, tenham um excelente dia amanhã e reencontramos-nos aqui, em breve!
Arigato & Sayonara, tomadochi! ;)

P.P.S.: tenho sempre de ter um destes... no post anterior, sugeri-vos que fossem ver a curta da Oceana ao PFShorts Fest no Teatro Rápido, na Baixa Lisboeta. Pois eu fui e eis a minha crítica ao evento e às curtas metragens que por lá passaram, feita noutro blog em que colaboro dedicado inteiramente a crítica de cinema: http://74rte.blogspot.com/2013/08/pfshorts-fest-no-teatro-rapido.html

Constitucionalize-se a Paz, Legislem-se Armas, Poetize-se a Guerra

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Embora a imagem acima seja alusiva ao tópico principal desta entrada, começo com alguns breves à partes não relacionados.
Primeiro quero prestar homenagem àquele que é reconhecido como o “pai” do Judo (a que ele gostava de chamar “o caminho suave”) Português, o Sensei Kiyoshi Kobayashi, que morreu no Japão, esta passada quinta-feira, com 88 anos dos quais viveu em Portugal mais de 50. Eu que sou praticante de artes marciais, embora de Judo tenha tido muito poucas aulas e não passaram de mais que de uma mera introdução, respeito grandemente qualquer artista, mas sei de experiência pessoal as dificuldades das Artes Marciais e também a realidade vasta do seu universo, sendo que tenho enorme estima por quem delas faz a sua obra e vida. É com prazer que honro alguém que tanto fez pelas artes marciais e pelo desporto portugueses. Que o diga Carlos Lopes! OSS, Sensei!
Quero igualmente estender a minha solidariedade e empatia para com as vítimas de ainda mais um sismo de grande magnitude, novamente no Norte do Japão. Ainda não tiveram tempo de recuperar das feridas do mega sismo de Março de 2011 (link aqui) e já sofrem um outro terramoto (notícia aqui), não tão mau, mas potente. Felizmente não veio acompanhado de um maremoto. O que vale é o espírito nipónico do “Never say die” perante a fúria dos elementos. Força, Japão.
Sobre os Jogos Olímpicos, quero congratular o Japão por ter sido o país escolhido para a próxima edição do evento. E não é sem um gostinho de vingança, pois Espanha tem andado armada em parva ultimamente, connosco sobre as Selvagens e com os Ingleses por Gibraltar, para além de um país à beira dum resgate estar a hipotecar-se mais para fazer um mega evento ser estúpido, na melhor das hipóteses. Não havia outra escolha, face ao colosso económico que é o Japão e às convulsões sociais na Espanha e na Turquia.
Mas não foi a Espanha que começou a polémica sobre estes Jogos Olímpicos. Um jornal francês editou dois cartoons que ligam a tragédia de Fukushima aos Jogos Olímpicos e o Governo Japonês já reagiu demonstrando-se compreensivelmente zangado e ofendido. Vi uma notícia estrangeira sobre isso que não mostrava os cartoons e a mesma notícia mas no Público também não o fazia. Tal como quando da crise dos Cartoons Dinamarqueses que levaram a ameaças dos Jidahistas contra a Dinamarca e mesmo à destruição das suas embaixadas, os jornais ocidentais (numa completa falta de solidariedade para com o direito da liberdade de expressão dinamarquesa) também não se atreveram a publicar os cartoons. Assim, toda a minha gente vendia jornais a falar de Cartoons que ninguém vira  fora da Dinamarca. As situações são bem distintas. Nem se está a criticar a Jihad e o Profeta Maomé, nem os Japoneses são zelotas religiosos (haja Deus, suspira este ateu). Ainda mais, eu acho os cartoons descabidos e de fraca inteligência, pois brincam com mutações provenientes de radiações (tendo em conta que é o único país que já foi bombardeado com armas atómicas e ainda hoje estão a sofrer com isso os sobreviventes em Fukushima) por exemplo não é algo a que ache proveito ou a necessidade de caricaturar. Depois, numa altura em que o artigo 9 da Constituição Japonesa está “sobre fogo” e que o maior vaso de guerra japonês está a meter a China de nervos em franja, os Jogos Olímpicos naquela zona só podem ser bom sinal, se nos lembrarmos da sua ancestral história. Os Jogos Olímpicos eram consagrados em nome dos Deuses do Olimpo e durante os jogos haviam TRÉGUAS entre todas as cidades estado da Grécia Antiga. TRÉGUAS!! É essa a grande mais valia desses jogos, é esse espírito que deve, tem de ser honrado e recuperado. E que melhor altura e lugar que o Japão, neste momento.

Não quero desrespeitar aquela que considero justa indignação dos Japoneses, mas por acreditar no que Voltaire disse, sinto uma obrigação moral e de respeito para com a Liberdade de Expressão, fazendo o que os Media não estão dispostos a fazer por medo de ofender nem que isso defenda a liberdade que lhes permite o seu ganha-pão, publicando aqui os ditos cartoons. Eu acredito firmemente que a liberdade de expressão tem de incluir a liberdade de ofender, embora entenda que quem ofende tem de estar pronto para as consequências. Às vezes, e todos nós se não formos hipócritas o sabemos, basta dizer a verdade para ofender alguém.
Senão como poderão vocês, leitores, ter a vossa própria opinião sobre eles? Numa Era da Imagem como a que vivemos, como é concebível falarmos de uma polémica de imagens como polémicas e não as mostrarmos? É ridículo e triste não termos aprendido com o que aconteceu com a Dinamarca (disto voltarei a falar quando falar aqui dos Media e da Liberdade de Expressão e quanto ambos estão condicionados pelos interesses económicos e quanto isto diminui e perverte o seu papel social).
第九条 日本国民は、正義と秩序を基調とする国際平和を誠実に希求し、国権の発動たる戦争と、武力による威嚇又は武力の行使は、国際紛争を解決する手段としては、永久にこれを放棄する。
二 前項の目的を達するため、陸海空軍その他の戦力は、これを保持しない。国の交戦権は、これを認めない。
Confiando na Wikipédia, acima está escrito (em Kanji) o artigo 9 da Constituição do Japão. Esse artigo declara:

“ARTIGO 9: Aspirando sinceramente a uma paz mundial baseada na Justiça e na Ordem, o Povo Japonês para sempre renuncia à Guerra como um direito soberano da nação ou o uso da força como meio para resolver qualquer disputa internacional. (2) Para atingir o objectivo do parágrafo precedente, forças terrestres, marítimas ou aéreas, bem quaisquer meios beligerantes jamais serão mantidas.”, in Wikipedia. Traduzido directamente do inglês.

Entremos agora no tópico que dá mote ao título. Este artigo constitucional, tal como o Godzilla (link aqui), é criação conceptual directamente consequente dos terrores da Segunda Guerra Mundial. O povo japonês, num esforço para evitar cair no erro que então cometeu, desenvolveu este artigo constitucional. Intelectualmente, é um acto de louvar pela sua evolução civilizacional: consagrar uma proibição à guerra, renunciar o direito soberano à guerra, de forma constitucional. Mas na prática, no mundo em que vivemos, nos dias de hoje, por mais belo e moralmente avançado que seja, torna-se um acto mais simbólico do que prático ou pragmático.
Na prática, o Japão tem forças militares. Não lhes chamam forças armadas, mas antes Forças de Auto-Defesa Japonesas. Portanto, desengane-se quem pense que o Japão está à mão de semear, senão provavelmente já a China teria tomado as ilhas Senkaku no ano passado. Os Japoneses, ou pelo menos os que escreveram a sua Constituição, sabem aquela dura verdade que levou os Pais da Revolução Americana a consagrar na sua Constituição a emenda que garante o direito à posse de armas a todos os cidadãos:

Contudo, o artigo 9 da Constituição Japonesa tem o seu mérito real. Impede pela sua própria vontade o povo Japonês de, declarar guerra a outras nações em qualquer caso. Impede-os de construir armas nucleares (tendo o mérito de impedir a proliferação de armas de destruição em massa), de possuir porta-aviões, ou de ter mísseis intercontinentais, para dar alguns exemplos práticos. Na minha opinião, é um passo enorme para a evolução futura das relações internacionais. Isto é, se mudarmos a tónica do pensamento militar, se em vez de declararmos guerra só nos defendermos de alguém que nos declare guerra, estaremos mais seguros de estarmos nós a fazer o que está certo. Pelo menos, no que diz respeito às disputas entre nações. Esta é, e sempre será, a minha posição face às artes marciais: servem apenas para autodefesa e só são para ser usadas depois de esgotadas todas as outras possíveis soluções. O verdadeiro praticante de artes marciais não pratica para andar a criar problemas ou a provocar violência, mas antes para seu auto-melhoramento e para estar preparado caso não lhe dêem outra hipótese que não a escolha entre ser violentado e se defender pelo uso da violência.
Quando me preparava para escrever, pensei que há, no entanto, sérios problemas com a sua aplicação. Até porque decorre de qualquer estratega de nível básico, que a melhor defesa é um potente ataque. Eu considero-me não um pessimista (patente na minha e única instável, mas não cega, fé na Humanidade), não um optimista (preparo-me sempre para o pior, na melhor das minhas possibilidades), mas um realista e sei que há guerras que têm de ser lutadas. Até no pacifismo é perigoso ser um fanático e/ou zelota.
Exemplo fácil, a própria Segunda Guerra Mundial. Mas se analisarmos seriamente essa guerra, vemos que os “bons” (como dizem os putos), isto é aqueles que agiram em mera auto-preservação, como reacção à agressão nua, e não com sonhos megalómanos de conquista mundial, não declaram guerra até serem para isso provocados. Até os Estados Unidos da América só se declaram pelos Aliados depois de Pearl Harbour. Portugal, pelas mãos de Salazar, assumiu a única posição que podia para não ser obliterado, pois as suas forças militares eram fracas e tinha acabado de sair de uma crise económica estando ainda a sofrer os rigores da sua austeridade, e foi oficialmente neutro. Não-oficialmente, Portugal esteve envolvido. Em segredo, Salazar mantinha relações de conluio com os nossos mais antigos aliados, os Ingleses. Quando Churchill disse a Salazar para parar com os envios de volfrâmio que ele vendia aos nazis, este assim fez. Via Aristides Sousa Mendes, honrado por Israel com o título “amigo dos Justos”, salvámos muitos judeus de serem mortos, e mesmo Salazar e o seu Estado Novo permitia aos judeus que cá chegassem que embarcassem de cá para a segurança dos EUA. Além disso, Portugal passou fome enquanto em segredo alimentava as tropas aliadas. No Pacífico, e na única instância histórica em que Portugal e Japão abriram hostilidades, a então colónia portuguesa de Timor-Leste foi forçada a repelir a invasão japonesa. E conseguiu-o com sucesso. Acho que é importante relembrar isto, a bem da manutenção da História, especialmente no ano em que celebramos 470 anos de Amizade com o Japão. Mas lá está, nessa instância, nós só guerreamos em auto-defesa.


Saindo um pouco da guerra convencional, e já vão perceber porque o faço, a guerra contra o álcool (despoletada pelos agora membros do Tea Party, nos anos 20, na Lei Seca americana) só pôde ser vencida com a legalização das bebidas alcoólicas. É que as ruas já andavam ensopadas com sangue de gangsters, polícias e inocentes. Hoje em dia, luta-se a guerra contra as drogas e parece que nada se aprendeu com essa primeira experiência. Também essa só se irá ganhar com a legalização, retirando o mercado aos barões da droga, elevando-se os impostos como por exemplo fazemos ao tabaco procurando minimizar consumos, aumentando a informação disponível sobre o produto, fazendo campanhas de sensibilização nas escolas mas de forma certa e institucional e finalmente, disponibilizando sempre a possibilidade para os que já nela estão enredados saírem dessa armadilha. Será pela educação, inclusão, regulamentação e despenalização que diminuiremos este flagelo social. No final, irá sempre haver (COMO HÁ), quem se drogue para relaxamento, quem se drogue por vício, quem não se drogue. As pessoas têm o direito de fazer o que quiserem com o seu corpo e não pode ser o governo a decidir impedi-las da sua estupidez, sob risco de cairmos num estado orwelliano em que o Big Brother nos protege de nós mesmos e não há liberdade. Mas digresso… também estas guerras têm de ser travadas, e a sua vitória está no melhoramento da educação, essencialmente. Formar melhores cidadãos que hajam em consciência e que saibam que, mesmo que se queiram drogar, será menos mau fumar um charro a meterem LSD, mas que de preferência o melhor será simplesmente dizer NÃO. Mas falei de guerras não-convencionais para chegar aquela que marca a actualidade: a chamada Guerra ao Terror.
Aqui a porca torce o rabo. É tão inevitável como enfrentar o Hitler. Estamos a falar de pessoas que, potenciadas pela falta de escolhas de vida e muitas vezes falta de instrução educacional, são doutrinadas numa religião, “esse ópio do sofredor” citando correctamente Marx, que glorifica e de facto apresenta como caminho para o paraíso na morte a guerra santa. Pessoas essas que, enlouquecidas pelos ditames de livros que se tiveram valor já estão hoje em dia descontextualizados e ultrapassados, são instrumentalizadas por outras vontades, estas muitas vezes bem alimentadas e com ensinos superiores, mas na mesma fanáticas e/ou simplesmente maléficas. Nunca sei se os que puxam cordelinhos, tipo Bin Laden, Saddam e Homeini, acreditam mesmo no que pregam ou só desejam o poder. Mas há o revés dessas moedas, desse vil metal, como por exemplo o hipotético analista da CIA que sabia dos pilotos de aviação árabes “naquela escola do Midwest”, e que calmamente deixou desenrolar-se o11 de Setembro e garantiu a sua reforma em Wall Street. Esta guerra está a decorrer e já não é uma questão de esta nação contra aquela, mas sim como no caso da WWII (sigla inglesa), uma profunda discórdia ideológica. Por exemplo, as teocracias islâmicas, a que Hitchens designou “fascismo com face islâmica”, são ditaduras não só do corpo mas também da mente. Dito e feito, os fundamentalistas que a elas se entregam, seguem ideologia messiânicas nas quais eles são os verdadeiros servos de uma divindade inventada, à qual se submetem totalmente como seu escravos, e que os recompensará por isso no Fim dos Tempos, se eles até lá matarem, converterem ou subjugarem e humilharem todos os restantes. Os direitos de homossexuais, das mulheres e de todos os que não comunguem das suas ideias não lhes assiste. É uma guerra da civilização contra a barbárie. Uns poucos de fanáticos, face a biliões de inocentes que apenas querem viver a sua vida descansados.
No decorrer desta guerra, cujo nome é de si estúpido (pois guerra já de si é o terror), aconteceu a Segunda Guerra do Iraque. Todos nós sabemos que a sua motivação não foi apenas a libertação do Iraque do seu sanguinário e louco ditador, mas também o desejo dos americanos de controlarem o petróleo naquela zona. Eu sei disso, e se me perguntarem se eu preferia que tivessem sido outros que não os americanos a combatê-la ou a dirigir essa guerra, eu digo-vos logo: “Claro que preferia!”. Mas estamos a falar duma situação insustentável, dum ditador que combinava o que pior havia de Hitler e de Estaline, dum país que era vigiado diariamente pelas Nações Unidas (NU) para evitar que este voltasse a atacar os curdos (a maior etnia anteriormente sem estado que existe no mundo) que quase exterminara com armas químicas ou que atacasse os seus vizinhos e irmãos de fé no Irão, que já antes tentara invadir, enquanto que as próprias NU via sanções económicas mantinham na miséria todo o povo iraquiano enquanto o seu ditador megalomaníaco vivia na opulência dos seus palácios e os seus ainda mais psicóticos filhos coleccionavam carros de luxo como se fossem o CR7. Conhecidos terroristas da Al Qaeda e afins gozavam da sua protecção, tendo até alguns passaportes com imunidade diplomática consagrada pelo Iraque [com os quais várias vezes escaparam à detenção por autoridades doutros paízes] e que vinham listados nas listas telefónicas iraquianas sem qualquer medo e com o seu nome. Portanto, falamos de um país sob ditadura teocrática, que já tinha utilizado armas de destruição massiva, já tinha invadido o território de vizinhos, já tinha tentado promover o genocídio de uma etnia e dava guarida a conhecidos terroristas internacionais. Segundo Hitchens (link aqui), e confesso que não sei de onde ele obtém esta informação embora me pareça aceitável como ideia, o Iraque de Saddam já preenchera as 4 condições para perder a sua soberania. Algo tinha de ser feito. As NU deviam ter ajudado os curdos seculares, guerrilheiros socialistas e comunistas, a derrubar o regime de Saddam. Mas a sua inacção manteve-se. Os EUA e o Reino Unido, movidos pelos seus próprios interesses (leia-se petróleo), agiram. O Saddam foi condenado à morte pelo seu próprio povo numa farsa de tribunal quando devia ter sido julgado por crimes contra a Humanidade, um completo e louco programa iraquiano de ocultação de armas foi descoberto e foram desenterrados das areias do deserto tudo desde aviões a centrifugadoras para o enriquecimento de urânio (a que os americanos foram levados por um cientista iraquiano empregado pelo Saddam), foi descoberta uma ligação de venda de armas nucleares que ligava Saddam à Coreia de Norte que se lhe preparava para vender armas nucleares, eleições livres foram institucionalizadas no Iraque e os curdos formaram uma sua região autónoma e secular. É claro que há parte dessa região autónoma, o Iraque via eleições está entregue aos partidos de Deus na mesma, e cravejado de terrorismo nas suas ruas e cidades, mas não foi tudo em vão e a democracia é tão benéfica quanto a maioria dos seus cidadãos o conseguem ser. Mas parafraseando Jefferson, eu prefiro uma democracia perigosa a uma ditadura passiva ou benigna.
A guerra do Iraque foi declarada unilateralmente pela auto-intitulada Coligação do Voluntários, EUA e Grã-Bretanha, mas tal não precisava de ter sido. Podíamos apenas ter feito uma acção de libertação, com umas Nações Unidas mesmo Unidas, ajudando a revolução que já estava a ser levada a cabo pelo exército de libertação curdo. Exactamente como aconteceu quando Portugal e outros ajudaram a libertar Timor Lorosae das garras dos islamofascistas de Jacarta. Nós, levados por um sentimento de culpa por termos abandonado essa ex-colónia ao seu destino após a Revolução dos Cravos, deixando-a à mercê duma Indonésia teocrática, e os Australianos por exemplo porque queriam o seu petróleo e ficaram mui magoados quando Timor optou por se tornar país de língua oficial portuguesa ao invés de língua inglesa. Se quiserem um cheirinho do que foi essa guerra, em forma romanceada, sugiro o mui excelso “A Ilha das Trevas”, de José Rodrigues dos Santos. E não, não acho que nós tenhamos lá ido pelo petróleo. Porquê? Porque são os australianos que estão a ganhar disso e não nós. Talvez a GALP lá tenha um dedinho, confesso que não sei.
De qualquer forma, o problema repete-se agora na Síria. Estamos à beira de gerarmos outro “Iraque II”. Se não conseguem imaginar o filme, ei-lo: os EUA entram, desta vez completamente sozinhos, sem tropas no terreno, bombardeando com drones e outros meios, gerando sem dúvidas danos colaterais (= mortes de inocentes não combatentes). Se armarem mais os rebeldes, que são da mesma ideologia do Irmandade Islâmica e da Al Qaeda, estão potencialmente a criar mais Bin Ladens. O próprio Barack Obama disse que não podíamos correr o risco de que o arsenal químico do Assad ficasse nas mãos deles. Mas pior, entre os refugiados e os que não se conseguirem refugiar e perderem familiares numa guerra que não entendem, lembrar-se-ão das bombas e dir-lhes-ão sem recorrer à mentira que vieram da América. Serão fáceis alvos dos recrutas das organizações islâmicas de terrorismo. Motivados por desejo de vingança, fortificado pela crença no Alá que lhes venderem, serão mártires jihadistas. Se a via diplomática falhar, é isto que teremos. Mas algo tem de ser feito, dirão alguns! Concordo.
O que devia ser feito, caso a diplomacia falhe, seria uma força multinacional da ONU, no terreno e mais que bem equipada para a guerra química, a segurar as pontas de ambos os lados e a restaurar a paz no país. Depois remover-se o ditador, ir-se a eleições e sair. Dir-me-ão, depois segue-se o “Egipto II” ou um “Irão II”… aí já será problema deles. O papel da ONU deve ser apenas proteger os inocentes, procurar parar guerras ou genocídios, e assegurar a democracia. Nada mais.

Até porque, para mim, a guerra contra o fundamentalismo islâmico no geral só pode ser ganha de dentro do próprio Islão e quem terá a melhor hipótese de o fazer são as mulheres islâmicas. Porquê? Bem, se se conseguir que elas recebam uma boa educação, de preferência (sonho eu) secular, elas poderão melhor formar os seus filhos e assim impedi-los que eles caiam nas garras do fundamentalismo religioso. Nenhuma mãe digna desse nome deseja a morte do filho, mesmo por Alá. Já o policiamento internacional imperialista por parte dos americanos ajuda os sacerdotes islamitas a convencer os seus peões de que a guerra santa é também justa e contra a opressão capitalista norte-americana. O que se quer é que o Islão se torne todo moderado, como já foi no auge da sua civilização, quando inventaram a Álgebra e avançaram a Óptica.
Por exemplo, Christopher Hitchens falava muito de no Irão ter havido, produto da insanidade da guerra que Saddam moveu a este país, um “baby boomerang”! A expressão de baby boom significa uma nova geração que tenha inovado em alguma coisa face às anteriores. O baby boomerang do Hitch significava que, quando o Saddam atacou o Irão, eliminou muitos dos jovens iranianos. Isto levou a que os teocratas locais dissessem às mulheres do Irão que voltassem a restabelecer as fileiras iranianas, um “crescei e multiplicai-vos” of sorts. Agora, o Irão tem uma população rejuvenescida mas, tendo crescido na ditadura teocrática e num país sem pais ou avôs, é muito crítica do regime actual o que poderá levar a sua remoção. Do Irão, já se ouviu que não desejam que o que está a acontecer na Síria lhes aconteça a eles, que preferem fazer a sua própria revolução mas de forma pacífica. Ainda bem para eles. Só espero que o façam antes dos seus líderes loucos chegarem à Bomba! Portanto, uma das suas políticas de natalidade poderá destruir o próprio regime totalitário iraniano que a criou, daí baby boomerang, eles atiraram-no mas ele deu meia volta e acertou-lhes em cheio. Insh’Allah! Mais uma vez, a solução é a educação pois reside nos ombros dos jovens.
Uma ironia do destino fez com que na guerra contra o Saddam Hussein, tal como na guerra do Hitler, forças capitalistas e marxistas convergissem. Interessante, não é?
Voltando à questão das armas e da Constituição Norte-Americana, bem vistas as coisas, a sua 2ª Emenda tem menos consequências benéficas práticas ou verificadas que o artigo 9 dos Japoneses. Esta é a emenda que consagra o direito à posse de armas a um cidadão norte-americano. Originalmente, a emenda foi feita para impedir que um povo temesse o seu governo, que na opinião dos Pais Fundadores era o que constituía a ditadura. Eu até comungo desse sentimento, o povo não pode temer o seu Estado, muito menos o seu Governo. Pois bem, quando é que essa emenda serviu nesse sentido em termos práticos? Terá sido durante a Lei Seca, durante o McChartismo dos anos ’50 do século passado, durante a Guerra do Vietname, durante a Luta dos Direitos Humanos, durante o vigor do Acto Patriota que já era para ter sido revisto e contínua incólume? Não, nunca foi usado desde que os ingleses foram corridos. E o mais engraçado é que as sondagens dos próprios americanos mostram que 80% dos constituintes desejam mais controlo nas armas e mesmo assim a recém criada proposta BIPARTIDÁRIA (dos dois partidos do poder) para tal efeito foi recusada no senado americano. Liberdade democrática? Humm… não me parece que a posse de armas a assegure. Já o Japão neste departamento, que é um país tão democrático como os EUA ou Portugal (o que digamos quer dizer que não é verdadeiramente democrático, apenas oligárquico, mas essa discussão fica para outro dia), é um país sem armas. Diz o artigo que uso como fonte [aqui linkado] que no Japão, o país com menos armas em mãos privadas do Mundo e provavelmente o que tem mais restrições na obtenção legal de armas de fogo, teve resultados excelentes no que diz respeito a mortes por armas de fogo. Em 2008, o Japão teve um total de 11 homicídios por arma de fogo, enquanto que os EUA tiveram 25 mil. Mas isto é um ano mau para o Japão, pois em 2006, teve um total de duas (2) mortes por arma de fogo e quando em 2007 o número subiu para 22 isso tornou-se num escândalo nacional no Japão. É acrescentado que quase ninguém possui armas de fogo no Japão, visto que a maioria é ilegal e que é comprar e manter as restantes é um processo oneroso. Até os Yakuza, a máfia japonesa, prefere não usar armas de fogo visto que mortes desse tipo captam demasiada atenção noticiosa ou mediática que os gangsters nipónicos preferem evitar. Segundo o artigo, a Lei Japonesa, 1958, proibiu a posse de qualquer arma de fogo por parte dum cidadão, tem vindo posteriormente a abrir algumas excepções. O artigo abre aludindo a como se podem encontrar em Waikiki, no Hawai, pessoas na rua a distribuir panfletos publicitários, muitas vezes escritos em inglês e japonês, para captar turístas para o Clube de Tiro local. É um choque civilizacional quando os turistas japoneses recebem esses panfletos e quando vão ao dito clube disparar uns tirinhos, possivelmente saberão que se estivessem na sua terra estaria a cometer três crimes: empunhar uma arma de fogo, posse de munições não licenciadas, e o disparo de uma arma de fogo. A primeira das 3 ofensas pode ser punida no Japão por até 10 anos de cadeia. No Japão, as armas de fogo que um cidadão pode obter legalmente, mas com muita dificuldade, são caçadeiras (shotgun) e pressões de ar. O processo legal de obtenção de armas de fogo foi descrito num ensaio de David Kopel, cidadão americano membro da National Rifle Association (associação nacional de espingardas):

1 – o cidadão tem de frequentar um worshop de um dia, findo o qual é testado e tem de passar no teste. O workshop só acontece uma vez por mês;
2 – depois de passar nesse teste, o cidadão tem de frequentar e passar um curso numa carreira de tiro;
3 – feitos os dois primeiros passos, há que ir ao hospital fazer uma análise a estupefacientes e um testes de sanidade mental (é dito que o Japão é único nesta imposição de exigir a certificação da saúde mental dos potenciais possuidores de armas), os resultados dos quais a pessoa tem depois de entregar junto de oficiais da Polícia;
4 – finalmente tem de passar por uma rigorosa investigação do seu passado, sobre se esteve alguma vez envolvido em actividades ilegais, etc…;
E pronto, se passar, já pode ir comprar a sua caçadeira. Resta-lhe apenas informar a polícia sobre o local exacto na sua casa onde a guarda, e o mesmo se aplica às munições, sendo que a arma e as munições têm de ser guardadas fechadas e separadamente. Depois ainda tem de se recordar de levar a arma para inspecção policial uma vez por ano e refazer o teste de 3 em 3 anos!! Ufa, já estou exausto…
Duvido que por lá se cace como cá em Portugal! Seria a revolução se alguém cá quisesse fazer isso, porque diz o Público que um (1) Português em cada três (3), está possui uma arma. Eu não me oporia e digo isto sendo possuidor de 2 pressões de ar, uma de mola e uma de gás, e já tendo tido a experiência de disparar uma pistola semi-automática numa carreira de tiro.Posso dizer que não me saí nada mal e, com a experiência das minhas pistolas pressões de ar, assim que me habituei ao coice da explosão da pólvora, acertei o centro do alvo 2 vezes. A esperiência fez-me lembrar uma frase da obra de arte do Bruce Lee chamada "Enter the Dragon": "Any bloody fool can fire a gun.", traduzindo livremente: qualquer perfeito idiota pode disparar uma arma. Id est, não é preciso grande habilidade para se ser perigoso com uma arma de fogo na mão.

Não podia deixar de aproveitar este post para o N.I.N.J.A. Samurai fazer uma intervenção participativa no recém aquecido debate constitucional português, já que o Ministro Poiares Maduro (ex-acérrimo atacante e crítico das políticas deste governo, agora seu ávido protector), alegado ministro de Desenvolvimento Regional, para mim Ministro da Desinformação Nacional, diz que o debate sobre a Constituição não pode ser exclusivo dos Juízes. Começarei por tentar responder à pergunta chave e idiota do senhor actual Primeiro Ministro (PM). Ei-la formulada pelo próprio:
Ora, digo que a pergunta é idiota porquê? Porque a Constituição não assegura o trabalho a ninguém, tal como a restante Lei não o faz, seria impossível. O que a Lei deve fazer é apenas providenciar uma base legal que assegure os direitos do trabalhador, pois este vai estar sempre em desvantagem negocial perante a entidade empregadora. Mas esqueçamos isso. A Constituição não criou a Crise Económica de 2008, a Banca de Risco e a sua avarenta e endémica toxicidade é que criaram. A crise económica-social-estrutural do Estado Português, não foi criada pela Constituição, foi criada pela promiscuidade do Estado com o Sector Privado, via sucessivos governos PS-PSD, ao longo de quase 40 anos.
À PARTE: Aliás, o sector privado neste país é uma anedota pegada. Vejam-se como quando o estado fechou torneiras à comparticipação de medicamentos, quantas farmácias não fecharam todas elas privadas, sobrevivendo do estado. As PPP’s e os SWAP’s que por aí andam incólumes a encher bolsos privados, comendo directamente da dívida pública que suga os nossos impostos. A EDP e as suas rendas intocáveis que anularam Álvaro Santos Pereira. Sector privado onde se é o estado que está a alimentar esta gente toda?? Ah, é privado no sentido de que os lucros não favorecem o Zé (Povinho, leia-se) mas sim o senhor Dr José “Polvo”, cujos tentáculos estão bem firmados nos partidos do Poder. E as empresas realmente privadas, que sobrevivem sem as benesses estatais, são não têm espaço para crescer nacionalmente pois outras o ocupam, gozando do proteccionismo estatal. Pensem nisso.
Mas adiante. De qualquer forma, como matriz de uma lei que protege os direitos do trabalhador (logo e sim, de índole marxista [como não podia deixar de ser considerando que Comunismo, Socialismo e Social Democracia são ideologias provenientes do Marxismo]), que tem uma certa lógica sendo que é o trabalhador (e isto inclui trabalhadores de colarinho branco e azul) também o contribuinte do estado, pelo menos impediu o Governo actual de criar mais não se sabe quantos novos desempregados sem, algo que até a nada democrática União Europeia consagra como essencial, justa causa, e sem direito a subsídio de desemprego nem nada.
Ficariam dessa forma mais desprotegidos os funcionários públicos que os do privado. Íamos do 8 ao 80. A constituição, shôr Passos Coelho, protege o empregado, não arranja emprego ao desempregado. Tal como o Estado, de um ponto de vista liberal (que se julgava ser o seu), não o faz. O Estado só tem de providenciar as condições para que esse emprego possa surgir. Como? Ora, NÃO asfixiando a economia aumentando os impostos tanto no Consumo como nos Rendimentos, ao mesmo tempo que promove a baixa de salários, que inexoravelmente leva a uma perda de poder de compra, seguida de uma baixa de comércio interno, que implica menos receitas fiscais. Ao fim de 2 anos ainda não percebeu? Ah espera, ele antes das eleições onde foi eleito até sabia isso, não era?!? Deve ter comido queijo...
Quanto ao Tribunal Constitucional (TC). Ora bem, o Tribunal Constitucional só serve para ver se as leis que o sr PM e o seu ilustre e demagogo séquito aprovam em Conselho de Ministros não infringem a Lei consagrada na Constituição. E a interpretação feita por esses juízes, nomeados por PSD e PS essencialmente, segue regras pré-estabelecidas sobre o qual vossa excelência não sabe puto, sendo tão ou mais leigo que eu nessa matéria. Não é uma interpretação livre e como dá jeito, como quando se lê um poema ou a Bíblia, ok?
Por fim de resto, a sua miserável estratégia de culpar o TC p'lo vindouro aumento de impostos que todos sabemos aí vir, convenientemente depois das Eleições Autárquicas (como disse o Ministro da Solidariedade muito solidário com os autarcas que quer eleger em coligações PSD-CDS por esse país fora "Não é momento de se subir impostos" [link para fonte]), é uma patranha que é preciso um completo vegetal mental para engolir. Se até a Ferreira Leite diz, com uma (in)característica sobriedade lógica, que mesmo que o TC tivesse aprovado a Mobilidade Especial, o senhor PM teria de esperar 1 ano (12 meses), segundo a lei que ele criou, antes de poder despedir fosse quem fosse. Sendo esse o caso, que é (basta ler o enunciado da Mobilidade Especial), como é que isso influência alguma coisa o Orçamento para 2014, visto que faltam menos de 4 meses para acabar 2013? Senhor Primeiro Ministro, "não" seja "piegas", sim?
Já agora, sabem em que artigo da Constituição Portuguesa vem estabelecido o Princípio da Igualdade que tanto tem levado o TC a contrariar o Governo?
Irónica coincidência, em Portugal também é o artigo 9 que está a ser alvejado pelo governo actual.
Mas voltando à pergunta do Passos Coelho, esquecendo as contradições do seu discurso aos zombies sem espírito crítico que o aplaudem enquanto frequentam a sua “universidade” de Verão laranjita, sequiosos de um futuro de “tachos” (e não me refiro na restauração que o seu IVA insiste em destruir), avanço uma resposta directa. Eu acho que a Constituição arranjou emprego a este cidadão, que nela se baseou para se negar a pagar impostos na base de que tinha a prioridade de alimentar os filhos:

Sou o único a achar estranho que o homem há meses desempregado, depois de sair nas notícias com tanto alarido, tenha arranjado emprego por outra razão? Se eu tivesse uma empresa e precisasse de um gestor criativo, não pensaria duas vezes a contratar este Matemático pela sua óbvia criatividade na resolução de problemas difíceis num contexto social e legal.
É possível pero no lo creyo que, ao fim de 2 anos, seja apenas coincidência acontecer quando sai nas notícias o seu, na minha opinião, espectacular gesto de cidadania pura! Portanto, senhor Pedro Passos Coelho, meu primeiro ministro no qual não votei, por qué no te callas?!? A Constituição arranjou emprego a 1 cidadão... quantos mandaste tu para o Desemprego? Quantos mais ainda para lá queres mandar?

Para terminar, é claro que o PM pode opinar sobre as decisões do TC, mas a opinião avançada por Passos Coelho só revela uma completa ignorância sobre as bases fundamentais de uma democracia tripartida, o que não deve ajudar nada (ou não deveria num país de jeito e com espírito crítico) ajudar a uma futura reeleição. De resto, é óbvio que a Constituição não é imune a alterações, não é um texto sagrado. Mas depois das trapalhices deste governo de Coligação com falta de cola e com um (In)Seguro a chefiar o PS, é mesmo este tipo de gente que queremos a mexer na nossa Constituição, enquanto são puxados cordelinhos de uma Troika que só quer baixar salários para competir com a China? Serão as alturas de crise as melhores para pensarmos friamente em que país queremos viver?
Eu posso avançar já 3 alterações:
1)      que se retire a protecção extra que há para quem momentaneamente ocupe o lugar de Presidente da República. Qualquer cidadão, se se sente injuriado pode levar outro a tribunal por isso e é uma questão de provar o seu caso. Que o momentâneo ocupante do posto de PR seja mais que os outros só me parece uma reminiscência dos tempos da Outra Senhora. Uma cláusula de não se questionar o Líder. Fuck that is what I say. “Quem quer respeito, dá-se ao respeito”, citando o meu povo e parafraseando George RR Martin “Quem tem de afirmar aos outros que é rei, não o é.”. Case & point, ninguém fez abaixos assinados para demitir o Sampaio ou o Eanes, mas eles também não disseram que eram solidários com o seu povo sofredor pois com 10 000 euros não conseguiam pagar despesas;
2)      estipular-se o número de ministérios que há, independentemente do governo que lá estiver e um número máximo razoável (veja-se o exemplo da Alemanha por exemplo) de adjuntos, secretários, acessores e motoristas que cada um possa ter, bem mais baixo que o actual, que cada governo possa nomear;
3)      copiarmos o artigo 9 japonês.
Aposto que o Partido do Estado não faria nenhuma destas alterações, particularmente aquela que lhes nega a possibilidade de darem os tachos que quiserem.
Olhando para o meu próprio raciocínio, começo eu próprio a perceber que o Artigo 9 dos Japoneses não tem nada de sonhador e tem muito mérito pragmático para além do mérito civilizacional (caso saibam inglês cliquem aqui para aprofundar o tópico). Não é abdicar do direito à autodefesa. Não se trata daquilo que eu considero uma parvoíce, como a completa e unilateral desmantelação de forças militares como quer o Bloco de Esquerda. Não é uma cláusula de não resistência perante a agressão, como o famoso “dar a outra face” de Cristo. É apenas a simples rejeição da violência como solução aceitável para crispações no plano internacional e sobretudo uma rejeição da noção de que fazer guerra deve ser considerado um direito soberano de uma nação.
Por outro lado, ao escrever este post, consolidei também aquilo que já antes achava, que a cura da Humanidade, a emancipação intelectual desta última, e a evolução da sua liberdade democrática estão ligadas inexoravelmente e totalmente dependentes de um dos pilares da nossa civilização: a Educação. Não nos esqueçamos nunca que o nicho evolutivo que nos permitir ascender como espécie dominante deste nosso berlinde azul foi a capacidade de aprender e raciocinar, conjugada com a partilha e contínua transmissão de conhecimentos de geração em geração. Durante milénios, os seres humanos tiveram uma esperança média de vida de cerca de 20 anos e pouco ou nenhum conhecimento passava, a não ser o mais básico. Não havia experiência acumulada, nem velhos ou outro meio para a reter. No plano civilizacional, é a educação que permite a inovação e é também chave da competitividade económica, por muito que vos queiram vender que essa advém apenas de baixar salários e gerar mão-de-obra escrava ou quasi-escrava.
Se entendermos que o artigo 9 da Constituição Japonesa é um artigo progressista e sem contradições pragmáticas (pois não impede a manutenção da segurança soberana do seu povo), é importante perceber que numa altura de grande tensão militar no Pacífico, devido às Coreias e às ilhas Senkaku, este artigo está em perigo de ser revogado, estando debaixo da mira do Partido Liberal Japonês, actualmente no poder. Um partido, que tal como o nosso, anda às avessas com a constituição pela qual jurou servir a sua pátria. No caso japonês, nota-se um enorme à vontade bélico do seu actual governo, sendo que foi um dos países que apoiou o ataque norte-americano à Síria sem antes terem sido esgotadas todas as opções. Felizmente, a Rússia e os EUA já concordaram nos termos que apresentarão ao Assad para este entregar o seu arsenal químico: http://www.publico.pt/mundo/noticia/eua-e-russia-chegam-a-acordo-para-eliminacao-de-armas-quimicas-na-siria-1605822. Pode ser que desta forma se evitem os bombardeamentos e a morte de mais civis inocentes, ao mesmo tento que se esfria a nova Guerra Fria entre a Federação Russa e os EUA.
No passado dia 9 de Agosto, decorreram 68 anos desde que as Bombas caíram sobre Nagasaki e Hiroshima. Os japoneses marcam sempre o dia dessa tragédia, para alguns totalmente desnecessária por parte dos americanos, que já tinham a guerra ganha nessa altura. Durante o ano, muitas vozes se elevaram em defesa do artigo 9, precisamente por se recordarem onde leva a mania da guerra. A estas juntam-se também acções populares anuais, como a Marcha pela Paz.
Este ano, a Marcha pela Paz começou com cerca de mil pessoas, entre as quais a activista filipina Malaya Fabros. A activista anti-nuclear produziu no seu blog (fonte) uma excelente introdução ao Gensuikyo (Conselho Japonês contra as Bombas Atómica e de Hidrogénio), à história da Marcha pela Paz, à velha estrada de Tokaido (no período Edo, era a via que ligava Tóquio e Quioto), mas também fala das culturas diversas do Japão por onde passa e fala do desejo de muitos japoneses de se quererem redimir pelas acções do seu país durante a Segunda Guerra Mundial, e claro não se esquece de mencionar os esforços para salvar o artigo 9 e as acções contra a tecnologia nuclear. Está em inglês e é óbvio que não posso traduzir tudo, mas continuando no tópico desta entrada, aprofundemos um pouco a Marcha da Paz.
Esta última começou em 1958, quando um monge de Hiroshima decidiu colocar os pés ao caminho e ir a Tóquio participar da Conferência Mundial. Pelo caminho, juntaram-se ao monge muitas pessoas que o acompanharam, e desde então, sem nunca falhar um ano, entre 6 de Maio e 4 de Agosto é realizada a Marcha pela Paz no Japão. Uma tradição bem mais bela e valorosa que qualquer peregrinação a Fátima ou Santiago de Compostela, para ir pedir favorezinhos ao ditador divino. Tem objectivos mais nobres e o seu sucesso não assenta em crendices mas sim na mudança das ideias e vontades humanas e terrenas.
Outros também participam desta luta, como o mestre do Anime, Hayao Miyazaki demonstrando o seu desagrado perante a posição do actual governo japonês perante o Artigo 9.
Este ano curiosa e ironicamente, de forma talvez nada inocente por parte dos organizadores, realiza-se em Novembro e no Japão, uma Conferência internacional chamada "Paz como uma Língua Global":
Por minha parte, não posso de momento e por razões económicas ir ao Japão participar da Marcha pela Paz nem tão pouco ir à Conferência supracitada, mas posso guerrear pela Paz no Mundo, não desejando-a meramente, de forma politicamente correcta e superficial como um qualquer estereótipo de miss num concurso de beleza, mas sim pensando, falando, e escrevendo sobre isso como estou a fazer. Mais, posso reforçar a ideia do horror da Guerra, não com as minhas fracas palavras, sem conhecimento de causa ou os laivos poéticos necessário para tal, mas sim com as poderosas palavras daqueles que me inspiram a aspirar ser escritor.
A Poesia de Guerra é essencial para a crítica a esse membro tão terrível dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse e é também, ao que parece, comum por todo o mundo. Do Japão, pela caneta de Mitsuyoshi Toge (link para a fonte em inglês), um poeta católico japonês de Hiroshima, surge “I Could Never Forget the Flash” (Nunca Pude Esquecer o Flash):

Eu nunca consegui esquecer aquele flash de luz,
Num momento, trinta mil pessoas deixaram de ser,
Os gritos de cinquenta mil mortos
No fundo de uma esmagadora escuridão;
Através de fumo amarelo que rodopiava para a luz,
Prédios dividem-se, pontes colapsam,
Eléctricos cheios ardidos enquanto rolavam
Por Hiroshima, todos cheios de montes ilimitados de brasas.
Logo depois, peles penduradas como trapos;
Com mãos sobre os peitos;
Calcorreiam sobre os cérebros destroçados;
Usando retalhos de pano queimado em torno das entranhas;
Vieram fileiras incontáveis de nus,
Todos a chorar.
Corpos no chão da parada, espalhados como estatuetas de Jizo atiradas ao desprezo;
Multidões em pilhas à margem dos rios, carregadas em jangadas amarradas à margem,
Transformados em cadáveres sobre o sol escaldante.
No meio de chamas atiradas contra o céu nocturno;
Ao largo da rua onde mãe e irmão estavam encurralados vivos debaixo da casa ruída,
A cheia de fogo prosseguiu.
Em camas de porcaria no chão do Arsenal,
Carradas, e Deus sabia quem eles eram…
Carradas de meninas de escola deitadas em recusa
De barriguitas saídas, zarolhas, como metade da sua pele arrancada por completo.
O sol brilhou e nada se mexeu,
A não ser as moscas zumbidoras nos alguidares metálicos
Fedendo com obscenidades estagnadas.
Como posso eu esquecer essa quietude
Prevalecendo contra uma cidade de trinta milhares?
No meio dessa calma,
Como posso eu esquecer os suplicares
De partidas mulheres e crianças
Através das suas órbitas oculares
Cortando através das nossas mentes e almas?


Ou escutando, Fernando Pessoa e “O Menino de sua Mãe”:

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado-
Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe.



E pela potente voz de Christopher Hitchens, surge o poema de Wilfred Owens, “Dulce et Decorum Est”:

Quando vi este vídeo do Hitch, e o ouvi recitar o poema, viajei de imediato à minha infância, quando um episódio em particular da série televisiva “As Crónicas do Jovem Indiana Jones” me deu pesadelos durante semanas. É que de certeza que quem escreveu a cena que se segue, conhecia bem este poema de Owen e foi por ele inspirado. Ora vejam:
E por fim, para aligeirar a tensão, a crítica poética mas satírica, pelas palavras e música de Tom Lehrer, em “Who’s Next?”:

Absorvam as palavras, imaginem as imagens. Para aqueles de nós que nunca pisaram o campo de batalha, que tiveram essa sorte de nunca o pisar, esta é a maneira mais próxima que temos de imaginar a sua horrenda realidade, salvo seja um filme bem feito e não apologético ou que não tente glorificar a guerra.
Peace out, my brothers and sisters, & in times of crisis keep safe your Constitutions ,\/n

P.P.S.: Tive de adicionar este vídeo do Ricardo Araújo Pereira à última da hora. É um seu comentário a um livro, cuja história se passa durante a Primeira Guerra Mundial, mas é um livro de humor. É uma outra reflexão sobre Guerra, Morte e Vida, de uma perspectiva cómico-satírica. Fiquei com vontade de ler o livro:
O Bom Soldado Švejk | FNAC Colombo 13.12.2012
P.P.P.S.: Mais uma pérola do Ricardo Araújo Pereira que aqui me parece pertinente citar:

AO90 em Espectro Largo

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Há uns meses, um tipo chamado Ivo Miguel Barroso, vendo que eu andava a sondar os partidos políticos relativamente à posição destes em relação ao Acordo Ortográfico de 1990 (AO90), que tão levianamente é chamado de Novo Acordo Ortográfico (embora seja produto do século passado), abordou-me para que eu escrevesse um artigo com essa pesquisa, que ele me ajudaria a fazer publicar no Público.
Depois de debate online, reuniu-se um grupo de trabalho de 4 pessoas, para realizar essa tarefa, sendo que eu iria escrever o artigo, que depois seria editado pelos restantes. Acordou-se que o artigo deveria ser curto, estritamente informativo e factual, e acompanhado de uma tabela para leitura mais fácil. O objectivo era duplo: fazer as pessoas pensarem a sua escolha de voto considerando o AO90, mas também pressionar os políticos em tempo de pré-campanha eleitoral a adoptarem uma posição anti-AO90. O artigo que acabou por sair, sob o título “As Posições dos Partidos Políticos sobre o Acordo Ortográfico” (I) e (2), respectivamente, nas edições dos dias 29 e 30 de Julho do Público, por autoria de apenas duas das quatro pessoas originalmente no grupo de trabalho, nada tinha a ver com o rascunho que eu escrevi, embora ainda tenha lá resquícios de uma ou outra frase minha. Estou à vontade para afirmar o que afirmo, visto que tenho todas as mensagens e emails trocados no âmbito desse trabalho. Até as citações de deputados dos vários grupos parlamentares que não foram usadas na versão final do artigo, não percebo bem porquê.
Eu optei por não querer estar relacionado com a versão final desse artigo por várias razões. Primeiro, era enorme e enfadonho, e consequentemente teria poucos leitores, mesmo entre os que já se interessam pela questão. Segundo, porque dava enorme destaque aos partidos do Centro (PS, CDS, PSD), os causadores da aprovação e implementação do malfadado acordo, relegando para uma segunda parte (que ninguém iria ler!!) o BE, o PEV, e o PCP, que foram assim agrupados com os demais partidos sem assento parlamentar. Ora esta disposição, parece querer antes convencer o eleitorado que não vale a pena fazer nada, porque a maioria na Assembleia da República (AR) é a favor e pronto. Mas pior que isso, e eu à altura nem reparei porque não tive pachorra para ler tudo quando me enviaram a primeira parte ainda antes de impressa, Ivo Miguel Barroso não só não pressiona os partidos do Centro, como hostiliza, pela descaracterização da sua proposta, a posição do único partido com assento parlamentar que já propôs a desvinculação do Estado Português do AO90, o PCP.
O deputado Miguel Tiago do PCP acusou o golpe e ripostou clarificando, no artigo do Público e na sua página de Facebook, a posição do PCP (como demonstra a imagem acima), cuja proposta de desvinculação pode ser consultada no site da Assembleia da República:
Ao afirmar “Todavia, este Projecto de Resolução do PCP apresenta, em vários pontos, uma fundamentação desadequada.”, com toda a prepotência de quem se acha uma autoridade suprema visto que não se dá ao trabalho de fundamentar a sua afirmação, Ivo Miguel Barroso só pode mesmo querer hostilizar o PCP. Porquê, não sei! O que ele devia ter feito era, se ia fazer um artigo de opinião e não meramente informativo como ele me disse que desejava originalmente, elogiar a conduta do PCP neste caso concreto (visto que é a única posição na AR favorável à causa anti-AO90) e até tentar capitalizar o apoio dessa máquina partidária de nível nacional para conseguir mais rapidamente assinaturas para a Iniciativa de Referendo Nacional sobre a Desvinculação do AO90 ou para organizar acções de rua, onde o movimento Anti-Acordo Ortográfico tem infelizmente pouca expressão.
Um movimento com o qual não me identifico é o dos Anti-Touradas, mas tenho de admitir que, lenta mas seguramente, eles vão obtendo resultados. E porquê? Porque chateiam incessantemente os políticos e fazem acções de rua, conseguindo converter isso no apoio político do PS e do BE. Mas não rejeitaram ou hostilizaram esses partidos depois de granjeado o seu apoio.
O movimento anti-Acordo Ortográfico perde-se em disputas pessoais internas entre egos enormes, quezílias partidárias interferem com a execução duma acção conjunta contra o acordo ortográfico (o que não faz sentido sendo que a sua oposição está espalhada por todo o espectro político, embora assim não pareça na AR), e tem pouca organização, algo que não falta na acção concertada e cirúrgica do lobby pró acordo ortográfico, junto do Centrão.

Mas porque há-de interessar esta questão ao comum dos cidadãos portugueses?

Resumindo, o Acordo Ortográfico é um caso-estudo de tudo o que está mal na política em Portugal.
Primeiro, revela o défice democrático que existe em matéria de acordos internacionais. Tudo foi decidido e executado alternada e concertadamente por PS e PSD, não com o apoio da maioria dos portugueses, que não foram nem vistos nem achados, mas apesar da oposição de uma maioria dos portugueses. Essa oposição varia entre os 60% e os 80%, fazendo-se ouvir sempre que algum site ou blog pergunta quem é a favor do AO90 (ver imagem dessa pesquisa abaixo. Sugiro que façam download da imagem e façam zoom, até lá têm links para as pesquisas mencionadas). Até o Sporting Clube de Portugal deu a escolha aos seus sócios, cuja maioria optou por não adoptar o AO90. Pena a minha que o meu Benfica não tenha feito o mesmo.
Depois, mostra como os políticos do Centrão só ligam às opiniões técnicas ou científicas que lhes convêm, e não aos factos em si. Ainda antes deste acordo ortográfico ser metido em prática, com as desastrosas consequências que conhecemos e podemos ver em vários canais de televisão e outros media, o governo Socrático (que aprovou a Resolução de Conselho de Ministros [RCM] que vincula o estado português ao AO90) encomendou pareceres técnicos a várias instituições creditadas. Em 14 pareceres, 13 deram nota negativa ao AO90, e o único que deu nota positiva era da autoria de um dos criadores do AO90. O Governo Sócrates decidiu ignorar os pareceres que encomendou. O governo PaF, PSD-CDS, quando entrou em funções optou por continuar a implementação do AO90, igualmente ignorando esses pareceres, sendo que a esse mesmo governo PaF bastou um único parecer para proibir, em 2014, uma manifestação apeada da CGTP na ponte 25 de Abril, onde todos os anos se correm maratonas.
Foi esse mesmo governo que neste corrido verão pré-eleitoral de 2015 surgiu com uma campanha para reutilização de manuais escolares, mas não se lembrou disso quando em 2012, ao implementar o AO90, impôs às famílias portuguesas gastos forçados em novos manuais escolares (para gáudio e lucro de algumas editoras), ao mesmo tempo que baixava os rendimentos e aumentavam a carga fiscal a essas famílias. Mais que isso, resolveu fazer uma reforma ortográfica, sem previamente estudar os custos de implementação dessa mesma reforma para o Estado (criação de correctores ortográficos como o Lince, formação para professores, alteração de conteúdos de sites públicos, etc…), ao mesmo tempo que fazia cortes na Saúde, na Educação e na Cultura, a que chamou gorduras de estado. A Lusa questionou a Porto Editorae a Leya, reportando sobre isso a 9 de Maio deste ano (link aqui), sobre se tinham conseguido novas exportações de livros portugueses graças ao AO90. A Porto Editora disse que não, a Leya respondeu à político, reafirmando que é a favor do AO90 mas não respondendo em concreto à pergunta. Ou seja, o Acordo Ortográfico não abriu o enigmático “potencial económico da Língua Portuguesa” de que tanto fala o actual Presidente da República. A Lusa perguntou ainda se o estado tinha dado ajudas de custo para a implementação às Editoras. A Porto Editora negou ter recebido tal ajuda, a Leya não respondeu. Ainda hoje ninguém sabe ao certo quanto nos custou mais (para não falar na embrulhada da reforma Judicial, lembram-se?) esta malfada reforma.
Por último, e isto interessará a todos os que dêem importância a que vivamos num estado de Leis democrático, o Acordo Ortográfico de 1990 só é sustido pela Resolução de Conselho de Ministros do governo Sócrates n.º 8/2011, de 25/1, que não é uma lei e como tal não revoga a lei que legaliza a Ortografia de 1945, a mesma que o Público e eu usamos, que é portanto a que está em vigor. Mais ainda, o Acordo Ortográfico, segundo o vice-presidente do Supremo Tribunal de Justiça é inconstitucional, derivado à forma absurda de como foi aprovado internacionalmente. Mas quer o sr “Nunca me engano e raramente tenho dúvidas” Cavaco Silva fazer o seu trabalho e defender a Constituição? Claro que não. Parafraseando o mesmo senhor, ele “jamais façaria” tal coisa. O que ele gosta é de produtos “láteos”! E este é o homem a quem deram um honoris causa de Língua Portuguesa… é o país em que vivemos! (tenho de descobrir qual foi a universidade para que, um dia que tenha filhos, não os deixar ir para lá!!)
Talvez se desse atenção a tais questões e actuasse sobre elas como é o seu mandato e segundo o juramento que prestou, ao invés de procurar controlar resultados eleitorais numa atitude continuamente sectária, o actual Presidente da República Cavaco Silva (que afirma que não cede a quaisquer pressões [pelos vistos nem as eleitorais] e antes das eleições já sabe o que vai fazer em termos de governo futuro... haverá maior confissão de se ser anti-democrático??) não precisasse de recorrer a certas leis que exigem respeito a símbolos nacionais para que o respeitem. Quando o outro senhor que foi multado por ousar dizer ao seu Presidente (que de facto trabalha para ele e para todos nós, ou devia assim fazer) que fosse trabalhar, se calhar era a estas coisas que se referia!!
Sendo que o AO90 falhou em cumprir qualquer um dos vários objectivos que justificariam eventualmente a sua existência, que nos foi imposto, que ainda em cima tivemos ou teremos de pagar e nem sabemos o valor na factura, que nos criou crispações nas relações com Moçambique e Angola, não tendo melhorado as relações com o Brasil, não acham importante essa consideração na altura de lançar o voto? Vão votar nos que dão mais importância aos interesses de algumas Editoras que aos interesses dos cidadãos ou vão castigá-los democraticamente, votando nos partidos que são contra o Acordo Ortográfico?
O maior destes últimos, e o único que já agiu contra o AO90 na Assembleia da República, é o PCP, que concorre coligado na CDU. É a quem vou dar o meu voto, por esta e outras razões.
Pensem nisso, ao lançarem o voto no próximo Domingo, dia 4 de Outubro de 2015!

P.P.S.: Tentei que me publicassem isto no Público, mas não obtive resposta por parte desse jornal. Não sei se por escolha editorial, se por escolha ideológica, se por inconveniência temporal visto que só mandei na quarta-feira passada.

Voto CDU (PCP-PEV-ID), mas porquê?

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Esta é a primeira campanha em que revelo o meu voto a quem queira saber, quando normalmente só o revelo aos mais próximos amigos. Senti-me compelido a fazê-lo, porque os Media não estão a informar as pessoas, nem a ser isentos sobre o que informam. 
O texto abaixo é da minha autoria e enviei-o na quarta-feira (porventura tarde demais) ao Público para ver se mo publicavam, se por nada mais por contrastar com as posições lá colocadas durante a semana pelos seus muitos colunistas. Não fui publicado até hoje, não sei se por escolha editorial ou por ser tardia a hora, mas só refiro o envio para o Público para explicar porque só agora publiquei aqui. Aguardei uma resposta que não veio.
Caso o Público me tivesse publicado, provavelmente o texto seria acompanhado do meu nome e foto. O objectivo é dar a cara. Chamo-me Alexandre Fanha e deixo-vos o link para o meu facebook:



«Eu venho por este meio dirigir-me aos que, nesta fase, realmente importam: os indecisos, os indignados, os anonymous portugueses, os possíveis abstencionistas que quero convencer a votar. Não me importa se são de Esquerda, Direita, ou Centro, ou sem ideologia. Se estão na dúvida e ainda não estão cristalizados no vosso pensamento, isto é para vocês. 
Não sou nem nunca fui militante de nenhum partido, gosto que os partidos se esforcem para me convencer. Mas afirmo sem problemas que me considero um apartidário de Esquerda, que sou ateu, que não ligo a sondagens e que leio jornais nacionais e estrangeiros.
O que quero partilhar convosco não é meramente a minha intenção de voto (explicitada no título deste artigo de opinião), mas antes como cheguei a essa intenção de voto, qual o raciocínio por detrás dela.
Este divide-se em duas partes:

1) Por Exclusão de Partes
2) Avaliação do Projecto Político da CDU

1) Por Exclusão de Partes
Dos partidos sem assento parlamentar, só houve um que captou a minha atenção e foi o LIVRE, mas depois de alguns contactos directos, de ter acompanhado informaticamente as suas primárias e de ver a sua proposta de programa político, achei esse partido uma versão diluída do Bloco de Esquerda, mas com ainda menos possibilidade de conseguir um forte resultado eleitoral. O Marinho e Pinto diz-se e contradiz-se a si mesmo, o seu partido é ele mesmo, é um tipo que só quer tacho enquanto afirma isso de todos os outros, e tem como lema no site do seu partido “Acredita no que me ouviste dizer, mas nunca acredites no que outros dizem que eu disse”. Dá jeito a qualquer político mentiroso. O PURP e o PAN são partidos demasiado específicos e que colocam à frente dos interesses gerais da nação, interesses de pequenos grupos ou causas, respectivamente, os reformados e os animais. O Agir etc etc perdeu-me com a proposta, que veiculou em tempo de antena, de criar um mecanismo que mandasse abaixo qualquer governo que não cumprisse o que prometera nas eleições. Precisaria de conseguir, para implementar um tal mecanismo, uma maioria qualificada (maior que a absoluta) para poder alterar a Constituição, começando dessa forma e logo de início a prometer o que nunca poderá cumprir e entrando em contradição consigo mesmo. Para o PNR nem olhei porque a única coisa que tenho em comum com esse partido é ser contra o Acordo Ortográfico de 1990 (AO90), mas quase de certeza por razões diferentes. De igual forma, não ligo aos Monárquicos pois sou republicano, ao mesmo tempo que têm o mesmo problema prático do Agir, visto que a actual constituição não permite um outro regime que não o republicano. O MPT granjeia-me alguma simpatia por ser contra o AO90, mas perde-me por se ter deixado ludibriar pelo auto-contraditório Marinho e Pinto nas Europeias.
O PS é um partido politicamente falido, como se pode ver no que resta da Internacional Socialista. Os socialistas europeus condenaram-se à extinção quando aceitaram trabalhar dentro das normas do Tratado Orçamental que, como realçou Marcelo Rebelo de Sousa no passado domingo citando um artigo norte-americano, foi criado segundo pressupostos de Centro Direita, manietando assim quaisquer respostas económicas de centro-esquerda na Europa e viciando a democracia ao Centro, obrigando-o a uma não-escolha entre políticas de Direita e políticas de Direita. O PS é um partido cujo actual programa eleitoral assenta num estudo económico que usa como premissas previsões macro económicas da União Europeia (UE) que não poderiam contar com a presente crise da Wolkswagen e que não contam com a implosão da economia chinesa que muitos economistas já vêem no horizonte. Esse programa do PS contempla também um cenário em que o Euro implode, mas escolhe ignorar esse cenário, pura e simplesmente, ao invés de preparar um plano B para essa eventualidade, deixando-se (e ao País se for eleito) exposto a um putativo mas plausível problema. O PS foi recentemente noticiado como estando altamente endividado e com dificuldades em financiar-se, logo vive na dependência dos grupos económicos. É um partido dividido internamente e que um seu militante, Henrique Neto, descreveu em 2012 como tendo uma série de grupos internos que agem como lojas maçónicas, lutando entre si pelo poder interno. António Costa é um auto proclamado ateu e presidente da Câmara de Lisboa que, quando a cidade sofre uma inundação derivado a chuvas, diz que a única solução possível está com São Pedro, quando quer Nova Iorque, quer Tóquio têm conhecidos mecanismos de protecção civil para impedir estas ocorrências. Vale mais desperdiçar milhares com a Fundação Mário Soares ou a processar barbearias que não permitem entrada a mulheres (como imensos ginásios não permitem a homens). Quer queira quer não, o PS é um dos co-autores do Estado a que isto chegou, pois foi alternando a formação de Governo com o PSD, com quem tem entendimentos a nível do Plano de Privatizações e da relação com a União Europeia. É igualmente co-responsável pelas PPP’s e os SWAP’s que geraram um conjunto de empresas que vivem em “Capitalismo sem Riscos” (cito Medina Carreira), em que o Estado aceita cobrir os seus prejuízos. Esta conjunção de factores faz com que perca o meu voto, pois não acho este partido, nem o seu actual projecto, nem o seu historial governativo, ou actual líder inspiradores de confiança.
O PaF, é preciso realçar, que é a coligação actual do Governo, PSD-CDS. A mesma cujo o governo não conseguiu, nem indo para além da Troika, nem quebrando as promessas eleitorais de 2011, nem atravessando as linhas vermelhas auto-proclamadas, nem após imensos orçamentos rectificativos muitos dos quais factualmente em desrespeito à actual e vigente Constituição da República Portuguesa, atingir uma única das metas do Memorando da Troika, apesar de, por serem o bom (leia-se lambe-botas) aluno do Schauble, a Troika lhes dar sempre nota positiva. A dívida nacional aumentou; o défice, que é sempre um valor contabilístico, não está controlado e tem sido camuflado com receitas extraordinárias, como a da venda dos CTT (uma das poucas empresas do Estado que dava lucro); a balança comercial continua negativa, apesar do esforço de reorganização para exportações do tecido empresarial português; não só não resolveram o problema que herdaram do BPN, como fizeram uma outra nacionalização ruínosa de prejuízos bancários no BES, ainda que “transvestida” de Banco Novo. Historicamente, estas forças são co-responsáveis de PPP’s, e SWAP’s, tendo criado novas PPP’s, embora também “transvestidas” de concessões, como no Metro de Lisboa, propagando o tal “Capitalismo sem Riscos” pago pelos impostos dos Portugueses. Resumindo, o governo PaF falhou, criando um empobrecimento e retrocesso civilizacional em Portugal, com níveis do PIB a regressarem a 2001, mais emigração que na altura da Guerra Colonial, salários baixos, caça às bruxas no sector público, e uma taxa de Desemprego que milagrosamente desce sem que suba a taxa de Emprego. E já agora, a tal Saída “Limpa” (leia-se ausência de um plano cautelar) só aconteceu, não por mérito ou vontade do governo, mas porque não se conseguiu reunir um consenso nos países da União para que se fizessem planos cautelares. Não só não resolveram problemas, como os adensaram. À sua cabeça têm, em grande (Tecno)forma, um homem conhecido por não pagar a Segurança Social enquanto instiga outros a pagarem os impostos e não serem piegas. Pedro Passos Coelho é o homem que mente, “por lapso”, sobre pagamentos da dívida em plena campanha eleitoral, tendo um historial recente de não cumprir as suas promessas eleitorais, mas antes fazer o contrário do que prometera. Mas qual Hidra, o PaF tem (pelo menos) duas cabeças, sendo a outra mais hábil em saber quando deve emergir e submergir, qual submarino, nos debates respondendo apenas às perguntas que lhe dá jeito (mas nem a essas com toda a verdade), enquanto alonga as respostas para não deixar os outros falarem e para queimar tempo e não ter de responder às perguntas. Paulo Portas, se nada mais, é o homem de enorme responsabilidade (denote-se aqui um desdenhoso sarcasmo) que, por birra, irrevogavelmente queimou a Portugal 4 mil milhões de euros para que lhe dessem um título mais pomposo! É também o homem que afirma abertamente que não se sente obrigado a governar segundo a Constituição vigente, porque esta fala de Socialismo no prólogo!! É ainda o homem que afirma que o estado não sabe gerir (como se Zeinal Bava ou Ricardo Salgado não fossem gestores do sector Privado e mesmo assim responsáveis por afundarem duas das maiores empresas portuguesas), mas que participa num governo que nacionalizou a REN e o que restava da EDP para o Estado (Comunista) Chinês!! Ou seja, Paulo Portas admite que os Comunistas são melhores gestores da coisa pública que ele! O programa conjunto desta força política é tão vago, tão desonesto, e tão vazio de conteúdo como o projecto de reforma do Estado que o actual vice-primeiro ministro esboçou outrora. Por todas estas razões, e por não ser masoquista nem idiota, não voto no PaF.
Distinguir o Bloco de Esquerda da CDU, não sendo militante de nenhum, pode ser complicado, mas não tão complicado como distinguir o PS do PSD-CDS. Muito simplesmente, o Bloco é a favor do Acordo Ortográfico de 1990, eu sou contra e o PCP é o único partido a ter colocado a votos uma iniciativa de desvinculação do Estado Português a esse malfadado (des)acordo. O BE achou que era importante, para o Feminismo em Portugal na segunda década do século XXI, discutir os malefícios do Piropo, indiciando uma estranha (no BE) tendência proibicionista no sentido do discurso politicamente correcto e em detrimento da Liberdade de Expressão, mas não vi o BE fazer manifestações tão veementes pela igualdade salarial e pelos direitos de maternidade das mulheres trabalhadoras. Mas mais que tudo isso, falta implementação e estrutura ao Bloco: não tem força nos sindicatos, não tem implementação autárquica. Por tudo isto, voto na CDU (PCP-PEV) e não no Bloco.

2) Avaliação do Projecto Político da CDU
Mas, felizmente, não é só por falta de escolha que voto CDU, embora fosse razão suficiente. O projecto de política nacional e europeia da CDU, programa conjunto de PCP, PEV e ID, não sendo perfeito (como nada é) nem capaz de representar TOTALMENTE a minha visão pessoal e as minhas ideias (como nenhum partido pode fazer pois representam colectivamente e não individualmente), tem a mais valia de ser o único que percebe o problema duplo, que na verdade é um só, que impede Portugal de se solucionar e ver uma luz ao fundo do túnel: o colete de forças do Euro imposto pelo Tratado Orçamental e uma dívida insustentável e impagável.
O Euro é acima de tudo uma moeda forte demais para a nossa economia, especialmente depois de esta ter perdido a frota pesqueira e mercante, bem como grande parte da sua indústria na altura em que o Cavaco foi primeiro-ministro. É pelo Euro que, não os Portugueses, mas a nossa Economia Nacional tem vivido acima das suas possibilidades. Basta recordarem-se que, assim que adoptámos o Euro, tudo o que custava 100 escudos, passou a custar 1 euro, que equivalia a 200 escudos no câmbio à época. Ou seja, o custo de vida duplicou automaticamente com a adesão ao Euro, mas os salários e pensões não duplicaram. Realço ainda que os partidos que hoje defendem o Euro, já não o fazem apelando aos benefícios deste último, mas amedrontando com a “calamidade” que seria dele sair.
Mas isso à parte, o Euro é um projecto de sucesso historicamente muito improvável. Das várias tentativas que já houve para que um conjunto de estados tivesse uma moeda única, comum a todos, apenas uma funcionou. Chama-se Dólar (norte-americano). Essa funcionou porque tem uma estrutura por debaixo: os estados têm uma Língua em comum, tem uma Constituição em comum, e têm um governo federal em comum. A UE nunca terá uma língua em comum, mas nem sequer se deu ao trabalho de criar o governo federal (nem há essa vontade política entre os estados membros), e muito menos de criar uma constituição colectiva. Para além disso, o Euro está hoje em perigo pela fragilidade dos países que adoptam a Moeda. Não só o perigo de insolvência que assombra, apesar do quadro que o PaF nos pinta, tanto Portugal como a Grécia, como as repercussões da questão Wolkswagen, da guerra económica com a Rússia por causa da Ucrânia, e da futura crise chinesa, trarão para a maior economia da União, a Alemanha. Mas há mais! Os movimentos separatistas existentes na Espanha e na Bélgica (já nem vou ao Reino Unido porque aí reina a Libra), somados ao crescendo de intenção de voto em partidos xenófobos que vai provavelmente continuar com a chegada contínua de mais migrantes, somam-se aos stresses sócio-económicos que criam tensão na manutenção da zona Euro. Com tudo isto em mente, qualquer governante que se preze deve querer criar um plano de contingência para a possibilidade inexplorada de ter de sair do Euro, mesmo que isso aconteça por vontades alheias ou pela inevitabilidade dos acontecimentos. Um bom governante deve “esperar o melhor, mas preparar-se para o pior”. Quando a CDU propõe preparar a saída do Euro, está a fazer isso, e é o único partido que o diz querer fazer. Mas, como afirmou já não sei se o Jerónimo, se o deputado Miguel Tiago do PCP, “o euro não é um dogma para nós”. Logo, tendo esse plano de saída em mente, a CDU pode nem necessitar executá-lo, mas antes usá-lo como moeda de troca na renegociação da dívida. Mas com a vantagem, de estar disposta a executar o plano. Seja como for, a CDU comprometeu-se a respeitar a vontade dos portugueses, tal como tem feito nos últimos 40 anos de Democracia, pelo menos.
A segunda parte do problema nacional, e que é fundamental porque nos põe em risco a qualidade de vida que ainda temos, colocando em causa a manutenção do Estado Social, é a questão da dívida. Quando uma empresa, nos dias de hoje, se vê a braços com uma dívida à qual já não consegue fazer face, não tem alternativa senão ir ter com os seus credores e renegociá-la para a conseguir pagar. Uma renegociação de dívida pode vir de diversas formas, como uma diminuição nos juros e um aumento dos prazos de pagamento, por exemplo. Não tem de implicar o hair cut, ou seja o perdão de parte da dívida. Tanto o PS, como os PaF (PSD-CDS), sabem disto, mas recusam-se a discutir a questão, até mesmo depois do FMI ter dito que no caso da Grécia se tinha de fazer uma renegociação da dívida. Quando a Irlanda disse que queria renegociar a dívida, o governo PaF disse o contrário, ao invés de fazer coro com a Irlanda! Mais, tanto PS com PSD-CDS afirmaram que o PCP e o Bloco, por quererem renegociar a dívida, são uns caloteiros que não querem que o país pague o que deve. É falso. Não pagar a dívida é o que o PS e o PSD-CDS fazem, indo trocar dívida de curto prazo por dívida de médio-longo prazo, chamando a isso financiar o país, enquanto não paga a dívida, apenas os juros da mesma, que mesmo assim vão acumulando e fazendo aumentar a dívida lenta e perigosamente. Os que não querem pagar são precisamente os que não querem renegociar a dívida, porque tal como ela está, em que pagamos só de juros 9 mil milhões por ano, não a conseguimos pagar.
Mas para renegociar a dívida, temos de ter peso negocial. Esse peso negocial vem da disponibilidade para sairmos do Euro. Notem que os economistas já dizem que a crise da Wolkswagen terá um custo semelhante ao de um Grexit. Isto, por muito que a UE diga que se blindou quanto à saída de um país da zona Euro, indica que uma tal saída teria consequências económicas graves para a zona Euro e como tal é de evitar. A única razão pela qual a Comissão Europeia não temeu a saída da Grécia, foi porque sabia que o Tsypras estava a fazer bluff, porque o povo grego não queria essa saída. O Tsypras tentou usar o posicionamento geopolítico, piscando o olho ao Putin, para ver se o Obama convencia a União a renegociar a dívida grega. Mas a Comissão Europeia não foi nisso, até porque sabia que os gregos não apoiariam Tsypras nisso, nem na saída do Euro. Lá está, sem essa disponibilidade de saída, estamos condenados a viver nas regras asfixiantes do tratado orçamental.
O erro do Tsypras foi não estar preparado para que lhe comprassem o Bluff. Um plano Português de saída do Euro, somado à noção de que temos recursos que a Grécia não tem (como as nossas consideráveis reservas de ouro ou a nossa imensa riqueza costeira[a Grécia já nem esta última tem, visto que o Mediterrâneo está todo envenenado]), adicionados a uma frente unida de países que desejam renegociar as suas respectivas dívidas soberanas (Portugal, Irlanda, Grécia e possivelmente a Espanha se os ventos por lá mudarem) sentados em bloco à mesa com a Troika, é a única esperança que temos de resolver os problemas nacionais actuais, ao mesmo tempo que nos preparamos para a plausível e provável implosão do Euro, “não vá o diabo tecê-las”, como diz o povo.
Quanto ao resto. Bem, agora que já pouco ou nada resta para privatizar ou concessionar e o Estado está sem outros meios de se financiar que não o aumento de impostos, ou as nacionalizações deixam de ser tabu, ou a carga fiscal sobre o trabalho vai aumentar (por muito que o PaF e o PS vos digam que não, visto que não estão dispostos a ir taxar antes as grandes fortunas e os lucros empresariais). No programa "Olhos nos Olhos", o próprio Medina Carreira, que pode ser muita coisa mas não é um "perigoso" comunista, após analisar a fundo a EDP, concluiu que mais valia (aos consumidores) voltar a nacionalizar a empresa. Se a Privatização não é tabu, a Nacionalização também não o pode ser.
Mas, mais uma vez, só há um partido, não só disposto como também, capaz de fazer essas nacionalizações. O PCP é auto-sustentado em 90% por meios próprios, sendo o mais famoso destes últimos a Festa do Avante. Os restantes 10% vêm do Estado, derivados dos votos que recebem (como todos os partidos), e a parte do salário (e isto é único em Portugal) de cada um dos seus deputados que só ganham o que ganhavam antes de assumirem funções na Assembleia, doando o restante ao PCP. Por ser auto-sustentável, não está dependente dos bancos e pode efectivamente controlá-los, se legitimado pelo povo democraticamente. Como esclareceu o Jerónimo, nem precisa de ser com nacionalizações, poderá ser com forte regulamentação. Notem que no Japão, a 3ª economia do Mundo e com governo de direita liberal, o Estado obriga os bancos a financiarem as empresas para manter a economia a funcionar. Não têm crescido muito, mas gaita!!, são a 3ª economia do mundo apesar de levarem constantemente com tsunamis. O actual presidente japonês, aquando da capitulação da Grécia, afirmou que a lição que se devia de aprender é que é preciso investir na economia e não aumentar a austeridade. Para dar outro exemplo, a Islândia, depois de uma breve revolução feita por 90% da população, de haverem novas eleições e de reescrita a sua constituição, voltou a regulamentar a banca. Têm o desemprego nos 5%, renegociaram a dívida e já pagaram ao FMI, e também julgaram e condenaram os culpados pela sua crise nacional.
Porque é que o governo PaF vendeu as golden shares da EDP, ou os CTT, ou a REN, quando (soube recentemente nas notícias) o Estado Alemão detém 30% das acções da Wolkswagen como fonte de financiamento? E o estado Norueguês que detém 70% dos lucros petrolíferos da nação deles? Foi a Troika que os obrigou? Não, foi ideológico porque os PaF acham que é melhor entregar à gestão privada, aos Zeinal Bavas e aos Chineses! O Paulinho das Feiras não se farta de o afirmar em campanha. Mas isto é gestão danosa, pois deixa o estado português com uma dívida massiva para pagar e sem fontes de rendimentos que não os contribuintes, que ou emigram ou não têm emprego, ou recebem salários cada vez menores.
Para obter diversificação de fontes de rendimento e ter instrumentos para alavancar a economia, resolvendo o desemprego, que mais que a crise demográfica (podemos sempre importar mais chineses, mais africanos e sírios para a solucionar, como a Alemanha fez recentemente) põe em risco a segurança social e as reformas, é imperativo controlar e/ou recuperar sectores estratégicos nacionais. Esse controlo faz parte do plano da CDU, ao mesmo tempo que aposta na industrialização, nas pescas (a que nem PS nem PaF ligam, agarrados que estão pelos interesses estrangeiros) e na agricultura.
Em termos de impostos, a CDU propõe subir para os 25% (valor onde já esteve) o IRC, aliviando o IVA da restauração e o IRS, para benefício do sector turístico, das famílias e das micro e pequenas empresas (aquelas que criam o seu próprio emprego!!). É isto extremista?!
Quando surgiu a questão dos Direitos de Autor Vs Downloads não-pagos, o PS e o PaF fizeram a lei actual que castiga os consumidores que comprem qualquer tipo de suporte de dados (dvd, pen drives, discos rígidos, etc), independentemente de serem de facto piratas ou não, através duma taxa adicional que aumenta o preço e que reverte para os autores. O PCP contra-propôs taxar-se antes os lucros de quem verdadeiramente lucra com os downloads ditos ilegais, pois são os seus facilitadores e mediadores, as Operadoras de Telecomunicações. O Centrão optou por taxar consumidores, a CDU propôs taxar-se antes o lucro das empresas. Esta é a diferença ideológica de onde se vai buscar o dinheiro. Tanto a Direita e Centro como a Esquerda querem fazer Redistribuição de Capitais, só que o Centrão + CDS fá-lo no sentido do povo para as empresas, e a CDU quer fazer das empresas para o povo. E notem que, em Capitalismo, são os consumidores quem criam postos de trabalho, não os ricos. Pode-se ter o melhor produto e todo o capital do mundo, se ninguém comprar o produto, por mais dinheiro que lá enterrem, a empresa vai à falência. Mais que isso, não há nenhum patrão no mundo que empregue pessoas a não ser que a isso o mercado, pelo aumento da procura (mais consumidores a quererem o produto), lho imponha. Não são os ricos que criam empregos, somos nós, os consumidores. Esqueçam a Deco, votem CDU, cujas soluções não são (embora os problemas do país possam ser) nem velhas nem desajustadas da realidade em que vivemos.
Em termos de Cultura, a CDU propõe um orçamento de 1% do Orçamento de Estado no primeiro ano de legislatura, evoluindo até ao 1% do PIB no quarto ano de Legislatura. E já propôs e mantém a proposta, para uma renegociação nas bases ou desvinculação do Acordo Ortográfico de 1990, mais uma alhada, mais um experimentalismo irresponsável e irreflectido em que o Centrão meteu o país. É isto brusco e repentino?
Não liguem às falaciosas e já por demais desmontadas sondagens com que tentam moldar sub-repticiamente, não falando e argumentando directamente como eu, a vossa decisão. Não se deixem enganar com discursos desesperados e em pânico de apelo a votos (in)úteis, lembrem-se antes que em Portugal não elegemos governos, elegemos deputados para nos representarem. A CDU foi instrumental na devolução do 13º mês, para dar mais um exemplo de como essa força zela pelos v/nossos interesses, não contra a Lei, mas antes através da Constituição vigente. A CDU não falhou com os seus compromissos de campanha.
Não temam instabilidades. A Catarina Martins do Bloco estipulou 3 condições para governar ao lado do PS. O PCP só tem uma: toca a sacar o Socialismo de onde o Mário Soares o engavetou e a fazer jus ao nome do Partido Socialista. Não temam atitudes sectárias de um partido que ajudou a eleger Soares (PS), Sampaio (PS) e Eanes (independente de Direita) à presidência da República, e que fez e faz acordos autárquicos com o PSD (antes no Porto, agora em Loures). O bloqueio à Esquerda não é causado pela CDU, mas tem sido mantido pela incapacidade dos Socialistas de implementarem medidas socialistas.
E acima de tudo, descansem, “senhoras e senhores, irmãs e irmãos, amigos, camaradas” (citando Christopher Hitchens), votar no PCP não é votar em perigosos experimentalismos como a aplicação de um modelo económico defeituoso e que, já se comprovou factualmente, errado como fez Vítor Gaspar, nem dar azos a irresponsáveis como o danoso e irrevogavelmente birrento Portas. É antes um voto conservador, no melhor dos sentidos desta última palavra, pois é dar força a quem quer travar um PREC (leia-se Processo RAPINADOR em Curso) de Direita, conservando e reforçando o nosso Estado Social (SNS, Segurança Social, Educação Pública, Forças Armadas e de Segurança), ao mesmo tempo que recupera lenta e diplomaticamente a soberania nacional e renova a nossa posição e dignidade como Estado, não só na União Europeia, mas no mundo. Se querem de facto renovar a política em Portugal, retornando aos valores da Revolução de Abril e até aos valores de origem que a União Europeia afirma ter (solidariedade, direitos humanos, democracia), votem CDU.
Nada temam, se sobreviveram ao malogrado sonho (para mim, pesadelo) do Sá Carneiro (uma maioria, um governo e um presidente laranjas), tornado real neste governo PSD-CDS com a presidência mumificada do Cavaco Silva, não serão os Comunistas Portugueses que darão cabo de vocês. Mas são eles que vos podem tirar do buraco.
Só se consegue mudar os resultados, fazendo algo de diferente.
Dêem uma hipótese à CDU, dêem-lhes força negocial, dêem-lhes o vosso voto.»


Atentemos ao Prólogo, ao eco de Abril

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Eu disse no meu Facebook, na segunda semana de campanha, que “a bola está com o povo” e não errei. O povo português castigou os PaF, que mesmo assim tentaram disso fazer uma vitória. O povo português fortaleceu a CDU e o BE, não dando a maioria ao PS, forçando este último a, se quiser governar liderando, terá de fazer entendimentos à Esquerda.
O PS não tem maioria, nem sequer relativa. Mas o PS tem a maioria entre as forças da Esquerda (ou seja, pode liderar essas forças num entendimento de governo), e a Esquerda (unida jamais será vencida!?) tem a maioria absoluta no parlamento pós eleições legislativas de 2015.
Portanto, neste momento, em que CDU (onde eu votei) e BE estão alinhados nas questões macro-económicas (e, asseguro-vos, nenhuma destas forças políticas quer sair do Euro, nem no dia em que sejam empossadas como governo de coligação com o PS, nem dois anos depois, nem 4 anos depois – explicarei mais adiante porquê), em que os portugueses decidiram espalhar uma maioria absoluta por três partidos que se assumem como de Esquerda (como que a garantir que para eles governarem teriam de se entender), se surgir um bloqueio entre as forças de Esquerda, esse bloqueio é objectivamente gerado no PS. Se há 3 partidos e dois estão alinhados, se o terceiro não se abre ao diálogo real e sincero para tomarem conjuntamente as rédeas do país, ainda em profunda crise, para resolver essa crise com soluções de esquerda (visto que as de Direita falharam), então objectivamente esse terceiro partido não quer governar à Esquerda e, portanto, constitui o Bloqueio à Esquerda de que tanto se fala neste país e que se costuma atribuir ao PCP.
Completando este xeque (se me permitirem uma expressão do Xadrez), pois é em posição de xeque que o PS está actualmente, o próprio PCP apela ao PS para se juntar à Esquerda (e não há Direita), afirmando que o PS tem condições (ou seja, que há condições para se forjar um acordo entre os 3 partidos da esquerda no parlamento) para retirar da equação de governação a Direita e governar à Esquerda. O PCP afirmou que o PS só não é governo agora se não quiser e que o PaF só será governo se o PS deixar. O BE está em uníssono com o PCP nisto. Mas há mais…
Como é conhecido, o centro-esquerda convencional (a Internacional Socialista) está em vias de extinção como alternativa de governo. Repare-se que na Grécia, o PASOK desapareceu para níveis de votação próximos do KKP (o partido comunista grego, ~6% dos votos), sendo substituído pelo Syriza, que ocupou o centro esquerda grego de tal forma que já nem lhes chamam radicais. Os Trabalhistas no Reino Unido não conseguem retirar o poder aos Conservadores. Possivelmente o Podemos poderá roubar o eleitorado do PSOE em Espanha brevemente. E sabemos bem as dificuldades do monsieur Hollande em França (que embora no poder, pouco pode ou pode pouco) e está sempre baixo nas sondagens. Isto acontece por várias razões.
Historicamente, os Socialistas Europeus eram a alternativa à Esquerda para quem não queria votar nos Comunistas ligados à URSS. Mas o Muro caiu, o mundo mudou, e a maioria dos partidos comunistas mudando com o mundo acabaram por definhar. O PCP, que se manteve fiel a si mesmo, é dos poucos partidos comunistas com peso real na política do seu país. Mas agora que já não há União Soviética, qual é o papel dos Socialistas? Nesta perspectiva, os Socialistas tiveram de mudar necessariamente e o que fizeram foi ocupar o centro, assumindo políticas económicas de Direita num mundo onde, aparentemente, o Capitalismo venceu a Guerra Fria. Qual o problema disto? É simples. A casa ganha sempre! Se se vai jogar no terreno do outro, segundo as regras do outro, é normal que o outro nos ganhe o jogo. O erro dos Socialistas materializa-se no actual Tratado Orçamental, exclusivamente criado segundo pressupostos económico-financeiros do Centro Direita, que não permitem aos Socialistas (se estes o respeitarem à letra) executar políticas económicas de Esquerda e, dessa forma, não se conseguem apresentar como uma verdadeira alternativa às forças políticas do Centro Direita. Isto, em traços largos, explica o definhar dos Socialistas Europeus.
Se António Costa for realmente, como dizem e esperam muitos socialistas e simpatizantes do PS que nele votaram, um homem politicamente inteligente e que deseja governar o país, à Esquerda como afirmou em Campanha e como alternativa ao governo PaF, perceberá que a única forma de transformar esta derrota eleitoral numa vitória estrondosa é fazer cumprir a vontade da maioria absoluta em Portugal e criar um governo de coligação PS-BE-CDU, tornando-se Primeiro-Ministro legítimo de Portugal.
Só dessa forma, Costa poderá salvar não só a sua carreira política, como o próprio Partido Socialista da extinção.
A primeira parte da frase acima será fácil de perceber porquê. Costa só poderá converter esta derrota eleitoral do PS numa vitória, se se tornar primeiro-ministro apesar dessa derrota. E pode sê-lo, pois a CDU e o BE estão a isso abertos (e as condições que pedem, de que falo mais abaixo, são fáceis do PS satisfazer). E só convertendo uma derrota numa vitória, poderá Costa sobreviver como líder do PS. Reparem que se o PS se coligar à PaF, no máximo roubará o posto de Vice Primeiro-Ministro ao Portas, nunca poderá liderar essa solução de governo. Isto é claro e inequívoco. Mais, se Costa sair agora derrotado, a sua carreira política acabou. Portanto, por auto-preservação Costa tem de fazer o que Sócrates não teve coragem para fazer em 2011: unir a Esquerda em Portugal, quebrar o bloqueio à Esquerda e, dessa forma, governar. Esta é também a forma de Costa se descolar e distinguir do fantasma (político) de José Sócrates! É um dois em um.
Não era essa a força de Costa, ser bom a criar entendimentos?
A segunda parte da frase é igualmente lógica. Para o PS se manter um partido de Centro-Esquerda, não pode agora aliar-se a uma direita castigada nas eleições (pouco, na minha opinião, mas eficazmente) em mais de 700 mil votos.
Mais, em situação de ainda crise nacional (dívida altíssima e impagável nos moldes actuais, o desemprego altíssimo mesmo que usemos os números oficiais e sem que o emprego cresça, um défice descontrolado, um PIB retornado a níveis de 2001, com o Estado Social a ser privatizado e em risco de implosão, etc…), se o PS tem oportunidade de liderar uma maioria absoluta, pode mesmo escusar-se de o fazer perante o país apenas na esperança de causar uma crise política mais tarde e governar sozinho?? Não terá isso um pesado custo político?
O partido Socialista tem uma imagem a manter (e já dizia o Salazar da sua cadeira abaixo “Política é Perceptibilidade”) que não se pode dar ao luxo de perder: a imagem de um partido que assume responsabilidades de governo e que é responsável. Portanto, a sobrevivência política do PS depende, única e exclusivamente, da sua capacidade de tomar as rédeas do país agora. Se não o fizer, não se lembrarão disso os Portugueses daqui a dois anos? Não dirão “Esses xuxalistas só querem é tacho! Porque não governaram logo em 2015?” E não votarão esses portugueses então antes à esquerda no BE e na CDU, ou à direita no CDS e no PSD? Não perderá o PS a sua posição no espectro político nacional se lançar os dados de forma tão descuidada e abertamente interesseira? Eu acho que sim. Se o fizerem, condenar-se-ão à implosão, como o PASOK. E acreditem, o Bloco e a CDU estarão lá para capitalizar dessa implosão e facilmente se coligarão.
Concluindo então que, tanto António Costa, como o próprio PS, necessitam de forjar este governo maioritário de Esquerda para assegurar as suas respectivas sobrevivências políticas, analisemos as condições para esse acordo de Esquerda:
1ª - as sondagens que davam a vitória (relativa, na verdade empate técnico) ao PaF nas últimas eleições, invariavelmente demonstravam que, ainda assim, a maioria dos portugueses preferia um governo de coligação de Esquerda. Respeitando a vontade dessa maioria (absoluta) de portugueses, um tal governo de Esquerda teria, não só o apoio da maioria do povo, como também a concertação social facilitada visto conseguir dialogar facilmente tanto com UGT como com CGTP, por razões a todos óbvias. Mas mais que as sondagens, os votos dos portugueses são expressivos, e nisto tenho de agradecer o artigo do Daniel Oliveira no Expresso, que é esclarecedor. O PS não perdeu por virar à Esquerda, perdeu porque muitos votos do Centro fugiram-lhe para o BE e para a CDU que estão à esquerda do PS, visto que a coligação perdeu votos e o próprio PS teve mais votos face ao que teve nas eleições de 2011. Ou seja, todos os partidos de Esquerda cresceram face aos resultados de 2011, incluindo o PS, mas o PS não foi esquerda o suficiente para convencer a maioria desses eleitores que deixaram de votar PaF sem se absterem, e que acabaram maioritariamente por votar no Bloco de Esquerda. Isto para clarificar que o povo (a maioria, neste momento) quer Esquerda no Governo. Logo o PS está legitimado para liderar essa solução, por mais que isso desagrade a Cavaco, Passos e Portas et all ad noseum;
2ª - o PCP (no âmbito da CDU) aligeirou muito o seu discurso anti-euro, afirmando claramente duas coisas: devemos preparar a saída do Euro para termos um plano B quanto mais não seja para o caso de não termos outra escolha; mas, nessa matéria, como em todas o PCP (a CDU) respeitará a vontade dos portugueses. Desta forma, no ponto que talvez fosse mais difícil o entendimento, o PCP dá todo o espaço de manobra ao PS, não insistindo numa saída do Euro, apenas no estudo de como se fazer uma possível saída, que pode bem nunca vir a concretizar-se se o Euro (enquanto moeda) se aguentar. O BE há muito que tem uma posição aberta (podemos sair, podemos ficar) quanto ao Euro, portanto não levantará nisto objecções;
3ª - há toda uma série de políticas que ficaram por executar durante 4 anos que são comuns a toda a Esquerda Portuguesa. Obras estruturais para alavancar a economia (renovar linhas de caminhos de ferro, portos, estimular a pesca e a agricultura), a redução da carga fiscal nas famílias e na restauração, a questão da co-adopção (e raios, a adopção completa) por casais LGBT, a restituição do estatuto de isenção dos dadores de sangue para evitar a escassez deste elemento no SNS, resolver a questão do desperdício de plasma (de preferência lucrando disso o SNS, tornando-se mais sustentável, e não as Farmacêuticas), a restituição do anterior regime da IVG desfigurado pelo governo PaF, desfazer o mal que este governo fez na Educação e na Justiça (que se se tornarem mais ágeis, actuais e eficazes, ajudarão a estimular a economia portuguesa), fortalecer os direitos laborais, salvaguardar as pensões, etc... Estas serão as bases para um entendimento de governação. Dir-me-ão as vozes da Direita “E o Dinheiro vem de onde?”! Vem dos dinheiros comunitários (porque não sairemos da UE) & da libertação de verbas estatais do Serviço da Dívida (pagamento de juros) oriunda de uma renegociação da dívida. E claro da captação de investimento privado.
4ª - António Costa pediu ao PS um mandato para poder dialogar à sua Esquerda sobre a renegociação da dívida. Já falei disto, é algo não só natural mas (e reparem como posso usar os argumentos da Direita) NECESSÁRIO de fazer se queremos pagar a dívida e, dessa forma, recuperar algum do nosso nível de vida e soberania nacional. As empresas fazem renegociação das suas dívidas com toda a naturalidade quando chegam a situações bem menos más que aquelas em que o nosso país está. Não é um bicho de 7 cabeças. E podemos e devemos fazê-lo indo ao encontro da Troika, bem acompanhados dos nossos pares Irlandeses e Gregos, quiçá até Espanhóis e Franceses. Pode e deve começar uma mudança na Europa, que começa a mostrar perigosos sinais de se encaminhar cegamente para a auto-destruição. Podemos inverter esse rumo, mas só em grupo. Aprendamos com a Grécia, não podemos ir sozinhos enfrentar os credores;
5ª - e quanto ao Tratado Orçamental, o Hollande (um socialista europeu) já o congelou (como o PaF por cá fez a carreiras e pensões), por isso nós, não tendo necessariamente de o rasgar (mais uma vez espaço de manobra que BE e CDU dão ao PS), podemos simplesmente dizer que não vamos cumpri-lo durante 4 anos para nos reerguermos e podermos realmente ter condições de o cumprir, SE ASSIM DECIDIRMOS NO FUTURO.

Estão então reunidas as condições dum governo maioritário de Esquerda, com o PS à sua cabeça, coligado com BE e CDU, com uma maioria absoluta estável como o Cavaco quer/exige (embora não fosse esta que ele quisesse). Não só estão reunidas essas condições como é do interesse do PS e do seu actual líder, por questões óbvias de sobrevivência política, que tal governo se venha a fazer. Até João Soares, que na altura das Primárias era pelo Seguro(e percebe-se que os Seguristas são no PS actual a ala direita), afirmou que Costa tem de se coligar à Esquerda. Até Cavaco, implicitamente disse a Costa que coligar-se à Esquerda é a sua única saída, quando disse que esperava “que os partidos” (leia-se o PS) “ coloquem à frente dos seus interesses” (leia-se sobreviver politicamente) “os interesses de Portugal”. Acontece que, na sua habitual cegueira sectária, Cavaco Silva se esqueceu que prometeu ainda antes da campanha eleitoral que só empossaria um governo de MAIORIA ABSOLUTA (que a Esquerda pode e deve fazer). Ao mesmo tempo, os Portugueses ouviram Cavaco e deram essa maioria absoluta à União da Esquerda.
Qual é então a dúvida, senhor Costa? Tem a bola nos pés, quer marcar golo ou auto-golo?
Eu gostava que as redes sociais se incendiassem por esta outra via, democraticamente legitimada, fazendo notar-se o seu apoio a um governo de Esquerda, só para o caso dos votos não serem suficientes. Manifs perante a fachada da sede do Partido Socialista no Rato, em Lisboa, também seriam boa ideia. Vá lá, anonymous portugueses, apartidários, indignados, independentes, simpatizantes do PS, da CDU e do BE, saltem do sofá. Está na hora duma viragem verdadeira.
‘Bora lá resolver esta embrulhada e fazer valer o Prólogo da Constituição da República Portuguesa: toca a desengavetar o Socialismo e faça-se cumprir Abril, porra!
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